domingo, 18 de janeiro de 2015

Almanaque do terror


Almanaque do terror, 76 páginas. Editora Abril, São Paulo, 2013.

A Coleção Mundo Estranho, da Editora Abril, distribuiu nas bancas o Almanaque do Terror, edição especial dedicada a expor um histórico do gênero através de uma série de listas, ótimas para criar polêmica entre os fãs.
Em suas 76 páginas, o Almanaque olha o gênero sob diversos ângulos, a maior parte do tempo no viés audiovisual, com levantamentos sobre filmes, séries de tv, animes, videogames, seus heróis, vilões e criadores. No meio da predominância óbvia que não convence sequer o fã iniciante, a revista consegue lembra-se de personalidades significativas como Dario Argento, George Romero e até do brasileiro José Mojica Marins, embora não considere nenhum de seus filmes suficientemente assustador para figurar na lista dos melhores que, em seu lugar, apresenta bobagens homéricas como Atividade paranormal e A bruxa de Blair. Também ignorou totalmente o trabalho legendário da Hammer e o moderno e assustador cinema oriental.
Na relação das séries de tv a coisa também é feia. Enquanto a ridícula Goosebumps foi relacionada entre as dez melhores séries de todos os tempos, clássicas como Kolchak e os demônios da noite e Galeria do terror foram solenemente esnobadas.
O que limpa um pouco a barra dos pesquisadores da Mundo Estranho é a seção de livros e quadrinhos, que são geralmente esquecidos nesse tipo de publicação, embora as listas também sejam bastante parciais, seguindo o gosto de algum jornalista muito mal informado quanto aos cânones do gênero, embora alguns bons títulos até apareçam por ali. Sinceramente, por melhor que seja, Bento, de André Vianco, não tem a menor chance de figurar entre os dez melhores livros de terror de todos os tempos. Além do que a relação apela para histórias de suspense e mistério, que comprometeram sua caracterização. Se assim fosse, alguns dos muitos filmes de Alfred Hitchcock deveriam também ter sido lembrados em suas devidas listagens, como Os pássaros e Psicose. O interessante é que, entre os grandes mestres, aparecem – ainda que também isso seja discutível – Neil Gaiman, Clive Barker e Anne Rice, mas nenhum de seus livros foi lembrado.
A lista de quadrinhos também é tendenciosa. Enquanto ousaram relacionar o recente e esquecível álbum nacional Pixu no "Top5" dos quadrinhos de horror, não se lembraram de nenhum dos verdadeiros clássicos da arte, como por exemplo a obrigatória Tales from the Crypt, entre outros títulos da EC Comics que até hoje influenciam os criadores do gênero. A revista Kripta aparece, e é de fato clássica no Brasil, mas não deveria, nunca, ser citada a versão brasileira, e sim a original, Creepy, da Warren, editora americana que também publicou outros títulos fundamentais como Eerie e Vampirella.
Almanaque ainda oferece um pequeno guia turístico com algumas atrações temáticas, entre casas assombradas famosas e parques de diversões.
Almanaque do Terror parece ser uma publicação dirigida a leitores de pouca ou nenhuma vivência com o gênero mas, mesmo assim, seria desejável uma representatividade histórica mais apurada e o didatismo adequado para não tratar este gênero artístico, tradicional e muito respeitável, apenas como uma bizarra atração de circo.
Cesar Silva

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