domingo, 31 de maio de 2020

Missão em Sidar


Missão em Sidar (Rayons pour Sidar), Stefan Wul. Tradução do Eng. Gomes dos Santos. Capa de Lima de Freitas. 151 páginas. Lisboa: Edições Livros do Brasil, Coleção Argonauta, no. 72, 1963. Lançado originalmente em 1957.

 Estamos em 2023 e a conquista do espaço avançou bem mais do que em nossa realidade. A Terra mantém um governo de colonização no planeta Sidar, que orbita Alfa do Centauro, a estrela mais próxima do Sol, situada a 4,3 anos-luz. Mas, depois de assinar um tratado de cessão de Sidar aos alienígenas de Xress – outro planeta do sistema de Alfa do Centauro –, os terráqueos preparam-se para evacuar o planeta.
Neste contexto chega a Sidar o físico afrancês Lorrain – assim mesmo com o “a”, mas sem maiores explicações –, que pretende resgatar o seu robô Lionel, que perdeu contato com seu dono. Muitos terrestres têm como companhia um androide, igual ao seu proprietário, mas que tem sua vida garantida apenas na medida em que o dono esteja vivo. Pelo nível de intimidade ambígua mostrada nesta relação, parece ser comum a substituição de um companheiro humano, e no caso de um homem, uma mulher, sugerindo daí, talvez, um tipo de relação homoafetiva.
Em meio à transição que vive Sidar a tarefa de Lorrain é muito complicada, pois o planeta é quase que inteiramente tomado por uma vegetação intensa e fechada, habitada por animais perigosos. Depois de contactar Marco, um administrador de uma vila local, que está deprimido pela perda de seu robô Marcial, Lorrain segue para a província de Horb, onde seu robô Lionel havia se instalado. Na verdade a tarefa vai muito além do mero reencontro sentimental, pois ambos estão em Sidar numa missão secreta.
Após ser ferido pelos nativos de Horb – que vivem como tribos indígenas –, Lorrain surpreendentemente morre. Lionel o recolhe e guarda numa câmara frigorífica com o objetivo de ressuscitá-lo, pois o sucesso da missão depende da atuação da dupla. Mas como assim, ressuscitá-lo? Sim, existe uma tecnologia capaz de reviver quem morre, mas Wul não dá maiores detalhes de como isso seria possível. Lionel tem de voltar com urgência para Gayam – a maior cidade de Sidar –, para cumprir sua missão. No caminho ele encontra Marcial, reduzido apenas à cabeça, depois de sofrer um acidente com a queda de uma rocha. Aliás, a razão do sumiço de Lionel ocorrera por motivo semelhante, desfigurado com o ataque de um krotang, um dos mais terríveis predadores. Levando Lorrain num saco mortuário e a cabeça de Marcial – que retém sua consciência e memória – Lionel termina por reencontrar com Marco e, com sua ajuda, colocar em prática seus objetivos.
Com um ritmo veloz de acontecimentos Missão em Sidar é o quinto romance de Stefan Wul publicado na clássica coleção francesa Fleuve Noir e, curiosamente, traduzido apenas para Portugal e Finlândia.1 O romance está dividido em três partes: a chegada de Lorrain e seu encontro com Lionel; a peregrinação do androide para ressuscitar seu dono e salvar a missão, e a terceira parte, onde ocorre o desenlace final.
Na verdade a Terra não queria ceder Sidar aos belicosos xressianos, pois estes pretendiam ocupar o planeta com o extermínio da população local. Mas interesses políticos e econômicos prevaleceram na votação dos membros da Assembleia Solar. Com isso, secretamente, é elaborado um plano para infiltrar Lionel em Sidar para que este preparasse o terreno até a chegada de Lorrain e, assim, colocar em prática o combinado para impedir a ocupação dos xressianos.
Como dá pra notar Wul trata da questão do imperialismo, assim como já visto no romance anterior O Mundo dos Draagsresenhado aqui. Mas se neste havia uma metáfora da escravidão, aqui estamos diante de uma disputa política de dois impérios (Terra e Xress) pela posse de Sidar – e chega a lembrar um pouco a disputa entre britânicos e franceses por territórios dos árabes desunidos após a Primeira Guerra Mundial. Pois em Sidar também não havia um povo politicamente coeso em torno de um mesmo objetivo. Mas embora não torne evidente uma discussão maior sobre o tema e nem critique a colonização em si, mas a opção entre uma boa e outra ruim – que levaria ao genocídio –, o romance se insere no contexto da década de 1950, no qual a França vivia um problema sério com as lutas emancipatórias de sua principal colônia africana, a Argélia, que se aproximava de sua independência, mas com firme oposição de parte do establishment francês.
Neste sentido alguns romances de FC pulp de Wul mostram-se eivados por um subtexto político, acrescentando um conteúdo crítico para além da mera aventura de entretenimento, com o qual ele é mais identificado. E que, em Missão em Sidar nos leva ao clímax quando os planos de Lorrain e Lionel entram em ação, com a retirada de Sidar da órbita de Alfa do Centauro até tornar-se um novo planeta do sistema solar - situação já mostrada em Pré-História do Futuro (Niourk, 1957), onde é a Terra que escapa de sua órbita - ver a resenha aqui
Wul explica como isso seria possível – em mais uma proeza criativa depois da cena da ressuscitação de Lorrain –, com passagens que justificam sua fama como um autor inventivo e capaz de conduzir o leitor a sensações verdadeiramente delirantes.

Marcello Simão Branco


1Segundo o Internet Speculative Fiction Database: http://www.isfdb.org/cgi-bin/title.cgi?1179049.

quinta-feira, 28 de maio de 2020

Psicose (Psycho, EUA, 1960, PB)



Existem filmes que sempre são lembrados pelos fãs nas conhecidas listas que reúnem os dez mais importantes da história do Horror. São considerados clássicos absolutos, entre tantos outros motivos, por servirem de inspiração para o cinema produzido posteriormente e por apresentarem situações precursoras de uma infinidade de chichês que seriam explorados depois, como por exemplo nos chamados filmes “slasher”, o popular sub-gênero que aborda psicopatas assassinos em seus argumentos. E  também por manter eternos na memória dos fãs, cenas e personagens marcantes na construção de um gênero cinematográfico.
Psicose” (Psycho, 1960) é um desses filmes, sempre mantendo seu lugar de destaque entre os grandes, configurando-se numa obra-prima de valor inquestionável, sendo um dos principais e mais conhecidos trabalhos de Alfred Hitchcock, um diretor “mestre do suspense”, cujo talento permanece eterno através de sua cultuada filmografia.
Produzido em preto e branco há mais de quatro décadas atrás, foram poucas as cenas de violência apresentadas em “Psicose”, cujo roteiro prioriza o suspense psicológico, mas foi o suficiente para chocar o público na época e causar uma agitação que surpreendeu o próprio Hitchcock, com as tradicionais manifestações de protesto dos moralistas de plantão, boicotes organizados contra o filme, desmaios nas salas de exibição, pessoas se retirando no meio da projeção e opiniões polêmicas da crítica especializada. Tudo isso apenas concretizou um fato inegável, de que “Psicose” transformou-se num filme marcante para o gênero fantástico e inesquecível para os fãs do estilo. E é interessante verificar como o pensamento do mundo moderno mudou radicalmente em relação há algumas décadas atrás, pois nesse início de século XXI os fãs do cinema de Horror fazem protestos e boicotes, principalmente utilizando a internet como meio de comunicação, caso os filmes não tenham a quantidade de sangue e violência esperados.

 A história tem início em Phoenix, Arizona, onde a bela Marion Crane (Janet Leigh) trabalha num escritório imobiliário que acaba de fechar um negócio no valor de US$ 40 mil. Ela e seu namorado Sam Loomis (John Gavin), proprietário de uma pequena loja de ferragens, pensam em casamento, porém as condições financeiras de ambos ainda não permite comprar uma casa, as mobílias e todas as outras coisas relacionadas ao matrimônio.
Então, num momento de fraqueza, ao receber a tarefa de depositar o alto valor em dinheiro num banco, Marion decide fugir de carro, dirigindo pelas belas estradas americanas levando o dinheiro roubado, rumo ao encontro de Sam, que não sabia de nada. Ao parar no meio do caminho para descansar na pequena cidade de Fairvale, ela se hospeda no desértico “Bates Motel”, um grupo de alojamentos situado um pouco afastado da cidade. Lá, a jovem conhece o dono do estabelecimento, o aparentemente inofensivo Norman Bates (Anthony Perkins), que mais tarde revelaria uma mortal dupla personalidade psicótica envolvendo a figura misteriosa de sua mãe repressora. Com a descoberta do furto do dinheiro e o trágico desaparecimento de Marion na famosa “cena do chuveiro”, surgem em seu rastro sua irmã Lila Crane (Vera Miles), acompanhada de Sam, e o detetive particular Milton Arbogast (Martin Balsam), contratado para investigar o caso antes do envolvimento oficial da polícia. O detetive viria a se tornar a outra vítima do psicopata, na também famosa “sequência da escadaria”. A partir daí, uma série de eventos se sucedem culminando com um desfecho revelador.   

 “Psicose” teve seu roteiro escrito por Joseph Stefano, a partir de um livro de Robert Bloch, que por sua vez se inspirou no “serial killer” Ed Gein para criar o psicótico Norman Bates. Gein foi um conhecido assassino canibal que viveu em Winsconsin (EUA), e que em meados dos anos 1950 matou várias pessoas de forma violenta com a peculiaridade de arrancar suas peles e utilizar pedaços dos cadáveres para transformar em utensílios domésticos. Aliás, outros filmes se inspiraram nesse famoso assassino como “O Massacre da Serra Elétrica”, dirigido em 1973 por Tobe Hooper, e “O Silêncio dos Inocentes” (1991), na concepção do “serial killer” apelidado de “Buffalo Bill”, além de ser produzido um filme específico contando a vida do assassino em “Ed Gein” (2001). O roteirista Stefano nasceu em 1922 e escreveu histórias para a cultuada série fantástica “Quinta Dimensão” (The Outer Limits, 1963), e curiosamente assinou o roteiro de um filme raro e super obscuro chamado “Criação Monstruosa” (The Kindred, 1986), que tinha no elenco dois veteranos atores que já morreram, Rod Steiger e Kim Hunter (a famosa chimpanzé Dra. Zira, da série do cinema e TV “O Planeta dos Macacos”).   

O escritor americano Robert Bloch nasceu em 1917 em Chicago, Illinois, e morreu de câncer aos 77 anos em 1994 em Los Angeles, California. Conhecido por criar argumentos para filmes e séries de TV de horror e ficção científica, foi um dos nomes mais importantes no período de ouro do cinema fantástico, época que abrangeu a década de 1950 até meados de 70. Escreveu episódios para várias séries de TV como “Alfred Hitchcock Presents” (1955), “Thriller” (1960), “Jornada nas Estrelas” (1966), “Galeria do Terror” (1970), “Quarto Escuro” (1981) e “Contos da Escuridão” (1984), além de histórias para os filmes “Psicose” (1960), “Picada Mortal” (1966), “As Torturas do Dr. Diabolo” (1967), “A Casa Que Pingava Sangue” (1970), “Asilo Sinistro” (1972) e as produções para a TV “The Cat Creature” (1973) e “The Dead Don’t Die” (1975).

O elenco é composto por nomes que ficaram eternizados na lembrança do público graças as suas participações em “Psicose”, ficando de certa forma com suas imagens associadas ao filme. Anthony Perkins nasceu em 1932 em New York e faleceu em 1992 em Hollywood, California, vítima de uma pneumonia contraída por causa da AIDS. Ele esteve também em “Assassinato no Expresso Oriente” (1974), na FC “O Abismo Negro” (1979) e nos filmes de horror “A Herdeira das Trevas” (Daughter of Darkness, 1990), no papel de um vampiro, e em “À Beira da Loucura” (Edge of Sanity, 1989), mais uma adaptação do clássico livro “O Médico e o Monstro”, de Robert Louis Stevenson, além de participar das três continuações de “Psicose”.
Janet Leigh nasceu em 1927 em Merced, California, e ficou famosa por ser a atriz que foi assassinada no chuveiro. Recebeu uma indicação ao “Oscar” como atriz coadjuvante por sua performance em “Psicose”, prêmio que não ganhou, porém em compensação ela foi premiada com o “Globo de Ouro”. Em 1995 ela escreveu o livro “Behind the Scenes of Psycho”, sobre os bastidores da produção do filme. Ela é mãe da também atriz Jamie Lee Curtis, mais conhecida como a “scream queen” de “Halloween – A Noite do Terror” (1978). Entre seus filmes estão o clássico noir “A Marca da Maldade” (1958), de Orson Welles, “A Bruma Assassina” (1980), de John Carpenter, e uma ponta em “Halloween H20” (1998), junto com a filha.
Vera Miles nasceu em 1929 em Boise City, Oklahoma e participou também de vários outros filmes importantes como os westerns clássicos “Rastros de Ódio” (1956) e “O Homem Que Matou o Facínora” (1962), além de uma presença especial em “Psicose 2” (1983), novamente como Lila Crane.
O ator Martin Balsam (1914/1996) teve uma carreira extensa com participações em mais de 100 filmes, muitos deles produzidos especialmente para a TV. Esteve no suspense “Círculo do Medo” (1962) e sua refilmagem “Cabo do Medo” (1991), no policial “Desejo de Matar 3” (1985), além de “Dois Olhos Satânicos” (1990), horror dirigido por George Romero e Dario Argento.     

      “Psicose” foi o filme responsável por uma das mais famosas e conhecidas cenas de assassinato da história do cinema, quando a personagem Marion Crane é surpreendida pelo psicopata no banheiro, enquanto tomava um banho no chuveiro. Tecnicamente essa sequência gerou um enorme esforço de trabalho (principalmente considerando-se a época da produção), demorando uma semana para ser realizada, contando com 70 posições de câmera para apenas 45 segundos de filme. A montagem de várias pequenas cenas juntas, a cargo do técnico Saul Bass (criador também dos letreiros iniciais do filme) conseguiu um efeito perturbador, resultando na ilusão de violentos golpes de faca do assassino, e onde percebemos claramente que a mesma não penetra o corpo da atriz Janet Leigh. Outra cena clássica é também a do assassinato do detetive Arbogast na escadaria da mansão onde morava Norman Bates. Utilizando uma técnica diferente, Hitchcock conseguiu um efeito interessante filmando apenas o rosto assustado e ensanguentado do ator Martin Balsam, que descia a escada numa cadeira especial agitando freneticamente os braços. Aliás, a casa com aspecto gótico usada pela produção como modelo para a construção da mansão de Bates existe realmente, localizada na cidade de Kent, em Ohio.

A trilha sonora de “Psicose”, a cargo de Bernard Herrmann, é uma das mais conhecidas e consagradas da história do cinema de horror e suspense, principalmente na parte da famosa cena do “assassinato no chuveiro”, com uma sequência impressionante de acordes agudos e estridentes de violinos que intensificaram muito mais ainda o clima de tensão e agonia já existente entre o assassino e sua vítima. O músico Herrmann foi um dos grandes colaboradores de Hitchcock, formando com ele uma parceria responsável por nove filmes. Curiosamente, a banda brasileira “Sepultura” se inspirou claramente na trilha sonora dessa cena na faixa “Intro”, que precede o petardo sonoro  “From the Past Comes the Storms”, no álbum “Schizophrenia” (1987). 

“Psicose” recebeu quatro indicações ao “Oscar”, nas categorias de “Melhor Diretor”, “Melhor Atriz Coadjuvante” (para Janet Leigh), “Melhor Fotografia” e “Melhor Direção de Arte”, não ganhando nenhuma. O orçamento disponibilizado para Hitchcock foi de apenas US$ 800 mil, e para economizar nos custos de produção, ele decidiu por utilizar boa parte do elenco e pessoal técnico de sua série de televisão que estava sendo exibida na mesma época. Porém, a despeito disso, o sucesso do filme foi enorme faturando a expressiva marca de US$ 40 milhões nas bilheterias. Um fator que ajudou também nesse sucesso foi “Psicose” ter sido lançado num momento favorável ao cinema de horror, graças ao ressurgimento do gênero através dos excelentes filmes produzidos pela “Hammer” inglesa a partir de meados dos anos 1950, trazendo novamente às telas, só que a cores, os famosos monstros sagrados da produtora “Universal” das décadas de 1930 e 40, como “Drácula”, “Criatura de Frankenstein” e “Múmia”.

O filme foi lançado em DVD no Brasil numa “Edição de Colecionador” que inclui interessante material extra como biografias e filmografias do diretor Alfred Hitchcock e dos atores Anthony Perkins, Janet Leigh, Vera Miles, John Gavin, Martin Balsan e John McIntire, além de muitas notas de produção, documentário dos bastidores e trailer. O problema é que todo esse material está escrito ou falado em inglês, sem opção de tradução ou legendas em português. Já que o DVD vem com extras, por que não inserir legendas em nosso idioma para que possamos apreciar melhor o material? É impressionante como os fãs e colecionadores são tratados com descaso pelos responsáveis dos lançamentos de DVD’s no Brasil.
Em 17/10/05 houve um relançamento em DVD duplo e edição especial recheada de extras como “Making Of Completo” (que revela os segredos de bastidores e os incríveis efeitos especiais que revolucionaram o cinema na era pré-computador), “Passo a Passo” (como foi construída e idealizada a famosa cena do chuveiro), “Trailer de Cinema Original” (onde o próprio Alfred Hitchcock apresenta o filme), “Documentário” (sobre o impacto causado pelo lançamento do filme, incluindo as estratégias especiais de divulgação), “Trailer de Relançamento”, “Galeria de Arte”, “Notas de Produção, Elenco e Diretor”, “Fotos”, “Cards, Posters e Anúncios”, “Mestres do Cinema: Alfred Hitchcock”, “American Film Institute Saúda Alfred Hitchcock”, num total de 157 minutos.

Esse grande clássico do mestre do suspense acabou transformando-se em uma franquia com vários filmes inferiores e desnecessários, que só foram produzidos após a morte do cineasta em 1980. Em 1983 os atores Anthony Perkins e Vera Miles retornaram em seus respectivos papéis em “Psicose II”, de Richard Franklin, cuja história trazia o psicopata Norman Bates retornando para sua casa após longos 22 anos preso numa instituição psiquiátrica, e ao se apossar novamente do motel da família, novas e estranhas mortes voltam a aterrorizar o local.
Em 1986, o próprio Perkins dirigiria “Psicose III”, onde Norman recebe agora como hóspede em seu motel uma freira em crise de existência que havia abandonado o convento e também a visita de um jornalista interessado em investigar seu passado obscuro. Novos assassinatos voltam a assombrar o motel, só que dessa vez bem mais violentos e sangrentos, típicos dos filmes com psicopatas de meados dos anos 80.
Em 1990 foi lançada uma produção diretamente para a TV dirigida pelo especialista na telinha Mick Garris e novamente com Anthony Perkins em seu já tradicional papel. “Psicose IV: A Revelação” é uma pré-sequência com roteiro de Joseph Stefano (o mesmo do original), mostrando eventos anteriores ao filme de 1960, com a crise familiar entre um jovem Norman e sua mãe, que culminou com o desvio de sua personalidade e todos os trágicos acontecimentos que vieram depois.
E finalmente, em 1998, o diretor Gus Van Sant refilmou o clássico de 1960 e “Psicose” foi lançado nos cinemas com Vince Vaughn como Norman Bates, Anne Heche como Marion Crane, Julianne Moore como sua irmã Lila, Viggo Mortensen como Sam Loomis e William H. Macy como o detetive Arbogast. O filme seguiu exatamente à risca todas as cenas do clássico de Hitchcock, cena por cena, desta vez a cores, numa homenagem ao filme original. Porém, a pergunta que fica é se era necessário fazer um filme exatamente igual, pois nesse caso não acrescentou nada ao cinema de horror, e melhor seria se os produtores tivessem investido em um novo e diferente filme, de preferência fora do universo ficcional de “Psicose”.

Psicose (Psycho, Estados Unidos, 1960). Universal. Preto e Branco. Duração: 109 minutos. Direção de Alfred Hitchcock. Roteiro de Joseph Stefano, baseado em livro homônimo de Robert Bloch. Produção de Alfred Hitchcock. Fotografia de John L. Russell. Música de Bernard Herrmann. Direção de Arte de Robert Clatworthy e Joseph Hurley. Edição de George Tomasini. Efeitos Especiais de Clarence Champagne. Elenco: Anthony Perkins (Norman Bates), Janet Leigh (Marion Crane), Vera Miles (Lila Crane), John Gavin (Sam Loomis), Martin Balsam (Detetive Milton Arbogast), John McIntire (Xerife Al Chambers), Simon Oakland (Dr. Richmond), Vaughn Taylor (George Lowery), Frank Albertson (Tom Cassidy), Lurene Tuttle (Eliza Chambers), Patricia Hitchcock (Caroline), John Anderson (Charlie), Mort Mills (Policial rodoviário), Francis De Sales, George Eldredge, Sam Flint, Virginia Gregg, Paul Jasmin, Frank Killmond, Ted Knight, Jeanette Nolan, Helen Wallace, Alfred Hitchcock (não creditado).

Nota do Autor: Curiosamente, “Psicose” foi o primeiro filme da minha coleção de VHS, gravado da televisão quando foi exibido pela “TV Globo” entre 1986 e 1987, época em que se iniciava a popularização dos aparelhos de video cassete no Brasil.   

(Juvenatrix - 27/06/2003)



quarta-feira, 27 de maio de 2020

O Parque Macabro / Carnaval de Almas (Carnival of Souls, EUA, 1962, PB)



“Ela era uma estranha entre os vivos

Os filmes que exploram fantasmas com um horror mais sutil e psicológico normalmente despertam grande interesse. “O Parque Macabro” (Carnival of Souls, 1962), de Herk Harvey, com roteiro de John Clifford, fotografia em preto e branco e produção de baixo orçamento, é um exemplo bem sucedido dentro dessa ideia. Com uma história sobrenatural no estilo típico da nostálgica série de TV “Além da Imaginação” (1959 / 1964), um pouco mais esticada para se enquadrar como um filme de longa- metragem.
A organista profissional Mary Henry (Candace Hilligoss) sofre um acidente traumático de carro numa ponte, com o veículo mergulhando nas águas escuras de um rio. Ela sobrevive misteriosamente, aparecendo desorientada nas margens. Ao receber o convite de um padre (Art Ellison) para tocar órgão numa igreja em outra cidade, ela viaja até o local. No caminho, visualiza perto da estrada um pavilhão abandonado, que no passado foi um movimentado balneário turístico e parque de diversões. De aspecto macabro e sombrio, o parque falido desperta na jovem um estranho fascínio, principalmente depois que ela é atormentada regularmente por alucinações e visões de um fantasma (o próprio diretor Herk Harvey, maquiado como um zumbi e não creditado), que parece querer se comunicar com ela e resolver alguma pendência entre o mundo dos vivos e mortos.
Mary é antissocial e reclusa, e se hospeda numa pensão de propriedade da Sra. Thomas (Frances Feist), onde conhece o jovem galanteador John Linden (Sidney Berger), que tenta conquistá-la sem muito sucesso. Ela recebe também conselhos de um médico, Dr. Samuels (Stan Levitt), sobre sua constante confusão mental talvez relacionada com o stress causado pelo acidente de carro. Mas, a mulher perturbada por fantasmas e obcecada pelo pavilhão abandonado precisa entender as visões sinistras que a assombram, e tenta de forma obstinada descobrir a relação entre o “parque macabro” e seus próprios demônios internos.
“O Parque Macabro” é aquele tipo de filme de horror sugerido, sem violência ou sangue, e apenas com visões oníricas sombrias e alucinações perturbadoras de fantasmas de pessoas que não fazem mais parte desse mundo. Com maquiagem simples, mas eficiente, todas as cenas com os zumbis perseguindo Mary são antológicas e carregadas de horror psicológico.
O filme é indicado para os apreciadores do cinema de horror com atmosfera desconfortável e sobrenatural, sem as barulheiras e correrias de histórias com fluxo narrativo acelerado e que cansam o espectador justamente por esses excessos.      
O diretor Herk Harvey (1924 / 1996) tem um currículo extenso, mas ficou mesmo conhecido através da grande repercussão ao explorar a temática do horror psicológico em “O Parque Macabro”. Ele revelou que, apesar de satisfeito com o sucesso desse filme, acharia mais justo ser reconhecido pelo conjunto de sua obra fora da temática, com muita experiência em centenas de filmes na área educacional, industrial e documentários.
Curiosamente, o filme ganhou dois títulos no Brasil, o oportunista “O Parque Macabro”, com a utilização de um adjetivo com forte ligação com o horror, e depois o correto “Carnaval de Almas”, uma tradução literal do original. Tem também uma versão disponível colorizada por computador e ganhou uma refilmagem lançada em 1998, dirigida por Adam Grossman.
Foi lançado em DVD por aqui com o nome “Carnaval de Almas”, pela “Versátil Home Video”, na Coleção “Obras-Primas do Terror – Volume 3”.

(Juvenatrix – 27/05/20)






domingo, 24 de maio de 2020

The Creeping Terror (EUA, 1964, PB)


No cinema fantástico bagaceiro temos uma infinidade de filmes extremamente ruins e mal feitos de forma não proposital, ou seja, o baixo orçamento e os recursos mínimos de produção resultaram em porcarias colossais que divertem (a maioria delas) justamente por esses motivos, com histórias óbvias e banais, elenco amador e patético, e efeitos tão toscos e paupérrimos que tornam-se hilários. E por isso essas tranqueiras têm uma legião de fãs e apreciadores do estilo. Uma dessas tralhas inacreditáveis é o filme americano “The Creeping Terror” (1964), com fotografia em preto e branco, dirigido, produzido e editado por A. J. Nelson, que também atuou com o pseudônimo Vic Savage.
Ele é o jovem xerife Martin Gordon, casado com Brett (Shannon O´Neil), responsável pela manutenção da lei e ordem numa pequena cidade americana, junto com o assistente Barney (Norman Boone). A calmaria do lugar muda drasticamente depois que um objeto voador não identificado cai numa floresta próxima, despertando a atenção do exército, sob o comando do Coronel James Caldwell (John Caresio).
Após descobrirem que se trata do pouso de uma nave espacial (usando a imagem real de um foguete decolando, mas num efeito reverso), é convocado o cientista Dr. Bradford (William Thourlby) para assumir o comando da investigação, ocultando as informações secretas do público após encontrarem uma criatura alienígenas monstruosa dentro da nave, presa nas ferragens. O objetivo do cientista é estudar o foguete extraterrestre, sua desconhecida liga metálica e tecnologia avançada, além de tentar comunicação com seus ocupantes.
Porém, outro alienígena, um monstro grotesco rastejante parecendo uma lesma gigante, conseguiu sair da nave logo após a aterrissagem, espalhando o horror na floresta e cidadezinha, devorando as pessoas em seu caminho, obrigando o cientista a unir forças com o xerife local e o exército para tentar deter a ameaça da criatura espacial.
“The Creeping Terror” certamente faz parte da galeria dos piores filmes de horror e ficção científica da história do cinema bagaceiro. Porém, é divertido se desconsiderarmos a história clichê e descartável resumida numa nave espacial que chega à Terra com criaturas monstruosas que engolem gente, para absorver as características dos humanos e enviar as informações para seu planeta preparar uma eventual invasão. E se também esquecermos a produção paupérrima e elenco péssimo de atores incapazes de interpretar os personagens rasos do roteiro. A diversão é garantida exclusivamente pela presença do monstro rastejante do título, que felizmente aparece em várias cenas com seus movimentos lentos à procura da carne de suas vítimas.
O ideal seria que o filme tivesse uma metragem menor (apesar de já ser curto, com apenas 77 minutos), retirando um monte de cenas desnecessárias, como o relacionamento de casal entre o xerife e sua jovem esposa, as reuniões descartáveis entre a polícia, o exército e o cientista (todos completamente incompetentes para lidar com a situação), e o excesso de tempo perdido num baile com as pessoas dançando (e prestes a virar comida de lesma), deixando apenas os momentos com a criatura, numa compilação dos ataques do monstro engolindo as pessoas.
Aliás, o bicho do espaço está entre os mais toscos e hilários já vistos nos filmes bagaceiros, filmado de longe para esconder os defeitos, parecendo um fantoche gigante de dragão chinês ou uma alegoria pobre de carnaval, feita com retalhos de panos e tapetes rastejando pelo chão, com pedaços de mangueiras na cabeça e várias pessoas escondidas por baixo da fantasia para realizar seus pesados movimentos. Totalmente bizarro e divertido.
As cenas de ataques do monstro são hilárias, e merecem registro o momento onde um homem se defende da criatura com golpes de violão, e a carnificina no salão de festas, com a lesma espacial se rastejando de forma extremamente lenta e ainda assim conseguindo devorar várias pessoas incompetentes para fugir.
A nave espacial pousada na floresta nunca é mostrada por inteiro, devido às dificuldades de orçamento da produção, com seu interior repleto de painéis com interruptores e mostradores analógicos, simulando uma tecnologia “avançada” de outro mundo, um clichê sempre explorado nesses filmes bagaceiros de invasão alienígena.
Sem contar que o filme tem uma narração maçante (de Larry Burrell, não creditado) que fica explicando as ações dos personagens durante a maior parte do tempo, num recurso irritante para driblar a falta de dinheiro para a captação do som.
Em 2014 foi lançado um documentário chamado “The Creeping Behind the Camera”, escrito e dirigido por Pete Schuermann, com os bastidores do filme e biografia do polêmico diretor A. J. Nelson (ou Vic Savage), conhecido por condutas condenáveis.     

(Juvenatrix – 24/05/20)




sexta-feira, 22 de maio de 2020

O Zumbi (The Ghoul, Inglaterra, 1933, PB)



O ator inglês Boris Karloff (1887 / 1969) é um dos ícones do Horror e Ficção Científica, com seu nome eternizado na história do cinema fantástico, mais lembrado por sua caracterização do “monstro de Frankenstein” nos filmes da produtora americana “Universal”, além de outros vilões e “cientistas loucos”. Em 1933 ele fez seu primeiro filme inglês, “O Zumbi” (The Ghoul), cuja história utiliza elementos que exploram o universo ficcional das lendas, mistérios, poderes pagãos e maldições da mitologia egípcia.
 Com direção de T. Hayes Hunter, na história o Prof. Henry Morlant (Boris Karloff) é um rico egiptólogo, excêntrico e recluso em sua imensa casa gótica. Ele gastou boa parte de sua fortuna comprando uma misteriosa joia chamada “Luz Eterna”, roubada no Egito pelo mercenário Aga Ben Dragore (Harold Huth). O precioso artefato tem o poder da imortalidade, quando utilizado num ritual com a estátua sagrada do deus Anúbis. Uma vez gravemente doente e imobilizado na cama, o Prof. Morlant orienta seu fiel mordomo Laing (Ernest Thesiger) para enfaixar a joia em sua mão, para que depois pudesse reviver após o sepultamento numa cripta sinistra ao lado de sua casa, com sua tumba sendo iluminada numa noite de lua cheia.
Porém, a joia desaparece e o bizarro Prof. Morlant retorna dos mortos, desfigurado e com a mente distorcida pelo ódio, como um zumbi assassino em busca de vingança contra várias pessoas que estão em sua casa. O grupo é formado por seus sobrinhos Ralph Morlant (Anthony Bushell) e Betty Harlon (Dorothy Hyson), que vieram em busca da herança do tio falecido, além do ganancioso advogado da família, Sr. Broughton (Cedric Hardwicke), de um padre charlatão, Nigel Hartley (Ralph Richardson), do já citado ladrão sofisticado Dragore, e da irritante assistente da Srta. Harlon, Kaney (Kathleen Harrison), responsável por um desnecessário alívio cômico na trama.
“O Zumbi” é o primeiro filme inglês de horror da era do cinema sonoro, que ficou perdido por muitos anos e felizmente foi encontrado e restaurado. Tem fotografia em preto e branco e pouco mais de 70 minutos de duração. Sua narrativa é lenta, característica comum para a época da produção, e o roteiro tem furos e situações que não se encaixam, diminuindo inevitavelmente o interesse nos momentos arrastados sem a presença de Boris Karloff.
Mas, ainda assim, é recomendado para os apreciadores de filmes góticos e fãs do grande ator de “Frankenstein”. Temos aquela tradicional atmosfera sombria no casarão antigo e decrépito, repleto de aposentos escuros iluminados por velas. Karloff fala pouco, apenas na sequência de abertura, doente numa cama, e também não aparece tanto quanto gostaríamos. Mas, ele sempre rouba as cenas quando surge das sombras, estando bem à vontade num dos papéis que costuma fazer com maestria, o assassino que volta do mundo dos mortos para matar todos em seu caminho, na busca da joia egípcia com o poder da vida eterna.
Curiosamente, o filme também é conhecido por aqui como “Dragore”, uma péssima escolha de título nacional, pois é apenas o nome do ladrão que roubou a joia egípcia e vendeu para o Prof. Morlant, tentando recuperá-la novamente, e o grande vilão é o Prof. Morlant, que voltou dos mortos como um zumbi perturbado, assassino e vingativo. Além desse nome, o site “IMDB” (imenso banco de dados sobre filmes) também informa outro título alternativo brasileiro ainda mais ridículo, “Dragore, o Fantasma”.
O filme ganhou uma refilmagem inglesa em 1961 conhecida pelos títulos “No Place Like Homicide!” ou “What a Carve Up!”, com elementos de humor negro.

(Juvenatrix – 22/05/20)





sábado, 16 de maio de 2020

Re-Juvenator (Rejuvenatrix, EUA, 1988)


O fanzine de Horror e Ficção Científica “Juvenatrix” foi criado em Janeiro de 1991 (com mais de 200 edições e 5000 páginas já publicadas) e teve seu nome inspirado num filme americano obscuro e bagaceiro de 1988, lançado em vídeo VHS por aqui pela “Taipan Video” como “Re-Juvenator”. Com direção de Brian Thomas Jones, cineasta desconhecido com um currículo pequeno, e roteiro dele em parceria com Simon Nuchtern.
Uma atriz veterana e rica, Ruth Warren (Jessica Dublin), está depressiva pelo declínio de sua carreira, não recebendo mais convites para atuar em grandes filmes. Ele decide então patrocinar as pesquisas científicas do Dr. Gregory Ashton (John MacKay), que é auxiliado pela assistente Dra. Stella Stone (Katell Pleven). O projeto científico consiste na criação de um soro de rejuvenescimento, cuja fase experimental somente tem testes com animais, e ainda não é seguro para aplicação em seres humanos.
Porém, a atriz em decadência está tão ansiosa para voltar a ter uma nova vida mais jovem, que aceita os riscos e obriga o cientista a testar a fórmula nela mesmo, como cobaia. Depois de uma cirurgia plástica bem sucedida inicialmente, a mulher se transforma em jovem novamente, tanto que até mudou de nome para Elizabeth Warren (Vivian Lanko). E sempre ao seu lado para servi-la, está disponível o fiel mordomo Wilhelm (James Hogue).
Mas, para manter os efeitos do rejuvenescimento, ela precisa ingerir regularmente o tal soro que é obtido através da extração de líquidos dos cérebros de cadáveres, adquiridos ilegalmente pelo cientista. Despertando assim a desconfiança de um colega rival, Dr. Germaine (Marcus Powell), um desafeto que quer denunciá-lo e impedir seu trabalho científico.
Como o processo de rejuvenescimento está sempre se revertendo e a obtenção do soro está cada vez mais difícil, a atriz vai se transformando progressivamente num monstro disforme com a mente distorcida, desenvolvendo um brutal instinto assassino à procura do cérebro de pessoas vivas para a obtenção do soro.
“Re-Juvenator” é o típico filme bagaceiro de horror com elementos de ficção científica dos saudosos anos 80 do século passado, com baixo orçamento, mortes sangrentas e ótimos efeitos especiais com maquiagem “gore” na concepção da criatura mutante gosmenta com voz gutural, sem a utilização de imagens geradas por computador.
A história não tem novidades, porém trata-se de diversão garantida pela combinação de “cientista louco” em busca do bem para a humanidade (o soro da juventude), com “ser humano transformado em monstro” (uma mulher desesperada para voltar a ser jovem), tendo um resultado catastrófico para o projeto científico com uma cobaia humana grotesca assassina, sedenta pelo sangue e faminta pelo cérebro de suas vítimas.  
É verdade que demora um pouco para ocorrer a primeira morte, com quase sessenta minutos, e tudo acontece com mais intensidade no ato final, com o sangue jorrando e o monstro colecionando cadáveres, mas isso não é um problema, pois a história desperta o interesse o tempo inteiro.
O filme foi considerado como uma espécie de refilmagem de “A Mulher Vespa” (The Wasp Woman, 1960), de Roger Corman, pela similaridade da história que se situa dentro dos sub-gêneros do cinema fantástico que exploram “cientistas loucos” e “seres humanos transformados em monstros”.
Entre as curiosidades, a trilha sonora é da banda feminina de rock “Poison Dolly´s” (1986 / 1994), que aparece num show numa boate, e o filme recebeu vários títulos originais como “The Rejuvenator”, “Rejuvenatrix” ou “Juvenatrix – A Classic Tale of Terror”.

(Juvenatrix – 16/05/20)



sexta-feira, 15 de maio de 2020

Almanaque Entrevista

Clinton Davisson lança uma nova versão do seu romance Hegemonia: O Herdeiro de Basten e analisa os rumos da ficção científica brasileira


por Marcello Simão Branco


Natural de Volta Redonda, interior do Rio de Janeiro, o jornalista Clinton Davisson é um nome presente e atuante no fandom de ficção científica brasileiro desde de o final dos anos 1990, já na fase final da Segunda Onda do gênero no país. O nome incomum vem de uma homenagem de seu pai – um físico – a Clinton Davisson, prêmio Nobel de física de 1937. Como ele mesmo admite, talvez isso o tenha influenciado a se identificar e escrever uma ficção científica hard, aquela voltada a temas de ciências naturais. Autor de dois romances, contos e uma peça de teatro, o autor é uma voz consolidada na seara hard, dando sequência a uma tradição dentro da ficção científica brasileira. Muito ligado aos movimentos de fãs, esteve à frente de várias atividades do Conselho Jedi, o primeiro fã clube de Guerra nas Estrelas no país, e marcou presença como o mais longo dirigente da história do Clube de Leitores de Ficção Científica (CLFC). Na entrevista a seguir Clinton comenta sobre a nova versão do seu romance Hegemonia: O Herdeiro de Basten – talvez sua obra mais ambiciosa –, faz um balanço de sua gestão à frente do CLFC e comenta sobre as perspectivas dos autores brasileiros de ficção científica.


Você foi quem presidiu por mais tempo o Clube de Leitores de Ficção Científica (CLFC). Quatro mandatos, de 2011 a 2019. Praticamente uma década! Faça um balanço de suas administrações e o legado você deixa para a nova diretoria.

Eu sou bem crítico em relação as minhas administrações do CLFC. Embora tenha certeza que deixei o Clube bem melhor do que encontrei e isso é endossado por, pelo menos, dois presidentes, anteriores, eu gostaria de ter tido condições para fazer mais. O fato é que consegui reativar o prêmio Argos, reativar o Somnium e o site do CLFC, além de agora termos a Biblioteca Nacional de Ficção Científica em parceria com a USP – na cidade de Ribeirão Preto (SP). Eu acho que foi uma boa administração, mas poderia ter ido mais longe. Queria que o Argos fosse mais reconhecido, mas isso esbarra em investimentos. Teria que largar a vida pessoal para me dedicar a isso e transformar o CLFC em uma empresa. Resolvi não cruzar este limite. Fica o desafio para as próximas gerações.


Sua ficção científica é assumidamente hard. Nos explique sobre esta preferência temática, e nesse sentido, quais autores mais o influenciaram.

Eu sempre li muito e de tudo. Desde revista do Tio Patinhas até James Joice e Dostoiévski. Acho que a ficção científica hard veio mais do meu pai ser físico e de eu ser pesquisador, fazendo doutorado agora. A minha área é ciências humanas, estou fazendo doutorado em comunicação, mas devoro livros científicos desde sempre. Ultimamente comprei aquela série completa O Universo e descobri que já tinha assistido várias vezes todos os episódios. Estudo química e biologia por conta própria até hoje. Sempre quis saber os porquês das coisas. Sempre tentando priorizar mais a boa história, a história bem contada. Eu diria que minha maior influência muda de acordo com o tempo. Teve época que foi Guimarães Rosa, atualmente leio repetidamente os livros do Max Mallman, vejo como ele constrói os personagens, constrói as cenas, tem uma veia humorística forte. Tem o China Miéville também, que é um autor contemporâneo de muita criatividade. Mas sempre tenho a sensação de que deveria ler mais..


Há quase vinte anos você tem trabalhado no seu universo ficcional de Hegemonia, com contos e romances. Você poderia explicar resumidamente as linhas gerais dos temas tratados neste universo, e porque você decidiu lançar agora em 2020 uma nova edição ampliada do romance Hegemonia: O Herdeiro de Basten? Quais as diferenças entre as duas edições?

Eu não me conformava com um livro que escrevi com tanto carinho por longos sete anos, ter sido terminado às pressas em 2007. Quando a primeira edição se esgotou em 2010, eu quis terminar com calma essa nova versão. Quando terminei já era 2012 e não consegui editora para relançar. Esperei e não apareceu. Então resolvi lançar na Amazon.com. Deu certo. As duas versões contam a mesma história, mas me aprofundei mais nos personagens e no funcionamento daquele universo. E tive que fazer uns ajustes pois estava dando algumas contradições com o segundo livro, Hegemonia: Vellanda, que vou lançar em breve. Eu diria que esta nova versão de O Herdeiro de Basten é um livro mais hard do que a primeira versão.
O mais engraçado é que, com Fáfia: A Copa do Mundo de 2022, eu brinquei de profeta para tentar adivinhar como seria o futuro. Mas com o Hegemonia: O Herdeiro de Basten, não tinha essa pretensão. O livro se passa mais de 100 mil anos no futuro. Mas acabou que agora que relancei, está em alta um dos temas principais do livro que é o isolamento social, já que boa parte do livro discute como morar em uma Esfera de Dyson, com um excesso de absurdo de espaço e com armaduras computadorizadas que permitem uma autossuficiência. Isso tornaria os humanos seres muito frios, distantes, sem interatividade social além do mundo virtual. Era algo que eu estudava muito em 2002 na primeira versão da história em forma de conto. Eu ainda estava na faculdade de comunicação. Agora, devido à pandemia do novo coronavírus, o isolamento social virou uma realidade distópica presente e isso tem rendido um bom retorno ao livro.


Em 2022 haverá a próxima Copa do Mundo. Mas você a antecipou em termos ficcionais com o seu primeiro romance, Fáfia: A Copa do Mundo de 2022, publicado em 1999. O que você pode dizer sobre o que especulou neste romance e a provável realidade de 2022? Você pretende relançar o livro para aproveitar o ensejo da copa?

Sim, eu planejo também relançar o Fáfia em 2021. Já até fiz algumas correções no livro, mas realmente me doeu os olhos em descobrir como o escritor de 22 que escreveu o Fáfia em 1993 era fraco na hora de estruturar o enredo. Tinha muita coisa que hoje para mim não fazia sentido. Eu sei que faz parte. Escrever tem que ser algo contínuo e a gente vai melhorando a cada livro. No quesito “profecias”, até que acertei muita coisa. Carros falando, a China caminhando para se tornar a maior potência mundial, o Brasil sendo campeão mundial mais duas vezes, uma crescente preocupação com saúde e alimentação, banimento do cigarro e obrigatoriedade do cinto de segurança, mas não previ o wifi por exemplo e os hackers do livro precisam se conectar em cabos telefônicos. Escrevi que o Brasil teria um grande crescimento econômico, mas sucumbiria por causa da corrupção e a população acabaria se revoltando e escolhendo uma opção conservadora, no caso, o país se tornou uma monarquia parlamentarista. Estamos atualmente em risco de o país virar uma monarquia bolsonarista.
Foi onde eu cheguei mais perto. Mas desde o começo, a intenção era brincar com essa coisa de você fazer previsões para um futuro próximo e todo o pacote que vem com isso. Eu achava que erraria bem mais. Ao menos não coloquei, por exemplo, carros voadores como no filme De Volta para o Futuro (1985). A minha dúvida era se eu simplesmente relançava com algumas correções de estrutura ou se eu tentava corrigir as “profecias” que não deram certo. Acho que isso seria trapaça. Pensei então em colocar o livro para mais para frente, tipo, 2122. Mas seria perder tempo demais. Então, fica do jeito que está, é uma espécie de 90’s punk, como se a tecnologia do início dos anos 1990 tivesse evoluído. Fáfia sempre foi meu livro com mais pegada humorística e acho que se encaixa bem em uma versão alternativa de 2022. Afinal, a gente nem sabe se vai ter essa Copa. Duvido que hajam eventos esportivos ou mesmo eventos de massa antes de uma vacina eficaz contra o Covid-19.


Sendo um autor identificado com a terceira onda da FCB qual sua visão sobre a condição atual do gênero no país e suas perspectivas, num cenário que mostra um fandom fragmentado e autores que publicam, mas continuam pouco notados no contexto literário brasileiro?

Acho que a Amazon.com acabou mudando radicalmente o cenário do mercado brasileiro. Porque tínhamos várias editoras para um mercado muito restrito. Poucas souberam “jogar o jogo” mas acredito que o mercado de e-book está prestes a encerrar a era das editoras e iniciar a era dos autores. Pela primeira vez o autor está podendo pular etapas e vender seu livro diretamente para o público e recebendo o dinheiro. Hoje temo autores pouco conhecidos, mas que conseguem até se sustentar com dinheiro dos livros, tudo isso graças a Amazon.com. Acho que o mercado de livros de papel não vai acabar, mas o e-book vai ser o predominante em breve.


Para encerrar nos fale sobre seus próximos projetos.

Assim que lançar a continuação do Hegemonia em junho, que vai se chamar Hegemonia: Vellanda, devo me dedicar a outro projeto que estou terminando que envolve terror juvenil com folclore nacional. Algo no qual venho trabalhando também desde 2010, mas que requer muita pesquisa e esbarrei neste problema. Porque pesquisa demanda tempo e dinheiro. Eu não tinha nenhum dos dois. Agora, com a pandemia, eu tenho tempo.




quinta-feira, 14 de maio de 2020

A Noite dos Mortos-Vivos (Night of the Living Dead, EUA, 1990)



“Aí vem eles, erguendo-se do fundo dos túmulos, enchendo a noite de gritos, manchando a terra de sangue... Aí estão eles, caminhando ao ritmo da morte, limpando o sangue dos lábios...”
do livro “A Noite dos Mortos Vivos” (1974), de John Russo, baseado no roteiro do filme homônimo de 1968

Em 1968, o cineasta George Andrew Romero presenteou os apreciadores do cinema fantástico com um dos mais importantes filmes da história do gênero, o clássico absoluto “A Noite dos Mortos Vivos” (Night of the Living Dead), fotografado em preto e branco e com um orçamento reduzido, abordando o tema dos zumbis comedores de carne humana de forma definitiva, inspirando toda uma safra imensa de filmes posteriores influenciados por suas idéias.
Romero dirigiu depois mais cinco filmes de sua saga, “Despertar dos Mortos” (Dawn of the Dead, 78), “O Dia dos Mortos” (Day of the Dead, 85), “Terra dos Mortos” (Land of the Dead, 2005), “Diário dos Mortos” (Diary of the Dead, 2007) e “A Ilha dos Mortos” (Survival of the Dead, 2009), sendo alguns deles ótimos filmes de horror e com interessantes críticas sociais em seus argumentos. E em 1990, o conhecido técnico em maquiagem Tom Savini (de “Despertar dos Mortos” e “Sexta-Feira 13”, entre muitos outros filmes importantes do gênero), reuniu os principais envolvidos na produção do clássico de 68 (o próprio George Romero e ainda John Russo e Russ Streiner), e assumindo a direção lançaram juntos uma refilmagem, com a grande diferença de apresentar agora a violência dos mortos vivos em cores e através de técnicas de efeitos especiais mais modernas.  

Na história, um casal de irmãos, Barbara (Patricia Tallman, de “Comando Assassino”, 88) e Johnnie (Bill Mosley), está viajando de carro com destino para um cemitério onde está enterrada a mãe deles. Lá chegando, eles são surpreendidos pelo ataque de um homem com aparência grotesca. Barbara consegue fugir e vai pedir ajuda numa casa de campo, localizada numa fazenda próxima. Porém, enfrenta mais um ataque violento de um outro homem deformado, o obeso Tio Rege (Pat Logan), o dono da casa.
Paralelamente, chega também à propriedade rural um homem negro, Ben (Tony Todd, de “Candyman”, 92), guiando em alta velocidade uma camionete com pouca gasolina. Ele se encontra com Barbara e juntos tentam se defender dos mortos vivos, descobrindo que no porão ainda estão outras cinco pessoas refugiadas, o intransigente Harry Cooper (Tom Towles), sua esposa Helen (McKee Anderson), a filha ferida com uma mordida no braço, Sarah (Heather Mazur), e um casal de jovens, Tom Bitner (William Butler), sobrinho do Tio Rege, e sua esposa Judy Rose Larsen (Katie Finneran).
O grupo passa a enfrentar os perigos mortais de uma invasão de mortos vivos sedentos por seu sangue e famintos por sua carne, isolados no meio do nada e encurralados numa casa onde são vítimas de um perturbador sentimento de claustrofobia e incapacidade de fuga, além também de terem que administrar os impertinentes problemas de relacionamento (principalmente entre Ben e Harry, que estão constantemente em atrito), algo típico na raça humana e um fator negativo capaz de levá-los ao extermínio.

“Eles são nós. Nós somos eles, e eles são nós.”
Barbara, comentando decepcionada que não há diferença entre a selvageria dos mortos e a dos vivos

Essa refilmagem de 1990 é honrada e digna do original, principalmente porque os envolvidos no projeto são as mesmas pessoas, de George Romero, passando por John Russo, a Russ Streiner, e com a direção nas mãos do famoso maquiador Tom Savini, um profissional especialista no gênero Horror, e que na vida real foi fotógrafo na sangrenta Guerra do Vietnã, onde testemunhou mortes violentas e corpos destroçados de soldados nos campos de batalha.
Na nova versão de “A Noite dos Mortos Vivos” não faltam as cenas carregadas de sangue e mutilações e a tradicional legião de mortos vivos deformados e pútridos, ingrediente indispensável na temática do filme. Mas, com a diferença do visual em cores e as maquiagens mais bem produzidas.
Eu particularmente ainda prefiro o original de uma forma geral, principalmente pela ousadia de George Romero e equipe em se fazer um filme extremamente perturbador com violência explícita e poucos recursos no final dos anos 60, há quase meio século atrás, num trabalho precursor tanto no cinema de horror mais violento, quanto no subgênero de mortos vivos devoradores de carne humana. Mas a refilmagem de 90 também é um ótimo filme, procurando respeitar a história original em seu argumento básico, apesar da inevitável liberdade de criação artística que alterou o final, sendo que o filme de 68 apresentou um desfecho bem mais interessante e surpreendente.
Uma das coisas que mais fascina na história é justamente a ideia de um caos instaurado repentinamente no mundo graças ao domínio dos mortos que são reativados misteriosamente e buscam se alimentar dos vivos. Os personagens inicialmente não sabem as origens desse fenômeno e ficam especulando sobre as causas dos cadáveres se levantarem de seus túmulos, atribuindo a onda de violência para uma suposta fuga de prisioneiros ou uma contaminação química, descobrindo-se apenas mais tarde que poderia talvez se tratar de uma infecção trazida do espaço. Imaginem o choque que qualquer ser humano teria se de repente estivesse no meio de uma horda de zumbis querendo devorá-lo impiedosamente, e que toda a civilização estaria fatalmente afetada por uma histeria crescente que colocaria em risco a vida humana no planeta, pois além dos cadáveres voltarem a andar e terem como principal cardápio a carne humana dos vivos, as criaturas ainda tem o poder de transformar pessoas sadias em outros mortos vivos, através de um vírus contagiante.

“Não tente encontrar os amigos ou a família. Não tente ir às estações de resgate já identificadas, pois podem estar fora de operação. Estamos repetindo o aviso do órgão de prevenção de emergências das 23:00 horas do dia 23 de Agosto de 1989. Foi confirmado que os corpos dos mortos estão sendo reativados por forças desconhecidas. Estes corpos são fracos e sem coordenação, mas capazes de causar danos às pessoas e às propriedades. São considerados perigosos, especialmente quando em grupos. Podem ser inutilizados somente de uma maneira: pelo cérebro. Estes corpos reativados atacam animais de sangue quente de todas as espécies, incluindo seres humanos, sem nenhuma provocação, devorando a carne. Foram confirmados homicídios e canibalismos durante o dia de 23 de Agosto de 1989, atribuído, pelo menos em parte, a esses corpos reativados...” Mensagem de alerta das autoridades, transmitida pelo rádio

“A Noite dos Mortos Vivos” foi lançado em DVD no mercado brasileiro pela “Columbia Tristar Home Entertainment”, num disco de duas faces, sendo o lado “A” com as imagens em “widescreen”, e o lado “B” em tela cheia. Entre os materiais extras temos o comentário em áudio do diretor Tom Savini, um documentário de 25 minutos de duração chamado “The Dead Walk – Remaking a Classic”, escrito, produzido e dirigido por Jeffrey Schwartz, com depoimentos de Tom Savini, George Romero, Russ Streiner, John Russo, Tony Todd e Patricia Tallman, entre outros, além de trailers de um minuto com “A Noite dos Mortos Vivos” (90) e de dois minutos e meio com “Força Diabólica” (The Tingler, 59), produção em preto e branco de William Castle e com Vincent Price, e notas sobre a equipe de produção e os principais atores, destacando Tom Savini, George Romero, Tony Todd e Patricia Tallman. O fato negativo de todo esse interessante material extra é que tudo está disponível apenas na versão original em inglês, sem a opção de legendas em português.
Entre as curiosidades podemos citar que o produtor Russ Streiner (tanto do original quanto da refilmagem), que participou do filme de 1968 na seqüência de abertura no cemitério, como Johnny, o irmão gozador de Barbara, também apareceu rapidamente no filme de 90, próximo ao final, como um homem sendo entrevistado para a televisão, falando das façanhas ao exterminar os zumbis, sendo de forma não creditada em ambos os casos. E o ator Bill “Chilly Billy” Cardille apareceu também como um repórter em ambas as versões, tanto de 68 como a de 90.
A cena próxima do final, onde vários zumbis estão pendurados numa árvore e servindo de alvo para tiroteios dos sádicos caçadores de mortos vivos, estava prevista para aparecer no filme original, mas teve que ser cortada por causa das tensões raciais que agitavam os Estados Unidos na época, e a inclusão dessa cena na refilmagem foi uma homenagem.  
No documentário “The Dead Walk”, Tom Savini revelou que várias cenas violentas onde os mortos vivos eram alvejados na cabeça, evidenciando o sangue em profusão, foram censuradas e tiveram que ser substituídas na edição final por outras menos chocantes, além também de outras cenas fortes que foram cortadas, com os momentos mais perturbadores de horror gráfico aparecendo apenas “off screen”.

“Isto é alguma coisa que ninguém jamais ouviu falar a respeito, e ninguém jamais viu antes. Isto é Inferno na Terra” – Ben, definindo o caos instaurado pela invasão dos mortos

A Noite dos Mortos Vivos (Night of the Living Dead, Estados Unidos, 1990). Columbia Pictures. Duração: 86 minutos. Direção de Tom Savini. Roteiro de George A. Romero, baseado no roteiro original do filme homônimo de 1968, escrito por John A. Russo e George A. Romero. Produção de John A. Russo e Russ Streiner. Produção Executiva de Menahem Golan e George A. Romero. Música de Paul McCollough. Fotografia de Frank Prinzi. Edição de Tom Dubensky. Desenho de Produção de Cletus Anderson. Direção de Arte de James C. Feng. Efeitos Especiais de Everett Burrell e John Vulich. Elenco: Tony Todd (Ben), Patricia Tallman (Barbara), Tom Towles (Harry Cooper), McKee Anderson (Helen Cooper), William Butler (Tom Bitner), Katie Finneran (Judy Rose Larsen), Bill Mosley (Johnnie), Heather Mazur (Sarah Cooper), Pat Logan (Tio Rege), David Butler, Zachary Mott, Pat Reese, William Cameron, Berle Ellis, Bill “Chilly Billy” Cardille.   

(Juvenatrix - 13/11/2005)