domingo, 18 de janeiro de 2015

A ordem dos arquivistas: Centésimo, Ricardo Sodré Andrade


A ordem dos arquivistas: Centésimo, Ricardo Sodré Andrade. Capa de Yuri Schmidt. Editora Literata, Praia Grande, 2012.

Geralmente não escolho um livro pela capa, mas esta novela, estreia de Ricardo Sodré Andrade na literatura, publicada em 2012 pela Editora Literata, me chamou a atenção justamente por causa dela. A bela ilustração de Yuji Schmidt me remeteu ao conto "O longo caminho de volta", de Ana Cristina Rodrigues, um dos melhores textos antologia As cidades indizíveis publicado em 2011 pela Llyr Editorial.
Motivado por esse experiência positiva, iniciei a leitura de A ordem dos arquivistas: Centésimo, cujo exemplar me foi cedido pelo próprio autor, que é graduado em Arquivologia, mestre em Ciência da Informação e doutorando em Comunicação e Culturas Contemporâneas da Universidade Federal da Bahia, o que antecipava um discurso metalinguístico que, entretanto, não procede.
O trabalho apresenta influências do clássico Crônicas de Nárnia, de C. S. Lewis, mas sem o mesmo corre-corre da série britânica. Apesar de ser situado num mundo alternativo, não se trata de um romance planetário nem de uma história alternativa.
Centésimo conta a aventura de Eli Saridem, jovem recém-formado na universidade, que busca por notícias de um tio querido, cujas cartas pararam misteriosamente de chegar. O tio desaparecido é um dos muitos filiados a Ordem dos Arquivistas, organização quase monástica dedicada a preservação de livros e documentos oficiais do reino de Astoril. O jovem empreende então uma longa viagem a sede da Ordem, onde acredita que poderá obter informações ou até mesmo encontrar o parente sumido. O lugar é um antigo castelo de medieval, como aliás o autor estruturou todo o universo da novela.
Eli tem os olhos cinzentos, uma característica rara que parece ter algo a ver com o mistério. A princípio, ele está unicamente interessado em localizar o tio, mas conforme vai se envolvendo no cotidiano da Ordem dos Arquivistas, começa a se interessar em tornar-se, ele mesmo, um membro dela.
Suas investigações o levam à um livro antigo escrito num alfabeto estranho, que parece ter relação com sua família e com os mistérios que cercam a Ordem, além de lendas sobre uma ilha mitológica onde se encontraria um portal para uma outra realidade de perfeição utópica.
A novela é despretensiosa, pausada, sem muitas reviravoltas e brutalismos, e sustenta bem o mistério, embora ele seja resolvido de uma forma um tanto rápida. O autor demonstra boa técnica na construção trama, seguindo a risca a premissa que todos os detalhes apresentados ao leitor devem ser úteis em algum momento, mas faltou uma revisão mais apurada ao texto, que apresenta repetições incômodas que poderiam ter sido corrigidas antes da publicação. Isto feito, qualificaria à novela aos leitores em idade escolar, devido a boa fluidez e acessibilidade que já estão presentes na narrativa. O volume é decorado com algumas gravuras belíssimas que não são creditadas, mas parecem ter origens diversas por conta do estilo variado.
Não há um gancho explícito para uma sequência, mas está claro que o universo de A Ordem dos Arquivistas: Centésimo tem potencial para ser explorado com mais profundidade.
Cesar Silva

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