quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

O tempo desconjuntado, Philip K. Dick

O tempo desconjuntado (Time out of joint), Philip K. Dick. Tradução de Braulio Tavares, 268 páginas. Rio de Janeiro: Suma, 2018.

PKD é um autor singular. Mais conhecido pelo livro Sonham androides com ovelhas elétricas, que deu origem ao filme Blade Runner: O caçador de andróides, de Ridley Scott, lançado em 1982 (ano da morte do autor) e um fracasso de bilheteria que aos poucos ganhou status de cult, Dick foi um autor prolífico no período da New Wave da fc americana. Seus romances e contos inspiraram uma leva de filmes e série de tv (como O vingador do futuro, Paycheck, Minority report, O homem do castelo alto e Electric dreams, entre outros), e pode dar a impressão que se trata de um escritor popular. Não é.
PKD tem  o desagradável hábito de escrever histórias difíceis. Seu estilo é desconfortável, muitas vezes beirando o insuportável, e seus temas são complexificados a um ponto hiperbólico. São raras as histórias do autor que permitem uma interpretação sequer objetiva, muito menos fácil. Além do mais, tem momentos de profunda incorreção moral, intolerância e até algum chauvinismo. Mesmo assim, consegue flutuar acima de seus pecados graças a criatividade galopante que não faz concessões aos leitores. Ler e, principalmente, publicar PKD pode até não ser muito lucrativo, mas garante uma boa reputação, semelhante como ao que acontece com Willian Gibson, um dos pais do cyberpunk.
A primeira vez que tive um PKD nas mãos foi uma experiência frustrante. Estava com catorze anos e em minha primeira fase de interesse na fc, quando encontrei um livro do autor no acervo da biblioteca pública, Espaço eletrônico (The unteleported man), na edição da Bruguera de 1971. Li o livro inteiro mas não entendi absolutamente nada. Não era um problema com o livro, mas com o leitor: eu não estava pronto para ele. E há muitos livros de PKD que são assim, então é difícil recomendar o autor para leitores iniciantes no gênero.
Contudo, entre tantas histórias indecifráveis, sempre há alguma que pode ser lida com menor esforço. Uma dessas é O tempo desconjuntado (Time out of joint), novela de 1959 publicada no Brasil em 2018 pelo selo Suma da Editora Companhia das Letras. O romance teve uma edição portuguesa em 1985, sob o título de O homem mais importante do mundo, mas até então estava inédito aqui.
Conta a história de Ragle Gumm, homem fracassado, de meia idade, que vive na casa da irmã e passa os dias resolvendo quebra-cabeças de um concurso do jornal local. Gumm está quebrando os recordes de acertos do concurso, o que pode lhe render uma bolada em prêmios que talvez resolva sua vida, além de alguma fama, mas também o mantém socialmente isolado.
Gumm está inquieto com a repetição de fenômenos visuais estranhos e recordações incongruentes, que até podem ser frutos de estresse por sua concentração nos enigmas diários cada vez mais complexos. Depois de testemunhar o desaparecimento de uma barraca de refrigerantes no parque – que deixou em seu lugar apenas um pedaço de papel com as palavras "barraca de refrigerantes" –, ele tem absoluta certeza que está enlouquecendo. Tudo fica ainda pior quando ele encontra, num terreno baldio, uma lista telefônica com números que não deveriam existir. Acossado pela paranoia, Gumm está disposto a comprometer sua fama e fortuna para descobrir o que há por trás dessa realidade que fica cada vez mais estranha.
A edição da Suma é caprichada, impressa em papel pólen e encadernada em capa dura. A tradução é de Braulio Tavares, um especialista no gênero, e a maravilhosa capa é de Deco Farkas.
Se eu tivesse que indicar um livro de PKD para alguém que nunca leu o autor, por certo que indicaria O tempo desconjuntado. Não que seja um texto fácil, mas em se tratando de PKD, não dá para fazer por menos que isso.
— Cesar Silva

quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

Prêmio Le Blanc 2022

Criado em 2018, o Prêmio Le Blanc de Arte Sequencial, Animação e Literatura Fantástica é promovido pela Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro-ECO/UFRJ e pela Universidade Veiga de Almeida-UVA, apurado em consulta popular pela internet. Seu diferencial é o alcance multimidiático, atingindo inclusive trabalhos em animação e em jogos eletrônicos. 
Os vencedores de 2022 são:
Romance: A nova América, Pedro Sasse, Parágrafo
Antologia/Coletânea: Farras fantásticas, Ian Fraser, Ricardo Santos e João Mendes, orgs., Corvus
História em quadrinhos independente: Aymará, Rita Foelker e Laudo Ferreira. Menção honrosa: Antologia Opera Sopa, Diogo Pavan.
História em quadrinhos: Crisálida, Vinícius Velo, Guará.
Série de tiras: Linha do trem, Raphael Salimena.
Série de animação: Mônica Toy, Maurício de Sousa Produções.
Curta animado: Aurora, a rua que queria ser um rio, Radhi Meron.
Curta animado independente: O papagaio e a pipa, Tiago Mal Portos. Menção honrosa: Missão Berço Esplêndido, Joel Caetano.
Longa animado: Bob Cuspe: Nós não gostamos de gente, César Cabral.
Animação publicitária: Tóquio 2020, Rede Globo.
Game para mobile: Hero among us, Fire Horse Studio.
Game para PC ou console: Unsighted, Studio Pixel Punk.

Prêmio Le Blanc 2021

Criado em 2018, o Prêmio Le Blanc de Arte Sequencial, Animação e Literatura Fantástica é promovido pela Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro-ECO/UFRJ e pela Universidade Veiga de Almeida-UVA, apurado em consulta popular pela internet. Seu diferencial é o alcance multimidiático, atingindo inclusive trabalhos em animação e em jogos eletrônicos. 
Os vencedores de 2021 são:
Romance: Não esqueça, Carol Façanha, Caligari.
Antologia: Terror na Amazônia, Girotto Brito, org.
História em quadrinhos: Anel Cardinale: As aventuras de Fabrício Bomtempo, Christian David & Ernani Cousandier, Libretos.
História em quadrinhos independente: Orixás: Os nove Eguns, Alex Mir.
Série de tiras: Hotel Maravilha, Douglas Mct.
Série de animação: Qualquer filme pra mim tá ótimo, Beto Gomez e Rafa Rosa.
Curta animado: De onde vêm os dragões, Grace Luzzi, Zumbi Filmes
Curta animado independente: TOM, Felippe Steffens.
Animação publicitária: He won’t hold you, Jacob, Daniel Bruson.
Longa animado: Miúda e o guardachuva, Amadeu Alban.
Game: Adore, Cadabra Games.

Prêmio Le Blanc 2020

Criado em 2018, o Prêmio Le Blanc de Arte Sequencial, Animação e Literatura Fantástica é promovido pela Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro-ECO/UFRJ e pela Universidade Veiga de Almeida-UVA, apurado em consulta popular pela internet. Seu diferencial é o alcance multimidiático, atingindo inclusive trabalhos em animação e em jogos eletrônicos. 
Os vencedores de 2020 são:
Romance: Snowglobe, Fábio M. Barreto (SOS Hollywood).
Antologia: Duendes: Contos sombrios de reinos invisíveis, Ana Lúcia Merege, org. (Draco).
História em quadrinhos: Elísio: Uma jornada ao inferno, Renato Dalmaso (Avec).
História em quadrinhos independente: Found footage, Marvin Rodriguez (Behemoth).
Série de tiras: Corenstein, vol 2: Como faz para parar?, Cora Ottoni (independente).
Série de animação: Irmão do Jorel (Copa).
Animação longa metragem: Cidade dos piratas, Otto Guerra.
Animação curta metragem: El churro (Estúdio Escola de Animação).
Animação curta metragem independente: Carne, Camila Kater.
Animação publicitária: Mulheres fantásticas (Campo 4).
Jogo mobile: Hoppia tale (LudicSide).
Jogo PC/console: Sky racket (Double Dash).

Prêmio Jabuti 2022

O Prêmio Jabuti é a mais prestigiosa premiação do ambiente editorial brasileiro. Promovido pela Câmara Brasileira do Livro, inaugurou em 2020 a categoria: "Literatura de Entretenimento", que contempla livros de  ficção científica, fantasia e horror, entre outros gêneros. Os finalistas de cada categoria são escolhidos por um juri de três especialistas na área, dentre uma lista de inscritos para o certame. 
Além do vencedor, vale a pena citar também todos os finalistas da categoria, pois o reconhecimento da CBL é por si muito significativo. 
O vencedor e os demais finalistas de 2022 são:
Vencedor: Olhos de pixel, Lucas Mota, Plutão Livros. 
Demais finalistas: O céu entre mundos, Sandra Menezes, Malê; O clube dos amigos imaginários, Glau Kemp, Verus; O leão do Oeste - Livro 2: A ascensão do amaldiçoado, André Carvalho, Independente; Se a casa 8 falasse, Vitor Martins,Globo/Alt.

Prêmio Jabuti 2021

O Prêmio Jabuti é a mais prestigiosa premiação do ambiente editorial brasileiro. Promovido pela Câmara Brasileira do Livro, inaugurou em 2020 a categoria: "Literatura de Entretenimento", que contempla livros de  ficção científica, fantasia e horror, entre outros gêneros. Os finalistas de cada categoria são escolhidos por um juri de três especialistas na área, dentre uma lista de inscritos para o certame. 
Além do vencedor, vale a pena citar também todos os finalistas da categoria, pois o reconhecimento da CBL é por si muito significativo. 
O vencedor e os demais finalistas de 2021 são:
Vencedor: Corpos secos, Marcelo Ferroni, Natalia Borges Polesso, Samir Machado de Machado & Luisa Geisler, Alfaguara.
Demais finalistas: DVD: Devoção verdadeira a D., Cesar Bravo, DarkSide Books; Senciente nível 5, Carol Chiovatto, Avec; Tortura branca, Victor Bonini, Coerência; Velhos demais para morrer, Vinícius Neves Mariano, Malê.

Prêmio Jabuti 2020

O Prêmio Jabuti é a mais prestigiosa premiação do ambiente editorial brasileiro. Promovido pela Câmara Brasileira do Livro, inaugurou em 2020 a categoria: "Literatura de Entretenimento", que contempla livros de  ficção científica, fantasia e horror, entre outros gêneros. Os finalistas de cada categoria são escolhidos por um juri de três especialistas na área, dentre uma lista de inscritos para o certame. 
Além do vencedor, vale a pena citar também todos os finalistas da categoria, pois o reconhecimento da CBL é por si muito significativo. 
O vencedor e os demais finalistas de 2020 são:
Vencedor: Uma mulher no escuro, Raphael Montes, Companhia das Letras. 
Demais Finalistas: A telepatia são os outros, Ana Rüsche, Monomito; Olhos bruxos, Eliezer Moreira, Penalux; Serpentário, Felipe Castilho, Intrínseca; Viajantes do abismo; Nikelen Witter, Avec.

Prêmio Machado Darkside 2020

A editora Darkside Books, especializada em livros de horror, crime e dark fantasy, promoveu em 2020 o I Prêmio Machado Darkside de Literatura, Quadrinhos e Outras Narrativas que seleciona, para eventual publicação, trabalhos inéditos inscritos exclusivamente para o certame, com distribuição de troféus e prêmios em dinheiro. Os vencedores são:
Romance: Porco de raça, Bruno Ribeiro (publicado em 2021).
Quadrinhos: "Aurora", Rafael Calça e Diox.
Outras narrativas: "Dores do parto", Jessica Gonzatto (roteiro curta metragem).
Desenvolvimento de projetos: "Imaginários pluriversais: Narrativas representativas na ficção", Isa e Pétala Souza.
Não ficção: "O monstro no cinema", Alex Barbosa.

Prêmio Argos 2021

Organizado pelo Clube de Leitores de Ficção Científica. Reconhece os melhores trabalhos em romance e história curta de ficção científica, fantasia e horror escritos em língua portuguesa publicados no ano anterior, por meio de votação dos seus sócios. Os vencedores em 2021 são:
Romance: Pantokrátor, Ricardo Labuto Gondim, Editora Caligari
Conto: "Vovó Nevasca", Ana Lúcia Merege, Simplesmente Más, Editora UICLAP, Selo Nebula
Antologia: 2021, Ciberpajé, org., Marca de Fantasia

Prêmio Argos 2020

Organizado pelo Clube de Leitores de Ficção Científica. Reconhece os melhores trabalhos em romance e história curta de ficção científica, fantasia e horror escritos em língua portuguesa publicados no ano anterior, por meio de votação dos seus sócios. Os vencedores em 2020 são:
Romance: Onde Kombi alguma jamais esteve, Gilson L. Cunha, edição de autor.
Conto: A mulher que chora, Gilson Luis da Cunha, edição de autor.
Antologia: Cyberpunk: Registros recuperados de futuros proibidos, Cirilo S. Lemos e Erick Cardoso, orgs., Draco.

terça-feira, 24 de janeiro de 2023

Prêmio Odisseia 2022

O Prêmio Odisseia de Literatura Fantástica surgiu em 2019, como extensão do congresso de ficção fantástica Odisseia, criado em 2011 pelos escritores Duda Falcão, Cesar Alcázar e Christopher Kastensmidt. O prêmio distribui troféus aos favoritos de um júri composto por escritores convidados, selecionados em uma relação de obras publicadas no ano anterior especificamente inscritas para o certame. 
Estes foram os vencedores de 2022:
Projeto Gráfico: O novo horror, O Grifo.
Quadrinhos Fantásticos: Saros 136, Alexey Dodsworth e Ioannis Fiore, Draco.
Narrativa Longa Juvenil: O serviço de entregas monstruosas, Jim Anotsu, Intrinseca.
Narrativa Curta Horror: "A parte de dentro", Irka Barrios, O novo horror, O Grifo.
Narrativa Curta Fantasia: "Miolo de boi", Auryo Jotha, Farras fantásticas, Corvus.
Narrativa Curta  Ficção Científica: Você unlimited, Sabine Mendes Moura, Lendari.
Narrativa Longa  Horror: Claro escuro, Oscar Netarez; Draco, selo Dragão Negro.
Narrativa Longa  Fantasia: A única certeza é a morte, Marina Denser Mainardi, Editora Metamorfose.
Narrativa Longa Ficção Científica: O céu entre mundos, Sandra Menezes, Editora Malê.
Artigo Fantástico: "A literatura de FC&F brasileira na segunda década do século XXI", Marcello Simão Branco e Cesar Silva, Almanaque da Arte Fantástica Brasileira, Avec.

Prêmio Odisseia 2021

O Prêmio Odisseia de Literatura Fantástica surgiu em 2019, como extensão do congresso de ficção fantástica Odisseia, criado em 2011 pelos escritores Duda Falcão, Cesar Alcázar e Christopher Kastensmidt. O prêmio distribui troféus aos favoritos de um júri composto por escritores convidados, selecionados em uma relação de obras publicadas no ano anterior especificamente inscritas para o certame. 
Estes foram os vencedores de 2021:
Narrativa Longa Literatura Juvenil: Ubuntu 2048, Raphael Silva; Kitembo.
Narrativa Longa Horror: A outra casa, Clecius Alexandre Duran, edição de autor.
Narrativa Curta Horror: "O alinhamento das estrelas", Juliane Vicente, Lovecraft re-imaginado, Diário Macabro.
Narrativa Longa Ficção Científica: Parthenon místico; Enéias Tavares; Darkside.
Narrativa Curta Ficção Científica: Não podemos esperar, Israel Neto, Nua.
Narrativa Longa Fantasia: Guirlanda rubra, Erick Santos Cardoso, Draco.
Narrativa Curta Fantasia: Lágrimas de carne, Fernanda Castro, Damme Blanche.
Capa e Projeto Gráfico: Parthenon místico; Darkside.
Quadrinhos: A cor que caiu do espaço; Romeu Martins, Val Oliveira & Sandro Zambi, Script.

Prêmio Odisseia 2020

O Prêmio Odisseia de Literatura Fantástica surgiu em 2019, como extensão do congresso de ficção fantástica Odisseia, criado em 2011 pelos escritores Duda Falcão, Cesar Alcázar e Christopher Kastensmidt. O prêmio distribui troféus aos favoritos de um júri composto por escritores convidados, selecionados em uma relação de obras publicadas no ano anterior especificamente inscritas para o certame. 
Estes foram os vencedores de 2020:
Narrativa Longa Literatura Juvenil: Terra vazia, Otávio Definski, Metamorfose. 
Narrativa Longa Horror: O inverno do vampiro, Júlio Ricardo da Rosa, edição de autor.
Narrativa Curta Horror: "Sete cordas", Márcio Benjamin, Agouro, Escribas.
Narrativa Longa Ficção Científica: Viajantes do abismo, Nikelen Witter, Avec.
Narrativa Curta Ficção Científica: A telepatia são os outros, Ana Rüsche, Monomito.
Narrativa Longa Fantasia: Porém bruxa, Carol Chiovatto, Avec.
Narrativa Curta Fantasia: "Jeremejevite", Cristina Pezel, Duendes, Draco.
Projeto Gráfico: O inferno é aqui, André Schuck, Coerência.

Prêmio ABERST 2022

Surgido em 2018, o Prêmio ABERST, instituído pela Associação Brasileira dos Escritores de Romance Policial, Suspense e Terror aponta os melhores trabalhos, especificamente inscritos para o certame, publicados pela primeira vez entre 1 de julho do ano anterior e 30 de junho do ano corrente. 
Segue a relação dos vencedores do prêmio no ano de 2022:
Prêmio Sebastião Salgado – Projeto Gráfico: Bom dia, você vai morrer, Flávio Karras.
Prêmio Catacumba – Quadrinhos de Crime ou Terror: Babalon, as mulheres escarlate.
Prêmio  Lúcia Machado de Almeida – Narrativa curta de ficção de crime: Rouxinol quebrado, Day Celestino.
Prêmio Lygia Fagundes Telles – Narrativa curta de terror: Os sinos de Santo Antão, Lucas Freitas.
Prêmio Stella Carr – Narrativa curta de suspense: Eu, Cassiana, Day Celestino.
Prêmio Rubem Fonseca – Narrativa longa de ficção de crime: O veneno de Sócrates, Vincento Hughes.
Prêmio Rubens Lucchetti – Narrativa longa de terror: Bom dia, você vai morrer, Flávio Karras.
Prêmio Cláudia Lemes – Narrativa longa de suspense: Maldita seja Eva, Julie Pedrosa & Quando os mortos falam, Cláudia Lemes.
Prêmio Marcos Rey – Narrativa infanto-juvenil/jovem adulto: Crianças nas sombras, Hedjan Costa.
Prêmio Revelação 2022: O Narrador.
Prêmio Gran ABERST 2022: Se eu morresse amanhã, Fabiana Ferraz.

Prêmio ABREST 2021

Surgido em 2018, o Prêmio ABERST, instituído pela Associação Brasileira dos Escritores de Romance Policial, Suspense e Terror aponta os melhores trabalhos, especificamente inscritos para o certame, publicados pela primeira vez entre 1 de julho do ano anterior e 30 de junho do ano corrente. 
Segue a relação dos vencedores do prêmio no ano de 2021:
Narrativa curta de Crime – Prêmio Lúcia Machado de Almeida: Mata-Mata, Zé Wellington, Draco.
Narrativa Longa de Crime – Prêmio Rubem Fonseca: Assassinato na Rua da Ajuda, Amilton Alves, Luva.
Narrativa Curta Terror – Prêmio Lygia Fagundes Telles: Águas Mortas, Jorge Alexandre Moreira, edição de autor.
Narrativa Longa Terror – Prêmio Rubens Lucchetti: Secretária de Satã, Karine Ribeiro, Rocket.
Narrativa Curta Suspense – Prêmio Stella Carr: Tr3s: Uma história em três atos, Larissa Brasil e Larissa Prado, edição de autor.
Narrativa Longa Suspense – Prêmio Cláudia Lemes: Birman Flint: A maldição do czar, Sérgio Rossani, Avec.
Projeto Gráfico – Prêmio Sebastião Salgado: Assombracontos, Kiko Garcia e Roberto Beltrão, Kikomics.
Infanto-Juvenil – Prêmio Marcos Rey: Jack London e a criatura de Salmon Pond, Allana Dilene & Ana Lúcia Merege, Draco.
Prêmio Gran ABERST: "Só o fogo purifica", Úrsula Antunes, Brasil macabro. Diário Macabro.
Revelação: Alysson Steimacher e Cassandra T. Eegal.

Prêmio ABREST 2020

Surgido em 2018, o Prêmio ABERST, instituído pela Associação Brasileira dos Escritores de Romance Policial, Suspense e Terror aponta os melhores trabalhos, especificamente inscritos para o certame, publicados pela primeira vez entre 1 de julho do ano anterior e 30 de junho do ano corrente. 
Segue a relação dos vencedores do prêmio no ano de 2020: 
Narrativa curta policial: "O sssassinato de Cláudio Manuel da Costa", Jean Pierre Chauvin. Menção Honrosa: "O machado da casa de pedra", Larissa Brasil.
Narrativa Longa Policial: Noir carnavalesco, Ian Fraser.
Narrativa Curta Terror: "Um conto sem fim", Alexandre Braoios
Narrativa Longa Terror: Numezu, Jorge A. Moreira
Narrativa Curta Suspense: "Pax domini", Caesar Charone
Narrativa Longa Suspense:  A garota da casa da colina, Larissa Brasil
Projeto Gráfico: Apocalipse segundo Fausto, Giovanna Vaccaro
Quadrinhos: Found Footage, Marvin Rodrigues. Menção Honrosa: A máscara da Morte Branca, Isaque Sagara.
Conjunto da obra: Vera Carvalho Assumpção.
Autora revelação: Iza Artagão.

Prêmio ABERST 2019

Surgido em 2018, o Prêmio ABERST, instituído pela Associação Brasileira dos Escritores de Romance Policial, Suspense e Terror aponta os melhores trabalhos, especificamente inscritos para o certame, publicados pela primeira vez entre 1 de julho do ano anterior e 30 de junho do ano corrente. 
Segue a relação dos vencedores do prêmio no ano de 2019:
Romance policial: Jogo de cena, Andrea Nunes, Editora Cepe;
Romance de Horror: Terra de sonhos e acaso, Felipe de Campos Ribeiro, Editora Martin Claret;
Projeto gráfico: Confinados: Contos de uma noite de terror; Adriana Chaves, org.; Editora Monomito;
Conto policial: "A penúltima morte de Edgar", Cesar Charone, Simulacro e simulação, Editora Lendari;
Conto de horror: "Sombras no coração", Marceli Augusto Galvão, Lovecraftiano Volume 1, edição de autor;
Conjunto da obra: Ruben Fonseca;
Autor revelação: Larissa Prado.

sábado, 14 de janeiro de 2023

Sob a Redoma

Sob a Redoma (Under the Dome), Stephen King. Tradução: Maria Beatriz de Medina. Capa: Fernanda Mello sobre design original de Rex Bonomelli. 954 páginas. Rio de Janeiro: Objetiva/Suma de Letras, 2012. Lançamento original em 2009.

 



Entre as várias características de Stephen King está o tamanho dos seus livros. A maioria é enorme e, ao que parece, conforme os anos avançaram e sua reputação – de vendas e prestígio – se consolidou, ele se sentiu livre para escrever histórias cada vez mais longas. Tal é o caso de Sob a Redoma. É o maior livro que li dele – e talvez mesmo o seu maior –, além de, provavelmente, o de mais páginas que li. Mas para quem gosta do autor, estes volumes grandes e pesados não intimidam. O contrário até. Pois podemos nos envolver profundamente no mundo criado por ele.

Sob a Redoma, especialmente, é extremamente vigoroso. Impressiona como ele consegue conduzir um enredo tão ambicioso, com tantos personagens e situações, sem pontas soltas ou perda de interesse. Não há barriga, expressão do jornalismo para uma parte do texto desnecessária ou que o interesse pela leitura tem uma queda. Não! A história flui de forma crescente, com muito drama, suspense e reviravoltas. Tudo isso torna cada vez mais difícil largar a leitura. Um clássico page turner.

Mas prazer talvez não seja a melhor palavra para exprimir o que se sente ao se envolver com esta história. Pois ela leva longe outras características marcantes de King: o sofrimento dos personagens, e a compaixão e dor que sentimos. Isso porque, como sabido, os personagens criados por ele são extremamente bem construídos. Mais humanos do que muitas pessoas reais que conhecemos, já se disse. E, com isso, nos tornamos cúmplices e participantes dos dramas pelos quais eles passam. Outra característica importante é a premissa do qual parte a história. De uma realidade cotidiana aparentemente banal e, no caso, bem provinciana, o fantástico se insere e a tudo desestrutura. Toda a realidade anterior tem de lidar com a nova situação. Neste caso tão surpreendente quanto chocante.

 Num dia qualquer de meados de outubro na cidadezinha de Chester´s Milll, no estado do Maine – como quase sempre ocorre no universo de King –, de forma súbita e arrebatadora uma cúpula invisível a envolve. Um helicóptero se choca, depois um caminhão e alguns carros. Pessoas tem suas mãos decepadas e alguns animais são cortados ao meio. Ninguém entende o que é o fenômeno, do que é feito e como e por que surgiu. Apenas que, para todos os efeitos, a cidade sob a redoma, está isolada do resto do mundo.

A partir daí, King desenvolve um amplo painel do que pode ocorrer à comunidade quando confrontada com uma situação limite. Tudo o que mantém as pessoas controladas é desafiado: as leis, simples regras de convivência, o papel do Estado, valores éticos e morais. E, neste caso, a começar pelos próprios agentes responsáveis por manter “a lei e a ordem”. Isso porque, um dos políticos que administra a cidade, aproveita a crise, para dar vazão a suas tendências autoritárias e, mais que isso, homicidas.

A pequena Chester´s Mill tem apenas 3 mil habitantes, pouco mais que uma vila. E nos EUA cidades tão pequenas não são governadas por um prefeito. A responsabilidade cabe a três vereadores. Eles administram e as leis são votadas numa assembleia com os próprios habitantes. Soa democrático, mas, no caso, ocorre uma concentração de poder nas mãos de um dos vereadores, Big Jim Rennie. Ele assume a liderança, mas deturpa completamente a situação, se tornando cada vez mais poderoso, nem que com isso, fomente o pânico e a desordem para conseguir mais poder. Isso porque, desta forma, ele pode esconder os crimes do qual é responsável. Na verdade, ele é um poderoso traficante de drogas, produzidas num laboratório oculto numa estação de rádio religiosa. E com a participação do próprio pastor da cidade. Com a redoma, ele tem de proteger o segredo desta ilicitude. E não hesita em perseguir e eliminar possíveis opositores. Como se percebe, mais terrível que a própria redoma, é o homem o grande problema da Chester´s Mill aprisionada.

Dale Barbara, um tenente reformado do Exército e veterano condecorado da Guerra do Iraque, trabalha fazendo sanduíches populares numa lanchonete. Contudo, após se envolver numa briga com o namorado – e seus comparsas – de uma garçonete que havia flertado com ele, tenta ir embora da cidade, mas acaba preso dentro da redoma. Assim, seus inimigos o infernizam, e um deles é Junior, filho de Big Jim. Só por aí, a vida de Barbie – como é pejorativamente chamado – não seria fácil, e ele se tornará o principal obstáculo do poderoso vereador. Principalmente, quando o Exército resolve reincorpora-lo ao serviço, e com a patente de coronel. A cidadezinha é colocada em estado de sítio pelo presidente Obama, autorizando que Barbara se torne o novo comandante, pelo menos até resolver a crise.

O decreto federal não é obedecido por Rennie, ainda mais depois que dois mísseis cruise se chocam com a redoma e não a rompem. Ele percebe que talvez esta situação demore ou seja definitiva, se nem a força militar mais poderosa do mundo tenha poder para resolvê-la. Assim, sente-se livre para executar seu plano de se tornar o dono absoluto da cidade. Aparelhando a polícia com dezenas de jovens inexperientes, baixando decretos polêmicos, como o fechamento do mercado da cidade, fomentando o pânico e a confusão – roubando, por exemplo, os geradores do hospital –, e, claro, perseguindo impiedosamente quem tenha coragem de questioná-lo. O primeiro da lista é Barbara, mas também a jornalista Julia Shumway e o médico assistente Rusty Everett, além de outros que, aos poucos, percebem o terror a que estão sujeitos sob tal tipo de liderança. Mas o alvo principal é Barbara. E ele é acusado por quatro assassinatos que, obviamente, não cometeu. Mas sim Rennie – para calar quem sabia dos seus podres –, e seu filho – duas garotas, uma delas a garçonete. Com o requinte de praticar necrofilia com elas. O objetivo é tornar Barbara o culpado não só pelas mortes, mas também pela própria redoma, através de uma teoria da conspiração de que ele teria participado de uma experiência mal sucedida do governo americano.

King elabora uma profunda reflexão sobre quem são realmente as pessoas em situações críticas, em que a luta pela sobrevivência aflora de maneira dramática. Do quanto as pessoas são realmente boas ou más; altruístas ou egoístas; solidárias ou individualistas; empáticas ou psicopatas. E é particularmente interessante, como são mostrados os pensamentos dos personagens. Mesmo os de índole decente, apresentam sentimentos ruins. Isso porque, estas dicotomias, estão no fundo presentes em cada um de nós, pois ninguém é totalmente uma coisa ou outra o tempo todo. E isso me recordou do romance O Senhor das Moscas (Lord of Flies; 1954), de William Golding (1911-1993), no qual um grupo de crianças tem de sobreviver numa ilha desabitada após serem os únicos sobreviventes de um acidente aéreo. O resultado é chocante, quando algumas delas se tornam cruéis na tentativa de liderar as demais. Assim, King está a refletir sobre o quanto os valores, instituições e leis que mantém a civilização são tênues, embora, de fato, só ilustre o quanto são importantes. É como disse um dos formuladores da Constituição norte-americana Alexander Hamilton (1755-1804): “Se os homens fossem anjos, não precisariam de leis”.

King é hábil e maduro no desenvolvimento destas questões, e talvez o fato de ter retomado a história quase 30 anos depois ajude a entender. Isso porque o romance é um projeto antigo, elaborado pela primeira vez em 1976, e depois, numa segunda vez no início dos anos 1980, com o título inicial de The Cannibals. Ele conta que escreveu apenas 75 páginas e desistiu com receio de encarar uma obra muito ambiciosa e complexa. Pois a obra foi finalmente retomada em 2007, e o resultado final mostra que ele tomou a decisão correta.

Mas a premissa fantástica da história requer uma resposta. Afinal, o que é a redoma? Um campo de força que circula todo o território da cidade, com alguns quilômetros de altura e de profundidade, que se mostra inexpugnável até a mísseis balísticos. Tem de ser gerado por alguma fonte de energia, e assim, Barbara lidera a busca em encontrar, eventualmente, algum tipo de gerador ou coisa parecida. Que acaba sendo encontrado numa fazenda desabitada. No caso, uma caixa preta do tamanho de um notebook com o peso de algumas toneladas, e que emite uma luz piscante e que gera radiação ao seu redor. Barbara e alguns outros, ao olharem dentro da caixa avistam estranhos seres, cabeças de couro de aspecto infantil. Não há certeza de quem são, mas deduzem, com propriedade, que são extraterrestres.

Como lembra Julia Shumway, a partir de uma experiência traumática na infância, é como se os habitantes de Chester´s Mill fossem formigas aprisionadas. Tal como algumas crianças levadas fazem. A metáfora é duplamente satisfatória. Primeiro, porque seriam crianças as mais propensas a executar uma experiência cruel como esta, como se fosse uma brincadeira, por que não teriam, ainda, amadurecido em suas personalidades e valores do que é certo ou errado. Com conceitos morais ainda a serem desenvolvidos. E em segundo lugar, porque mostraria o quanto nós, seres humanos, somos insignificantes em relação ao universo como um todo. Em nossa mesquinharia e arrogância muitas vezes perdemos a noção do quão frágeis somos diante de forças e situações que podem se tornar totalmente sem controle de nossa parte.

Este romance massivo – que conta com uma bem-vinda lista de personagens e o próprio mapa da cidade –, foi de certa forma ignorado pelos fãs mais tradicionais de FC, talvez pela vinculação principal de King com o gênero horror. Mas não se engane: é um romance de FC. Mas isso é um pormenor. Como disse antes, o que importa e assombra é a força narrativa do autor e personagens tão críveis que sentimos por eles o que sentiríamos por pessoas próximas. Um livro poderoso e que rendeu uma minissérie com 39 episódios, entre 2013 e 2015.  Com dois títulos no Brasil, O Domo e Under the Dome: Prisão Invisível, foi bem realizada, mas aquém do potencial explorado no romance. Pois esta é uma daquelas histórias das mais intensas e para serem lembradas com muita emoção.

Marcello Simão Branco