tag:blogger.com,1999:blog-54610140253830073082024-03-15T18:09:59.894-07:00Almanaque da Arte Fantástica BrasileiraBlogue dedicado a mapear, discutir e entender a arte fantástica no Brasil.Hiperespaçohttp://www.blogger.com/profile/05030227649636167390noreply@blogger.comBlogger744125tag:blogger.com,1999:blog-5461014025383007308.post-87037111426373990072024-03-02T07:01:00.000-08:002024-03-03T08:42:37.395-08:00Portal de Capricórnio<p style="text-align: left;"><br /></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgUSTqe7x-2az31bb0WRG8zQjQ0_HCLyPCSkvLCimvvc-UDemF0-GmX5irZPGE8WNsM3B9wwjRLsXp8BJo6v5JhiOH8lCCzQ0j2YMuympTHFXM6KnwpKn6j5ZPnCTpu9PBMon7jPF5mPqkUsPdxjFxET59FUmPU-_sBg-GBmZnzKI0ngfu6XmffzD6iVQU/s425/Portal%20de%20Capric%C3%B3rnio.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="425" data-original-width="283" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgUSTqe7x-2az31bb0WRG8zQjQ0_HCLyPCSkvLCimvvc-UDemF0-GmX5irZPGE8WNsM3B9wwjRLsXp8BJo6v5JhiOH8lCCzQ0j2YMuympTHFXM6KnwpKn6j5ZPnCTpu9PBMon7jPF5mPqkUsPdxjFxET59FUmPU-_sBg-GBmZnzKI0ngfu6XmffzD6iVQU/w426-h640/Portal%20de%20Capric%C3%B3rnio.jpg" width="426" /></a></div><br /><p style="text-align: center;"><br /></p><p style="text-align: left;"> <b style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Portal
de Capricórnio</span></b><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">, Ursulla Mackenzie. Capa: Denise Didelet.
219 páginas. São Paulo: Uiclap, 2019. Lançamento original em 2012.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Este livro me chegou em
mãos através da própria autora, uma conhecida de anos do <i style="mso-bidi-font-style: normal;">fandom</i> brasileiro de FC&F. O leitor mais desavisado pode estar
a estranhar o nome, mas se trata, na verdade, do nome artístico utilizado nos
últimos anos por Márcia Olivieri. Inclusive, a edição original desta obra saiu
com seu próprio nome.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">É sua obra de maior fôlego
até o momento, um romance muito movimentado sobre a descoberta de uma jovem,
Dru River, de um livro antigo que traz consigo, além de segredos sobre as
origens da humanidade, o acesso a um passado longínquo. Mas antes disso, ela,
fascinada com o livro achado numa casa aparentemente abandonada no litoral
paulista, justamente no meridiano do Trópico de Capricórnio, reúne, através de
um amigo, vários pesquisadores para estudarem a obra. É então que Dru River, ao
levá-los até o local onde o livro foi encontrado, é transportada subitamente
junto com eles para um outro local, muito distante e totalmente diferente de
tudo o que já conheciam e viveram. Confusos e transtornados, eles têm de
entender onde estão, como foram parar lá, que relação há com o livro e, mais
importante, como voltar para suas realidades.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Estas e outras perguntas
irão movimentar os objetivos e ansiedades dos personagens que, aos poucos, e
devido aos perigos repentinos que enfrentam, lutarão principalmente por sua
sobrevivência num local que, pelo que vão percebendo, não faz parte do mundo
que eles conhecem. Ambientes radicalmente diferentes se sucedem: ora um deserto
branco e traiçoeiro, ora uma floresta densa e cheia de surpresas, ora planícies
abertas, mas não menos perigosas. A temperatura também muda de forma abrupta,
mas o mais terrível são as criaturas com que se deparam: seres rastejantes,
ciclopes, monstros marinhos, tal como um kraken, seres centauróides, duendes e
pássaros gigantescos semelhantes a seu ancestral pterosauro etc.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Mas que lugar é este e
como foram para lá? Dru River e seus amigos transpassaram um portal do tempo,
indo parar há 22 mil anos no passado da Terra. Mas podemos dizer que este
passado do nosso planeta está muito mais próximo de um mundo de conto de fadas
do que algo próximo do que seria verossímil por tudo que se conhece em termos
científicos. Isso porque o romance, embora use o recurso da viagem no tempo, o
faz apenas como meio de exploração de um lugar fantástico e mágico, mais
próximo da mitologia do que da arqueologia.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Neste mundo, talvez de um
universo paralelo, embora isso não seja explicitado, poderes mágicos e
aparentemente sem explicação são possíveis, além do fato da própria presença de
seres só conhecidos das lendas e fábulas – nesse sentido, senti a falta de um
dragão. Daria um toque a mais de excentricidade ao conjunto de seres reunidos
neste passado muito estranho.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Além de tentar
sobreviverem, o grupo descobre porque, afinal, havia parado por lá. Um certo
sujeito chamado Hans, representante de um Governo da Coalizão Mundial, lidera
um plano secreto de colonizar este passado remoto. Mas resolveu usar dos
serviços de Dru River e seu pessoal, por assim dizer, para que estes pudessem
descobrir os segredos da principal civilização do tempo remoto, os Kathumaran
que, por meio da magia e saberes ocultos, conseguem se manter protegidas e pode
representar uma ameaça para os objetivos imperialistas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Após conhecer Bram, o
explorador dos Kathumaran e sua civilização, o grupo tenta voltar à nossa
época, mas é surpreendido por Hans e seus soldados, que condicionam o retorno e
sobrevivência, à revelação dos segredos da civilização. Eles voltam, mas
resolvem adentrar o portal novamente para encontrar parte do grupo que havia se
separado, além de tentar impedir os objetivos sinistros de Ham. Esta é uma
espécie de ponto de virada da obra, pois ao retornar muitas das novidades são
apenas repetidas, o que, de certa forma, diminuiu o impacto da obra até o seu
final.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Mesmo assim, o leitor
percebe que a história é cheia de reviravoltas. Se beneficia da tradição da
fantasia do conto de fadas, com seus lugares fantásticos, personagens
poderosos, magias e monstros, e em diálogo com os mundos imaginários criados
por Burroughs e Tolkien. O perfil é voltado ao público infanto-juvenil, mas
pode agradar a pessoas de qualquer idade, pois o forte é o entretenimento. A
autora é competente nesse quesito que acaba, inclusive, reduzindo o impacto de
possíveis senões presentes no enredo e seus desdobramentos, que poderiam se
mais trabalhados e trazidos de forma mais importante à trama. Como, por
exemplo, os detalhes desta coalizão mundial, como se formou, e descobriu o
portal, e, talvez também, menos maniqueísta em seus objetivos. Ou então, a
exposição do próprio passado, que fica apenas mostrado por meio das impressões
dos viajantes, e não em si mesmo. Do jeito que está, parece mais, de fato,
pertencente a um universo paralelo ou alternativo, mas poderia ter sido um
pouco mais elaborado.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Há também alguns excessos
de estilo, como o uso em demasia de pontos de exclamação na fala dos
personagens. Um trabalho de edição poderia melhorar este aspecto, tornando a
prosa com menos ruídos de interjeições. Como a primeira edição foi publicada em
2012, e esta teve relançamento em 2019, é possível que a autora tenha feito
alguma revisão da obra, embora as duas edições, salvo engano, tenham o mesmo
número de páginas. Mais importante, ela informa que escreveu uma segunda parte,
onde responde às pontas soltas deixadas, e finaliza a aventura.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">A paulistana Márcia
Olivieri, já uma veterana da Terceira Onda da FCB, tem publicado contos em
antologias de prestígio como, por exemplo, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Vinte
Voltas ao Redor do Sol</i> (2005) e <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Fractais
Tropicais</i> (2018), além de também já ter aparecido no exterior, em países
como Alemanha, Argentina, Espanha e Estados Unidos. Inclusive, tem em vista um
novo romance, que deve ser publicado em breve. Tudo isso só comprova que
estamos diante de uma autora de carreira contínua e séria, que tem procurado se
aprimorar e dar novos rumos à difícil e incerta carreira de escritora. Ainda
mais de FC e fantasia. Talvez por isso tenha adotado um pseudônimo estrangeiro?
É possível, pois vários outros brasileiros já tentaram esta estratégia para auferir
mais êxito.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Seja como for, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Portal de Capricórnio</i> é um romance de
fantasia, mas com ênfase <i style="mso-bidi-font-style: normal;">weird</i> interessante,
que poderia, inclusive, ser adotado como livro didático em escolas, pois além
de um bom entretenimento, inclui também um leque de informações corretas, em
termos de dados históricos e/ou mitológicos, que poderiam ser úteis em
atividades para crianças e adolescentes.<o:p></o:p></span></p>
<p align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; mso-hyphenate: none; text-align: right; text-indent: 14.2pt;"><b><i><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: SimSun;">—</span></i></b><b><i><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%; mso-bidi-language: HI; mso-fareast-font-family: NSimSun; mso-fareast-language: ZH-CN; mso-font-kerning: 1.0pt;">Marcello Simão Branco<o:p></o:p></span></i></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; mso-hyphenate: none; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><b><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-style: italic; mso-bidi-language: HI; mso-fareast-font-family: NSimSun; mso-fareast-language: ZH-CN; mso-font-kerning: 1.0pt;"><o:p> </o:p></span></b></p>Marcellohttp://www.blogger.com/profile/02626856652197086431noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5461014025383007308.post-78895125067361413102024-02-24T11:20:00.000-08:002024-02-24T11:20:24.059-08:00O homem fragmentado, Tibor Moricz<div style="text-align: left;"><b><i><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgXUEoSF2DZ6t_8ziV__6yeNLpzAcO5U6Lc0XzgyurpH93CPGz9OpzranqABQON4OwCZ9vJPs719MEMDnEM6Ml1IMQOLOcX9veN83d4uYYL_dklz5hvg-KJWyLaHHTl1B-e7O_XeEYE9j8mrRJSX5gDFix9iFPbTxlUv8A8fKAMd0f_8vXKdx7JP21QE2g/s360/_cc4a018041682af3134fc5d350a14734489fd0c0.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="360" data-original-width="240" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgXUEoSF2DZ6t_8ziV__6yeNLpzAcO5U6Lc0XzgyurpH93CPGz9OpzranqABQON4OwCZ9vJPs719MEMDnEM6Ml1IMQOLOcX9veN83d4uYYL_dklz5hvg-KJWyLaHHTl1B-e7O_XeEYE9j8mrRJSX5gDFix9iFPbTxlUv8A8fKAMd0f_8vXKdx7JP21QE2g/w266-h400/_cc4a018041682af3134fc5d350a14734489fd0c0.jpg" width="266" /></a></div><span style="font-size: medium;">O homem fragmentado</span></i></b><span style="font-size: medium;">, Tibor Moricz. 214 páginas. São Paulo: Terracota, 2013.</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-size: medium;"><br />Um dos temas que tem sido mais utilizados pela mídia recente nas séries e filmes de fc&f é o dos mundos ou realidades paralelas. Basicamente, não há muita diferença: são realidades geralmente similares, mas com pequenas alterações que foram consequência de alguma sutil decisão passada. Mas pode haver também grandes alterações, que tornam uma realidade absolutamente irreconhecível diante da original. Essas ideias foram exploradas primeiro pelos escritores de ficção científica, como por exemplo no conhecido <i>O homem no castelo alto</i>, de Philip K. Dick, recentemente adaptado para uma série de tv pelo canal de <i>streaming </i>Amazon Prime, em que duas realidades paralelas distintas acabam por interagir de alguma forma. Vimos isso também na série de tv <i>Fringe</i>, e no romance pós-modeno <i>A cidade e a cidade</i>, de China Miéville.<br />Tais especulações renderam até um gênero a parte, o da história alternativa, que consite em dramas históricos nos quais alguma alteração no passado mudou os rumos da história, como por exemplo em <i>A máquina diferencial</i>, de Bruce Sterling e Willian Gibson, obra fundadora do movimento <i>steampunk</i>. Também podemos recordar do subgênero da ficção alternativa, que propõe obras alternativas de uma outra, como <i>O outro diário de Phileas Fogg,</i> de Philip José Farmer, e <i>Frankenstein unbound</i>, de Brian Aldiss. Ou ainda, na mistura de ficção alternativa e história alternativa, como em <i>Anno Dracula</i>, de Kim Newman. <br />Enfim, há inúmeras variações sobre o tema. Seria surpreendente que os autores brasileiros apaixonados por ficção científica nunca tivessem enveredado por esses caminhos. A maior parte deles preferiu, contudo, seguir os caminhos da história alternativa, da ficção alternativa e do <i>steampunk</i>. São raros os exemplos de uma história sobre realidades paralelas. E é justamente este o caso do romance <i>O homem fragmentado</i>, do escritor paulistano Tibor Moricz.<br />Conta a história de um escritor que, sofrendo de culpa pela morte acidental de seu único filho, num momento de depressão intensa decide dar cabo da própria vida com um tiro de revólver na cabeça. Ao acionar o gatilho, porém, nada acontece: a arma parece ter falhado. Mas ao abrir os olhos adepois da grande tolice que havia intentado, dá de cara com a expressão assustada de seu filho não mais morto. <br />É claro que a arma funcionou e, na sua realidade original, ele estourou os miolos. Mas sua consciência escapou da morte e passou a saltar entre as múltiplas realidades. A partir daí, a realidade desse homem infeliz vai se tornar um turbilhão de jornadas alucinantes por diversas realidades paralelas nas quais as coisas são cada vez mais bizarras. A certa altura, quando as coisas já pareciam totalmente fora de controle, ele encontra uma outra viajante entre as realidades, que vai ajudá-lo a entender e aceitar o novo modelo da sua vida, no qual a morte é apenas um episódio como outro qualquer.<br />Moricz é um dos nomes mais destacados da fase inicial da terceira onda da ficção científica brasileira, ainda na primeira década do século XXI. Seu romance de estreia foi <i>Síndrome de Cérbero</i> (2007), seguido de <i>Fome </i>(2009) e <i><a href="https://almanaqueafb.blogspot.com/2015/01/o-peregrino-tibor-moricz.html" target="_blank">O peregrino</a></i> (2011). Mais recentemente, o autor estabeleceu sua base editorial na internet, publicando exclusivamente em <i>ebooks</i>, inclusive reeditando os seus primeiros trabalhos no formato digital, mas <i>O homem fragmentado</i> segue existindo apenas no formato impresso. O autor sempre se mostrou ousado nas temáticas de seus textos e, apesar de ter iniciado já com boa técnica, ganhou maturidade ao longo do tempo. <i>O homem fragmentado</i> é certamente seu livro mais maduro e intimista, aquele com o qual ficou mais a vontade como autor. A história é intrigante e tem mistério suficiente para motivar o leitor a continuar lendo, mesmo nas situações mais absurdas nas quais lança o protagonista. <br />Infelizmente, Moricz parece ter reduzido o ritmo: seu romance mais recente, a ficção científica planetária <i>Dunya</i>, foi publicada em 2017, há já quatro anos. Talvez esse lapso tenha a ver com a crise editorial que desmotiva a publicação de livros no país, ou porque o Brasil pareça cada vez mais com os cenários absurdistas que o protagonista de <i>O homem fragmentado</i> tem que lidar. O que é uma pena, pois a ficção de Tibor Moricz é cada vez mais necessária no Brasil. </span></div><div style="text-align: right;"><span style="font-size: medium;">— <i>Cesar Silva</i></span></div>Hiperespaçohttp://www.blogger.com/profile/05030227649636167390noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5461014025383007308.post-61057525508792964092024-02-11T12:43:00.000-08:002024-02-14T10:39:31.932-08:00CURVA DE ARGUMENTO<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgAi9j06ODcYkgDWY3DBMfjjoJHE85InofdfRQpaA-LCBVHKqGWSs7Ljo2wOYHnejS6uIhzCLzOZJaPeuuvLZ5T_4ckboZmnB8Jws229QG6QB08bKPKVfFlWMxBd7fmSPPpTWjL8VZeFbbC9LHQTUQpbdAHaH5Gnq9WnW82Ull2qessKYi5qGDcwybwKfi5/s960/psiquiatra%20silhueta%20pixabay.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="698" data-original-width="960" height="233" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgAi9j06ODcYkgDWY3DBMfjjoJHE85InofdfRQpaA-LCBVHKqGWSs7Ljo2wOYHnejS6uIhzCLzOZJaPeuuvLZ5T_4ckboZmnB8Jws229QG6QB08bKPKVfFlWMxBd7fmSPPpTWjL8VZeFbbC9LHQTUQpbdAHaH5Gnq9WnW82Ull2qessKYi5qGDcwybwKfi5/s320/psiquiatra%20silhueta%20pixabay.jpg" width="320" /></a><span style="color: #2b00fe; font-family: georgia; font-size: large;"> </span></div><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;">Miguel Carqueija</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"> </span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>Em pleno Porto Espacial de
Jacarepaguá, o Capitão Barbosa e seu imediato Zé Peroba caminhavam pela Alameda
J das lojas. Barbosa ia fazendo compras e aos poucos enchendo a sua mochila de
couro. A certa altura virou-se para o outro e indagou:</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— E afinal, Peroba, você não vai
comprar nada?</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Com que dinheiro, Capitão? —
respondeu o imediato, com cara de réu.</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Ora essa, com o seu!</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Capitão Barbosa, o senhor ganha
dez vezes mais do que eu, e além disso...</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Que dez vezes o que! São só oito!
Ou você esquece que eu sou o comandante da Antaprise? Não posso ganhar salário
de mendigo!</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>Qualquer resposta do Peroba ficou
entalada na garganta. Barbosa prosseguiu:</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Já gastou todo o seu salário?</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Bem, capitão, sabe aquele
joguinho...</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— É por isso que eu não jogo! Que
isso lhe sirva de lição! Ah, vamos ver aqueles mangás ali!</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>Entraram os dois numa mangazeria.
Ler quadrinhos japoneses era uma das manias do velho Barbosa. Peroba suspirou
de enfado, já preparado para passar horas naquele estabelecimento.</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>O velho Isolino, dono do negócio,
quase grunhiu, pois Barbosa demorava muito para escolher, ficava olhando
centenas de mangás. E realmente já estavam lá há quase uma hora quando
subitamente, ao tentar puxar um número de “Confusão cósmica”, Barbosa esbarrou
com outra mão. Voltou-se e deparou...</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Arquibaldo!</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Barbosa!</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Que faz aqui? Largue o <b>meu </b>mangá!</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Que quer dizer? Largue você! Eu
peguei primeiro!</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Sem essa! Eu peguei primeiro!</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— É meu!</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Não, seu pilantra, é meu!</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Pilantra é você! Lembro muito bem
da barbeirada que você fez há dez anos, danificando a Antaprise...</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Você é que fez a barbeiragem! O
meu papagaio de estimação ficou gago de susto...</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Senhores, por favor — interveio o
Isolino — não rasguem a revista! Me dêem isso aqui!</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>Isolino pegou a revista e colocou-a
na caixa, aos cuidados da Arlete.</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Um deles vai comprar. Guarde
enquanto isso!</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>Zé Peroba se aproximou da caixa,
interessado em puxar conversa. Afinal, ela era uma senegalesa linda...</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Parado aí! Nem pense em se apossar
do mangá!</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>Peroba se virou: era o Bicudo,
primeiro oficial do Capitão Arquibaldo.</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Você também por aqui?</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— E daí? Você também, não é?</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Por favor, senhores! — exclamou
implorativamente o dono do local, vendo que os quatro estavam prestes a se
engalfinharem por causa de uma revista. — Só restou esse exemplar desse número,
mas posso encomendar outro... vocês já espantaram todos os fregueses...</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Pois eu não vou esperar! Eu quero
esse! — gritou o Capitão Barbosa.</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Egoísta! Eu é que não vou esperar!
Eu quero esse!</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>Arquibaldo e Barbosa agarraram-se
mutuamente e foram ao chão, derrubando uma estante repleta, para maior
desespero de Isolino e pânico de Arlete e Júlia, as duas funcionárias. No
instante seguinte Zé Peroba e Bicudo também se engalfinharam.</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Parem! Ordeno que parem! Acabem
com essa briga imediatamente! Eu resolvo esse assunto!</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>Pararam todos instantaneamente,
espantadíssimos. Surgira uma figura estranhíssima, um sujeito alto, hirsuto,
descabelado, trajado de maneira antiquada e de aspecto feroz.</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>—Quem é você? — perguntou o Capitão
Barbosa, esforçando-se por se levantar.</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Ora, quem sou eu! Então não me
reconhece, Capitão Barbosa? Eu sou o famoso psiquiatra, o Doutor Mexilhão!</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Nunca ouvi falar. Por favor, não
gosto de ser interrompido quando estou brigando! Aliás, como sabe o meu nome?</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Está escrito no seu crachá!</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Ah, tá. Ora bolas! Esqueci de
guardá-lo — assim dizendo, Barbosa colocou o objeto num dos grandes bolsos da
jaqueta.</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— O que quer o senhor? — quis saber
o Capitão Arquibaldo. — Não marquei nenhuma consulta, muito menos consigo.</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>Pondo as mãos atrás das costas o Dr.
Mexilhão, que por sinal carregava uma vasta mochila de magiplast, acercou-se
dos dois beligerantes:</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Isso não é problema, posso dar uma
contulta grátis e dupla como propaganda dos meus inestimáveis serviços. Podem
se considerar privilegiados. Você é o Capitão Arquibaldo, não é?</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Como você sabe? Não carrego nenhum
crachá.</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Está bordado na sua jaqueta.</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>Arquibaldo enrubesceu.</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Avisei a mamãe que não precisava
fazer isso.</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— O que eu percebi é que vocês dois
são um caso preocupante de regressão milenar.</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— O que quer dizer com isso? —
indagou Barbosa.</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Que vocês, sendo comandantes de
astronaves, na ponta do progresso, comportam-se como dois trogloditas, é isso
que eu quis dizer.</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Mais respeito! — exigiu o Capitão
Barbosa. — Não sabe quem eu sou? O que eu fiz?</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— É claro! — e Mexilhão fungou. —
Você é o capitão que ao aterrissar com sua nave abalroou a torre de controle no
Astroporto de São Paulo...</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Bem, bem, isto é, quero dizer...</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— E eu? — berrou Arquibaldo. — Eu
não sou um palhaço, sou um respeitável comandante espacial!</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Eu bem sei — disse Mexilhão,
sarcástico. — Você só pousou por engano no campo de futebol, acabou com a
partida e ainda incendiou o gramado.</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Eu... ãh... como é que você sabe?</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Sou um homem bem informado! Agora
se me dão licença, darei uma solução imediata a esse ridículo litígio e garanto
que os dois sairão daqui como amigos!</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Está bem, falastrão. Quero ver que
espécie de solução você vai dar.</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— De acordo — acrescentou Barbosa.</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— O que você acha? — consultou
Peroba ao Bicudo.</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Não sei. Isso está esquisito — e
Bicudo deu de ombros.</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>Isolino dirigiu-se ao Mexilhão:</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Meu senhor, se puder apaziguar os
ânimos eu ficarei eternamente grato!</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Não precisa tanto, então agora eu
vou agir!</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>Chegou para a Arlete:</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Empreste-me a revista, por favor.</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>Arlete, meio assustada, olhou para
Júlia, que não falou nada, depois para Isolino e este assentiu. Então ela
entregou. Barbosa e Arquibaldo, intrigados, não tiravam os olhos do barbudo
psiquiatra.</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Preciso de uma mesa vazia — rosnou
Mexilhão para Isolino.</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— É pra já, senhor.</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>Colocou alguns livros num espaço
qualquer numa estante, e mostrou a mesa:</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Serve essa, senhor?</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— É de madeira. Ótimo. Agora pode se
afastar.</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>Sem muita vontade de contrariá-lo o
Sr. Isolino se afastou um pouco e o médico depositou o mangá sobre a mesa.
Então pôs-se a folheá-lo.</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Não está pensando em ler o mangá,
eu presumo — observou Barbosa.</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Claro que não. Detesto mangás! Só
estou querendo achar o meio. São 240 páginas... está bem, então tem que ser na
120.</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>Abriu o mangá nas páginas 120-121,
deixou-o assim escancarado sobre a mesa e recuou ligeiramente. Então buscou no
interior de sua japona e lá de dentro retirou uma machadinha. E antes que
alguém pudesse — ou ousasse — detê-lo ele desceu a lâmina sobre o mangá,
partindo-o ao meio certeiramente e de quebra partindo a mesa em duas partes.</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>Novas pessoas que se haviam
arriscado a entrar na livraria saíram correndo. As outras sete pessoas que lá
já estavam ficaram todas congeladas e mudas. Impassível, Mexilhão guardou a
machadinha, abaixou-se, recolheu os dois pedaços da revista e aproximou-se dos
apatetados astronautas.</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Peguem! Metade para cada um!</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>Como em transe eles pegaram e
Mexilhão se aprumou. </span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Bem, cumpri o meu dever. Agora tenho
que ir, outro dever me chama!</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Mas... mas... mas... peraí... —
balbuciou Barbosa.</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Não se preocupem! Não cobro nada
pela consulta! Foi uma amostra grátis!</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>Arquibaldo, ainda em estado de
choque, murmurou:</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Mas espere aí... que idéia foi
essa...</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Na verdade a idéia original não
foi minha, eu aproveitei de Salomão. Até mais, senhores e senhoritas!</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>Disse isso e foi embora.</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>Alguns segundos depois eles
começaram a acordar do aturdimento. Isolino foi o primeiro a falar:</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Alguém pode me dizer quem vai me
pagar o prejuízo?</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>Disse isso e desmaiou, sendo
amparado pela Júlia, a garota holandesa, que buscou os sais num dos bolsos do
infeliz livreiro.</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Capitão, vamos continuar a briga?
— indagou Zé Peroba, olhando para o Bicudo.</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— É claro que não, seu idiota! Vamos
é pegar aquele calhorda! Afinal temos a obrigação de “pagá-lo” pelo excelente
serviço!</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— E o que vamos fazer com isso? —
perguntou Arquibaldo. O Capitão Barbosa foi taxativo:</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Arquibaldo, decididamente eu não
quero um mangá pela metade! Pode ficar com a minha parte!</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>Entregou a metade do mangá para o
outro. Este, menos perfeccionista, entregou as duas metades ao Bicudo.</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Bicudo, guarde na sua mochila, eu
pego na nave! Ainda bem que eu tenho durex! Agora, Barbosa, me ajude! Vamos nós
dois atrás daquele safado e dar uma sova nele!</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— É claro, amigo! Se é que vamos
conseguir encontrá-lo, ele leva grande vantagem!</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Não importa, amigo! Vamos tentar
pelo menos!</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Esperem aí! — gritou a aflita
Arlete, enquanto Júlia ligava para os paramédicos. — O mangá precisa ser pago!</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Acha mesmo — escandiu Arquibaldo —
que eu vou pagar por uma revista partida ao meio a machado? Passem bem!</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Acho melhor irmos atrás deles,
você e eu — disse Bicudo a Peroba. — Aquele maluco está armado de machadinha!</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Preferia não ir, mas você tem
razão. Não posso deixar que o meu capitão seja fatiado, por mais idiota que ele
seja!</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Vocês dois sabem qual é o pior
nisso tudo? — gemeu a Arlete.</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Não, o que? — disseram eles em
uníssono.</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Muito simples. Tenho certeza que
este nosso desacordado patrão quando acordar vai descontar o mangá do nosso
ordenado!</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Que já é uma miséria — completou a
Júlia.</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Vamos rachar a despesa — disse
Peroba, incapaz de resistir ao choro de duas garotas. — Bicudo, você dá a sua
parte?</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>Eles rapidamente pagaram e Arlete
agradeceu mas ainda perguntou:</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Mas e a mesa?</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>Os dois se entreolharam.</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Ah, não! — disse o Bicudo. —
Ninguém vai levar a mesa! Vocês se entendem com o Isolino!</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>Bicudo e Peroba saíram correndo,
tentando encontrar os capitães.</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Numa coisa pelo menos o malucão
estava certo — lembrou Zé Peroba.</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Em que?</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"><span> </span>— Ora! Que os dois iam sair daqui
como amigos!</span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"> </span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;">NOTA –
Chama-se “curva de argumento” uma figura literária que consiste numa súbita e
radical mudança de rumo numa história, com o surgimento imprevisto de um novo
fato ou personagem, como neste caso, com a inusitada aparição do Doutor
Mexilhão. Ele tem sua própria série e esta é a primeira vez que interage com o
Capitão Barbosa.</span></span></span></span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;">Imagem Pixabay. <br /></span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;"> </span></span></span></span></p><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;">
</span></span></span><p class="MsoNormal"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia;"><span style="color: #2b00fe;"><span style="line-height: 115%;">Rio de
Janeiro, 13 de março a 3 de abril de 2020.</span></span></span></span></p>
Navegando no Imagináriohttp://www.blogger.com/profile/14445227781977633396noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5461014025383007308.post-59020626850024869092024-02-03T06:23:00.000-08:002024-02-03T06:28:39.598-08:00O Enigma de Andrômeda<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgJtznlS4GQzOlNxjpBaXlQCJTGs3K7pW6Ztvd-EfNiu3fFH5Aqyydt28Z9PQPPSowWzWr7V0hNfPPSVx6JMgPBL0dzEfn7g03a4le8RAmnDgw4KYyTkPLCeMt2Yq_uN1fWQM7BaE5BjoGQhiX4aofm2uj1_3cvcOxjDN0gAe61RN505ZaJs9E7OfgPjs8/s1000/capa%20O%20Enigma%20de%20Andr%C3%B4meda.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1000" data-original-width="692" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgJtznlS4GQzOlNxjpBaXlQCJTGs3K7pW6Ztvd-EfNiu3fFH5Aqyydt28Z9PQPPSowWzWr7V0hNfPPSVx6JMgPBL0dzEfn7g03a4le8RAmnDgw4KYyTkPLCeMt2Yq_uN1fWQM7BaE5BjoGQhiX4aofm2uj1_3cvcOxjDN0gAe61RN505ZaJs9E7OfgPjs8/w442-h640/capa%20O%20Enigma%20de%20Andr%C3%B4meda.jpg" width="442" /></a></div><br /><p></p><p><br /></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">O
Enigma de Andrômeda</span></b><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;"> (The Andromeda Strain), Michael Crichton.
Tradução: Fábio Fernandes. 305 páginas. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. Lançamento
original em 1969.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Este romance é um
clássico do sub-gênero <i style="mso-bidi-font-style: normal;">tecnothriller</i>,
que procura trabalhar com enredo de ação e suspense em torno de um problema
científico e/ou tecnológico na fronteira do conhecimento. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Enigma de Andrômeda</i> se distingue, ainda, pela abordagem a partir
de uma perspectiva médica/biológica. Há outros romances nesta linha, mas talvez
nenhum com o impacto deste. E isso além do fato de que a maioria dos <i style="mso-bidi-font-style: normal;">tecnothrillers</i> trilhou o caminho do
suspense político em meio ao contexto da Guerra Fria e novos armamentos e
tecnologias.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Nos anos 1960, em plena
disputa pela primazia espacial e militar, os EUA criam um projeto secreto para
explorar a possibilidade, teórica, em princípio, de estudar e desenvolver
alguma arma biológica a partir de supostos microorganismos situados no espaço
próximo à Terra. Para isso lançam alguns satélites de exploração até que um
deles choca-se com um meteoro e entra na atmosfera. Qual não é a surpresa e o
choque quando se descobre que o Scoop-7 matou quase todos os habitantes de
Piedmont, uma cidadezinha do estado do Arizona.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Com isso é reunida uma
equipe de cientistas lideradas pelo prêmio Nobel de Medicina Jeremy Stone. Na
verdade, ele é que havia proposto ao governo a criação deste projeto anos antes
– chamado de Wildfire –, mas não com objetivos militares, e sim científicos.
Ele e mais três especialistas (um microbiologista, um patologista e um
cirurgião) são levados a uma instalação subterrânea ultrassecreta no interior
do estado de Nevada, em uma corrida contra o tempo para descobrir o que ocorreu
em Piedmont, a partir dos destroços do satélite e dos dois únicos
sobreviventes: um homem idoso e um bebê. Foi mesmo causado por um
microorganismo? De origem terrestre ou alienígena? Quais suas propriedades,
como age no organismo humano, qual o grau de contaminação e letalidade? <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Como o leitor já deve ter
notado, Crichton faz uma crítica ao governo norte-americano por perverter uma
iniciativa que teria interesses científicos. Esta crítica pode ser estendida a
muitos outros países, e deixa implícita a hipótese de que um processo de doença
epidemiológica de consequências catastróficas pode ter sido criada num
laboratório. Estas situações são muito prováveis, principalmente na época em
que houve a rivalidade entre norte-americanos e soviéticos. E a exploração
dessa possibilidade se tornou comum em muitas teorias da conspiração, principalmente
quando uma nova doença contagiosa é descoberta. Mais recentemente, as
suspeitas, fundadas ou não, sobre o surgimento da Covid-19 também estão nesse
contexto.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">O romance se desenvolve
como se fosse os cinco dias da maior crise científica da história dos EUA. Cada
capítulo se passa num deles e progressivamente as pesquisas avançam, bem como
seus desdobramentos. Crichton escreve de forma intensa e com muito realismo,
tratando o assunto com o conhecimento científico da época. Assim, as páginas
tem um aspecto semidocumental, com a apresentação de relatórios médicos,
descrições de experimentos biológicos, gráficos, tabelas, infográficos e até
uma bibliografia acadêmica ao fim da obra, para quem quiser estudar o assunto
de forma mais profunda. Mas nada disso torna o livro chato. Ao contrário:
reforça ainda mais o teor realista da obra, tornando-a mais impressionante para
o leitor.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Dessa forma, todas as
teorias de vida extraterrestre são apresentadas – pelo menos até a época em que
o livro foi escrito –, e uma delas, justamente, é esta da chamada panspermia.
De microorganismos de origem extraterrestre que adentram em nosso planeta. E no
caso da “Variante Andrômeda” se mostrando uma bactéria de aspecto mortal. Com
uma estrutura interna diferente das estruturas celulares da Terra, uma espécie
de hexágono cristalino – mas sem DNA, RNA, proteínas ou aminoácidos –, é mortal
aos seres vivos do nosso planeta ao provocar uma rápida coagulação no interior
do organismo, solidificando o sangue, por assim dizer. Contudo, como irão
descobrir os cientistas, pode haver alguma esperança, pois ela sofre contínuas
mutações ao contato com o oxigênio presente na Terra.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Há um ponto especialmente
interessante de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Enigma de Andrômeda</i>
que poderia ter sido mais explorado, mas talvez não o tenha porque poderia
encaminhar a história para um sentido mais especulativo. É a Teoria da Bactéria
Mensageira, ou seja, da possibilidade do envio de um microorganismo como meio
de comunicação de uma espécie inteligente a outra. Isso mesmo: uma civilização
extra-solar enviaria ao espaço profundo uma forma de vida que poderia
estabelecer alguma comunicação com outra espécie inteligente. No livro ela
teria sido apresentada por um engenheiro de comunicações, num congresso de
Astronáutica no começo dos anos 1960. Talvez não por acaso, pois o romance
surgiu no contexto da efervescência da corrida espacial da época, e Crichton
explorou, justamente, esta perspectiva biológica. Factível ou não, a ideia é
fascinante.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Na época, Michael
Crichton (1942-2008) havia se formado em Medicina pela Universidade de Harvard,
mas já havia dado os primeiros passos na carreira de escritor. Contudo, antes
deste livro havia publicado apenas com pseudônimos, e <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Enigma de Andrômeda</i> foi o primeiro assinado com seu próprio nome.
O sucesso imediato fez sua carreira de escritor decolar. De fato, o livro foi
rapidamente adaptado ao cinema, num filme ótimo que se tornou também um clássico,
homônimo de 1971, dirigido por Robert Wise (1914-2005). Anos depois, em 2008,
no ano da morte de Crichton, Ridley Scott produziu uma minissérie baseada na
história.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">De fato, e como o leitor
pode ter percebido ao ler o resumo do enredo acima, a obra tem muitas
qualidades, que se tornariam uma marca de Crichton: uma prosa direta, com
personagens interessantes e ativos, colocados quase sempre em situações limite,
com muita tensão e suspense, em torno de temas e eventos na fronteira do
conhecimento, na maior parte das vezes relacionados à FC. Muito prolífico, ele
se tornou também roteirista e diretor de filmes competentes. Exemplos: <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Westworld: Onde Ninguém tem Alma</i> (<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Westworld</i>; 1974), <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Homem Terminal</i> (<i style="mso-bidi-font-style: normal;">The
Terminal Man</i>; 1974), a adaptação de outro thriller médico <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Coma</i> (1978), baseado no romance do
também médico Robin Cook, entre outros. Sempre com uma visão crítica e por
vezes irônica sobre os rumos da relação do ser humano com a tecnologia e a
pesquisa científica.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Em termos populares
Crichton, muito presente a partir dos anos 1970 até a sua morte precoce aos 66
anos, é mais conhecido como autor do romance <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Parque dos Dinossauros</i> (<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Jurassic
Park</i>; 1990), de fato mais uma de suas obras muito boas – e que recebeu aqui
no Brasil o Prêmio Nova em 1992. Mas, em termos de contribuição original à FC,
acredito que <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Enigma de Andrômeda</i>
ainda seja o mais interessante e influente. A editora Aleph relançou a obra em
2018, e ela continua, portanto, acessível aos leitores brasileiros.<o:p></o:p></span></p>
<p align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: right; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">—<b><i>Marcello
Simão Branco<o:p></o:p></i></b></span></p>Marcellohttp://www.blogger.com/profile/02626856652197086431noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5461014025383007308.post-83632480695045674802024-01-25T06:07:00.000-08:002024-01-25T06:07:13.872-08:00A torre acima do véu, Roberta Spindler<div style="text-align: left;"><i><b><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg5dBvj8MAIMSaUsFoBQu2bz3N0MNmnFdWyY3S5aI078-fxW0Teg2WszVM1nHJXEY6Zj8vd9ztrBm7E5OrwV4ssCq5GxKkfYiKjEBfbNTZqTZHddkTsLXk6eKZf3qALYMnSDk_AwQ4U9MWfYp3TD6IX7ni6g_W6ffvVmdZtovBMxDxo07r_aye7T6wchcY/s1000/41VwhjMIL0L._AC_UF1000,1000_QL80_.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1000" data-original-width="690" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg5dBvj8MAIMSaUsFoBQu2bz3N0MNmnFdWyY3S5aI078-fxW0Teg2WszVM1nHJXEY6Zj8vd9ztrBm7E5OrwV4ssCq5GxKkfYiKjEBfbNTZqTZHddkTsLXk6eKZf3qALYMnSDk_AwQ4U9MWfYp3TD6IX7ni6g_W6ffvVmdZtovBMxDxo07r_aye7T6wchcY/w276-h400/41VwhjMIL0L._AC_UF1000,1000_QL80_.jpg" width="276" /></a></div><span style="font-size: medium;">A torre acima do véu</span></b></i><span style="font-size: medium;">, Roberta Spindler. 272 páginas. São Paulo: Giz, 2014.</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-size: medium;"><br />Aconteceu muito rápido e ninguém nunca soube de onde veio o miasma que cobriu todo o planeta. Quem respirava a névoa morria em dolorosa agonia, pelos menos esse foi o destino daqueles que tiveram sorte. <br />Os arranha-céus das cidades, com centenas de andares, proporcionaram a uns poucos a possibilidade de sobreviver nos níveis mais altos, acima da névoa venenosa. Ali, esses miseráveis fundaram uma nova sociedade dominada por leis draconianas, devido a escassez extrema recursos, especialmente de energia, comida e água. Abaixo da linha da névoa, a vida também mudou. Humanos e animais transformados em selvagens antropófagos chamados de sombras, eventualmente sobem as escadas para caçar os últimos seres humanos encurralados no topo dos edifícios. <br />Nesse ambiente insalubre vivem Beca e Edu, filhos de Lion, cidadãos da comunidade de Nova Superfície, sobreviventes que habitam um conjunto de prédios cuja sede está localizada nos últimos andares da Torre, o mais alto edifício da antiga megalópole de Rio-Aires. Beca é uma mergulhadora, exploradora especializada que, fazendo uso de cabos e outros equipamentos de escalada, desce aos andares próximos à linha da névoa em busca de qualquer dispositivo remanescente da antiga tecnologia que possa ser reaproveitado. Enquanto Beca cumpre a parte braçal do processo, Edu, seu irmão mais novo, e Lion, seu pai, um mergulhador aposentado, ficam numa central de computadores monitoranto os movimentos de Beca e mantendo cosntante contato de rádio de forma a mantê-la viva durante a missão. A história inicia durante uma dessas incursões, na qual Beca procura por um tipo de bateria de energia infinita cuja localização lhe foi passada por Rato, um informante não muito confiável. A operação acaba comprometida por um conflito com outra equipe de mergulhadores, e Beca acredita que foi traída por Rato. <br />Esse desentendimento inicial progride a um conflito mais sério quando Edu, ao participar de um mergulho, acaba despencando para dentro da névoa, onde desparece completamente. Tudo leva a crer que Edu morreu, mas Rato pensa que ele ainda vive em algum lugar na superfície. Desesperados para resgatar Edu, Beca e Lion convencem os governantes de Nova Superfície a organizar uma missão de resgate na região dominada pela névoa venenosa e pelos sanguinários mutantes. E a aventura vai revelar muito mais sobre o que está por trás da névoa, de onde ela veio e por quê, e o papel de cada um nesse drama mortal.<br /><i>A torre acima do véu</i> é um romance originalmente publicado em 2014, pela Giz Editorial, e é essa a edição tratada nesta resenha. A autora, Roberta Spindler, é paraense de Belém e publicou anteriormente o romance <i>Contos de Meigan: A fúria dos cártagos</i>, em parceria com a também paraense Oriana Comesanha, publicado em 2012 pela Editora Dracaena. Também teve publicado o romance <i>Heróis de Novigrat</i> (Suma, 2018). <br />Spindler tem um texto maduro e bem modelado, sem experimentalismos formais, seguindo a risca todos os protocolos da ficção de gênero numa mescla de fantasia, terror e ficção científica acessível aos leitores mais jovens para quem sua ficção é dirigida. Os personagens são estruturados com motivações bem calçadas, o que dá verossimilhança ao drama ainda que seja todo crivado de situações hiperbólicas incríveis. É justamente o bom desenvolvimento dos personagens que fleva o leitor a avançar, preocupado com o destino deles. <br />A produção da Giz é caprichosa, com ótima revisão de Sandra Garcia Cortez e a ilustração </span><span style="font-size: large;">expressiva</span><span style="font-size: large;"> de Rafael Victor que já bastou para capturar a minha atenção, numa das mais instigantes capas da ficção fantástica brasileira recente. </span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-size: medium;">Enquanto aguardamos a já anunciada continuação para <i>A torre acima do véu</i>, o romance acaba de ganhar nova edição pela Editora HarperCollins Brasil. Vale a leitura deste e dos demais trabalhos de Roberta Spindler, que tem progredido rapidamente no espaço editorial brasileiro. </span></div><div style="text-align: right;"><span style="font-size: medium;">— <i>Cesar Silva</i></span></div>Hiperespaçohttp://www.blogger.com/profile/05030227649636167390noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5461014025383007308.post-30165685542550280662024-01-02T10:11:00.000-08:002024-01-02T10:21:23.282-08:00Mestre das Marés<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhwrJ2RgIfT3asozZw0TrbgvEox5A-IgU93vdGMtrix5bMvWHTuOmJwwwnZVjneWZFat3hNZfDwRl6EyJLmupMooJRjNFrRyr9NGZXlWFEl1GAmRYhzQ_OK6bAiLlkczqUeS15vFpcRqfPYoLF3wXFZjW22YDAspckKasN2vt4vJeu_a7yfTf4qN61cLuU/s1000/capa%20Mestre%20das%20Mar%C3%A9s.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1000" data-original-width="648" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhwrJ2RgIfT3asozZw0TrbgvEox5A-IgU93vdGMtrix5bMvWHTuOmJwwwnZVjneWZFat3hNZfDwRl6EyJLmupMooJRjNFrRyr9NGZXlWFEl1GAmRYhzQ_OK6bAiLlkczqUeS15vFpcRqfPYoLF3wXFZjW22YDAspckKasN2vt4vJeu_a7yfTf4qN61cLuU/w414-h640/capa%20Mestre%20das%20Mar%C3%A9s.jpg" width="414" /></a></div><br /><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><b><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Mestre
das Marés</span></b><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">, Roberto de Sousa Causo. Arte de capa de Vagner
Vargas. 288 páginas. São Paulo: Devir, Coleção Pulsar, 2018.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Este
romance é o terceiro livro de Causo em seu universo ficcional GalAxis, e o
segundo da série As Lições do Matador. O primeiro foi <i>Glória Sombria</i>
(2013), que mostra uma das primeiras missões do herói Jonas Peregrino, e o
segundo traz as aventuras de <i>Shiroma: Matadora Cyborgue</i> (2015). Neste
meio tempo outras histórias curtas de ambos os personagens foram escritas e
publicadas. <i>Mestre das Marés</i> é, isto sim, o trabalho mais ambicioso
deste universo até o momento, e um dos melhores já escritos pelo autor.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Nesta
nova missão, o Capitão Jonas Peregrino e sua unidade dos Jaguares são enviados
para resgatar uma estação internacional de pesquisa, em órbita do planeta
Firedrake Gamma-M, depois que ela é atacada pelas naves-robôs dos tadais, a
misteriosa espécie alienígena que combate a expansão humana pela Via-Láctea e
ameaça também outras civilizações alienígenas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Os
cientistas se refugiam no planeta, mas ele é duramente atingido por jatos
relativíscos que começam a ser disparados pelo buraco negro dos arredores, e
que era pesquisado pelos cientistas. Gamma-M tem sua atmosfera eliminada e é só
uma questão de tempo para que seja inteiramente destruído pela singularidade,
chamada pelos cientistas terrestres de Firedrake, o dragão que cospe fogo.
Contudo, talvez a metáfora mais apropriada seja a de Mestre das Marés, a
tradução do nome Agu-Du’svarah, dado pela antiga civilização do Povo de Riv — vistos
antes na noveleta “A Alma de Um Mundo”.<a href="file:///D:/Resenha%20Mestre%20das%20Mar%C3%A9s2.doc#_ftn1" name="_ftnref1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="Refdenotaderodap1"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="Refdenotaderodap1"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: HI; mso-fareast-font-family: NSimSun; mso-fareast-language: ZH-CN; mso-font-kerning: 1.0pt;">[1]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Conforme
os cientistas da estação Roger Penrose — homenagem antecipada ao físico inglês
vencedor do Nobel em 2020 — e Peregrino irão constatar, o ataque ocorreu porque
nos subterrâneos do planeta oculta-se uma instalação tadai secreta, com
dispositivos de alta tecnologia e informações que podem ajudar na guerra
travada pela Terra e seus aliados contra os inimigos. A missão, então, passa a
ser muito mais complexa e perigosa do que inicialmente prevista, pois além de
resgatar os cientistas, Peregrino deve levar o que puder do dispositivo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Como
já mostrado nas histórias anteriores, no século XXV embora a Terra tenha se
expandido pela galáxia suas divisões políticas internas continuaram. Peregrino
é um militar da Latinoamérica, a menos afluente das alianças continentais. As
outras são a Aliança Transatlântico-Pacífico e os Euro-Russos. Em meio às
rivalidades políticas, os humanos vivem nas chamadas Zonas de Expansão, com um
grande interesse pela Esfera, a região mais rica e habitada por civilizações
alienígenas, como o já citado Povo de Riv. De certa forma, é uma amostra de
incrível poder econômico, militar e tecnológico dos humanos, conseguir se
espalhar pela galáxia, se equiparando a outras civilizações que, ao que parece,
conseguiram sua união política interna.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Mas
este contexto político maior é abordado de forma indireta, por meio das
estratégias e intrigas entre as alianças para obter poder e influência entre os
humanos e, destes, com outros povos da galáxia. Em <i>Mestre das Marés</i> tal
contexto se desdobra aos poucos, principalmente quando vai se tornando claro
que não há um mesmo objetivo entre os cientistas e Peregrino, quanto a quem
deve ser o destinatário das valiosas informações do dispositivo tadai.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Contudo,
a grande força do romance é a missão em si. Um grupo de naves espaciais se
aproxima de um planeta que está sendo devorado por um buraco negro e ainda sob
a ameaça de extermínio pelos inimigos tadais. Como diz o subtítulo, a aventura
é mesmo uma “jornada ao inferno de um mundo destruído por um buraco negro”. O
enredo se concentra na descida a Gamma-M e o drama explícito de, mais do que
resgatar os cientistas, obter as informações dos tadais a tempo de não ser
destruído por Agu-Dus’varah.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Causo
narra com detalhes extremos toda a sequência de acontecimentos dramáticos, em
que o risco de morte é iminente a cada virada de página. Isso dá uma sensação
de certa angústia ao leitor, de se estar diante de verdadeiras
situações-limite, em que cada decisão pode ser a última. Neste livro, mais do
que nas histórias anteriores, é mostrado um Peregrino mais sensível ao drama
que o cerca. Não em relação à missão militar em si, mas ao contexto de estar
diante da maior força conhecida da natureza, o buraco negro. A médica da equipe
dos cientistas o diagnostica com a “Síndrome de Reinhardt”, com aumento intenso
da ansiedade e numa situação próxima do pânico, diante da sensação de
descontrole e morte iminente — a popular síndrome do pânico. Para um militar em
comando isso poderia ser embaraçoso, mas Peregrino contorna a situação, ao se
concentrar nos objetivos em si de resgatar os cientistas e o dispositivo tadai.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Mesmo
que o aspecto dramático da trama seja evidente, por vezes, é preciso um esforço
do leitor em acompanhar capítulos com descrições detalhadas dos aspectos
científicos e militares envolvidos na missão. Causo mostra que pesquisou muito
para obter um resultado convincente, principalmente sobre os conceitos de
Física relativos à dinâmica difícil de um buraco negro. Se ficasse apenas neste
aspecto o romance já chamaria a atenção como uma peça de ficção científica <i>hard</i>
extrema, talvez só com paralelo com os escritos de Jorge Luiz Calife, em seu
Universo da Tríade. Mas em meio a este contexto mais árido, há a dimensão
humana do sofrimento, entremeado com seguidas citações de Peregrino de trechos
dos poemas de Dante Alighieri (1265-1321), no mergulho poético de extrema força
simbólica religiosa de sua obra <i>A Divina Comédia</i> (1304-1311), em
especial na seção relativa ao “Inferno”. Embora seja de se pensar como
Peregrino fosse um especialista numa obra como essa, por outro lado é parte da
densidade de um personagem que vai além das aparências. Neste sentido, tais
paralelos entre o que ele e seus comandados viveram nas entranhas de um planeta
prestes a ser destruído e as imagens poéticas de Dante, conferem uma dimensão
épica à aventura.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Outro
diferencial é a presença de uma jornalista que foi destacada para escrever um
perfil nada amigável de Peregrino. Por cerca de metade do livro, as seções são
entremeadas com a missão militar em si e as considerações pessoais nada
simpáticas de Camila Lopes ao personagem de sua reportagem. Chega a causar
incômodo a desconfiança da jornalista, para quem já acompanhou a postura ética de
Peregrino em outras histórias, mas, como irá ser revelado, tudo fazia parte de
um esquema oculto para prejudicar o prestígio de um militar que obteve grandes
vitórias contra os tadais em missões anteriores.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><i><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Mestre
da Marés</span></i><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;"> é um dos melhores romances <i>hard</i> da ficção
científica brasileira. Não que haja muitos neste subgênero entre nós, mas, como
já disse, o autor é eficaz em trabalhar de forma didática tantos conceitos,
justificando-os como necessários para o tipo de história que está sendo
narrada, e tornando palatável para o leitor. O romance ainda é complementado
por uma seção de “anexos”, com várias informações e curiosidades sobre o
Universo GalAxis. Trabalho caprichado. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Apesar
de ser o maior texto já escrito sobre este universo, muitas questões são
deliberadamente deixadas em aberto com a conclusão do romance. As informações
do dispositivo tadai foram realmente perdidas? A que interesses de fato serviam
os cientistas da Roger Penrose? Qual o possível papel das outras alianças
terrestres rivais da Latinoamérica? Quais os segredos do misterioso Povo de
Riv, possivelmente o maior aliado dos humanos, mas com seus próprios interesses
na guerra? Além, é claro da persistência do mistério dos próprios tadais. É um
empolgante universo ficcional em construção, que só instiga o leitor a
continuar a acompanhar as próximas aventuras.<o:p></o:p></span></p>
<p align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: right; text-indent: 14.2pt;"><span class="Fontepargpadro1"><b><i><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: SimSun; mso-fareast-language: EN-US; mso-font-kerning: 0pt;">—</span></i></b></span><span class="Fontepargpadro1"><b><i><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Marcello Simão Branco</span></i></b></span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center; text-indent: 14.2pt;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;"><o:p> </o:p></span></b><b style="mso-bidi-font-weight: normal; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">*
* *</span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Agora
em janeiro de 2024, o Universo GalAxis completa 15 anos. Para comemorar
a data está disponível quatro papéis de parede ilustrados por Vagner Vargas.
Podem ser baixados gratuitamente: <a href="http://universogalaxis.com.br/universo-galaxis-faz-15-anos-em-2023/" target="_blank"><span style="background: white; color: #338fe9;">http://universogalaxis.com.br/universo-galaxis-faz-15-anos-em-2023/</span></a><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;"><o:p> </o:p></span></p><div style="mso-element: footnote-list;">
<hr align="left" size="1" width="33%" />
<!--[endif]-->
<div id="ftn1" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///D:/Resenha%20Mestre%20das%20Mar%C3%A9s2.doc#_ftnref1" name="_ftn1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="Caracteresdenotaderodap"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="Caracteresdenotaderodap"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-language: HI; mso-fareast-font-family: NSimSun; mso-fareast-language: ZH-CN; mso-font-kerning: 1.0pt;">[1]</span></span><!--[endif]--></span></span></span></a><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-bidi-font-family: Arial;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span></span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Arial;">Publicado primeiro na antologia <i>Space Opera:
Jornadas Inimagináveis em uma Galáxia não Muito Distante</i>, organizada por
Hugo Vera e Larissa Caruso. Editora Draco, 2012.</span><span style="font-size: 14pt;"><o:p></o:p></span></p>
</div>
</div><br /><p></p>Marcellohttp://www.blogger.com/profile/02626856652197086431noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5461014025383007308.post-37872355857550257752023-12-27T09:27:00.000-08:002023-12-27T09:27:29.717-08:00Prêmio Litera 2023<div style="text-align: left;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhRlcDsxNntMQ874wo4B7_aOZVuTA1mZwu30IE_ytjuHrB78qhHzaNUKZioZ1waIpPalvQK_xE2dAS8wmB8KKRtF6cnE4rCz9OdgvDYRQ6naL-9EAo41UwtqXlGMFsiM5RJM4UuLkT504GlTli-YN4jrMm6-1h-fOp3dp1y96GCE87OYtACwQJ5RSwsO90/s680/F-_zceBWUAA71Cc.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="383" data-original-width="680" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhRlcDsxNntMQ874wo4B7_aOZVuTA1mZwu30IE_ytjuHrB78qhHzaNUKZioZ1waIpPalvQK_xE2dAS8wmB8KKRtF6cnE4rCz9OdgvDYRQ6naL-9EAo41UwtqXlGMFsiM5RJM4UuLkT504GlTli-YN4jrMm6-1h-fOp3dp1y96GCE87OYtACwQJ5RSwsO90/w400-h225/F-_zceBWUAA71Cc.jpg" width="400" /></a></div><span style="font-size: medium;">Iniciativa do perfil TT Literário, o Prêmio Litera ranqueia, em consulta popular através de formulários <i>online</i>, os favoritos do público nas categorias Protagonista literário, Casal literário, Amizade, Meme ou confusão literária, Hype literário, Sáfico, Merecia mais, Página de promoção, Book influencer, Lançamento independente, Capa, Ilustrador, Lançamento LGBTQIA+, Romance, Romance brasileiro, Fantasia, Fantasia brasileira, Ficção científica e Suspense/thriller brasileiro. Algumas das categorias são exclusivas para trabalhos brasileiros, nas demais as produções estrangeiras e nacionais concorrem em igualdade de condições. A título de registro, transcrevemos aqui as dez primeiras posições das categorias que envolvem a ficção de gênero. São elas:<br /><b>Ficção científica</b><br />1- <i>24h para correr</i>, Marina S. Dutra<br />2- <i>Aurora</i>, Vitória Souza <br />3- <i>Marea infinitus</i>, Lis Vilas Boas<br />4- <i>Incompletos</i>, Laís dos Passos<br />5- <i>Anima: Ameaça virtual</i>, Mariana Madelinn, Carol Vidal & Ricardo Santos<br />6- <i>Vigilantes e o multiverso do caos</i>, Denise Flaibam<br />7- <i>As foices</i>, Neal Shusterman<br />8- <i>Uma galáxia multicor e os confins do universo</i>, Becky Chambers<br />9- <i>A torre acima do véu</i>, Roberta Spindler<br />10- <i>Nós fazemos o mundo</i>, de N. K Jemisin.<br /><b>Fantasia</b><br />1- <i>Marcada com sangue</i>, Tracy Deon<br />2- <i>A hospedeira do caos: Espelho d'água</i>, Marcella Albuquerque<br />3- <i>Caledrina Cefyr e a fonte perdida</i>, Gabriela Costa<br />4- <i>Tulipa Luz e os fantasmas do passado</i>, Lolline Huntar'z<br />5- <i>Os devaneios de Rory Agnes,</i> Anne C. Freitas<br />6- <i>Aurora dourada</i>, Pamela Guerardi<br />7- <i>Nilue</i>, Thais Lopes<br />8- <i>Entre beijos e flechas</i>, Vanessa Freitas<br />9-<i> Pequenas maldições: Criaturas nefastas</i>, Caroline Carnevalle<br />10- <i>Divinos rivais</i>, Rebecca Ross.<br /><b>Fantasia brasileira</b><br />1- <i>O invasor de sonhos</i>, Gricia Mendes<br />2- <i>Até o amanhecer</i>, Vanessa Freitas<br />3- <i>Entre beijos e flexas</i>, Vanessa Freitas<br />4- <i>Prata manchada</i>, Fernanda Redfield<br />5- <i>Servante: Fogo e obediência</i>, S. C. Deborah<br />6- <i>Mensageiro do legado</i>, Thainá Fernandez<br />7- <i>Tulipa Luz e os fantasmas do passado</i>, Lolline Huntar'z<br />8- <i>Sangue de areia</i>, Mari Lima<br />9- <i>Aurora dourada</i>, Pamela Gerardt<br />10- <i>A sereia sem dons</i>, Cristina Bomfim.<br /><b>Thriller/suspense brasileiro </b><br />1- <i>Em quadrados</i>, Ana Camarinha<br />2- <i>A cópia</i>, Gabby Meister<br />3- <i>O mistério da casa incendidada</i>, Rafael Weschenfelder<br />4- <i>Trem de louco</i>, Bruno de Deus<br />5- <i>A outra Ana</i>, Vinicius Oliveira Rocha<br />6- <i>Xuxa preta</i>, Alan de Sá<br />7- <i>Acalanto</i>, Auryo Jotha<br />8- <i>O monstro dançante</i>, Gabrielli Casseta<br />9- <i>Medeia morta</i>, Claudia Lemes<br />10- <i>Má influência</i>, Dan Rodriguez.<br />A organização do Prêmio Litera não informa os detallhes editoriais de cada título. <br />Mais posições destas e de outras categorias podem ser garimpadas no perfil do prêmio, <a href="https://twitter.com/ttliterario" target="_blank">aqui</a>.</span></div>Hiperespaçohttp://www.blogger.com/profile/05030227649636167390noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5461014025383007308.post-65988664994621100032023-12-19T04:17:00.000-08:002023-12-23T09:14:48.019-08:00Naquela época tínhamos um gato/Os saltitantes seres da Lua, Olyveira Daemon<div style="text-align: left;"><i><b><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhH27W_IA9AZrl2VIjp2ULwwY8bCXV5rUX2PpuLVpA592YQ5ntAr7oP91DOh7OZ1uP-PzVLxMzp_HRqvUmcKWv_THPDiymJaDJEQ0M80ICGtcxtAwkKvQSOSz3TKbanBf10E_4J4taJTmHs1d_qZEnKyYT0fQx2TijNbIfhB97bjes4fNsCQE_yDJt-1ek/s500/51QaC8-VHtL.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="500" data-original-width="313" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhH27W_IA9AZrl2VIjp2ULwwY8bCXV5rUX2PpuLVpA592YQ5ntAr7oP91DOh7OZ1uP-PzVLxMzp_HRqvUmcKWv_THPDiymJaDJEQ0M80ICGtcxtAwkKvQSOSz3TKbanBf10E_4J4taJTmHs1d_qZEnKyYT0fQx2TijNbIfhB97bjes4fNsCQE_yDJt-1ek/w250-h400/51QaC8-VHtL.jpg" width="250" /></a></div><span style="font-size: medium;">Naquela época tínhamos um gato/Os saltitantes seres da Lua</span></b></i><span style="font-size: medium;">, Olyveira Daemon. 216 páginas. São Paulo: edição de autor, 2023. Publicado em <i>ebook</i>.</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-size: medium;"><br />Afinal, quem é Olyveira Daemon? <br />Não há mistério. Trata-se da personalidade pós-lobotômica do ser fragmentário antigamente conhecido por Nelson de Oliveira, escritor <i>mainstream</i>, ou quase isso, que logrou ganhar o Prêmio Fundação Cultural da Bahia por sua primeira coletânea, <i>Os saltitantes seres da Lua</i>, publicada em 1997. E, como se não fosse suficiente, abiscoitou também o importante Prêmio Casas de Las Américas em 1998 pela coletânea <i>Naquela época tínhamos um gato</i> (escrita antes, publicada depois), ambas reunidas agora em uma única edição, "parcialmente revisada", como diz o próprio Olyveira na página de rosto da nova edição. <br />Quando ganhei uma cópia deste livro, o autor mandou jogar fora as edições anteriores. Talvez as revisões não tenham sido tão parciais assim. De qualquer forma, foi uma ótima iniciativa recuperar essas duas publicações que estavam esgotadas e eram difíceis de encontrar. Embora eu me recorde de ter lido <i>Naquela época tínhamos um gato</i> por volta de dez anos atrás, todos os contos, de ambos os títulos, me pareceram tão fresquinhos como se tivessem sido escritos agorinha mesmo. <br />Lembro que, na primeira leitura, já havia ali o indisfarçável experimentalismo com estilos de discurso e linguagem, que me causou mais estranhamento do que os enredos propriamente ditos. Desta vez, os experimentos estão ainda mais acentuados e levam o leitor desavisado ao quase desespero cognitivo. Sobrevivi porque já esperava por isso mas, mesmo assim, a leitura desta reedição é uma experiência estética incomum. <br />Olyveira Daemon não dá trégua ao leitor. De um texto em que todas as letras "i" são substituídas por "y" e as "c" por "k", segue-se outro escrito em portunhol, e outro no qual os pontos finais são trocados por barras verticais, sinais de parágrafo (§) e outros grafismos, ou em que as letras "o" viram círculos pretos, ou certas palavras são substituídas por falsos cognatos muito marotos, ou os nomes dos personagens antecedem suas falas como em um roteiro de teatro, e assim por diante. Quanto mais avança a leitura, mais profundas as ousadias. <br />Mas não só de experimentos de linguagem vive o heterônimo de Nelson de Oliveira. As histórias também são arrojadas, indo do realismo naturalista de "Éramos todos bandoleiros", e ">Os insetos , o silêncio", passando pelo absurdismo de "Kadáver kauteloso eskondido num baú" e "Encanador", pela fantasia de "A vysão vermelha de Vyctor, ao vento", pelo humor escrachado de "Qüiprocó na Sé", até pela ficção científica de "The body snatchers". Alguns são curtinhos, praticamente vinhetas de duas ou três páginas, outros são robustos, ocupando dezenas delas, formando uma seleta de trinta contos no total. Em alguns intervalos entre os contos, surgem comentários espirituosos do autor, chamados de "Notas-anedotas" que ajudam a contextualizar os textos quanto às propostas do autor. O volume é completado por um prefácio assinado pelo jornalista e também escritor André Cáceres.<br />A coletânea é empolgante quanto as perspectivas que propõe para a estética literária, especialmente com relação a ficção fantástica que tem na suspensão da descrença um fundamento considerado incontornável e que é extemamente vulnerável ao mais leve experimentalismo na linguagem. </span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-size: medium;">Olyveira Daemon prova que a fcf brasileira engatinha no que se refere a ousadia formal, mas temo que os autores do gênero talvez não comprem a ideia com facilidade. Um dia, quem sabe? <br />Enquanto isso, festejamos o fato de existir um Olyveira Daemon para sacudir os protocolos embolorados da velha <i>pulp fiction</i>.</span></div><div style="text-align: right;"><span style="font-size: medium;">— <i>Cesar Silva</i></span></div>Hiperespaçohttp://www.blogger.com/profile/05030227649636167390noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5461014025383007308.post-50762994799188410672023-12-15T12:54:00.000-08:002023-12-15T13:08:34.073-08:00Prêmio Argos 2023<div style="text-align: left;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjb2dvWE85yX8DtGJd1z7M5nXaD_sOC3s1hMSO6KgcjYl0fD_rkcMPPuYxDFFOO3N73VyetVLn2KPjkR941mmlArajpCejp-oaxFiPyTPaYfOIS2dd9cK9PIR_ZF0odWm2XIi1yxS7AuOch7VFvbG_QdMB0MN_JWOSGSt8O8RlSh9E1zpgw6ro27fBS030/s500/17619470558617175878.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="261" data-original-width="500" height="334" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjb2dvWE85yX8DtGJd1z7M5nXaD_sOC3s1hMSO6KgcjYl0fD_rkcMPPuYxDFFOO3N73VyetVLn2KPjkR941mmlArajpCejp-oaxFiPyTPaYfOIS2dd9cK9PIR_ZF0odWm2XIi1yxS7AuOch7VFvbG_QdMB0MN_JWOSGSt8O8RlSh9E1zpgw6ro27fBS030/w640-h334/17619470558617175878.jpg" width="640" /></a><div style="text-align: left;"><span style="font-size: medium;">O Prêmio Argos de Literatura Fantástica, criado em 2000, é promovido anualmente pelo Clube de Leitores de Ficção Científica e reconhece os melhores trabalhos em romance, antologia e história curta de ficção científica, fantasia e horror escritos em língua portuguesa publicados no ano anterior. <br />Em 2023, o método de escolha dos vencedores mudou, sendo realizado um primeiro turno de votação exclusiva entre os membros do Clube que indicam cinco finalistas em cada categoria, depois votados publicamente através de formulários digitais na internet.</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-size: medium;">Os vencedores em 2023 são:<br /><span><b style="background-color: white;">Romance: </b></span><i style="background-color: #f9cb9c;">Estação das moscas</i>, Cirilo Lemos, coleção Dragão Negro, Draco;</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-size: medium;"><span style="background-color: white;">Demais finalistas: </span><i>Baluartes: Terra sombria</i><span style="background-color: white;">, Clinton Davisson, Avec; </span><i>Bem mal me quer</i><span style="background-color: white;">, Hache Pueyo, Dame Blanche; </span><i>O fantasma de Cora</i><span style="background-color: white;">, Fernanda Castro, Gutenberg; </span><i>Paradoxo de Theséus</i><span style="background-color: white;">, Alexey Dodsworth, Draco.</span><br /><span style="background-color: white;"><b>Antologia: </b></span><i style="background-color: #f9cb9c;">Os Pilares de Melkart</i>, Ana Lúcia Merege, Draco;</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-size: medium;"><span style="background-color: white;">Demais finalistas: </span><i>A study in ugliness e outras histórias</i><span style="background-color: white;">, Hache Pueyo, Lethe Press; </span><i>Fator Morus</i><span style="background-color: white;">, Lu Evans, org., Nebula; </span><i>Mafaverna: Democracia</i><span style="background-color: white;">, Jana Bianchi e Diogo Ramos, orgs., NDI; </span><i>Outros Brasis da ficção a vapor</i><span style="background-color: white;">, Davenir Viganon, Caligo.</span><br /><span style="background-color: white;"><b>Conto:</b> <span> </span></span><i style="background-color: #f9cb9c;">Jogo do destino</i>, Ana Lúcia Merege, Draco;</span></div><div style="text-align: left;"><span style="background-color: white;"><span style="font-size: medium;">Demais finalistas: <i>Fica com Mi-go esta noite</i>, Carlos Relva, do autor; <i>O renascer dos deuses</i>, Oghan N'thanda, do autor; "Planeta Quilombo", G .G. Diniz, <i>Mafagafo 5; </i><i>Sankofa</i>, Juliane Vicente, da autora.</span></span></div><div style="text-align: left;"><span style="background-color: white;"><span style="font-size: medium;">Parabéns aos ganhadores!</span></span></div></div></div>Hiperespaçohttp://www.blogger.com/profile/05030227649636167390noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5461014025383007308.post-53369969704386629922023-12-03T05:51:00.000-08:002023-12-03T06:13:02.566-08:00Depois da Bomba<p> <b style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Depois
da Bomba</span></b><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"> (Dr. Bloodmoney, or How we Got Along after the Bomb),
Philip K. Dick. Tradução: Eurico Fonseca. Capa: A. Pedro. 248 páginas. Lisboa:
Edição Livros do Brasil, Coleção Argonauta, n. 309, sem data. Lançamento
original em 1965.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;"><o:p> </o:p></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivnDSIecL2-FkhD_BqTHdijL9yPxi7UmCkvLwxD7TZUbTwaR8hMmDQM54FrPjY1ZBKcKf3axrAQnBBBZVHjL8umceJ3qH7A3mxNdIV82NLlozDACnh6scoV9NTPlqSVPqORDQrfaJ5XDD8aPQ7i9Gzzz6Rc44bHEMxo4OygIc9mGb6icfIt9NHY8JMVPw/s360/capa%20Depois%20da%20Bomba1.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="360" data-original-width="240" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivnDSIecL2-FkhD_BqTHdijL9yPxi7UmCkvLwxD7TZUbTwaR8hMmDQM54FrPjY1ZBKcKf3axrAQnBBBZVHjL8umceJ3qH7A3mxNdIV82NLlozDACnh6scoV9NTPlqSVPqORDQrfaJ5XDD8aPQ7i9Gzzz6Rc44bHEMxo4OygIc9mGb6icfIt9NHY8JMVPw/w426-h640/capa%20Depois%20da%20Bomba1.jpg" width="426" /></a></div><br /><p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">O título do romance faz
referência ao dr. Bruno Bluthgeld, cientista alemão que trabalha para o Exército
dos EUA, e que se traduz como <i style="mso-bidi-font-style: normal;">bloodmoney</i>
em inglês. Pois é da ação e consequência desse personagem que a trama se
desenrola. No passado, presente e futuro. Isso porque em 1972, Bluthgeld esteve
à frente de um teste nuclear realizado na atmosfera que redundou num fracasso
catastrófico: uma enorme onda radioativa se espalhou pelos EUA, trazendo morte
e doenças a milhares de pessoas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Em 1981 Bluthgeld procura
viver de forma anônima em São Francisco, com o rosto envolto numa máscara que
esconde cicatrizes e com uma paranoia cada vez mais doentia, por se corroer
pelo mal que causou e pelo qual é odiado pela maioria das pessoas. Ele procura
ajuda de um psicanalista, o Dr. Stokstill, que trabalha em frente a uma loja de
venda e conserto de aparelhos de TV. Onde está o afro-americano Stuart
McConchie e também, mais recentemente, Hoppy Harrington, um deficiente que não
tem braços e pernas – decorrente de sua mãe ter ingerido talidomida em sua
gravidez –, mas que é muito inteligente e se move com uma espécie de cadeira
mecânica altamente sofisticada.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Dick expõe, inicialmente,
o contexto por meio desses personagens para, de súbito, jogar o leitor no
holocausto nuclear. Sim, os EUA sofrem um ataque maciço, provavelmente da União
Soviética, e tem o país praticamente destruído. A cidade onde os três vivem é
destruída, e o restante da história se passa no que restou da Califórnia, onde
alguns agrupamentos urbanos sobreviveram de forma precária – sem eletricidade,
água, combustível e pouca comida –, e no interior foram criadas algumas
comunidades relativamente autônomas e isoladas umas das outras, com suas
próprias leis e formas de organização do poder.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Sete anos depois, em
1988, reencontramos Bluthgeld, Harrington e McConchie. O primeiro isolado num
sítio onde cria ovelhas, o segundo integrado à comunidade de West Marin e o
terceiro vivendo de bicos na pequena cidade de Berkeley. A eles somos
apresentados a outros personagens, não menos que memoráveis em sua estranheza e
humanidade como, por exemplo, a menina Edie Keller, que, devido a uma mutação
genética provocada pelo ataque nuclear, leva em seu ventre o feto do irmão Bill,
numa aliança siamesa, e no qual ele se comunica telepaticamente com ela, e com os
mortos; e o astronauta Walter Dangerfield, que vive numa nave em órbita
sozinho, já que no mesmo dia que partiria para Marte com sua esposa, foi
surpreendido pelo ataque nuclear. Após a morte dela, virou uma espécie de disc
jóquei, se comunicando com as comunidades na superfície por meio de
transmissões radiofônicas, onde veicula músicas e leituras de romances.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Mas este conjunto
singular de personagens se situa num contexto pós-apocalíptico, por vezes
crível e por vezes estranho, embora não inteiramente impossível. Isso porque
nesse novo mundo, os efeitos radioativos possibilitaram a emergência de
inteligência e capacidade de comunicação com os humanos por parte de cães e gatos,
além de ratos com inacreditáveis capacidades musicais e matemáticas. Além
disso, várias pessoas apresentam diferentes tipos de mutações e deficiências.
Contudo, os sobreviventes permaneceram na superfície da Terra, pelo menos após vários
viverem nos primeiros anos em espaços subterrâneos, como fez McConchie.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Dick procura mostrar não
propriamente uma tentativa de reconstrução social, mas sobretudo de
sobrevivência e adaptação a este novo mundo. Com isso, passa a centrar a
narrativa principalmente na comunidade de West Marin, para onde converge os
personagens já citados e outros que lá vivem. Mas nem todos realmente se
adaptam a esta nova realidade. Ao invés, e de forma gradativa, se deterioram
psicologicamente, tornando-se uma ameaça para os demais.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center; text-indent: 14.2pt;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgP6W1Zv0Oxl5vIqVvN61dtKfuRwnwQlH7-rhGJt04azvANNC-LX__p_17IWZhe0HDLmsQwwnNHpHOyIP6IrqnGYhjmXTfH35VDbm9jefJdn6Dr9aw8hpyeK_0aOLGe14HrR_kImxy-RDei6EQkbUmbUIPSgjflngAkhIMDN7dvn4krGW2JKm75a8Xzs5c/s499/capa%20Depois%20da%20Bomba2.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="499" data-original-width="336" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgP6W1Zv0Oxl5vIqVvN61dtKfuRwnwQlH7-rhGJt04azvANNC-LX__p_17IWZhe0HDLmsQwwnNHpHOyIP6IrqnGYhjmXTfH35VDbm9jefJdn6Dr9aw8hpyeK_0aOLGe14HrR_kImxy-RDei6EQkbUmbUIPSgjflngAkhIMDN7dvn4krGW2JKm75a8Xzs5c/w430-h640/capa%20Depois%20da%20Bomba2.jpg" width="430" /></a></div><br /><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;"><br /></span><p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">O dr. Bluthgeld é paranoico
e acha que vai ser descoberto e assassinado, principalmente por qualquer pessoa
nova que apareça em West Marin. Um professor chega a ser executado pela
comunidade quando se descobre que pretendia realmente matá-lo. Mas ele, de fato,
passa a imaginar que provocou o próprio holocausto e precisa provocar outro
para uma nova “purificação” da humanidade. Louco ou não, o fato é que seus
poderes imaginários passam a ter alguma espécie de realidade, quando
tempestades terríveis se abatem sobre West Marin. Isso provoca a reação de
Hoppy Harrington, um sujeito tão habilidoso manualmente, a despeito – ou por
causa – de sua debilidade, quanto ressentido pelas humilhações do passado. Com
crescente influência e megalomania imagina-se como a salvação de uma possível
nova danação.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Um sentimento que vai se
tornando cada vez mais nítido com o avançar da leitura é de irrealidade. Como
se fossemos colocados dentro de um sonho que, aparentemente, não é nosso, mas
que não conseguimos nos desvencilhar. Como bem apontou David Pringle, no livro <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Science Fiction: The 100 Best Novels</i> (1985)
– que incluiu este romance de Dick –, é como se o leitor sonhasse o sonho de
outro, e dentro do seu contexto particular, se tornasse crível, mesmo com
situações cada vez mais inverossímeis.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Dick apresentou dois
títulos iniciais para <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Depois da Bomba</i>:
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">In Earth´s Diurnal Course</i> e <i style="mso-bidi-font-style: normal;">A Terran Odissey</i>, mas acabou por
concordar com a sugestão do prestigioso editor Donald Wollheim (1914-1990), numa
alusão ao filme de sucesso da época, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Doutor
Fantástico</i> (<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Dr. Strangelove or: How I
Learned to StopWorrying and Love the Bomb</i>; 1964), de Stanley Kubrick. E
embora não seja intencional, pode ser visto como uma instigante especulação
sobre as consequências de um mundo devastado pela guerra insanamente desejada
pelo general louco interpretado por George C. Scott.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">É a contribuição de Dick
ao tema do pós-apocalipse nuclear, talvez o mais abordado pela FC durante a
segunda metade do século XX, dado o grau de pesadelo próximo que se instaurou
não só nos EUA, mas, em todo o mundo. Dick o faz à sua maneira, expondo
principalmente, a desesperança e perturbação das pessoas, com efeitos também
físicos sobre muitos deles. Vários personagens são mesmo passíveis de certa
comiseração, num futuro que perdeu o sentido e, no qual, inclusive, o suicídio
não provoque mais tanta perplexidade ou repúdio. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Depois
da Bomba</span></i><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;"> foi finalista do Prêmio Nebula em 1965, escrito no
período tematicamente mais maduro de Philip K. Dick, a década de 1960, ao lado
de outros romances tão misteriosos quanto fascinantes como, por exemplo, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Homem do Castelo Alto</i> (<i style="mso-bidi-font-style: normal;">The Man in the High Castle</i>; 1962), <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Os Três Estigmas de Palmer Eldritch</i> (<i style="mso-bidi-font-style: normal;">The Three Stigmata of Palmer Eldritch</i>;
1965), <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Caçador de Androides</i> (<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Do Androids Dream of Electric Sheep</i>;
1968) e <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Ubik</i> (Ubik; 1969). Ora, todos
eles foram publicados no Brasil, menos <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Depois
da Bomba</i> – que recebeu, inclusive uma segunda edição em Portugal, pela
coleção Antecipação número 3, com o título de <i>Os Sobreviventes</i> –, numa ausência que chega a ser espantosa, dada
sua relevância para a FC e para o conjunto da obra do autor.<o:p></o:p></span></p>
<p align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; mso-hyphenate: none; text-align: right; text-indent: 14.2pt;"><b><i><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: SimSun;">—</span></i></b><b><i><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%; mso-bidi-language: HI; mso-fareast-font-family: NSimSun; mso-fareast-language: ZH-CN; mso-font-kerning: 1.0pt;">Marcello Simão Branco<o:p></o:p></span></i></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; mso-hyphenate: none; text-indent: 14.2pt;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-style: italic; mso-bidi-font-weight: bold; mso-bidi-language: HI; mso-fareast-font-family: NSimSun; mso-fareast-language: ZH-CN; mso-font-kerning: 1.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>Marcellohttp://www.blogger.com/profile/02626856652197086431noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5461014025383007308.post-7268451391928407202023-11-20T11:19:00.000-08:002023-12-15T13:05:52.252-08:00De ferro e de sal, Simone Saueressig<div style="text-align: left;"><b><i><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiV9LuCnI4QWglBfic6o33Rqd8x85BNrkGTT3sXYzFpQsAyEx2pDpJr5d5z6f-dnjKc80OPEARoUY2mPm0zSjL1F0mIMfEk8cXPiJAlR0p0ipcGTUpLf2NYNCv89Y36dliZz4ZuH7UMSYf2dmKmODDAUglOYxVko523rwFIa90oDOdMF4AH5yaVbmbzNdc/s1000/71cJxw1JdHL._AC_UF1000,1000_QL80_.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1000" data-original-width="667" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiV9LuCnI4QWglBfic6o33Rqd8x85BNrkGTT3sXYzFpQsAyEx2pDpJr5d5z6f-dnjKc80OPEARoUY2mPm0zSjL1F0mIMfEk8cXPiJAlR0p0ipcGTUpLf2NYNCv89Y36dliZz4ZuH7UMSYf2dmKmODDAUglOYxVko523rwFIa90oDOdMF4AH5yaVbmbzNdc/w266-h400/71cJxw1JdHL._AC_UF1000,1000_QL80_.jpg" width="266" /></a></div><span style="font-size: medium;">De ferro e de sal</span></i></b><span style="font-size: medium;">, Simone Saueressig. 608 páginas. Novo Hamburgo: edição de autor, 2018. Ebook.</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-size: medium;"><br />Asanegra é um adolescente em idade de ser vendido, por isso seu pai o leva até o mercado central da cidade fortificada de Brutmir, onde poderá encontrar o comprador certo para encaminhar o filho a uma profissão respeitável e lucrativa. E esse comprador acaba sendo o ferreiro Daskos que não tem filhos homens e pressente que precisa passar suas habilidades a um aprendiz. <br />Satisfeito com o dinheiro que irá saldar suas muitas dívidas, o homem deixa o filho com Daskos e volta para sua terra, na região rural do distrito. Asanegra também está animado, pois escapou de ser comprado por algum tarado, o que não é incomum nesse tipo de negócio. O que ele não imaginava é que Daskos na verdade não é um homem sem filhos. Ele tem uma filha, a rabujenta Orí, que sempre quis conhecer a Forja onde o pai trabalha mas nunca pode porque é tabu que mulheres entrem lá. <br />A Forja é uma instituição importante para Brutmir, uma vez que é onde se fabricam as armas e as barreiras de defesa da cidade contra o ataque do povo élfico, inimigos figadais dos homens desde que estes lhes tomaram a Torre de Amálgama, edificação que fica no centro de Brutmir e é sagrada para os elfos, que juraram retomá-la. Todo o trabalho na Forja só é possível com a ajuda dos Servidores, demônios domesticados que fazem a função de fornalhas de bancada, aquecendo o metal para ser modelado pelos ferreiros. Acontece que os Servidores enlouquecem de desejo se sentirem o cheiro das mulheres humanas e, no gozo do prazer, acabam por matá-las numa explosão autodestrutiva. <br />Desse modo, a vida de Asanegra na casa de Daskos torna-se um inferno com as provocações e maldades de Orí, enciumada pelo privilégio do garoto em entrar na Forja e por ele ter a atenção do pai que, até então, só a ela pertencia.<br />Em outra parte da cidade, vive o estranho Sivo, homem poderoso e cheio de mistérios, chamado por todos de o Homem Santo. Sivo não é uma boa pessoa, pois está até o pescoço de ódio e ressentimento, e seu único desejo é destruir Brutmir e tudo o que ela representa. Para isso, vem articulando um plano de longo prazo, com detalhes que precisaram ser definidos com o cuidado de um relojoeiro. E a hora de colocar a máquina em funcionamento se aproxima pois, em breve, haverá uma conjunção rara de planetas que vai abrir caminho para o ataque definitivo dos elfos, algo em que ninguém em Brutmir acredita, pois os elfos estão distantes há muito tempo. Sivo se aproveita dessa situação para enfraquecer as defesas da cidade muralhada, bem como o seu exército que está decadente pelo ócio e pela corrupção. <br />Este é, basicamente, o enredo de <i>De ferro e de sal</i>, romance de alta fantasia da escritora gaúcha Simone Sauressig, que o publicou em 2018 com recursos próprios através da plataforma de autoedição da Amazon. <br />Trata-se de um texto longo, com mais de cem mil palavras e muita ação, especialmente em sua metade final, uma vez que a primeira metade do livro é dedicada a apresentar os muitos personagens, todos bem construídos, e a cidade murada de Brutmir, personagem principal da trama.<br />Alta fantasia não é uma novidade na produção da autora, que já apresentou outras obras no gênero, como a saga <i>Os sóis da América</i> (2013), o romance <i>O jogo no tabuleiro</i> (2009) e a duologia <i>A noite da grande magia branca</i> (1993)/<i>A fotaleza de cristal </i>(1988). A diferença que salta aos olhos para quem já conhece a ficção de Saueressig é o tom violento e cruel desta dramatização. Não que seus trabalhos anteriores não tivessem situações tensas e incômodas, inclusive isso foi bastante utilizado pela autora no romance de ficção científica <i>B9 </i>(2010) e em suas histórias curtas de horror, nas quais cenas sangrentas não são incomuns. Até mesmo a morte de personagens importantes nas tramas também está presente em obras anteriores. Porém, em <i>De ferro e de sal</i>, esse tom está definitivamente emaranhado à história, configurando um estilo diferenciado diante das peças acima citadas, como se Saueressig estivesse deliberadamente conduzindo sua ficção para um público mais maduro do que aquele ao qual foram dirigidos os trabalhos anteriores. Isso, somado ao curioso formato humorístico de sua coletânea mais recente, <i>A noite dos insensatos</i> (2023), demonstra o desejo de Saueressig em encontrar novos públicos e escapar do paradigma de autora de ficção juvenil. <i>De ferro e de sal</i> é certamente o ponto alto dessa estratégia e confima, mais uma vez, o estatus de Simone Saueressig como um dos melhores autores de alta fantasia no Brasil.</span></div><div style="text-align: right;"><span style="font-size: medium;">— <i>Cesar Silva</i></span></div>Hiperespaçohttp://www.blogger.com/profile/05030227649636167390noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5461014025383007308.post-66235100702297408502023-10-20T10:27:00.001-07:002023-12-15T13:06:08.441-08:00Novela<div style="text-align: left;"><i><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgXCiilzJvOpbwJGKS1FSonT8f9HpBOgWlexTQ4I52-6YBNocYc7CYpCMEpbFMfvGp3rY7XGO_zXoeZCdc8nTiDVVXDun5z6LiltB3Q5m-bXQU1S-khMQgYmDtBuTBEZPbriKFJnferBi3F-sin3GN2RssecFbh1uQBGieg3x6UzN4w28QdYp45o3CT5V0/s750/lTA0tnrl59sItGox44ZvdMLbFo5.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="750" data-original-width="500" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgXCiilzJvOpbwJGKS1FSonT8f9HpBOgWlexTQ4I52-6YBNocYc7CYpCMEpbFMfvGp3rY7XGO_zXoeZCdc8nTiDVVXDun5z6LiltB3Q5m-bXQU1S-khMQgYmDtBuTBEZPbriKFJnferBi3F-sin3GN2RssecFbh1uQBGieg3x6UzN4w28QdYp45o3CT5V0/w266-h400/lTA0tnrl59sItGox44ZvdMLbFo5.jpg" width="266" /></a></div><span style="font-size: medium;">Novela </span></i><span style="font-size: medium;">é uma série brasileira de fantasia e humor que estreou em 2023 na plataforma de <i>streaming </i>Amazon Prime. Foi criada e escrita por Valentina Castello Branco e Gabriel Esteves, com direção de Renata Pinheiro e Gigi Soares, e produção do Porta dos Fundos. <br />Esta primeira temporada tem oito episódios e o elenco conta com nomes conhecidos da televisão, como Monica Iozzi, Miguel Falabela, Tarcísio Filho, Caio Menk, Herson Capri, Suzy Rego, Marcello Antony, Maria Bopp, entre outros, muitos deles interpretando dois ou até três papéis.<br />Claramente inspirada em <i>Alice no País das Maravilhas</i>, de Lewis Carroll, <i>Novela </i>conta a história da roteirista iniciante Isabel (Monica Iozzi) que, no evento de estréia de sua primeira novela, <i>Rebote do destino</i>, descobre que seus créditos foram usurpados por seu mentor, o novelista decadente Lauro Valente (Miguel Falabela). Aturdida, Isabel vaga pelo estúdio e é sugada por um monitor, indo parar justamente no primeiro capítulo que acabava de ir ao ar. E o que é visto pelo público na televisão não é o que foi gravado pelo elenco, mas sim uma história metalinguística totalmente divergente, na qual a presença de Isabel subverte o enredo e transforma a vida de Lauro e do elenco da novela numa montanha russa imprevisível. <br />Ao longo dos primeiros capítulos, Isabel conclui que o único modo de escapar da loucura na qual mergulhou é forçando o desfecho recorrente das histórias de Lauro Valente, fazendo a mocinha (ela mesma) e o galã se casarem pois, com o fim da história, acredita que voltará automaticamente para a realidade. <br />Mas as interferências de Isabel fizeram a novela bater recordes de audiência e, pressionado pela direção da emissora e pelos anunciantes, Lauro terá que sustentar a farsa e esticar a novela, sem ter a menor ideia do que pode acontecer quando o próximo capítulo for ao ar. <br />A série trabalha com muitas situações de bastidores da teledramaturgia, além de homenagear várias novelas e brincar com os cacoetes desse tipo de produção, com figurinos bizarros, situações esterotipadas e muito nonsense, como quando entram os intervalos comerciais e tudo se congela, exceto a própria Isabel. <br /><i>Novela </i>vem somar um conjunto de boas ideias às séries brasileiras, um novo tipo de produto televisivo que tem investido em histórias fantásticas como <i>Cidades invisíveis</i>, <i>Espectros</i>, <i>3%</i> e <i>Vale dos esquecidos</i>, e pode contribuir decisivamente para renovar o modelo tradicional das novelas da televisão brasileira.</span></div><div style="text-align: right;"><span style="font-size: medium;">— <i>Cesar Silva</i></span></div>Hiperespaçohttp://www.blogger.com/profile/05030227649636167390noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5461014025383007308.post-84545735084645048782023-10-12T06:55:00.003-07:002023-12-15T13:07:01.087-08:00Prêmio Odisseia 2023<div style="text-align: left;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjKbN-MfCBlfLxn2V5ct9oUbZxo3WARoeUj_F0zDkCJvYMB-g3vW9fNE05FQjNG3KwOzGzX9vqqroipjDaTqFsjuNPb5mij8Qouq-Z4eoSUeQ-KsO9QISxxCFws0LYh9JDBMdBTBZ4Oa9tA-yeBHwaGBB6xeXWbZVw6ADSxahmCZ91LPNsYgE_Ay_ppC24/s955/image.png" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="955" data-original-width="715" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjKbN-MfCBlfLxn2V5ct9oUbZxo3WARoeUj_F0zDkCJvYMB-g3vW9fNE05FQjNG3KwOzGzX9vqqroipjDaTqFsjuNPb5mij8Qouq-Z4eoSUeQ-KsO9QISxxCFws0LYh9JDBMdBTBZ4Oa9tA-yeBHwaGBB6xeXWbZVw6ADSxahmCZ91LPNsYgE_Ay_ppC24/w300-h400/image.png" width="300" /></a></div><span style="font-size: medium;">Criado em 2019, o Prêmio Odisseia de Literatura Fantástica homenageia os favoritos de um júri composto por escritores convidados, dentre uma relação de obras publicadas no ano anterior especificamente inscritas para o certame. </span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-size: medium;">A edição 2023 retomou a prática de anunciar seus vencedores em evento presencial, que aconteceu no último dia 8, durante o congresso Odisseia de Literatura Fantástica, em Porto Alegre. <br />Os vencedores são: <br /><b>Projeto gráfico: </b><i style="background-color: #f9cb9c;">A vida e as mortes de Severino Olho de Dendê</i><span style="background-color: white;">, </span>Ian Fraser, Intrínseca;<br /><b>Quadrinho fantástico:</b> <i style="background-color: #f9cb9c;">Os sussurros do caos rastejante</i>, Fábio Yabu & Fred Rubim, Jambô;<br /><b>Narrativa longa juvenil:</b> <i><span style="background-color: #f9cb9c;">A morte e a vida dos meninos lobos</span>, </i>Lucas de Melo Bonez, Boaventura;<br /><b>Narrativa curta horror:</b> <span style="background-color: #f9cb9c;">"A devoradora"</span>, Juliana Cunha, em <i>Notívagas</i>, O Grifo;<br /><b>Narrativa curta fantasia:</b> <span style="background-color: #f9cb9c;">"Serra minguante"</span>, João Mendes, em <i>Mafagafo 5-1</i>, Mafagafo;<br /><b>Narrativa curta ficção científica:</b> <span style="background-color: #f9cb9c;">"O cuco de Sumaúma"</span>, Simone Saueressig, em <i>Multiverso Pulp 5</i>, Avec;<br /><b>Narrativa longa horror:</b> <i><span style="background-color: #f9cb9c;">Irebu</span>, </i>Larissa Brasil, independente;<br /><b>Narrativa longa fantasia: </b><i style="background-color: #f9cb9c;">Ebálidas de Pseudo-Outis</i>, Bruno Anselmi Matangrano, Arte e Letra;<br /><b>Narrativa longa ficção científica:</b> <i><span style="background-color: #f9cb9c;">Mil placebos</span>, </i>Matheus Borges, Uboro Lopes;<br /><b>Artigo fantástico:</b> <span style="background-color: #f9cb9c;">"Pode a inteligência ser artificial? O que nos ensinam os robôs de Isaac Asimov"</span>, Rafael Eisinger Guimarães, em <i>Leitura, curiosidade e imaginação: Refletindo sobre inteligência artificial</i>, Pontes.</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-size: medium;">O informe oficial com todos os finalistas e os vencedores destacados, pode ser encontrado no site do evento, <a href="https://odisseialitfan.wordpress.com/premio-odisseia-de-literatura-fantastica-2023/" target="_blank">aqui</a>.<br />Também foram distribuídos aos presentes exemplares o primeiro número da <i>Revista Odisseia de Literatura Fantástica</i>, publicação exclusiva editada por Duda Falcão. Em vinte páginas, traz históricos do evento e do Prêmio, a programação completa da edição 2023 e contos inéditos de Ana Lúcia Merege, Simone Saueressig e do editor. A versão digital da revista pode ser baixada <a href="https://odisseialitfan.wordpress.com/revista-odisseia-de-literatura-fantastica/" target="_blank">aqui</a>. <br />Parabéns aos vencedores!</span></div>Hiperespaçohttp://www.blogger.com/profile/05030227649636167390noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5461014025383007308.post-54665128673138570382023-09-27T09:40:00.006-07:002023-09-28T07:21:04.773-07:00Raízes do Amanhã<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEieQu79n7nVT6LE5Ig2-P3J69SF6-aMXPVxDNa4aq2CleGBswbHOFGX8cVuyxZH3vLdmeNxWHUJzvyTYS8cEJ7gmLuXs0RCWX-e9Ir4elOrcmOPdYdECRgiDwMm6NfCEDIRoVClazboQhte8ewZGoxU0NWp74iG2m-E8ajIVptQRpGuAj_gm1cC_GFnxXg/s532/capa%20ra%C3%ADzes%20do%20amanh%C3%A3.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="532" data-original-width="370" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEieQu79n7nVT6LE5Ig2-P3J69SF6-aMXPVxDNa4aq2CleGBswbHOFGX8cVuyxZH3vLdmeNxWHUJzvyTYS8cEJ7gmLuXs0RCWX-e9Ir4elOrcmOPdYdECRgiDwMm6NfCEDIRoVClazboQhte8ewZGoxU0NWp74iG2m-E8ajIVptQRpGuAj_gm1cC_GFnxXg/w446-h640/capa%20ra%C3%ADzes%20do%20amanh%C3%A3.jpg" width="446" /></a></div><br /><p style="text-align: center;"><br /></p><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Raízes
do Amanhã: 8 Contos Afrofuturistas</span></b><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">, Waldson Souza, org.
Capa: Nazura Santos. 219 páginas. São Paulo/Belo Horizonte: Gutenberg/Plutão,
2021.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">O afrofuturismo é um movimento
literário de caráter especulativo que busca a valorização e identidade do mundo
a partir da realidade historicamente discriminada da raça negra. Foi assim
nomeado em meados dos anos 1990 nos EUA, e tem entre seus principais autores os
norte-americanos Samuel R. Delany e Octavia Butler (1947-2006). Talvez de forma
surpreendente já tem uma quantidade de obras e autores brasileiros com alguma
relevância. Por exemplo, os romances <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O
Caçador Cibernético da Rua Treze</i> (2017), de Fábio Kabral, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Céu Entre Mundos</i>, de Sandra Menezes
(2021) – vencedor do prêmio Odisseia de Literatura Fantástica 2022 – e <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Último Ancestral</i> (2021), de Alê
Santos, finalista do Jabuti. Isso além de eventos e publicações acadêmicas, o
que evidencia ainda mais sua vitalidade desde a última década.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Mesmo assim, o nosso afrofuturismo
continua nas bordas da visibilidade cultural mais ampla, se somando à luta em
prol de uma maior pluralidade e reconhecimento, a exemplo da própria que a
inspirou, a ficção científica.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Nesse sentido, é muito
útil a publicação de uma coletânea como <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Raízes
do Amanhã</i>, por apresentar vários temas da causa negra a partir da
perspectiva da FC. Além disso, um livro como esse enriquece também a própria
FCB, por abrir o leque para novas visões sobre a nossa realidade. Isso porque,
quase todas as histórias trabalham com a perspectiva de emancipação dos negros
dentro de um contexto brasileiro. Justamente, um país com um passado e
problemática racial tão dramática e ainda pendente em nossa contemporaneidade.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">O conto que abre a coletânea
é “Não tem Wi-fi no Espaço”, de G.G. Diniz. Num futuro indefinido, o Nordeste
se separou do Brasil, e constituiu a República Federativa do Nordeste. Uma
comunidade de negros vivendo em algo próximo do que foi um quilombo coloca em
órbita um satélite, primeiro passo para a mudança para Marte. Um novo mundo,
quiçá menos racista e desigual que o da Terra. Mas eles enfrentam problemas
inevitáveis de perseguição, principalmente por uma empresa transnacional que
quer ter exclusividade de oferta das altas tecnologias astronáuticas. Talvez o
ponto fraco seja apresentar com realismo como uma comunidade miserável como
essa pudesse manipular tecnologias tão avançadas, mas não desabona a leitura
criticamente relevante e bem escrita.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">“O Show tem que
Continuar”, de Lavínia Rocha mostra, de certa forma, um caminho inverso. Isso
porque, numa nave que, aparentemente orbita a Terra de forma incógnita,
humanos, androides e IAs compartilham um projeto de interferir nas estruturas e
práticas racistas, num local em especial, o Brasil, para poder mudar esta
realidade em algo mais justo para todos. Contudo, a narrativa segue um plano
algo superficial, e com uma conclusão incompleta e ingênua.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">A terceira narrativa é
uma das melhores do livro. “Sexta Dimensão”, de Stefano Volp, faz uma reflexão
interessante sobre as possibilidades e o alcance do amor, em três camadas
diferentes que se entrecruzam: um ser artificial – menos que humano –, o
protagonismo negro e a homossexualidade. Muito ousado, embora o principal seja
a colocação no primeiro plano o quanto de humano realmente existe em seres que,
formal e tecnicamente, não o são. Principalmente quando expressam sentimentos
tão pungentes, como o amor.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">A noveleta seguinte me é
particularmente cara: “Jogo Fora de Casa”, de Sérgio Motta. Isso porque,
organizei em 1998 a antologia <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Outras
Copas, Outros Mundos</i>, a primeira a reunir histórias de FC com futebol. No
início do século XXIII, o esporte mais popular é algo parecido, o futsol, mais
parecido com o futebol de rua, que eu mesmo joguei quando era criança. Sem
goleiro, delimitado por espaços fechados – muros, paredes ou casas –, como numa
quadra. A história mostra a visita de Casa, um time pequeno, da periferia de
São Paulo, e que se tornou o time sensação da temporada, ao ser campeão. Com isso,
foi desafiado pelo vencedor do Sistema Solar. O texto alterna os acontecimentos
da peleja, com a trajetória de dificuldades de superação dos jogadores do time
terrestre. Mas, embora talvez não tenha sido a intenção do autor, a especulação
sobre o que o futebol se tornou é mais interessante do que os comentários
sociais que, embora relevantes, soam descolados e inverossímeis ao retratar uma
realidade de hoje como quase que inalterada daqui há dois séculos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">“Recomeço”, de Kelly
Nascimento foi, provavelmente, escrita durante a pandemia de Covid-19. Conta o
drama do casal Helena e Alexandre, dois médicos que, além de terem de cuidar e
lidar com as várias mortes de pacientes de uma pandemia que assola o planeta,
enfrentam as perdas um do outro. O texto é forte, segura o interesse, mas se
torna confuso e indefinido em seu desfecho.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">O nível volta a subir com
a noveleta “Segunda Mão”, de Petê Rissatti. Aqui à perspectiva negra se soma à
da homossexualidade, numa história de contexto distópico. No relacionamento
amoroso entre um jovem branco e um negro maduro, a questão que ainda incomoda é
o racismo, preconceito mais difícil de ser superado do que o da
homoafetividade. O negro faz parte de um grupo secreto de contestação da ordem
autoritária – que tem um governo mundial, está presente na vida da pessoas o
tempo todo e as faz tomar um remédio para “se sentirem felizes” –, e não é
difícil imaginar que o desfecho da narrativa não será róseo: tanto no plano
pessoal como no político. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">A próxima história é
“Tudo o que Transpor o Ar”, das irmãs Pétala e Isa Souza. É uma narrativa com
tons épicos, com uma moldura espacial interessante, sobre a viagem de retorno
do povo Irawó ao seu planeta natal, após uma diáspora de séculos. A premissa é
boa, mas se perde no excesso descritivo e na ausência de dramaticidade.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">O conto que fecha a
coletânea é o melhor: “Com o Tempo em Volta do Pescoço”, de Waldson Souza,
também organizador da obra. Numa história comum de viagem no tempo, o
interessante é o contexto político e suas possíveis consequências. Isso porque
Jamila, sobrinha de uma construtora de uma máquina do tempo, volta a 2098 para
evitar a morte de Jorge Assis, um candidato negro à presidência do Brasil. Esse
fato teria provocado, mesmo que no já distante 2300, o estabelecimento de uma
ordem autoritária e miserável no Brasil, com a particularidade de as pessoas
terem de comprar seu tempo para saírem de casa e usarem um colar de
identificação no pescoço. Bem sinistro. Mas, ao voltar ao fim do século XXI, e
permitir que o candidato negro vença a eleição presidencial, um novo mundo se
desdobrou: democrático e próspero para todos, inclusive para a família negra de
Jamila. Mas, por melhor que tenha sido a mudança, ela descobrirá que não tem
lugar nesse mundo. Impactante.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Em seu conjunto <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Raízes do Amanhã</i> é uma coletânea que serve
como uma boa introdução ao nosso afrofuturismo, bem como o seu diálogo com a
própria FCB. Que, por sinal, tem se espraiado em várias searas na terceira
década do século XXI: comunidade <i style="mso-bidi-font-style: normal;">queer</i>,
recortes regionalistas e este da raça negra, estruturalmente a mais carente e
injustiçada da história do Brasil. Mas, se por um lado, estas correntes
identitárias, por assim dizer, enriquecem a nossa FC e democratizam os pontos
de vistas particulares, acentuam uma certa falta de projeto comum, o que tem
tornado a FCB excessivamente fragmentada. É um novo desafio a ser enfrentado.<o:p></o:p></span></p>
<p align="right" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; mso-hyphenate: none; text-align: right; text-indent: 14.15pt;"><b><i><span lang="ZH-CN" style="font-family: NSimSun; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: NSimSun; mso-bidi-language: HI; mso-fareast-language: ZH-CN; mso-font-kerning: 1.0pt;">—</span></i></b><b><i><span style="font-family: "Liberation Serif",serif; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-language: HI; mso-fareast-font-family: NSimSun; mso-fareast-language: ZH-CN; mso-font-kerning: 1.0pt;">Marcello Simão Branco</span></i></b><span style="font-family: "Liberation Serif",serif; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-language: HI; mso-fareast-font-family: NSimSun; mso-fareast-language: ZH-CN; mso-font-kerning: 1.0pt;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><br /></p><p></p>Marcellohttp://www.blogger.com/profile/02626856652197086431noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5461014025383007308.post-43269190717607654892023-09-15T04:54:00.005-07:002023-09-15T05:02:41.549-07:00A noite dos insensatos, Simone Saueressig<div style="text-align: left;"><b><i><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjtCrK92Usud_Lz2JAOOqnVDxXPjJZIEpKTuSb5lU6WYfZIsUOlphW7FLBvV6HuFQeQ0_x4EDn4_WiLBxlPCrbuaur4bVGoZHuc9yuRcFsVJoBHe-SFBw99O0ktosm0UOMPHyZKU1u-PJKYWOruWDKnCNMUpTA_Tt09DA_BOeMpta1p5Qpqedv1qf5Q/s346/51bfeU0Pu6L._SY346_.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="346" data-original-width="217" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjtCrK92Usud_Lz2JAOOqnVDxXPjJZIEpKTuSb5lU6WYfZIsUOlphW7FLBvV6HuFQeQ0_x4EDn4_WiLBxlPCrbuaur4bVGoZHuc9yuRcFsVJoBHe-SFBw99O0ktosm0UOMPHyZKU1u-PJKYWOruWDKnCNMUpTA_Tt09DA_BOeMpta1p5Qpqedv1qf5Q/w251-h400/51bfeU0Pu6L._SY346_.jpg" width="251" /></a></div><span style="font-size: medium;">A noite dos insensatos e outras histórias bizarras</span></i></b><span style="font-size: medium;">, Simone Saueressig. Novo Hamburgo: edição de autor, 2023. </span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-size: medium;"><br />Houve um tempo em que os textos escritos pelos autores de <i>fandom </i>brasileiro de fc&f eram efetivamente lidos e causavam debates furiosos nas redes sociais analógicas da época, que aconteciam nas páginas dos fanzines que também veiculavam os textos em si. <br />As redes digitais pareciam, a princípio, acenar com um acirramento desse tipo de debate, mas foi uma expectativa frustrada rapidamente na medida em que os autores abandonaram as discussões para evitar os melindres em seus seguidores. O encarregado de uma grande editora, hoje já fora do mercado, chegou a anunciar uma lista negra para os autores que fizessem comentários polêmicos nas redes. <br />Portanto, é de se comemorar a iniciativa da fantasista gaúcha Simone Saueressig, que publicou com seus próprios recursos a coletânea <i>A noite dos insensatos e outras histórias bizarras</i>, com seis contos imprevisíveis e absolutamente fora do espaço de conforto da autora. <br />Conhecida por sua ficção de viéz folclórico voltada principalmente para o público juvenil, Simone investe aqui em textos de forma e natureza totalmente diversos de suas características, com um forte conteúdo humorístico, quase sempre negro, e ataques declarados a comportamentos da sociedade brasileira recente. <br />A coletânea tem apenas trinta e sete páginas, mas seu conteúdo é explosivo e de alta octanagem, que levou legiões de usuários das redes sociais a mover uma verdadeira campanha contra o volume, algo que não se via no <i>fandom </i>desde que as redes decidiram limar Monteiro Lobato da literatura brasileira. <br />O conto título abre a antologia e é o mais longo da seleta. Trata-se de uma farsa engraçadíssima, um tipo de charge literária, sobre dois alienígenas que atuam em segredo na proteção do planeta Terra e decidem fazer uma visita não autorizada à uma região ao sul do Brasil em meio a campanha eleitoral de 2022. Sendo charge, o texto exige uma certa contextualização para fazer sentido, mas acredito que os brasileiros não terão problema com relação a isso. <br />"Buraco de minhoca" narra o drama de uma dona de casa que tem em sua máquina de lavar roupas a extremidade de chegada de um buraco de minhoca de onde surgem todos os pés de meias perdidos no mundo.<br />"Pleonasmos" é uma narrativa metalinguística que surpreende porque a autora desrespeita sua própria filosofia de escrever corretamente e comete repetidos e deliberados pleonasmos, tudo a serviço do desfecho da história. <br />"Infestação" é a história mais poética do conjunto, sobre uma jovem que passa a ser incomodada pela presença cada vez mais intensa de variados tipos de insetos em sua casa, prenúncio de importantes transformações na sua vida.<br />Em "A reforma" temos uma narrativa de horror, uma especialidade da autora. Durante uma reforma em sua residência, o pedreiro abre um buraco na parede que se transforma em uma gigantesca bocarra faminta. <br />"Tsundoku" fecha o volume com a história de uma amante dos livros que compra muito mais do que consegue ler. A certa altura, os volumes começam a brotar expontaneamente até ocuparem toda a casa, que se torna então num labirinto de livros empilhados onde as pessoas desaparecem para sempre. <br />Como se vê, a autora flerta com o modelo de fantasia de Murilo Rubião e Jorge Luis Borges, com textos curtos e poderosos que não permitem que o leitor fique impassível. Com exceção do conto título, todos os demais têm protagonistas femininas em meio ao cotidiano urbano, o que certamente deve significar alguma coisa importante.<br />O volume foi publicado apenas em formato virtual para leitores <i>Kindle </i>e pode ser adquirido <a href="https://www.amazon.com.br/noite-dos-insensatos-hist%C3%B3rias-bizarras-ebook/dp/B0BTQYZWGB" target="_blank">aqui</a>. Contudo, quem não tiver o dispositivo poderá ler o livro no aplicativo <i>online </i>da própria plataforma. <br />Recomendo fortemente a leitura, por ser um ponto de virada na obra da autora, pelas discussões que suscita e porque é uma leitura bastante rápida. Dessa forma, mais gente pode entrar na discussão. Afinal, "A noite dos insensatos" é ou não proselitista? Não vou responder, mas que é divertidíssimo, lá isso é.</span></div><div style="text-align: right;"><span style="font-size: medium;">— <i>Cesar Silva</i></span></div>Hiperespaçohttp://www.blogger.com/profile/05030227649636167390noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5461014025383007308.post-48816870313144998192023-09-01T07:28:00.007-07:002023-09-02T07:34:42.151-07:00O Mundo de Spock<p style="text-align: center;"> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgQd5hUXVUNyOCBoirxVspc3eTma4bcztmhEA7nmfBD35GVYCKrpvSC0c8Yftz2fAiojHoaq_8BpBNcrhjbmCrVXGTuJpM7UWzIImqRtgzPqwldiQRz7xuycywM_X04T0WOMeuP9b1X7V0lIUi_8Va5rW_XY7LxLvnTGSVRuqWdGrYipgLT61KalAxo5jg/s880/capa%20o%20mundo%20de%20spock.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="880" data-original-width="600" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgQd5hUXVUNyOCBoirxVspc3eTma4bcztmhEA7nmfBD35GVYCKrpvSC0c8Yftz2fAiojHoaq_8BpBNcrhjbmCrVXGTuJpM7UWzIImqRtgzPqwldiQRz7xuycywM_X04T0WOMeuP9b1X7V0lIUi_8Va5rW_XY7LxLvnTGSVRuqWdGrYipgLT61KalAxo5jg/w436-h640/capa%20o%20mundo%20de%20spock.jpg" width="436" /></a></div><br /><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><b><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;"><br /></span></b></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><b><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">O
Mundo de Spock</span></b><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;"> (Spock´s World), Diane Duane. Tradução:
Ludmila de Souza. Capa: Vagner Vargas. 192 páginas. São Paulo: Aleph, sem data
[anos 1990]. Lançamento original em 1988.<o:p></o:p></span></p><div class="separator" style="clear: both;">
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Apesar de ser um <i>trekker</i> há
vários anos, com uma longa militância no <i>fandom</i>
da série de TV, nunca fui entusiasta das novelizações. Em geral, e não só para <i>Jornada nas Estrelas</i> (<i>Star Trek</i>), acredito que elas pouco ou
nada acrescentam ao conteúdo original do universo ficcional criado em outro
formato, no caso da televisão e o cinema. Reconheço que é uma posição um pouco radical
e talvez não se aplique tanto a esta série, com um padrão médio de qualidade
elevado em qualquer meio de expressão artística.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Nesse sentido, me chamou
a atenção a afirmação do renomado crítico e escritor inglês de FC Adam Roberts,
em seu ótimo livro <i>A Verdadeira História
da Ficção Científica</i> (2018), de que <i>O
Mundo de Spock</i> foi um dos melhores livros do gênero lançados em 1988.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Por si só esta afirmação
seria impactante. Afinal, centenas de romances do gênero são lançados todos os
anos nos EUA. E este, além do mais, nem é uma história original, mas derivada.
Pois numa pesquisa rápida dos finalistas dos prêmios Hugo e Nebula daquele ano,
vejo em que nível Roberts situou a história do planeta Vulcano: Do primeiro prêmio:
<i>Cyteen</i>, C.J. Cherryh; <i>Red Prophet</i>, Orson Scott Card; <i>Piratas de Dados</i> (<i>Islands in the Net</i>), Bruce Sterling e <i>Mona Lisa Overdrive</i>, William Gibson. Do Nebula: <i>Great Sky River</i>, Gregory Benford; <i>Falling Free</i>; Louis MacMaster Bujould; <i>Red Prophet</i>, Orson Scott Card; <i>Desert Cities of the Heart</i>, Lewis
Shiner; <i>Drowning Towers</i>, George Turner; <i>O
Livro do Novo Sol</i> (<i>The Urth of the
New Sun</i>), Gene Wolfe e, de novo, o romance de Gibson. Se este romance
baseado no seriado se ombreia com estas obras, de fato merece ser lido.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><i><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">O
Mundo de Spock</span></i><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;"> é ambientado no planeta Vulcano – que
orbita a estrela 40 Eridani, situada a 16,5 anos-luz da Terra –, às voltas com
um plebiscito polêmico que defende a saída do planeta da Federação Unida dos
Planetas (FUP), após 180 anos. Ora, os vulcanos foram a segunda civilização
extraterrestre contactada pelos humanos – depois dos andorianos, em meados do
século XXI. Kirk, Spock e McCoy têm suas férias interrompidas para irem a
Vulcano, onde são esperados para participarem dos debates prévios à votação.
Também é chamado Sarek, o embaixador de Vulcano na Terra, e pai de Spock.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Mas qual a causa para uma
decisão tão radical? Apesar de serem membros fundadores da FUP, historicamente,
os vulcanos, de forma geral, nunca se sentiram plenamente integrados à
entidade, em termos políticos e administrativos, com uma postura crítica sobre
o viés imperialista dos humanos. Afora isso, sempre houve grupos minoritários
em Vulcano descontentes com a presença numa entidade multiplanetária, por se
considerarem superiores aos demais membros, devido ao seu passado pacifista e
voltado à lógica. Assim, a convivência por um longo tempo com civilizações emotivas
e agressivas, não seria racional e prejudicaria o desenvolvimento dos próprios
vulcanos. Contudo, estes dois argumentos são bem desmontados, principalmente
nos discursos de Kirk, McCoy e Spock. Primeiro porque os vulcanos poderiam se
esforçar em defender seus pontos de vista no interior da FUP e usar de sua
influência como um dos povos mais bem-sucedidos da galáxia. E em segundo, que
estes pequenos grupos não eram novidade e nunca haviam se constituído como
politicamente relevantes no interior da sociedade vulcana. O que havia mudado então?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">A esta trama política
intricada, a verdadeira riqueza da obra está nos capítulos que entremeiam esta
controvérsia, com a história do planeta e do povo vulcano, desde os primórdios,
em vários momentos de sua longa trajetória. De forma muito habilidosa, Diane
Duane aprofunda o que é citado em muitos episódios das várias versões da série
na TV, de que em sua origem os vulcanos eram muito agressivos e violentos.
Viveram várias guerras, até mais terríveis que a dos próprios humanos. Inclusive,
como consequência de uma delas, parte deles deixou o planeta e colonizou outro
formando o Império Romulano. Isso é conhecido a partir do episódio da série
clássica “Medida do Terror” (Balance of Terror”), e é só lembrado pela autora.
Uma pena, pois poderia haver algum desdobramento interessante desse fato.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Em todo caso, neste
contexto de guerras surge, eventualmente, um sábio que introduziu uma nova filosofia,
baseado no controle das emoções e no agir de forma lógica em todas as
situações, para vencer os problemas de forma racional e evitar, sobretudo, o
medo do outro. Pois segundo ele, Surak, a fonte da instabilidade emocional
viria na desconfiança e insegurança com relação ao semelhante. Era preciso
vencer o medo, abrindo-se para o outro. Se despir de ilusões e fantasias,
enxergar a realidade tal como ela é, e não como gostaríamos que fosse. E a
lógica seria a base de ação para tal postura de vida.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Talvez um aspecto menor
da obra esteja, justamente, na justificativa concreta para a demanda pela
secessão. Pois o doutor McCoy descobre, com a ajuda de Moira – uma inteligência
artificial situada na Enterprise – que o movimento havia sido deflagrado por
T´Pring, a noiva que havia sido prometida a Spock, mas que o havia recusado em
nome de um amante, Stonn. Como visto no episódio da série clássica “Tempo de
Loucura” (“Amok Time”), ela coloca Spock para duelar com Kirk, no intuito de se
livrar de Spock. Ela consegue seu objetivo, mas fica frustrada quando descobre
que foi enganada, já que, mesmo derrotado, Kirk só desmaiara e não morrera,
como parecia, já que McCoy havia injetado no capitão o composto Triox. Então,
T´Pring, agora viúva de Stonn e rica, resolve financiar os grupos xenófobos
para se vingar de Spock e, por extensão, dos humanos em geral. Ora, criar um
movimento político tão poderoso a partir de uma intenção de vingança? Me
pareceu exagerado.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Interessante também em <i>O Mundo de Spock</i> é que é mostrado que a
lógica não é integralmente seguida pelos vulcanos em geral, o que eles chamam
de o´thia. Na prática, muitos deles continuam a ter um comportamento próximo do
humano, mas, ao que parece, dissimulam melhor, além de encampados com uma
verdadeira mística em torno do que são esse povo estranho e fascinante. A
estrutura social de Vulcano se constitui de Casas que unem famílias, em termos
de história, descendência e alianças políticas e econômicas. Algumas das mais
poderosas lideradas por matriarcas, como a da lendária T´Pal, descendente
distante de Surak, e mentora de Sarek, o que, por extensão, nos leva até Spock.
A cultura dos vulcanos, tal como desenvolvida, pode ser vista, de forma
aproximada, grosso modo, com aspectos da filosofia hinduísta e da sociabilidade
japonesa, também marcada, historicamente, por um certo desprendimento
estoicista.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><i><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">O
Mundo de Spock</span></i><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;"> foi o segundo escrito por Diane Duane,
escritora norte-americana, com mais prestígio em séries originais de fantasia.
Apesar disso, ela escreveu nove romances baseados na criação de Gene
Roddenberry (1921-1991), e além deste também saiu no Brasil, <i>Meu Inimigo, Meu Aliado</i> (<i>My Enemy, My Ally</i>; 1984). Ambos, pela
editora Aleph que, nos anos 1990, publicou, salvo engano, 24 novelizações, além
de bons livros de referência sobre a série.<b><o:p></o:p></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Não li os demais, mas
arrisco a dizer que <i>O Mundo de Spock</i>
deve ser um dos melhores – se não o melhor –, e Adam Roberts não deve estar
errado em sua impactante afirmação. Afinal, é uma história que mostra com
detalhes nunca mostrados, nem de perto nas várias séries televisivas, a
complexidade social, cultural e filosófica de uma das civilizações alienígenas
mais conhecidas e interessantes da FC. Para o <i>trekker</i> é obrigatório, mas deve interessar também quem curte
cultura popular e ao fã e leitor de FC em geral. Pois, ao menos nesse caso, é
uma novelização que acrescenta um conteúdo de valor à compreensão do universo
ficcional.<o:p></o:p></span></p>
<p align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: right; text-indent: 14.2pt;"><b><i><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">—</span></i></b><b><i><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Marcello Simão Branco</span></i></b><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;"> </span></p></div>Marcellohttp://www.blogger.com/profile/02626856652197086431noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5461014025383007308.post-42405827490814664402023-08-19T15:07:00.004-07:002023-08-29T14:23:21.620-07:00Futebol: Histórias fantásticas de glória, paixão e vitórias<div style="text-align: left;"><b><i><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgWIFhzE8UZnno8QSItErlfqiHaJksvgiWLj32-XvBdHkr3XXlvgX-Ip7WDL4QOVBmj7vGhH4UafMnEgNJzLpcAyvhMO7RNH7A9hDV6OEiWuyYQ8ElcSYeSeain6u8tnsQMZFajRLmGBdygdCTIO4TVYILDpeliz2P1A5YHYmGW_vHHw5lzCCijeAyy/s2051/futebol.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2051" data-original-width="1400" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgWIFhzE8UZnno8QSItErlfqiHaJksvgiWLj32-XvBdHkr3XXlvgX-Ip7WDL4QOVBmj7vGhH4UafMnEgNJzLpcAyvhMO7RNH7A9hDV6OEiWuyYQ8ElcSYeSeain6u8tnsQMZFajRLmGBdygdCTIO4TVYILDpeliz2P1A5YHYmGW_vHHw5lzCCijeAyy/w273-h400/futebol.jpg" width="273" /></a></div><span style="font-size: medium;">Futebol: Histórias fantásticas de glória, paixão e vitórias</span></i></b><span style="font-size: medium;">, Marco Rigobelli, org. 176 páginas. São Paulo: Draco, 2014. </span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-size: medium;"><br />Ficções fantásticas com temas esportivos não são comuns sequer nos mercados mais fortes do gênero, nem mesmo em outras artes além da literatura. Quadrinhos e cinema têm poucos exemplos, embora haja mais oferta de esportes fantásticos nos jogos eletrônicos, por motivos evidentes. Mas é curioso que exista tão pouco na literatura de ficção fantástica, quando é patente que é nela que o pioneirismo é geralmente praticado em todos os temas. <br />No Brasil, até o final do século passado, só existia uma única antologia de contos fantásticos sobre esportes, o livro <i>Outras copas, outros mundos</i>, organizado por Marcello Simão Branco e publicado pela editora-fã Ano-Luz em 1998. Mais que uma seleta de contos esportivos, esse livro propunha que todos os contos tratassem especificamente de futebol, o esporte mais apreciado pelos brasileiros que, curiosamente, não tinha nenhum texto no gênero, nem aqui nem em qualquer outra parte do mundo. A experiência foi muito bem-sucedida, e dela emergiu ainda o importante projeto <i>Intempol </i>de Octávio Aragão, derivado de um dos textos publicados ali. Mas foi um péssimo agouro para o desempenho do esporte: naquele ano, o Brasil perdeu o Copa do Mundo na França num jogo algo vexatório contra a poderosa seleção francesa comandada por Zinedine Zidane, com os craques Ronaldo Fenômeno em pânico no campo, e Edmundo no banco. <br />Talvez motivada pela nova edição brasileira da Copa do Mundo, a editora-fã paulista Draco decidiu retomar a ideia e apresentou em 2014 uma remontagem da antologia de 1998 sob o título <i>Futebol: Histórias fantásticas de glória, paixão e vitórias</i>, organizada por Marco Rigobelli,<i><b> </b></i>republicando alguns dos textos vistos naquela, somados a inéditos, num total de dez contos, incluindo um do próprio organizador. </span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-size: medium;">Dos autores republicados, Gerson Lodi-Ribeiro e Carlos Orsi comparecem respectivamente com "Pátria de chuteiras" e "Sob o signo de Xoth", justamente os textos presentes na antologia de 1998. O primeiro narra a final de uma copa do mundo na realidade alternativa favorita do autor, na qual a república de Palmares, treinada por um ex-craque da seleção brasileira, disputa com o Brasil não apenas aquele campeonato, mas a hegemonia do esporte. Já o excelente texto de Orsi envereda pelo horror, política e corrupção na fictícia cidade de Açaraí. Fábio Fernandes, que também participou da antologia de 1998, aparece com o inédito "2010: O ano em que faremos contrato", um texto curto na forma de uma entrevista com um boleiro que participou de uma partida entre atletas terrestres e alienígenas na qual o que realmente estava em jogo era o intercâmbio de tecnologia. Esse conto acabou sendo profético, pois a seleção terrestre levou o sonoro chocolate de treze a zero. Voltaremos a isso mais adiante. </span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-size: medium;">Os demais autores comparecem com contos inéditos. Em "Boost", de Vinicius Lisboa, o futebol do futuro é praticado por atletas com reforço químico e o esporte se torna uma arena de violência explícita e morte, enquanto que em "O último grande craque", de Marcel Breton, são as próteses que desequilibram o espetáculo. Ambos os textos replicam o formato de entrevista visto no conto de Fernandes, o que torna a leitura um tanto enfadonha pela redundância da forma. </span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-size: medium;">"Jogo puro", de Diego Matioli, também começa com uma entrevista, mas ela só dura alguns parágrafos, para depois adotar uma narrativa mais tradicional, em terceira pessoa. O conto tem laivos apocalípticos na medida que acontece após o arrebatamento bíblico, além da presença de demônios vivendo em meio à humanidade. Também aparecem aqui alguns tipos de "melhorias" nos atletas, desta vez mais para superpoderes mutantes, mas o autor tem o mérito de escapar muito bem das armadilhas narrativas criadas pelos contos anteriores. </span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-size: medium;">"O último gol de Tião Canhoto", de Fabio Baptista, narra a história de um insuspeito craque do futebol varzeano que só atingia o estado de excelência quando sua amada Ritinha estava na torcida, uma mulher descrita como a mais feia do mundo. O conto não é ruim, mas a crueldade com que o autor trata da aparência da mulher cria tal constrangimento no leitor que eu não me surpreenderia se as leitoras protestassem fortemente contra ele. Fica aqui o meu protesto pessoal.<br />Sid Castro traz um sopro de ar fresco nesta sequência de histórias pesadas com o despretensioso "O rei do futebol". Não se trata do Pelé, mas de Arthur Friedenreich, que atuou no início da história do esporte no país, sendo o primeiro a atingir a marca dos mil gols convertidos na carreira. Outro diferencial do conto é a forma, apresentado como se fosse um jogo, com preliminar, primeiro tempo, intervalo, segundo tempo e pós-jogo no vestiário. O conto tem uma ambientação <i>steampunk</i> e traz até algumas referências históricas muito bem-vindas para os fãs do esporte. Não sei se são verdades, mas se não forem, deveriam ser.<br />O melhor texto da antologia é "O último jogo", de Rodrigo Van Kampen, conhecido editor da extinta revista <i>Trasgo</i>. Uma pérola rara da ficção fantástica brasileira, na linha do realismo fantástico latino americano. Conta a história de um grupo de meninos que amam jogar bola no campinho da vila, que nem é um campo de verdade, pois tem árvores pelo meio e um formato desengonçado mas, para eles, é exatamente como um grande estádio. Ali eles se divertem fantasiando campeonatos nacionais e internacionais, mas a coisa fica mesmo séria quando, numa certa manhã, surge no campinho uma árvore antiga e enorme, e dela saem assustadores bichos-papões que desafiam os garotos para uma partida decisiva: se os meninos vencerem, eles vão embora mas, se perderem, serão devorados ali mesmo. Maravilhamento poderoso para encher de lágrimas os olhos de quem um dia fantasiou ser um craque da bola num campinho de terra. <br />Fecha a seleção o texto "Nos gramados em cinzas da arena do abismo", de autoria do próprio organizador, Marco Rigobelli. Conta a história de um jogador que deve o sucesso de sua carreira a um pacto com o diabo. Mas, antes do fim do acordo, ele é convocado pelo cão para uma partida nas profundezas do inferno, com a promessa de, caso vença, ter sua alma libertada do contrato de perdição eterna. A ideia geral não é muito diferente da do conto anterior, mas não repete nem a ambientação, nem o estilo, nem o maravilhamento. Num erro de revisão, o autor chega a trocar o nome do protagonista. <br />Publicada em meio a euforia de um tempo em que tudo parecia dar certo no Brasil, esta antologia acabou, mais uma vez, por chancelar o fracasso da seleção brasileira, desta vez com o vergonhoso sete a um contra a Alemanha na semifinal. Mas o que mais perturba é o deliberado apagamento da antologia de 1998, da qual o organizador até emprestou contos mas não se dignou a sequer citar no prefácio, sinal claro da desagregação pelo qual o <i>fandom </i>passou e ainda passa ao longo deste século. Não custava reconhecer o pioneirismo de <i>Outras copas, outros mundos</i>, e isso acrescentaria dignidade ao trabalho. Sem isso, tornou-se uma antologia oportunista, esquecida em meio aos fracassos do futebol brasileiro. <br />Mas é sempre melhor olhar pelo ângulo favorável: valeu pelos bons textos publicados e por acrescentar mais alguns contos ao árido ambiente da fc&f esportiva nacional. </span></div><div style="text-align: right;"><i><span style="font-size: medium;">— Cesar Silva</span></i></div>Hiperespaçohttp://www.blogger.com/profile/05030227649636167390noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5461014025383007308.post-49501874411564371752023-08-15T19:29:00.005-07:002023-11-09T05:12:58.654-08:00O dilema de Utterson<p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;">Quando terminou de ler os dois relatos — o do amigo Dr.
Lanyon e o do Dr. Henry Jekyll — o advogado Utterson estava suando frio, tomado
de um pavor que nunca antes sentira em sua vida.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;">Jamais poderia ter imaginado a verdade: que o misterioso
Edward Hyde era o mesmíssimo Dr. Jekyll, num desdobramento de personalidades
que incluía a mudança da aparência corporal. Portanto, se Hyde morreu, Utterson
também estava morto e o seu corpo jamais seria encontrado, pois o que restava
era o corpo de Hyde.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;">Mas como podia ser isso? E os átomos, ou as células, a mais
ou a menos?</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;">As dificuldades científicas para acreditar naquilo tudo
esbarravam, é claro, na lógica dos dois relatos, que desvendavam o mistério da
relação Jekyll-Hyde. Porém, tudo isso ia para segundo plano diante do fator que
se lhe afigurava mais grave daquele imbróglio. Ao se retirar, pelas dez da
noite, da residência do Dr. Jekyll, o advogado prometera ao mordomo Poole que
retornaria pela meia-noite, para então chamarem a polícia. Afinal, o dono da
casa achava-se desaparecido e havia o cadáver de um suicida no laboratório.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;">O problema era justamente esse.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;">Em primeiro lugar a polícia é racionalista demais para
acreditar que um ser humano se transforme em outra pessoa. Isso é coisa de
contos de fadas, não da vida real. Por consequência os dois relatos não seriam
aceitos mesmo se mostrados e examinados. Nenhum tribunal tampouco iria aceitar
que Jekyll se transformasse em Hyde e vice-versa. Acreditar em coisas
fantásticas é tabu.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;">Nem a imprensa daria crédito.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;">Assim, Utterson só conseguia enxergar um resultado para
aquela tragédia: ele e Poole seriam responsabilizados criminalmente pelo
desaparecimento e possível morte do Dr. Henry Jekyll. E poderiam ambos acabar
no patíbulo.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;">Não adiantava fugir. O pesadelo estava apenas começando e só
lhe restava erguer-se e retornar à residência de seu falecido amigo.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;">Cobrindo o rosto com as mãos, em desespero de causa, Utterson
murmurou:</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;">— O que eu faço agora, meu Deus?</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: right; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><i style="font-size: 18.6667px; text-align: center; text-indent: 0px;">— Miguel Carqueija</i></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: right; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><i>Rio de Janeiro, 11 a 19 de agosto de 2022.</i></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;"><span style="line-height: 115%;">NOTA: Reli recentemente <i>O médico e o monstro</i>, ou, na
tradução do original, <i>O estranho caso do Dr. Jekyll e Mr. Hyde</i>, de Robert
Louis Stevenson. E uma coisa que me intriga é a maneira inconclusa com que o
romance termina, apenas com as transcrições dos dois documentos — do Dr. Lanyon
e do Dr. Jekyll — esclarecendo o mistério. Fica em suspenso, portanto, a
atitude posterior do Dr. Utterson, pois caberia a ele informar à polícia do
suicídio do Sr. Hyde e desaparecimento do Dr. Jekyll. Mas aqui ocorre um
terrível impasse, omitido por Stevenson e que eu me limito a mostrar sem buscar
uma solução. Como explicar à polícia algo que a polícia não iria aceitar, mesmo
com provas?</span></p>
Navegando no Imagináriohttp://www.blogger.com/profile/14445227781977633396noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5461014025383007308.post-47467023383679119172023-08-03T07:07:00.005-07:002023-08-03T10:16:27.998-07:00Conto de Fadas<p style="text-align: center;"> <a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh0NApoit8JD6e7GPFm2wzBrbt_AnAWOVuCix5FQEcLhHQRYc80MuCztU7onEyk5-ASO_tRpYP3LDHamIneNprNXyUtxlxTngAg1a32DOX2w4edQIi9tChtmC9Nnm9KPj9wNV9aIleauUGdeKB6IQdtmErGyYoTtngP3InKY6ByYqukLADN-nb89X4ufzo/s240/capa%20conto%20de%20fadas%20king.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="240" data-original-width="240" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh0NApoit8JD6e7GPFm2wzBrbt_AnAWOVuCix5FQEcLhHQRYc80MuCztU7onEyk5-ASO_tRpYP3LDHamIneNprNXyUtxlxTngAg1a32DOX2w4edQIi9tChtmC9Nnm9KPj9wNV9aIleauUGdeKB6IQdtmErGyYoTtngP3InKY6ByYqukLADN-nb89X4ufzo/w640-h640/capa%20conto%20de%20fadas%20king.jpg" width="640" /></a></p><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><p></p><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Conto
de Fadas</span></b><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;"> (Fairy Tale), Stephen King. Tradução: Regiane
Winarski. Capa: Will Staehle. Ilustrações internas: Gabriel Rodriguez
(capítulos ímpares e epílogo) e Nicolas Delort (capítulos pares). 623 páginas.
Rio de Janeiro: Suma, 2022.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Talvez este seja o
primeiro livro de Stephen King que eu comprei e li quase ao mesmo tempo do seu
lançamento nos EUA. Isso porque a Suma, selo da Editora Schwarcz, foi mais
rápida do que o habitual e o lançou no Brasil praticamente junto com o
lançamento norte-americano. Outra curiosidade, que também talvez não interesse
a você, leitor dessa resenha, é que esse foi o último livro que eu comprei na
finada Livraria Cultura, em sua sede da capital paulista, duas semanas antes de
sua falência. E por acaso, pois o livro, de forma estranha, estava esquecido num
canto numa seção de livros usados da livraria, e com a metade do seu verdadeiro
preço de capa.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Mas eu compraria o livro
pelo valor que fosse. Afinal, é de Stephen King, um dos meus autores favoritos
e do qual acompanho praticamente toda a sua carreira, desde meados dos anos
1970. E não preciso dizer que, claro, gostei demais da leitura, como pretendo
comentar a seguir.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Conto
de Fadas</span></i><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;"> não é uma história de horror tradicional, de cunho
mais sobrenatural, como na primeira fase de sua carreira, ou no estilo <i style="mso-bidi-font-style: normal;">dark fantasy</i>, que o tem caracterizado
desde, pelos menos, o fim dos anos 1990. Contudo, o sobrenatural é explorado
da perspectiva da magia. Sim, é um romance mais próximo de ser identificado com
o gênero fantasia, embora de uma forma bem peculiar em se tratando de King.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Após a morte súbita e
violenta da mãe, a vida do adolescente Charles Reade entra em crise. Não apenas
pelo fato óbvio da perda, mas porque o pai se torna um alcoólatra. Charles meio
que se perde, cometendo várias pequenas maldades, ao lado de um amigo de
infância, de caráter bem questionável. Como, por exemplo, roubar as muletas de
um idoso, deixando-o sem ter como andar. Em desespero pelo pai estar
desempregado e cheio de dívidas, Charles faz uma promessa pessoal “ao seu
Deus”, de que se ele se redimisse, seu pai reencontraria um rumo na vida.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Então, de forma fortuita,
certo dia Charles ouve os latidos de uma velha cadela, ao passar pela casa mais
estranha da pequena cidade de Sycamore, em Illinois, e ao pular o portão, vê
que o dono, o solitário Sr. Bowditch caíra da escada e quebrara a perna.
Charles o socorre e, conforme os dias passam, não só visita o ancião no
hospital, como se envolve cada vez mais com ele, passando a ser o seu cuidador,
depois do seu retorno à casa. Ao mesmo tempo seu pai faz terapia nos Alcóolicos
Anônimos – graças à ajuda de um amigo –, arruma um emprego e, um pouco depois,
abre seu próprio negócio. Ao que parece, o garoto Charles havia realizado sua
promessa ao cuidar de Bowditch e se afeiçoar intensamente à Radar, a pastora
alemã dele. Mas a verdadeira virada em sua vida ocorre quando ele descobre a
fonte da boa vida de Bowditch: um cofre lotado com pequenas bolas de ouro. De
onde teriam vindo?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Bowditch hesita em contar,
e só o faz por meio de uma gravação, pouco antes de sofrer um ataque cardíaco e
morrer. Mas Charles já desconfiava de onde vinham, pois nos fundos da casa
havia um barracão com barulhos estranhos. Ele resolve investigar e descobre a
entrada de um outro mundo. Do barracão se desce uma longa escada em espiral até
chegar a um lugar com estrelas no céu e duas luas. Fascinado e assustado,
Charles vai lá uma vez e resolve ocultar o segredo, mas por causa da Radar
decide voltar para tentar salvá-la de suas muitas doenças que poderiam levá-la
à morte. Aqui é interessante notar que King usa do recurso tradicional da
fantasia de portas ou passagens que se escondem em ambientes familiares. O
próprio autor já havia usado esse recurso antes – numa história de ficção
científica – no seu monumental <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Novembro
de 1963</i>, quando o protagonista descobre uma porta numa lanchonete que o
leva de volta aos anos 1960, em meio ao contexto que levou ao assassinato do
presidente John Kennedy. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Charles e Radar, então,
adentram no mundo chamado de Empis. Um reino movido por magia e não tecnologia
e habitado por pessoas e animais fantásticos. Mas Empis é um mundo danado. A
vegetação é rala e tomada por pragas, os animais são deficientes ou de tamanho
exagerado, e a maioria das pessoas têm a pele cinzenta e deformações horríveis
pelo corpo. Mas Charles conhece algumas pessoas adoráveis, como Dora, a
consertadora de sapatos, e membros de uma antiga família real que foi
destronada. Ele quer apenas cumprir sua missão e encontrar o relógio do sol,
que vai permitir que Radar não só seja curada, mas rejuvenescida, seguindo a
orientação do velho Bowditch que, ao passar por ele, viveu mais de um século,
além de ter conseguido sua fortuna em ouro. Mas no caminho, a jornada de
Charles vai se tornando muito perigosa, pois ele descobre que as noites são
tomadas por temíveis lobos e os chamados soldados noturnos, zumbis que emitem
raios de suas armas, entre outras monstruosidades deste mundo amaldiçoado.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Charles cumpre sua missão
original, mas ao ser aprisionado na cidade real de Lilimar irá viver sua
verdadeira aventura por sua vida e a própria segurança de nosso mundo, já que
ele descobre, em meio a torturas e prisão num calabouço há centenas de metros
abaixo da superfície, que o que causou o Mal a Empis foi a traição de Elder, o
filho mais novo da família real de Gallien, após se aliar com o demônio que
habita o Poço Profundo, que lhe concedeu poderes que o tornaram o novo rei, nem
que com isso, matasse a maior parte da nobreza e levasse mortes e destruição a
um mundo antes belo e próspero.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Como o leitor já deve ter
notado, estamos diante de um enredo de conto de fadas, subgênero da fantasia,
que trabalha certas características, como a jornada de um herói improvável, um
reino em desgraça, seres míticos, poderes sobrenaturais e muita magia. King
trabalha todos esses elementos com muita destreza, utilizando várias
referências sobre histórias parecidas, e apresentando ao longo da narrativa
várias associações com clássicos de fundo infantil, como <i style="mso-bidi-font-style: normal;">João e o Pé de Feijão</i> (1807), de Benjamin Tabart, e adultos, como <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Algo Sinistro Vem Por Aí</i> (1962), de Ray
Bradbury, além da vinculação com os Antigos de H.P. Lovecraft, na figura de
Gogmagog, o monstro supremo que estaria por trás do mal liberado sobre Empis.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Nesse sentido, e pela
própria autoconsciência do protagonista, King faz um experimento literário que
poderia chamar de metaficcional. Ou seja, uma ficção própria, mas que dialoga e
se referencia com outras, mas sem deixar de ter uma voz própria, dada a sua intensidade
e habilidade narrativa. E este diálogo também ocorre por meio da
problematização do próprio conteúdo do subgênero, ao recolocá-lo numa vertente
mais horrorífica, como originalmente as histórias deste filão se desenvolviam,
até serem modificadas para serem lidas por crianças num ambiente familiar, um
movimento de revisionismo literário que tomou a cena no final do século XIX.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">A jornada de Charles
Reade, mesmo contada de forma retrospectiva e em primeira pessoa, não faz com
que deixemos de sentir aflição e temor por seu destino e de Radar. A cada
página virada, ambos se veem em situações de perigo e, ao mesmo tempo,
estranhos encantamentos. No fundo é uma história de expiação, mais que de redenção,
num adolescente que foi obrigado a amadurecer mais rápido do que deveria, em
virtude dos infortúnios súbitos de sua vida. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Conto
de Fadas</span></i><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;"> é uma das histórias mais à vontade de King. Mas isso
não a torna menos impactante. O sentimento é talvez de emoção, mais pela
aventura do que pelo terror, embora, como dito, a trama seja norteada pelo malefício
causado ao mundo de Empis. Que, afinal, o que seria? Um mundo paralelo ao
nosso? Um portal que leva a outro ponto do Universo? King não explora muito
essas premissas, se concentrando mais na construção do mundo em si e suas próprias
regras e valores.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Em suma, esta é a
história de conto de fadas particular de King, e em que ele trabalha e explora
vários dos conceitos do subgênero. Mas que, sobretudo, proporciona ao leitor,
uma das experiências de entretenimento mais marcantes de redenção e
arrebatamento. Que livro estranho e fascinante.<o:p></o:p></span></p>
<p align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: right; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">—<b><i>Marcello
Simão Branco</i></b></span></p><p align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: right; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;"><b><i><br /></i></b></span></p><p></p>Marcellohttp://www.blogger.com/profile/02626856652197086431noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5461014025383007308.post-73588358441842147692023-07-18T16:44:00.002-07:002023-07-18T16:45:06.858-07:00Prêmio Le Blanc 2023<div style="text-align: left;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgVAYDsZPR4Zc_S8zBPsOfw3nn8z83-QVUwsIp6rwUNGRDuirYYhjtvfzzoU49yQoYltQye5RfFHo6dvj1cMZrxjySUIZa17hjI4UGH09krO0V7sP4s9qVi949hKUwDfrZgO-mzbC7W12SqDDO7BpfMACnZmrpnaud2ey9vN-mf-8RON8WLnOYP37fKOVM/s643/vileblanc.JPG" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="525" data-original-width="643" height="326" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgVAYDsZPR4Zc_S8zBPsOfw3nn8z83-QVUwsIp6rwUNGRDuirYYhjtvfzzoU49yQoYltQye5RfFHo6dvj1cMZrxjySUIZa17hjI4UGH09krO0V7sP4s9qVi949hKUwDfrZgO-mzbC7W12SqDDO7BpfMACnZmrpnaud2ey9vN-mf-8RON8WLnOYP37fKOVM/w400-h326/vileblanc.JPG" width="400" /></a></div><span style="font-size: medium;">No dia 14 de julho, em evento presencial no Sesc São João de Meriti, no Rio de Janeiro, foram anunciados os vencedores da edição de 2023 do Prêmio Le Blanc, voltado a apontar os melhores do ano anterior em animação, jogos, histórias em quadrinhos e literatura fantástica. </span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-size: medium;">A apuração foi realizada em duas etapas: uma consulta popular pela internet indicou três finalistas em cada categoria, dentre os quais o ganhador foi definido por um juri de especialistas. </span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-size: medium;">Os vencedores de 2023 são:<br /><b>Romance:</b> <i style="background-color: #f9cb9c;">A roda de Deus</i>, Leonel Caldela, Jambô.<br /><b>Coletânea:</b> <i style="background-color: #f9cb9c;">Assombros</i>, Zé Wellington, Draco.<br /><b>História em quadrinhos independente:</b> <i style="background-color: #f9cb9c;">Ovelha negra</i>, Carlos Felipe Figueiras & B. Horn, Tapas.<br /><b>História em quadrinhos:</b> <i style="background-color: #f9cb9c;">Sussurros do caos rastejante</i>, Fábio Yabu & Fred Rubim, Jambô.<br /><b>Série de tiras:</b> <span style="background-color: #f9cb9c;"><i>Edifício Celeste</i></span>, Thiago Krening.<br /><b>Série de animação:</b> <i style="background-color: #f9cb9c;">Turma da Mônica</i>, Cartoon Network, Mauricio de Sousa Produções & Split Studio.<br /><b>Curta animado:</b> <i style="background-color: #f9cb9c;">Coelhitos e gambazitas</i>, Thomas Larson.<br /><b>Curta animado independente:</b> <i style="background-color: #f9cb9c;">Eu nunca contei a ninguém</i>, Douglas Duan.<br /><b>Longa animado:</b> <span style="background-color: #f9cb9c;"><i>A lasanha assassina</i></span>, Ale McHaddo.<br /><b>Animação publicitária:</b> <span style="background-color: #f9cb9c;">Abertura de novela Cara e Coragem</span>, Leonardo Fleury & Luciana Jordão.<br /><b>Game eletrônico:</b> <i style="background-color: #f9cb9c;">Fobia – St. Dinfna hotel</i>, Pulsatrix Studios.<br /><b>RPG:</b> <span style="background-color: #f9cb9c;"><i>O cordel do reino do sol encantado</i></span>, Pedro Borges, New Order.</span></div><div style="text-align: left;"><div><span style="font-size: medium;">Criado em 2018, o Prêmio Le Blanc é organizado pelo Programa de Pós-Graduação em Mídias Criativas (PPGMC) da Escola de Comunicação (ECO) da Universidade Federal do Rio de Janeiro, pela Universidade Veiga de Almeida (UVA), pelo Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ) e pela Universidade Federal Fluminense (UFF). </span></div><div><span style="font-size: medium;">O nome é uma homenagem à André LeBlanc (1921-1998), haitiano radicado no Brasil com uma extensa e importante obra no campo da ilustração editorial.</span></div></div><div style="text-align: left;"><span style="font-size: medium;">A relação com todos os finalistas de cada categoria pode ser conferida <a href="https://premioleblanc.eco.ufrj.br/" target="_blank">aqui</a>.</span><br /></div>Hiperespaçohttp://www.blogger.com/profile/05030227649636167390noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5461014025383007308.post-28122173612347353072023-07-16T14:49:00.001-07:002023-07-18T16:41:43.573-07:00Território Lovecraft, Matt Ruff<div style="text-align: left;"><b><i><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEge4vqlKGGD2jXmpMCoFdBhIhf3ArJvlTHmjMG0IOKLyVs2x0zxNtGkNWuHeVL8b4iNjNx6C6hFgWoGsbyx5rIh9K4sDcIIq1qgLc9Ji1e99g-c9rzm0CDDakY4iq9Ly1YcNqxwB7VAsjMc5geYEEcytf7ynwT46Fctr2nSDnTUOBAUL3RWpSHlJsoH/s2560/territorio.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2560" data-original-width="1727" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEge4vqlKGGD2jXmpMCoFdBhIhf3ArJvlTHmjMG0IOKLyVs2x0zxNtGkNWuHeVL8b4iNjNx6C6hFgWoGsbyx5rIh9K4sDcIIq1qgLc9Ji1e99g-c9rzm0CDDakY4iq9Ly1YcNqxwB7VAsjMc5geYEEcytf7ynwT46Fctr2nSDnTUOBAUL3RWpSHlJsoH/w270-h400/territorio.jpg" width="270" /></a></div><span style="font-size: medium;">Território Lovecraft</span></i></b><span style="font-size: medium;"> (<i>Lovecraft country</i>), Matt Ruff. Tradução de Thais Paiva, 354 páginas. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2020.</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-size: medium;"><br />Há algum tempo, mais exatamente em 2017, o escritor e tradutor Fábio Fernandes, em seu podcast <a href="https://www.youtube.com/watch?v=3iBcasc-n9w" target="_blank"><i>Terra Incógnita</i></a>, publicou uma série de episódios sobre uma onda neolovecraftiana na fc&f americana, e um dos títulos que destacou foi justamente <i>Lovecraft country</i>. Foi a primeira vez em que ouvi falar do livro e de Matt Ruff, seu autor. Fernandes teceu efusivos elogios à obra e recomendou que os editores brasileiros dessem uma chance a ele.<br />É claro que não foi o singelo <i>podcast </i>que Fernandes, ainda que se considere a significativa influência de seu editor no <i>fandom</i>, que levou a editora Intrínseca a publicar o livro no Brasil. Isso só aconteceu quando a HBO Max anunciou a produção de uma série inspirada no livro, o que é um apelo irresistível aos editores brasileiros quando se trata de livros de fc&f. Por isso, não foi surpresa quando o livro apareceu nas lojas virtuais, em edição de luxo e capa dura. Não que o título não mereça: provavelmente foi o melhor livro de fc&f publicado no país em 2020 e certamente um dos cinco melhores da segunda década deste século.<br />O mais interessante é que não se trata de um livro lovecraftiano, como seria de se imaginar. Os escritores profissionais sabem muito bem que qualquer autor fã saberia imitar o estilo <i>démodé</i> de Lovecraft. Trata-se de um texto enxuto e potente, mas a leitura é sofrida por conta do tema; o estilo é bastante contemporâneo, ainda que toda a ação esteja localizada em algum momento dos anos 1950. Trata-se de um romance <i>fix-up</i>, formado por contos e novelas autônomos possivelmente publicados em separado, reunidos por um arco geral que lhes dá unidade dramática.<br />Conta a história de uma família de homens e mulheres pretos num Estados Unidos da América em que o racismo e a segregação racial são praticados com anuência do poder público. Um dos veteranos, chamado de George, mantém a publicação de uma espécie de fanzine turístico, o <i>Guia de Viagem do Negro Precavido</i>, para que as pessoas pretas possam transitar pelo país com alguma segurança. Para isso, viaja continuamente e enfrenta os perigos de caminhos ainda não experimentados, de modo a registrar os lugares em que o povo preto pode se alimentar e se hospedar sem o risco de ser assassinado. Oito história e um epílogo compõem o volume, cada uma focaliza um dos membro da família, embora os demais também participem com maior ou menor significado.<br />"Território Lovecraft" é a novela que abre o volume. Cumpre com louvor a apresentação dos personagens e do ambiente geral. Nela, acompanhamos Atticus, um jovem que retorna sua cidade natal e encontra Montrose, a quem chama de pai, desaparecido. Acompanhado de George e da jovem Letitia, embarcam no velho <i>woody</i> da família com destino ao condado de Ardhan, em pelo "Território Lovecraft", uma região perigosa para os negros. Lá, se depararam com Caleb Braithwhite, jovem branco muito misterioso, além de um grupo de homens brancos que praticam uma espécie de culto, a qual chamam de "Filosofia Natural", cujo ritual exige a participação de um dos nossos ousados viajantes e influirá no futuro de toda a família.<br />"A casa assombrada dos sonhos" focaliza as irmãs Letitia e Ruby, que compram por uma bagatela um antigo casarão no qual pretendem implantar uma pousada para negros. O problema é que o casarão está localizado em um bairro majoritariamente habitado por brancos racistas. E não só: a mansão era, no passado, residência de Hiran Winthrop, figurão da Filosofia Natural cujo fantasma nada amistoso assombra o lugar.<br />"O livro de Abdulah" é uma espetacular aventura ao estilo de Indiana Jones. Caleb Braithwhite está de posse do <i>Livro dos Dias</i>, que registra a vida dos membros da família durante o período da escravidão e é um documento importante para que eles possam obter uma polpuda indenização. Mas Caleb só o devolverá em troca do <i>Livro dos Nomes</i>, compêndio mágico que está escondido no subterrâneo do Museu de História Natural. Atticus, George, Montrose e alguns amigos embarcam nessa perigosa missão sobrenatural para garantir a devolução do tesouro roubado da família.<br />"Hyppolita perturba o universo" é a melhor história do volume, na minha opinião. E isso é um mérito enorme porque todas as histórias do livro são excelentes. Hippolita, a mãe de Letitia e Ruby, é uma mulher de vida agitada e de muita personalidade. É astrônoma, viaja sozinha e é colaboradora do Guia. Seu passatempo favorito é visitar observatórios astronômicos pelos EUA, principalmente aqueles em que não poderia entrar. E o observatório que ela quer invadir desta vez fica numa propriedade particular pertencente a Hiran Winthrop (sim, o fantasma da mansão de Letitia). Ela vai descobrir, da maneira mais surpreendente possível, que aquele não é um observatório como os demais, pois ele mostra as estrelas "bem" de perto.<br />"<i>No ano-novo, Ruby acordou branca</i>". Esta é a frase que abre o conto "Jekil em Hyde Park", no qual Ruby consegue realizar seu maior desejo, que é arrumar emprego numa loja de departamentos muito elegante. Mas ela só consegue isso graças a um feitiço que o sedutor Caleb Braithwhite lhe ensina.<br />"A casa Narrow" é uma história de viagem no tempo nada convencional, na qual Montrose é convencido por Braithwhite a recuperar cadernos antigos com anotações de Hiran Winthrop que aparentemente já foram destruídos. Para isso, ele terá de fazer uma pequena viagem a casa de um certo Sr. Narrow.<br />"Horace e o boneco do diabo" é de longe o texto mais assustador do volume, no qual Horace, o membro mais caçula da família, tem de enfrentar uma maldição mortal que Braithwhite lança sobre ele.<br />"A marca de Caim" apresenta o desfecho emocionante do combate entre os nossos protagonistas e o aparentemente invencível Braithwhite e seus asseclas, com muita ação, violência, tiroteios e magia negra, é claro.<br />O texto está repleto de referências e citações ao universo <i>nerd</i>, a literatura fantástica e até aos jogos de RPG, que não são gratuitas nem derrubam a suspensão da incredibilidade como geralmente ocorre nesses casos. Pelo contrário, em <i>Território Lovecraft</i>, todas as citações são elementos fundamentais das histórias, que não poderiam ser contadas da mesma forma sem elas.<br />Comparando-se o texto original com a adaptação produzida pela HBO Max, é possível dizer que esta é bastante fiel ao romance mas está longe de ter a mesma qualidade. O livro de Ruff é muito superior à versão audiovisual, que tomou liberdades para outra conclusão, alterou personagens, fundiu histórias, ignorou outras e inventou coisas que nem estão no livro. Algumas das melhores narrativas do original ficaram de fora, outras foram tão alteradas que mal é possível reconhecê-las, além de colocar o pobre Atticus numa situação ambígua e frágil que nada tem a ver com o personagem original. Sem falar na <i>limagem </i>das deliciosas citações, bem como da relevante questão metalinguística, proposta logo às primeiras páginas, sobre o modo contraditório como uma pessoa preta se relaciona com a ficção científica, gênero de tradição evidentemente racista.<br />Recomendo a leitura do texto original de Ruff. Quem só viu o seriado não recebeu o melhor de <i>Território Lovecraft</i>.</span></div><div style="text-align: right;"><span style="font-size: medium;">— <i>Cesar Silva</i></span></div>Hiperespaçohttp://www.blogger.com/profile/05030227649636167390noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5461014025383007308.post-60928574486388349012023-07-03T07:10:00.002-07:002023-07-04T05:48:40.274-07:00O Beijo Antes do Sono<p style="text-align: center;"> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjynmysGCFraDOfnhiks5p4xCDXzhIoR_OtIEoPlyTG0YUFICX9SlbpCZvGB8J-lDbcV88COxhmBvca1RsiYAs_QICYEhtbyupKc3IfBkHGIz1wIjK5lud131mJOHEYjKpIeu0ijIztc35_58AWFtiwbwdUt440OObjlaVh1T32MVV3gPMrHkHEKRsHwVk/s500/capa%20o%20beijo%20antes%20do%20sono.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="500" data-original-width="331" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjynmysGCFraDOfnhiks5p4xCDXzhIoR_OtIEoPlyTG0YUFICX9SlbpCZvGB8J-lDbcV88COxhmBvca1RsiYAs_QICYEhtbyupKc3IfBkHGIz1wIjK5lud131mJOHEYjKpIeu0ijIztc35_58AWFtiwbwdUt440OObjlaVh1T32MVV3gPMrHkHEKRsHwVk/w424-h640/capa%20o%20beijo%20antes%20do%20sono.jpg" width="424" /></a></div><br /><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">O
Beijo Antes do Sono</span></b><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">, Fausto Cunha. Capa: Salvio Negreiros.
119 páginas. São Paulo: Artenova, 1974.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Fausto Cunha (1923-2004)
foi uma figura importante da literatura brasileira, nas décadas de 1960 e 1970,
e se estendermos sua contribuição à FC, também à década de 1980, aqui na figura
de editor. Mais conhecido entre a comunidade de FCB como um dos principais
autores da Primeira Onda, nomeada por ele de “Geração GRD”, transitou entre a
crítica literária, a ficção e a edição, com talento e marcas próprias, a partir
de uma perspectiva humanista e intimista. Aliás, uma tendência característica
dos autores desse período.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Publicou de sua lavra
quatro livros de FC, as coletâneas <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Noites
Marcianas</i> (1960) e <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Dia da Nuvem</i>
(1980), a novela infanto-juvenil <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Lobo
do Espaço</i> (1977) e este <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Beijo Antes
do Sono</i>, seu único romance.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Num período contemporâneo,
mas indefinido, duas amigas de infância vão passar alguns dias numa fazenda da
família de uma delas. Ambas estão em crise com seus casamentos, mas aguardam a
chegada dos maridos para breve. Brígida é mais bonita e expansiva, ainda que
com períodos de certa confusão e melancolia. Débora, parece ser mais racional e
prática, mas não resiste muito quando confrontada aos seus problemas,
principalmente emocionais e sexuais. O que as duas compartilham de mais valioso
é a intimidade, como se o verdadeiro casal fosse o delas. Apesar de terem
personalidades distintas, compartilham sonhos e segredos, embora estejam ambas
num momento incerto de suas vidas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Neste livro estes dramas interiores
são potencializados pelo contato com a força vital da natureza: as estrelas à
noite, a terra, os animais domesticados, a água – com rios e chuvas –, as
árvores, plantas e pássaros. O intimismo meio que se entremeia, em momentos
inspirados da narrativa, com motivos e eventos da natureza.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Mas em meio a este
contexto existencial e primal, há um elemento de desestabilização sobre a vida
das duas: Phom. Um ser indefinido que surge, ora para Brígida – que parece ser
sua preferida –, ora para Débora. O contato e relação dele com as duas é incerto e
intenso e avança para o crescente erotismo e a consumação sexual. O estranho é
que quando ele não está presente, ambas se entregam aos seus problemas
conjugais e psicológicos como se Phom não existisse. Mas mesmo quando ele surge
– voando, se materializando, quase sempre à noite –, soa como estranho, quase
como inexplicável para aquela que não está a ter o contato com ele. Vira uma
espécie de segredo oculto entre as duas. Mas quem seria Phom?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Um anjo, um ser sobrenatural
da natureza, uma espécie de vampiro, um extraterrestre? Mas Phom não é uma
criação totalmente nova do autor, pois é possível estabelecer conexão com ao
menos dois contos que ele publicou na coletânea <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Noites Marcianas</i>: “Chamavam-me de Monstro” e “61 Cygni”. No
primeiro, temos o alienígena Blixt, um ser do planeta Ghrh, que se apossa e se
transforma em qualquer outra forma material, orgânica ou inorgânica. E em “61
Cygni”, uma mulher solitária tem contato com uma criatura simbionte, semelhante
a Blixt. Ora, os dois elementos estão presentes: o alienígena e uma mulher! Desta
forma, Phom deveria ser uma extensão do desenvolvimento do conceito. Mas,
infelizmente, Cunha não se interessa em esclarecer, ou ao menos explorar um
pouco mais sobre o elemento que é, afinal, o condutor de maior interesse da
narrativa. E em certo ponto dela, ocorre o que poderia ser chamado de uma
ruptura, pois o comportamento de ambas se torna psicologicamente e fisicamente muito
alterado. Passam a ter ideias insanas e assassinas, desejos sexuais insólitos e
engordam demais. Muito provavelmente grávidas do ser misterioso?<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center; text-indent: 14.2pt;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3aQPw5zCrz1J0CDlCCE4Oxm1_Uclwppu491oUzlXGnPioB98iUiZCCcjBtZmTkcn0337Yg34ECCbOoKXvMGyYjVtVvBhJ7JCQNGTM3aaNFh7DC-G4xy8mP2FOwfmLAvOy4qSia-QQN0hGe5TQnTGr4xL2f8hTzOR_agyGf9wt-1Aw88YZkABjKSHkPcc/s270/capa%20amor%20voraz.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="186" data-original-width="270" height="276" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3aQPw5zCrz1J0CDlCCE4Oxm1_Uclwppu491oUzlXGnPioB98iUiZCCcjBtZmTkcn0337Yg34ECCbOoKXvMGyYjVtVvBhJ7JCQNGTM3aaNFh7DC-G4xy8mP2FOwfmLAvOy4qSia-QQN0hGe5TQnTGr4xL2f8hTzOR_agyGf9wt-1Aw88YZkABjKSHkPcc/w400-h276/capa%20amor%20voraz.jpeg" width="400" /></a></div><br /><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;"><br /></span><p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">O
Beijo Antes do Sono</span></i><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;"> foi adaptado ao cinema como <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Amor Voraz</i> (1984), pelo prestigioso
diretor Walter Hugo Khouri (1929-2003). Ele é conhecido por seus filmes
existencialistas e intimistas, que procura desvendar mistérios e obsessões da
psique humana, talvez principalmente a masculina, como no seu personagem infeliz
e solitário Marcelo, que se sucede em vários filmes. Mas em <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Amor Voraz</i> o foco são as nuances e as
complexidades femininas, um gênero humano, diria, mais misterioso. Afinal, a
mulher teria uma relação mais sutil com os âmagos da realidade, por ser capaz
de gerar uma vida, podendo, assim, talvez ser mais afeita à capacidade de lutar
pela sobrevivência e transmitir o amor. Enfim, estou a divagar, mas é que tudo
isso fica mais evidente no filme do que no livro. Neste, após a tal da ruptura
a história perde mesmo seu rumo, com uma parte final em que os eventos perdem
inteligibilidade, concluindo com uma estranha discussão teológica descolada do
que parecia ser a proposta inicial da obra.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Mas talvez o mais curioso
é que não o romance, mas o filme é claramente identificado com a FC, pois a
personagem, interpretada por Vera Fisher – que seria a Brígida –, se comunica
com Phom por telepatia, e fica a saber que ele vem de um planeta distante
muitos anos-luz da Terra, e que ele germinou sob a água, após milhares de anos.
Adquiriu a forma humana e deve voltar ao seu lar – numa viagem de luz – para
comunicar se o nosso planeta é adequado à vida deles. Ora, há mesmo semelhanças
aqui com outros filmes de FC como, por exemplo, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">ET, o Extraterrestre</i> (1982) e <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Star
Man: O Homem das Estrelas</i> (1984). Ora, é irônico que um autor de FC escreve
uma obra que insinua, mas não assume ser do gênero, e um diretor que nunca teve
ligação alguma com ele, produz uma obra do tipo. E bem interessante.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">O
Beijo Antes do Sono</span></i><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">, ganhou uma edição em Portugal, pela
editora Bertrand, em 1976, mas, de fato, quase nunca é lembrado entre aqueles poucos
que leem e pesquisam sobre a nossa FC. De Fausto Cunha se fala principalmente
de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">As Noites Marcianas</i>, de fato seu
melhor livro. É um romance interessante, embora não desenvolva plenamente as
potencialidades temáticas que seriam afeitas ao gênero, tornando-se
desequilibrado em seu final. Mesmo assim, vale a pena ser conhecido.<o:p></o:p></span></p>
<p align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: right; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">—<b><i>Marcello
Simão Branco</i></b></span></p><p align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: right; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;"><b><i><br /></i></b></span></p>Marcellohttp://www.blogger.com/profile/02626856652197086431noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5461014025383007308.post-85638513720807074682023-06-15T09:40:00.003-07:002023-07-11T16:25:57.462-07:00Spectros<div style="text-align: left;"><b><i><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhjjDIZXkrOghmnWaD30Nh3QkJzdLkJVgy1svsYX3BKAgud4gTLfFEhTB_zbM_z4vK8Vy2g1L63-OQKnVwfzcMFjY8r3U15C2wzlgy1ietPfAF6hFen3NGLT8tHlh_6-Amq64NenaFHpYwb00wzbL6d1uMzNjMjTTypejg1j-IulGuh99HmN0SbhKeO/s1146/MV5BYWIxY2ZiMWUtYzdiMS00ZWFlLTliMWMtZDk0ODIyOWEyYmM4XkEyXkFqcGdeQXVyMTk2NDE3Mzc@._V1_.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1146" data-original-width="813" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhjjDIZXkrOghmnWaD30Nh3QkJzdLkJVgy1svsYX3BKAgud4gTLfFEhTB_zbM_z4vK8Vy2g1L63-OQKnVwfzcMFjY8r3U15C2wzlgy1ietPfAF6hFen3NGLT8tHlh_6-Amq64NenaFHpYwb00wzbL6d1uMzNjMjTTypejg1j-IulGuh99HmN0SbhKeO/w284-h400/MV5BYWIxY2ZiMWUtYzdiMS00ZWFlLTliMWMtZDk0ODIyOWEyYmM4XkEyXkFqcGdeQXVyMTk2NDE3Mzc@._V1_.jpg" width="284" /></a></div></i></b><p style="text-align: left;"><span style="font-size: medium;"><b><i>Spectros</i></b>, série de tv em sete episódios. Roteiro e direção Douglas Petrie. São Paulo: Moonshot Pictures, 2020. </span></p><p style="text-align: left;"><span style="font-size: medium;"><br />A grande contribuição dos serviços de televisionamento por <i>streaming </i>foi a abertura de espaços mais generosos à produção local independente, antes só acessível a produtoras calçadas por grandes corporações econômicas, como as redes de tv aberta, por exemplo. <br />Desde que o canal Netflix exibiu, em 2016, a primeira temporada da série de ficção científica <i>3%</i>, mais e mais produções nacionais têm chegado ao público, muitas vezes com relativo sucesso. Foi nessa mesma plataforma que estreou, em 2020, a série de horror sobrenatural <i>Spectros</i>, criação do roteirista e diretor Douglas Petrie, produzida pela Moonshot Pictures. <br />Conta a história de duas estudantes adolescentes que se envolvem com um marginal justamente na noite em que ele pretende roubar o templo de uma bruxa no bairro paulistano da Liberdade. As coisas complicam quando um homem em chamas surge e derruba uma velha boneca japonesa, objeto que parece ter o poder de reduzir as fortes dores de cabeça que há tempos torturam uma das garotas. Na fuga, num automóvel roubado, o grupo atropela e mata o tocha humana e todos acabam presos pela polícia. Mas há muitos segredos obscuros por trás daquela singela boneca e praticamente tudo o que circula pela Liberdade naquela noite concorre para complicar ainda mais a chances dos jovens chegarem vivos ao próximo nascer do Sol. <br />Fantasmas, mortos-vivos, maldições ancestrais e necromantes psicopatas são ingredientes que alteram a percepção do delicado ambiente da Liberdade, bairro tão conhecido e querido dos paulistanos.<br />A série de sete episódios tem um elenco baseado em atores jovens, como Danilo Mesquita (Pardal), Claudia Okuno (Mila), Mariana Sena (Carla), Enzo Barone (Zeca) e Drop Dashi/Pedro Carvalho (Zeca), além de atores veteranos como Carlos Takeshi (Celso), Miwa Yanagizawa (Zenóbia), Norival Rizzo (o pipoqueiro Mário) e Daniel Rocha (o detetive Ricardo). <br />A narrativa é movimentada, com muita correria e variação cenográfica, que vai de prédios abandonados e comunidades carentes, até construções históricas e cemitérios antigos. Mas exagera na amplitude geográfica do bairro, sugerindo uma extensão territorial muito acima da real: para aproveitar a cenografia da Rua da Glória, o grupo de jovens circula por ela continuamente de automóvel, num bairro que se atravessa a pé em meia hora, se muito. Talvez quem não conheça a Liberdade não perceba, mas isso prejudica a narrativa, alongando uma história que ficaria bem melhor em três ou quatro episódios.<br />Deixando tais detalhes de lado, <i>Spectros </i>engrossa a tendência da produção fantástica nacional inspirada em mitologia e folclore, que está fortemente presente na literatura de ficção e agora também na teledramaturgia, que já conta com outras séries nos canais de <i>streaming</i> como <i>Cidade invisível</i> (2021, Netflix), <i>Desalma </i>(2020, HBO Max), <i>A todo vapor</i> (2020, Amazon Prime) e <i>Vale dos esquecidos</i> (2022, HBO Max). Não deixa de ser interessante, afinal, tais iniciativas vinculam-se mais fortemente à cultura nacional e exploram aspectos raramente tratados por obras estrangeiras do segmento, mas é preciso muito cuidado para não se apropriar de culturas alheias e até em tratar crenças ainda vivas como se folclore fossem. <i>Spectros</i>, contudo, escapa bem desse risco, na medida que incorpora um elenco variado com predomínio de atores japoneses. <br />Como produção, <i>Spectros </i>entretém e traz para o debate uma série de temas significativos, como a tortura, a intolerância e o racismo, bem como a diversidade étnica e cultural do povo brasileiro. Os efeitos visuais são muito bons e todos os atores funcionam bem em seus papéis. Vale a pena assistir, desde que se tenha em mente que não se trata de um seriado americano: o ritmo é bem mais lento, mas o prazer de reconhecer os espaços e a realidade ali representados garante uma boa diversão.<br /></span></p><div style="text-align: right;"><span style="font-size: medium;">— <i>Cesar Silva</i></span></div><p></p></div>Hiperespaçohttp://www.blogger.com/profile/05030227649636167390noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5461014025383007308.post-36211151387652762012023-06-07T06:51:00.006-07:002023-06-07T12:56:16.110-07:00No Limiar de Novos Mundos<p style="text-align: center;"> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEifxaKjzkcc9wEQBdIY5IR745k6CzcyuwKjCesQ5zLqf9DQLXa8INMONNZxb_erxRTRxibXHODFTpUqRll_mVR-6KAHDHBSvu64GG8T1NzoGnvpXMdQOVNSpA8TqecF1yRRDefT5RQ0hoCDvb--BFLoeslS8T8QmW4cmSMDeojb2gBW7klKGUZ5L47c/s274/capa%20no%20limiar%20de%20novos%20mundos.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="274" data-original-width="184" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEifxaKjzkcc9wEQBdIY5IR745k6CzcyuwKjCesQ5zLqf9DQLXa8INMONNZxb_erxRTRxibXHODFTpUqRll_mVR-6KAHDHBSvu64GG8T1NzoGnvpXMdQOVNSpA8TqecF1yRRDefT5RQ0hoCDvb--BFLoeslS8T8QmW4cmSMDeojb2gBW7klKGUZ5L47c/w430-h640/capa%20no%20limiar%20de%20novos%20mundos.jpg" width="430" /></a></div><br /><p></p><p style="text-align: center;"><br /></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">No
Limiar de Novos Mundos</span></b><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;"> (The Shores of Another Sea), Chad
Oliver. Tradução: José Sanz. Capa: Vera Duarte. 164 páginas. Rio de Janeiro:
Expressão e Cultura, 1971. Lançado originalmente no mesmo ano.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Chad Oliver (1928-1993) notabilizou-se
como um escritor de FC que abordou, como poucos, o tema do contato entre
humanos e extraterrestres, tomando como base sua formação e atuação como
professor de Antropologia, no qual fez longa carreira na Universidade do Texas.
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">No Limiar de Novos Mundos</i> não é
diferente, é apenas mais sutil e com um nível de complexidade interessante, que
ajuda a não tornar o romance só mais um neste subgênero dos mais explorados no
campo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Numa reserva na selva do Quenia, babuínos
são capturados e enviados para os EUA. Royce Crawford a lidera junto a um
disciplinado grupo de funcionários nativos, e convive com sua esposa e duas
filhas pequenas. Tudo segue uma rotina aparentemente previsível, embora não sem
a excitação do convívio com a natureza selvagem, até que Royce se espanta ao
avistar uma estranha luz no céu. Mas isso seria apenas o prenúncio do que viria
a seguir, quando alguns babuínos capturados somem das jaulas. Ao procurar
respostas para estes mistérios, Royce e os demais irão se deparar com eventos
ainda mais perturbadores, tais como novos comportamentos por parte dos babuínos
– mais violentos e solitários (eles são primatas que vivem e agem
coletivamente) –, que, eventualmente, os levará à conectá-los com a estranha
luz que, vez por outra, se insinua como um farol na escuridão da selva.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Como disse antes, é uma história sutil,
pois Royce descobrirá que a mudança de atitude dos babuínos se relaciona com
uma manipulação do qual foram vítimas por parte de seres extraterrestres. A tal
luz é, na verdade, a nave que aterrissou. Mas por todo o romance não se sabe
quem são eles, porque vieram, o que querem e nem como eles são. A certeza do
protagonista virá da forma mais dramática, quando uma de suas filhas é raptada
pelos babuínos modificados e levada até o interior da nave. Tal mistério é
intrigante e desafia a imaginação do leitor, e difere bastante dos outros dois
romances de Oliver publicados no Brasil, que tratam do mesmo tema.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Primeiro em <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Vultos Sobre o Sol</i> (<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Shadows
in the Sun</i>;1954), o romance de estreia do autor, o contato se dá por meio
da descoberta da presença de alienígenas numa cidadezinha do interior dos EUA.
Eles assumem a forma humana e criam colônias de ocupação planeta afora, até
serem descobertos por um jovem antropólogo – mais detalhes <u><a href="http://almanaqueafb.blogspot.com/2022/11/vultos-sobre-o-sol.html">aqui</a></u>. Já em <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Os Senhores do Sonho</i> (<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Unearthly Neighbors</i>; 1960), somos nós da
Terra que descobrimos um mundo com vida inteligente e para lá partirmos para
estabelecermos contato – ler a resenha <u><a href="http://almanaqueafb.blogspot.com/2023/02/senhores-do-sonho.html">aqui</a></u>.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Pois a sutiliza de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">No Limiar de Novos Mundos</i> se dá não apenas pelo fato dos aliens não
se mostrarem, mas pela própria história ocorrer numa parte do mundo ainda não
plenamente civilizada, a selva africana. É como se o próprio cenário fosse um
lugar alienígena, pois não plenamente dominado e civilizado pelo branco
ocidental. Como deixa escapar o próprio Royce, ele estaria vivendo a última
geração de uma região prestes a desaparecer. Além disso, e principalmente, está
embutida uma ironia, pois o ocidental, que domina os nativos e faz experiências
científicas com os babuínos, passa a ser ele mesmo objeto de experiências por
visitantes extraterrestres. No fundo, é uma reflexão instigante sobre o
imperialismo e nosso comportamento predador e abusivo com outras espécies, com
seus diferentes níveis de senciência e consciência de si próprias, no caso os
primatas, não por acaso os mais próximos do ser humano.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Em certa passagem do livro, Royce faz uma
reflexão interessante sobre os motivos para se aventurar pelo espaço e travar
contato com seres de outros mundos. Na verdade, expressa o raciocínio de Chad
Oliver e pode servir de base para um pensamento racional sobre o assunto:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 3.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 3cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Suponhamos
que um dia o homem pouse num planeta distante. Por que teria <i style="mso-bidi-font-style: normal;">ele</i> de ir, que impulso o levaria a
viajar através da escuridão e de anos-luz? Poderia ele explicar e mesmo tentar?
Se estivesse preparado para explorar aquele mundo apavorante, se aprisionasse
alguns espécimes, que faria se fosse atacado por seres monstruosos, aos quais
não podia entender? Pararia, os deixaria em paz? (página 140).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Outro aspecto de interesse do livro é sua abordagem,
digamos, culturalista, na caracterização dos personagens quenianos e do
funcionamento de uma reserva. Tudo é muito realista, longe dos estereótipos
relacionados com os povos que ali vivem. O autor também apresenta uma abordagem
narrativa que soa quase que nostálgica, entre um mundo de vida mais simples e
despojado com a natureza, e o outro que invade e o modifica gradativa, mas
inexoravelmente com os valores e modos mais refinados da civilização. Para
Oliver é como se o ser humano tivesse perdido algo de sua essência ao romper de
forma tão drástica com sua ancestralidade. Como se percebe, é uma história
rica, pois pode ser interpretada através de várias camadas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Contudo, o que não deixou de me causar
incômodo foi a maneira como a premissa de que a alteração do comportamento dos
babuínos fosse causada pela interferência de seres de fora da Terra. É que ela
é mal desenvolvida, pois nem é considerada a hipótese de que os eventos
pudessem ter sido provocados por algum projeto militar e científico secreto de
um governo do nosso planeta. Ainda mais no contexto polarizado da Guerra Fria, quando, sabe-se,
várias experiências exóticas e eticamente questionáveis foram realizadas
por alguns países.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Mas tal aspecto não chega a comprometer a
força da história e a riqueza de suas discussões, só possíveis porque escritas
por um dos maiores especialistas na FC nos assuntos relacionados com os
contatos e diferenças entre culturas. Pois se a paranoia ganhou o primeiro
plano em <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Vultos Sobre o Sol</i> e o
reconhecimento da alteridade tem relevância em <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Os Senhores do Sonho</i>, neste <i style="mso-bidi-font-style: normal;">No
Limiar de Novos Mundos</i>, o que sobressaiu foi a relativização crítica e
irônica das muitas formas de imposição cultural , que, no fim das contas, como
que se desmancha no ar, em meio a possíveis situações desestabilizadoras e
incontroláveis, que só mostram a insignificância humana no contexto do
universo.<o:p></o:p></span></p>
<p align="right" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: right; text-indent: 14.15pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">—<b><i>Marcello Simão Branco</i></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 14.2pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;"><o:p> </o:p></span></p>Marcellohttp://www.blogger.com/profile/02626856652197086431noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5461014025383007308.post-2818843954119239132023-05-15T11:21:00.005-07:002023-07-11T16:26:44.345-07:00Vaporpunk II<div style="text-align: left;"><i><b><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjYGbhjgW2-yur3SQeE3694gQHqa9Gjc3hI4AQv3XK2ks8EubmI4Im8RXgfCJJXiSpf6YHv-X2gTfu_WL332F7Jn62L8fudhI8eGVXNR0qqLJjXc9MLJd1-DHJIQzTgWyzAy993Xe30yA9e7jFBlk743RywXwX83SH71hY75fShD1HnPHMhDyD62aN7/s2055/vaporpunk2.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2055" data-original-width="1400" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjYGbhjgW2-yur3SQeE3694gQHqa9Gjc3hI4AQv3XK2ks8EubmI4Im8RXgfCJJXiSpf6YHv-X2gTfu_WL332F7Jn62L8fudhI8eGVXNR0qqLJjXc9MLJd1-DHJIQzTgWyzAy993Xe30yA9e7jFBlk743RywXwX83SH71hY75fShD1HnPHMhDyD62aN7/w273-h400/vaporpunk2.jpg" width="273" /></a></div></b></i><p style="text-align: left;"><span style="font-size: medium;"><i><b>Vaporpunk: Novos documentos de uma pitoresca época steampunk</b></i>, Fábio Fernandes e Romeu Martins, orgs. 224 páginas. São Paulo: Draco, 2014.<br /><i><br /></i></span></p><p style="text-align: left;"><span style="font-size: medium;"><i>Vaporpunk: Novos documentos de uma pitoresca época steampunk</i> é o segundo volume do título e o quarto da série "punk" da editora Draco, que conta também com <i>Vaporpunk </i>(2010), <i>Dieselpunk </i>(2011), <i>Solarpunk </i>(2013) e <i>Cyberpunk</i> (2019). Trata-se de uma antologia de contos na tradição do modelo inaugurado por <i>A máquina diferencial</i>, romance de Bruce Sterling e William Gibson originalmente publicado em 1990 e traduzido no Brasil em 2012 pela editora Aleph, que propõe o desenvolvimento de tecnologias modernas, como aviões, automóveis e computadores, muito antes do que de fato aconteceram, alterando profundamente a história como a conhecemos.<br />Os organizadores Fábio Fernandes e Romeu Martins reuniram nove textos para investigar retrofuturos possíveis para o Brasil, mas sem ser muito exigente com o conceito. Há contos que sem dúvida são <i>steampunk</i>, mas outros têm no modelo uma relação distante ou mesmo nenhuma. <br />Fábio Fernandes abre a seleta com "O alferes de ferro", uma história alternativa em que Tiradentes desenvolve uma armadura de combate para enfrentar a guarda colonial e o traidor Joaquim Silvério dos Reis. <br />Romeu Martins participa com dois textos do policial ferroviário João Fumaça: "Tridente de Cristo" e "Modelo B". O personagem foi apresentado aos leitores no conto "Cidade Phantástica" na antologia <i>Steampunk: Histórias de um passado extraordinário</i> (2009, Tarja) e estas novas histórias o colocam diante de um terrorista que pretende explodir uma igreja durante um concorrido casamento no Rio de Janeiro imperial, e um automóvel a vapor de propriedade de um excêntrico milionário americano, trazido pro seu dedicado mordomo para a feira mundial no Brasil. Martins gosta de citar e fazer referências diversas a seus autores e personagens favoritos, tanto que um dos contos traz até um glossário explicitando algumas delas. <br />"V.E.R.N.E. e o Farol de Dover", de Dana Guedes, parece um trecho de uma história mais longa, sobre a ação de um grupo de revoltosos contra o governo opressor do Reino Unido. <br />Nikelen Witter apresenta, em "Uma missão para Miss Boite", uma história de mistério e espionagem que envolve uma relíquia valiosa. <br />"Mecanismos precários" é um poema em prosa de Luiz Brás, visto antes na coletânea <i>Máquina Macunaíma</i> (2013), que fala sobre relações de amor e ódio representadas na luta entre dois robôs gigantes, com doses generosas de experimentalismo literário. <br />"Notícias de Marte", de Sid Castro, é uma competente história alternativa com viagem no tempo, que trança narrativas separadas por um intervalo de dez anos. Em 1900, o piloto de uma aeronave da marinha se perde e vai parar num futuro em que não é bem vindo.<br />"O cerco de Dr. Vikare Blisset", de Jacques Barcia, se apresenta no estilo incomum de um relatório, no qual o detetive Carlos Werke enumera os crimes do famigerado ladrão de patentes Vikare Blisset.<br />O melhor conto da seleta é "Meus pais, os pterodáctilos", de Cirilo Lemos, com a história incrível de um jovem humano adotado por um casal de pterodáctilos, que precisa aprender a voar de qualquer maneira, caso contrário sofrerá severas consequências. <br />A maior parte das histórias repete as fórmulas do já clássico romance de Sterling e Gibson, e, por isso, não se sobressaem na antologia. Os que logram maior significado são justamente aqueles textos que não seguem o padrão e investem em conceitos outros, como a história alternativa e o <i>cyberpunk</i>. <br />Não é facil trazer novidades para um gênero que começou com um texto tão maduro e sofisticado como <i>A máquina diferencial</i>. Na verdade, nem mesmo autores estrangeiros profissionais conseguiram avançar além dele, logo, não se pode ser muito rigoroso com os autores amadores. Mas não deixa de ser uma leitura divertida para aqueles que apreciam a estética do <i>steampunk</i>.<br /></span></p><div style="text-align: right;"><span style="font-size: medium;">— <i>Cesar Silva</i></span></div><p></p></div>Hiperespaçohttp://www.blogger.com/profile/05030227649636167390noreply@blogger.com0