segunda-feira, 25 de outubro de 2021

As Filhas de Drácula (Twins of Evil, Inglaterra, 1971)

 


“Nós andamos na Terra, mas só existimos no inferno.” – Condessa Mircalla.


O livro “Carmilla”, do irlandês Sheridan Le Fanu (1814 / 1873), apresentando vampiras sensuais e sedutoras, serviu de inspiração para a “trilogia Karnstein”, produzida pelo estúdio inglês “Hammer” no início da década de 1970. A trinca de filmes é formada por “Camilla, a Vampira de Karnstein” (The Vampire Lovers), de Roy Ward Baker e com Peter Cushing e Ingrid Pitt, “Luxúria de Vampiros” (Lust For a Vampire), de Jimmy Sangster e com Yutte Stensgaard, e “As Filhas de Drácula” (Twins of Evil), de John Hough e com as gêmeas Madeleine e Mary Collinson, além de novamente Cushing, como um caçador de bruxas.


Num típico vilarejo europeu com aldeões supersticiosos existe um grupo de vigilantes liderados pelo fanático religioso Gustav Weil (Peter Cushing), que persegue jovens mulheres acusadas sem provas de bruxaria, e que são executadas queimadas vivas em fogueiras. Nesse cenário de medo e tensão, chegam as gêmeas órfãs Maria e Frieda Gellhorn (Mary e Madeleine Collinson), sobrinhas de Weil e que vão morar com ele e a tia Katy (Kathleen Byron).

Uma das gêmeas é mais ousada e determinada (Frieda), e se interessa pelo Conde Karnstein (Damien Thomas), adorador do diabo e que gosta de rituais satânicos em seu castelo. A outra é mais pacata e insegura (Mary), que tenta alertar a irmã dos perigos ao sair escondida à noite procurando aventuras com o sinistro conde, que por sua vez, se transforma em vampiro após invocar a Condessa Mircalla (Katya Wyeth) de seu túmulo através de um ritual sangrento com sacrifício humano.

Depois que ocorrem mortes misteriosas no vilarejo, com as vítimas sem sangue e com marcas de mordidas no pescoço, os justiceiros liderados por Weil e um jovem professor de música, Anton Hoffer (David Warbeck), mesmo em lados opostos, se unem para invadir o castelo e salvar a inocente Maria das garras do vampiro.   


“As Filhas de Drácula” encerra a “trilogia Karnstein”, e assim como nos filmes anteriores, aposta na beleza e sensualidade de belíssimas mulheres jovens transformadas em vampiras sedentas de sangue. Contando com os tradicionais elementos dos filmes góticos de horror como o sinistro castelo, as execuções de mulheres inocentes na fogueira, os rituais satânicos, a atmosfera fantasmagórica das florestas envoltas em névoas, e o respeito com a mitologia tradicional dos vampiros: aversão aos crucifixos, inexistência de reflexo nos espelhos e morte apenas com estaca no coração ou decapitação.

As gêmeas Mary e Madeleine Collinson são mulheres lindas e fizeram um bom trabalho ao interpretarem irmãs com personalidades opostas. Elas tiveram carreiras muito curtas no cinema e foram escolhidas para a capa da revista “Playboy” em 1970. 

Peter Cushing sempre agrega muito valor aos filmes que participa, deixando de lado dessa vez o papel de cientista louco ou do incansável caçador de Drácula, para interpretar um religioso cego pelo fanatismo, que é o responsável pela morte violenta de mulheres inocentes acusadas de bruxaria.   

O título nacional foi mal escolhido, o que não é novidade, num tratamento oportunista citando Drácula, quando na verdade o filme é inspirado no vampirismo do universo ficcional de “Karnstein”.  

Curiosamente, o ator Dennis Price faz aqui o papel de Dietrich, um fornecedor de diversão para o Conde Karnstein, como trazer jovens camponesas para os rituais demoníacos no castelo. Um papel similar que ele fez também no anterior “O Horror de Frankenstein” (1970), onde foi um ladrão de cadáveres para as experiências macabras do cientista na criação de vida artificial.  


O filme foi lançado em DVD no Brasil pela “Works / Dark Side / London”, sem material extra, encartado na revista “Dark Side DVD” ano 2, número 11 (Agosto de 2005). A revista, com distribuição nas bancas, tem vários interessantes textos sobre o filme em questão, além da “Trilogia Karnstein”, um artigo caprichado sobre as belas atrizes de filmes de horror que posaram nuas para a revista “Playboy”, e um perfil do cineasta John Hough, que dirigiu também o cultuado filme de fantasmas “A Casa da Noite Eterna” (The Legend of Hell House, 1973).


(Juvenatrix – 25/10/21)






Interestelar

Interestelar (Idem), Greg Keyes. Baseado no roteiro de Jonathan Nolan e Christopher Nolan. Tradução: Vera Whately. Capa: Gabinete das Artes. 266 páginas. Rio de Janeiro: Gryphus Editora/Coleção Gryphus Geek, 2016. Lançamento original de 2014.

 


Quando lançado no cinema o filme Interestelar foi cercado de muita expectativa. Seus realizadores, os irmãos Christopher e Jonathan Nolan já haviam se estabelecido como dois dos artistas mais talentosos e inovadores do cinema norte-americano no século XXI. São deles, por exemplo, o perturbador Amnésia (Memento; 2000), a instigante e misteriosa FC A Origem (Inception; 2010) – este só de Christopher –, e a renovação da franquia do Batman, com três novos filmes. Talvez seja possível dizer que eles fizeram no cinema o que Frank Miller havia feito com o personagem nos quadrinhos.

Me recordo que quando vi Interestelar na tela grande fiquei perplexo e fascinado. Primeiro por um filme tão classudo de FC, como há muito não via em tela grande. E em segundo, e mais importante, pelo roteiro e desenvolvimento ser tão interessantes, ao explorar um tema de fronteira da Física teórica em uma perspectiva cósmica.

Interestelar é um dos melhores filmes de FC do século XXI, ao lado de Filhos da Esperança (Children of Men; 2006), Gravidade (Gravity; 2013) – ambos de Alfonso Cuarón – e Lunar (Moon; 2009), de Duncan Jones. Mas talvez seja o mais ambicioso deles, pois coloca em nível épico a exploração do espaço como nosso destino final, caso queiramos sobreviver a longo prazo como espécie.

Talvez por isso tenha me interessado em ler a novelização anos depois, pois costumo evitar obras derivadas por crer que, em essência, nada acrescentam à original. Mas tive uma surpresa. O livro é muito bom. Segue passo a passo o filme, justamente por ser uma obra originada por um roteiro e não o inverso, quando costuma ocorrer mais liberdades em relação ao livro original. Mesmo para quem não viu o filme é uma obra interessante e competente por si mesma.

Tinha a expectativa de que o livro pudesse aprofundar algumas questões do filme como, por exemplo, o que teria causado o colapso climático da Terra. Mas a novelização é igual ao roteiro e esta questão de fundo fica num plano superficial. É um ponto de partida, não se detalha o que poderia ter inviabilizado a continuidade da vida no planeta. Como se, de certa forma, neste momento, já estivéssemos vivendo o início do problema. Assim sendo, não fica claro em que época a história se passa, mas se deduz que seja em algum momento do século XXI. Isso porque as memórias do mundo de hoje ainda estão presentes na nostalgia daqueles que viveram antes da catástrofe. O que poderia ser mais explorado, ao menos, é as causas do obscurantismo científico que se seguiu. Embora, seja intrigante que estejamos vivendo retrocessos semelhantes nesta altura da primeira metade do século. Além da crise climática que só piora, estamos envoltos numa tragédia mundial no curto prazo, a pandemia do novocoronavírus, a pior já vivida pela humanidade em número absoluto de mortos.

Com uma praga que está matando todos os vegetais, a vida na Terra está com seus dias contados.  Tempestades maciças de poeira são rotineiras e as fontes de alimentação se tornam escassas, aumentando a fome e a violência. A civilização regrediu em seus valores e hábitos, e repudia qualquer gasto que não seja para preservar o que sobrou. Assim, é chocante que até a História é ´recontada´, deturpando ou negando os avanços científico-tecnológicos de antes da crise. Ensina-se nas escolas, por exemplo, que o homem não pousou na Lua. Tudo não passou de propaganda política do governo. Ora, não há uma minoria que crê nesta bobagem atualmente? Isso sem falar no criacionismo e no terraplanismo. O analfabetismo científico, se não combatido, poderá nos conduzir a uma nova era de ignorância, autoritarismo e queda nos valores humanos.

Cooper é um ex-astronauta que teve de aprender a ser fazendeiro nesta nova realidade. Viúvo, cuida dos filhos (Tom e Murph) e é ajudado por seu sogro, Donald. Após uma tempestade de poeira, ele e Murph testemunham um fenômeno estranho no quarto dela, que os conduz até um local onde está instalada no subterrâneo o que restou da Nasa. Pois prepara-se, secretamente, o envio de uma missão ao espaço para poder colonizar outros planetas.

Após ser convidado, Cooper lidera a missão em direção a três planetas que orbitam um buraco negro, numa outra galáxia, numa distância de milhares ou milhões de anos-luz. Os planetas receberam visitas prévias de astronautas para informar se são viáveis à vida humana. Mas como chegaram lá? Por meio do recurso do buraco de minhoca, uma teoria especulativa relativística, que faz aproximar pontos distantes no espaço sem ser preciso percorrê-los de forma contínua. Uma espécie de túnel dimensional na estrutura do espaço-tempo. Tal ideia proposta no filme teve a consultoria do prestigioso físico Kip Thorne e já havia sido apresentada antes numa FC mais popular, no romance Contato (Contact; 1985), de Carl Sagan (1934-1996) e depois levado às telas num ótimo filme dirigido por Robert Zemeckis, em 1997, – curiosamente com o ator que interpreta Cooper em Interestelar, Matthew McConauguey, como um padre.

Contudo, a decisão de Cooper é muito difícil e marcará todo o restante de sua vida, embora se ele não a aceitasse não teria sido possível uma chance de esperança para a humanidade. Isso porque, é ele que envia as informações possíveis, no estranho fenômeno no quarto de Murph, que permite que a missão seja bem-sucedida. Tudo por causa dos efeitos da força da gravidade, que torna possível ir além das três dimensões e contornar o próprio tempo. Pois a história se sustenta num campo de especulação científica que, embora sólida, guarda uma relação muito próxima com os delírios imaginativos da própria FC. Sense of wonder!

Poucas vezes vi um filme de FC tão instigante e que desafia a inteligência do espectador. As soluções apresentadas são elegantes e didáticas e, tão importante quanto, equilibradas com o drama humano, no relacionamento especial e sofrido entre um pai e sua filha. Em resumo, o livro é bom, mas não acrescenta algo novo ao filme. Contudo, torna-se um prazer renovado ler a novelização e tomar, de uma outra perspectiva, um novo contato com esta obra-prima da FC.

                                                                                             Marcello Simão Branco


terça-feira, 19 de outubro de 2021

Almanaque da Arte Fantástica Brasileira

 



Chegou o livro do Almanaque!

Esta publicação tem por base o blogue de mesmo nome, publicado desde 2015 por Marcello Simão Branco e Cesar Silva, e que dá continuidade ao projeto anterior, o Anuário Brasileiro de Literatura Fantástica, publicado entre os anos de 2005 e 2014, com perfil semelhante à desta nova publicação. O diferencial do Almanaque é que aumenta o campo de análise artística, já que inclui também artigos e resenhas sobre histórias em quadrinhos e cinema.

Com esta nova publicação, os autores reafirmam seu projeto e compromisso de acompanhar e participar do desenvolvimento e da divulgação da ficção científica, fantasia e horror produzidos no Brasil, contribuindo também para o exercício da resenha e da crítica, tão necessários para a reflexão em benefício do aperfeiçoamento dos gêneros com características e identidade brasileiras.

Almanaque da Arte Fantástica Brasileira (blogue e agora livro) é parte de um esforço histórico e idealista para divulgar e desenvolver a produção de ficção científica, fantasia e horror realizado no país. Esta edição faz a cobertura informativa e crítica do desenvolvimento e características dos gêneros fantásticos na segunda década do século XXI (2011-2020), contribuindo para a consciência crítica e as possíveis perspectivas para os gêneros no país.

Contém dezenas de resenhas de livros publicados no período, de autores brasileiros e estrangeiros traduzidos, artigos sobre o estado da arte na literatura, histórias em quadrinhos e artes visuais, além de uma seção histórica voltada à análise e resgate de eventos e livros clássicos da ficção científica brasileira.

O livro está disponível para venda em várias livrarias online, e pode ser adquirido também no site da Avec:

https://aveceditora.com.br/produto/almanaque-da-arte-fantastica-brasileira-2011-2020/



segunda-feira, 18 de outubro de 2021

O Circo dos Vampiros / O Vampiro e a Cigana (The Vampire Circus, Inglaterra, 1972)

 


“Os vampiros só existem nas lendas.” – Dr. Kersh.

 

No currículo da produtora inglesa “Hammer” existem muitos filmes explorando o tema do vampirismo, incluindo uma longa série com Drácula e a dupla Christopher Lee e Peter Cushing. Mas, o famoso estúdio, muito conhecido por suas histórias com ambientação gótica, também lançou outros filmes de vampiros sem esses atores ícones da história do cinema de Horror e sem o famoso personagem criado pelo escritor Bram Stoker. Um deles é “O Circo dos Vampiros” (The Vampire Circus, 1972), também conhecido como “O Vampiro e a Cigana”, dirigido por Robert Young em sua estreia como cineasta.

 

O vampiro Conde Mitterhaus (Robert Tayman) está aterrorizando um vilarejo sérvio no interior da Europa chamado Schtetell, no início do século XIX. Os aldeões supersticiosos e revoltados com o sumiço de suas crianças, decidem atacá-lo invadindo seu castelo e cravando uma estaca de madeira no peito. Mas, antes de morrer, o vampiro jura vingança contra seus algozes e pede para sua amante Ann Mueller (Domini Blythe), que é a esposa de um dos moradores, o Prof. Albert Mueller (Laurence Payne), para encontrar seu primo Emil (Anthony Corlan), que ajudaria a ressuscitar através do sangue de crianças, filhos de seus agressores.

Quinze anos depois, o vilarejo está tomado por uma doença contagiosa e enquanto o Dr. Kersh (Richard Owens) tenta encontrar uma cura com remédios, os demais aldeões, entre eles o burgomestre (Thorley Walters), Albert Hauser (Robin Hunter) e Schilt (John Bown), acreditam numa maldição sobrenatural.

Em paralelo, um circo bizarro itinerante chega ao vilarejo, comandado por uma misteriosa cigana (Adrienne Corri). Ela conta com um grupo de pessoas estranhas, om anão palhaço sinistro Michael (Skip Martin), um homem forte que não fala nada (interpretado por David Prowse, que ficou mais conhecido por vestir a armadura do vilão “Darth Vader” da primeira trilogia de “Star Wars”), um casal de gêmeos acrobatas, Helga (Lalla Ward) e Heinrich (Robin Sachs), e o enigmático Emil, que se transforma em pantera negra.

Enquanto o “Circo das Noites” está supostamente entretendo os moradores do vilarejo com suas atrações exóticas como os acrobatas que se transformam em morcegos e a misteriosa sala dos espelhos, pessoas e crianças estão desaparecendo, com mortes violentas na região. O jovem Anton Kersh (John Moulder-Brown), filho do médico da vila, tenta impedir o triunfo do “circo dos vampiros”, e defender sua namorada Dora Mueller (Lynne Frederick), filha do professor e alvo na conspiração para reviver o Conde Mitterhaus.       

 

Mesmo sem a presença da dupla Lee & Cushing, e numa época de decadência da “Hammer” a partir do início da década de 1970, “O Circo dos Vampiros” ainda mantém o interesse através dos elementos característicos das produções góticas do estúdio, como um castelo macabro e um vilarejo assustado com lendas de vampiros. Geralmente sendo considerado subestimado e pouco lembrado quando em comparação com os filmes da série com Drácula, sua história é bem ousada acrescentando uma dose elevada de mortes sangrentas (principalmente para a época), crianças assassinadas, e explorando a sensualidade de belas mulheres, com destaque para a dança erótica de uma mulher-tigresa (Serena).   

 

“O Circo dos Vampiros” foi lançado em DVD no Brasil pela “Works / Dark Side / London”, sem material extra, encartado na revista “Dark Side DVD” ano 2 número 10 (Julho de 2005). A revista, com distribuição nas bancas, tem vários interessantes textos sobre o filme em questão, além de “Monstros” (Freaks, 1932), uma filmografia comentada dos filmes de vampiros da “Hammer”, e o perfil da atriz Adrienne Corri (que interpretou a cigana).

Anteriormente, na época das fitas de vídeo VHS, o filme foi lançado pela “FJ Lucas” com o título “O Vampiro e a Cigana”.

 

(Juvenatrix – 18/10/21)





terça-feira, 12 de outubro de 2021

Horror de Frankenstein (Horror of Frankenstein, Inglaterra, 1970)

 


“O objetivo da Ciência é mergulhar no desconhecido.” – Victor Frankenstein.

 

A produtora inglesa “Hammer” fez sete filmes inspirados na história “Frankenstein”, de Mary Shelley. São eles: “A Maldição de Frankenstein” (1957), “A Vingança de Frankenstein” (1958), “O Monstro de Frankenstein” (1964), “Frankenstein Criou a Mulher” (1967), “Frankenstein Tem Que Ser Destruído” (1969), “Horror de Frankenstein” (Horror of Frankenstein, 1970) e “Frankenstein e o Monstro do Inferno” (1974).

O penúltimo filme da série foi dirigido por Jimmy Sangster, que é mais conhecido por seus trabalhos como roteirista em muitos filmes da própria “Hammer”. “Horror de Frankenstein” não tem dessa vez o cultuado ator Peter Cushing como o cientista (ele esteve em todos os outros filmes da série), deixando o papel agora para Ralph Bates. E o monstro foi interpretado por David Prowse, que tem seu nome sempre lembrado como o vilão Darth Vader na primeira trilogia de “Star Wars” (com a voz cavernosa de James Earl Jones).

 

Victor Frankenstein (Bates) é um jovem em crise com seu pai dominador (George Belbin). Depois de estudar medicina em Viena, ele retorna para o castelo da família e inicia um trabalho de pesquisa científica com experiências de reanimação de partes mortas de animais e pessoas, apesar de não obter a aprovação do ajudante e colega de faculdade, Wilhelm Kassner (Graham James).

Insistindo com suas experiências macabras, ele cria um monstro a partir de pedaços de cadáveres, e que devido ao cérebro danificado por um corte com estilhaço de vidro, torna-se violento e assassino, espalhando o horror no castelo e na floresta em volta.

 

Aqui o cientista dessa vez é um jovem psicopata, inescrupuloso, frio e calculista, não medindo esforços para atingir seus objetivos na criação de vida artificial. Eliminando todos em oposição aos seus planos maquiavélicos ou que pudessem atrapalhar seu trabalho científico, incluindo desde o pai, o colega de faculdade, a bela amante e governanta, Alys (Kate O´Mara) e o fornecedor de cadáveres frescos (um ladrão de túmulos interpretado por Dennis Price).

Mesmo recebendo uma atenção especial da bela Elizabeth Heiss, antiga colega de escola da época de adolescentes e filha do prestigiado, porém falido, Prof. Heiss (Bernard Archard), Victor Frankenstein continua só se importando com suas obscuras pesquisas científicas e com o monstro feito de cadáveres que desperta a atenção da polícia do vilarejo próximo do castelo, com a investigação do tenente Henry Becker (Jon Finch), depois que várias mortes misteriosas e violentas ocorrem na região.

Quanto ao monstro, ao contrário de vários outros filmes da série da “Hammer”, não tem as deformações, cicatrizes e bandagens típicas, com apenas a simulação não convincente de cortes em partes do corpo e algumas maquiagens na cabeça com placas e rebites discretos. Além dessa caracterização fraca, o ator David Prowse também não conseguiu transformar o monstro em algo necessariamente sinistro e ameaçador, com um resultado apenas mediano. Ele também interpretou o monstro no filme seguinte da série, “Frankenstein e o Monstro do Inferno”, porém com uma maquiagem mais carregada e interessante.

“Horror de Frankenstein” é divertido dentro dos moldes característicos da “Hammer”, com sua ambientação gótica, castelo imponente, laboratório bizarro de “cientista louco”, e a criatura artificial composta de pedaços de cadáveres espalhando o horror e deixando um rastro de morte. Mas, dentro do universo ficcional com vários outros filmes sobre o mesmo tema produzidos pelo cultuado estúdio inglês, é um filme menor e com menos atrativos que o habitual, além de perder bastante com a falta da presença do carismático Peter Cushing.         

 

Curiosamente, é considerado uma espécie de refilmagem de “A Maldição de Frankenstein”, o primeiro filme da série produzido em 1957, com a adição de algumas cenas de sexo e humor negro.  Foi lançado no Brasil em DVD em 2003 pela “Works / Dark Side / London”, trazendo materiais extras como biografias de Jimmy Sangster e Ralph Bates, sinopse, trailer, galeria de fotos e posters, além de um espaço especial dedicado à atriz Veronica Carlson, com fotos e galeria de arte com suas pinturas. Também foi lançado em DVD pela “Obras Primas”, na “Coleção Estúdio Hammer Volume 4”.

 

(Juvenatrix – 12/10/21)





quarta-feira, 6 de outubro de 2021

O Castelo Maldito / Herança Maldita (Castle Freak, EUA / Itália, 1995)

 


O cineasta Stuart Gordon (1947 / 2020) tem seu nome registrado na história do cinema de horror pela notável carreira dentro do gênero, e principalmente por uma série de filmes cultuados inspirados em histórias de H. P. Lovecraft, como “Re-Animator: A Hora dos Mortos-Vivos” (1985), “Do Além” (1986) e “Dagon” (2001), além de um divertido filme de 1995 que é conhecido aqui pelos títulos nacionais “Herança Maldita” e “O Castelo Maldito” (Castle Freak).

A produção é da “Full Moon”, empresa de Charles Band especializada em filmes de horror (nos mesmos moldes do estúdio anterior do produtor, que se chamava “Empire”). Com um roteiro utilizando uma pequena referência do conto “O Intruso” (The Outsider), de Lovecraft, “O Castelo Maldito” tem um elenco liderado por Jeffrey Combs e a musa Barbara Crampton, que já estiveram juntos em outros filmes da mesma equipe.


Na história, o americano John Reilly (Jeffrey Combs) recebe a notícia que herdou um castelo do século XII no norte da Itália, após a morte da amargurada Duquesa D´Orsino (Helen Stirling). Ele decide levar a família para conhecer o castelo, sua bela esposa Susan (Barbara Crampton) e a filha adolescente cega Rebecca (Jessica Dollarhide), com o objetivo de inventariar o imóvel e seus bens para uma possível venda. 

Os americanos são recepcionados pelo advogado italiano Giannetti (Massimo Sarchielli), responsável pelas questões legais envolvendo o castelo, e por sua irmã Agnese (Elisabeth Kaza), que é a cozinheira e arrumadeira na nova e imensa moradia. Mas, o casal Reilly está enfrentando uma complicada crise conjugal depois da morte trágica do filho pequeno num acidente de carro que também deixou a filha cega.

Porém, eles não imaginavam que ao herdarem o imponente castelo, teriam que enfrentar um morador indesejável, Giorgio (Jonathan Fuller), a aberração do título original do filme. A criatura monstruosa foi um prisioneiro deformado física e mentalmente, que ficou acorrentado por dezenas de anos numa masmorra sombria nos porões do castelo. Uma vez conseguindo escapar do cárcere, ele persegue os novos moradores, espalhando o horror sangrento com a ocorrência de mortes violentas, despertando a atenção da polícia do vilarejo local, sob a investigação do Inspetor Forte (Luca Zingaretti).    


Em “O Castelo Maldito” a diversão torna-se garantida quando temos uma equipe formada pelo produtor Charles Band, o diretor e roteirista Stuart Gordon e os atores Jeffrey Combs e Barbara Crampton, todos com proximidades com o cinema de horror. Deixando de lado o humor negro dos filmes anteriores, dessa vez aqui a atmosfera é mais sombria e depressiva, a história é trágica e pessimista, com os personagens sofrendo e enfrentando crises pessoais, além principalmente do vilão assassino ser na verdade uma vítima torturada e incompreendida, que foi mantido prisioneiro por anos em busca de liberdade e eventual vingança. Não faltam cenas com mortes sangrentas e perseguições insanas nos corredores sinistros de um castelo assombrado pela dor e agonia.

Sem o uso artificial dos efeitos gráficos de computador, o assassino é um homem disforme e atormentado, com o ator Jonathan Fuller coberto de próteses e maquiagens aplicados em sessões de longas seis horas, porém tendo como resultado final um trabalho excepcional na transformação em uma criatura humana grotesca.     


O filme foi lançado no Brasil primeiramente em VHS pela “VTI” como “Herança Maldita” e depois em DVD pelo selo “Works / Dark Side / London” com o nome “O Castelo Maldito”, numa versão sem cortes e trazendo alguns materiais extras como sinopse, trailer, biografias do diretor Stuart Gordon e do ator Jeffrey Combs, além de um curto, mas interessante documentário com informações de bastidores e depoimentos de Combs, Barbara Crampton, Jonathan Fuller e Jessica Dollarhide.

Também foi lançado em DVD pela “Versátil” como "Herança Maldita", na coleção “Lovecraft no Cinema Volume 3”, junto com “Dagon” (2001), “A Maldição do Altar Escarlate” (1968) e “O Altar do Diabo” (1970).

Em 2020 teve uma refilmagem dirigida por Tate Steinsiek e com Charles Band e Barbara Crampton na equipe de produção, recebendo o título “Herança Maldita”.


(Juvenatrix – 05/10/21)





sábado, 2 de outubro de 2021

Papai Noel Conquista os Marcianos (Santa Claus Conquers the Martians, EUA, 1964)

 


“Veja: Os marcianos sequestram o Papai Noel! Oficina do Polo Norte do Papai Noel! A fantástica fábrica de brinquedos marciana! Crianças da Terra se encontrando com crianças de Marte! Viagem de nave espacial da Terra a Marte! Papai Noel transforma o robô de Marte em um brinquedo mecânico!” – slogan promocional


No cinema fantástico bagaceiro, a maioria dos filmes são divertidos justamente por causa da precariedade geral da produção, roteiro exagerado no escapismo e elenco amador, além principalmente dos monstros toscos de borracha e efeitos especiais e maquiagens risíveis. Mas, também existem aqueles filmes tão ruins que não conseguem divertir o suficiente. É o caso do patético “Papai Noel Conquista os Marcianos” (Santa Claus Conquers the Martians, 1964), que já começa pelo título sonoro e incomum que anuncia uma história absurda mais voltada para o humor com elementos de ficção científica.


Com direção de Nicholas Webster, o filme mostra as crianças marcianas entediadas com a overdose de conhecimentos que são obrigadas a receber através de máquinas acopladas as suas mentes. Sem diversão na infância e fascinadas com programas de televisão da Terra que mostram o Papai Noel (John Call) espalhando alegria e brinquedos para as crianças, elas por outro lado são tristes e apáticas, despertando a preocupação do líder dos marcianos, Kimar (Leonard Hicks), ao sentir o desânimo de seus filhos Bomar (Chris Month) e Girmar (Pia Zadora). 

Para tentar resolver o problema, ele decide consultar um sábio ancião, Chochem (Carl Don), que recomenda uma expedição à Terra para trazer o Papai Noel na tentativa de divertir as crianças marcianas. Porém, o líder Kimar terá que administrar a oposição de um chefe conselheiro conservador, Voldar (Vincent Beck), que insiste em manter a disciplina guerreira de Marte.

Eles vão à Terra e sequestram duas crianças, Billy Foster (Victor Stiles) e sua irmã mais nova Betty (Donna Conforti), que ajudam a localizar o Papai Noel em sua fábrica de brinquedos no Polo Norte. De volta à Marte, eles implantam o espírito natalino e se divertem numa oficina automatizada de brinquedos, contando com a ajuda do atrapalhado Dropo (Bill McCutecheon), que sempre traz para si as cenas mais cômicas e que quer assumir o papel de Papai Noel marciano. Mas, terão que enfrentar também a ira persistente de Voldar e seus comparsas.


A diversão fica comprometida pela história patética, e o que pode talvez se salvar, para os apreciadores do cinema bagaceiro de ficção científica dos anos 50 e 60 do século passado, são os elementos típicos como as roupas coloridas ridículas e os capacetes fuleiros com antenas que os marcianos usam. O líder ainda tem uma capa adicional no estilo dos super-heróis. Tem também a bizarra arquitetura interna das casas, com aberturas ovalizadas servindo de portas e móveis arredondados. E a espaçonave ultra tosca com os cenários internos repletos de luzes piscando, painéis com botões, alavancas e mostradores analógicos. Ainda tem um urso polar exageradamente tosco (um ator vestindo uma péssima fantasia) e um robô chamado Torg, que aparece pouco em cena e está entre os piores do cinema bagaceiro de FC (um ator dentro de uma caixa metálica com dois mostradores com os ponteiros fixos e um balde na cabeça). Apesar de todas essas tranqueiras que divertem nos filmes bagaceiros, “Papai Noel Conquista os Marcianos” não desperta atenção pelo roteiro banal e carregado de humor infantil.


O filme está em domínio público e foi lançado em DVD no Brasil em 2007 pela “Works / London / Dark Side” em sua “Sci-Fi Collection”, num mesmo disco trazendo a tranqueira “Os Adolescentes do Espaço” (Teenagers From Outer Space, 1959), de Tom Graeff. De material extra tem a sinopse e biografias dos atores Bill McCutecheon e Pia Zadora (que virou cantora).


(Juvenatrix – 02/10/21)