domingo, 22 de dezembro de 2019

Dicionário de línguas imaginárias, Olavo Amaral

Dicionário de línguas imaginárias, Olavo Amaral. 128 páginas. Editora Companhia das Letras, selo Alfaguara, São Paulo, 2017.

Ainda que seja conceito comum entre os críticos da literatura brasileira que ela seja uma arte estagnada, recorrente em seus temas, quase sempre ligados à marginália, à pobreza e à violência, repetindo personagens e tramas que tornam a leitura previsível – e isso pode ser mesmo verdade – sempre houve uma corrente que fluiu em outras direções. De Machado de Assis a Guimarães Rosa, de Murilo Rubião a Ignácio de Loyola Brandão, de Monteiro Lobato a José J. Veiga, há dezenas de autores que escapam dessa análise superficial, que levam temas e tramas da literatura brasileira muito além da fronteira. Histórias de horror quase sempre, fantasia e ficção científica eventualmente, aparecem em todas as épocas, desde que foi permitido que os brasileiros publicassem o que escreviam.
Hoje temos um real movimento em busca desses horizontes, iniciado antes de tudo pelos leitores fãs de ficção científica que, na dificuldade de encontrar o que queriam, passaram a compor suas próprias histórias em fanzines, a princípio, e em blogues, mais recentemente. Esse movimento pré-fabricado nos anos 1960 e 1980, cresceu muito na era da internet e eclipsou aquele fluxo natural que continua lá, contudo.
Há quem diga que as obras de autores ligados ao realismo fantástico não são parte desse movimento. E não são mesmo. São autores mais incorporados ao mainstream, nunca identificados como "fãs", que emprestam para si a estética e os mecanismos de uma tradição latinoamericana que vem de muito mais longe. As histórias tem textura de weird fiction (referência à revista americana Weird Tales, publicada entre 1923 e 1954), em que os contornos da literatura de gênero não são claros e seus preciosos protocolos não são respeitados.
Este é o caso dos dez contos que formam esta coletânea de Olavo Amaral, portoalegrense nascido em 1979, médico, neurocientista,  cineasta e autor premiado, que tem em sua bibliografia as coletâneas Estática (2006) e Correnteza e escombros (2012), também relacionadas ao fantástico e ambas disponíveis para leitura na internet.
Dicionário de línguas imaginárias é o primeiro livro do autor pela Companhia das Letras e guarda tributo à Jorge Luis Borges, especialmente por conta do tema. Mas, enquanto Borges tinha no livro o seu objeto de especulação, Amaral volta sua atenção para a oralidade, a língua, e assim sustenta a mesma metalinguagem borgeana.
O conto que abre a seleta é "Uok phlau", estruturado na forma de um artigo sobre o trabalho de campo de um antropólogo junto a tribo nativa dos yualapeng, em cuja língua não existe a noção de "ir" e "vir".
"Travessia" é uma história mais convencional, sobre quatro homens que não falam a mesma língua e, por algum motivo não explicitado, estão presos em um contêiner, e os desdobramentos do estresse, medo e preconceito que surgem entre eles.
"Mixtape" é uma história sincopada, de tons eróticos, sobre um homem obcecado por um vídeo pornográfico.
"Quarto a beira d'água" retoma o estilo fantástico ao contar a tragédia de um casal depois que surge uma poça de água no meio de seu quarto de dormir.
"Iceberg" é uma fantasia com laivos de ficção científica. Um antropólogo passa o inverno observando à distância uma tribo de homens primitivos que vivem próximos ao litoral. O relato não deixa claro o que realmente está acontecendo, mas vamos sentir o estranhamento quando chega o verão.
"Choeung ek" apresenta uma sociedade que tem no turismo uma grande atividade comercial. Ali, os viajantes são encaminhados às "atrações" locais, que contam uma história tétrica e antiga de violência e crueldade, tudo muito profissional, é claro. Mas há um passeio especial, exclusivo para os turistas mais curiosos.
"O ano em que nos tornamos ciborgues" é uma ficção científica distópica, sobre uma revolução proletária fracassada que dá lugar a uma sociedade de coalizão. Sobreviventes mutilados pelo conflito são submetidos a um tratamento a base de implantes, mas ainda há muito com que se revoltar.
Em "Esquecendo Valdéz", o autor se achega ao modelo borgeano ao contar a história de um homem que forjou um intelectual inexistente a partir da produção de um livro no qual baseou seu trabalho acadêmico.
"Última balsa" tem um que de A estrada, de Cormac McCarthy. Conta o drama de um homem e um menino autista tentando sobreviver em uma ilha deserta após um naufrágio.
"Estepe" mostra o drama de um homem que tem uma doença incurável que avança tanto mais rápido quanto ele fala. O jeito é parar de falar e, para isso, ele vai viver com uma tribo nômade nas congeladas estepes russas, que não por acaso é o povo que menos fala no mundo.
Um livro curioso e perturbador, que sustenta a tradição do realismo fantástico brasileiro e latinoamericano com qualidades inegáveis, ótimas ideias e texto fluente. Leitura altamente recomendável que mostra que, ao contrário do que se pensa, há inteligência fora do fandom.
Cesar Silva

sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Além do Planeta Silencioso

Além do Planeta Silencioso (Out of the Silent Planet), C. S. Lewis. Tradução de Waldéa Barcellos. 220 páginas. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2010. Lançamento original em 1938.

Há alguns meses vi na livraria do Terminal Rodoviário Tietê, em São Paulo, os três volumes da Trilogia Cósmica, ou Trilogia de Ransom, de C.S. Lewis: Além do Planeta Silencioso (1938), Perelandra (1943) e Aquela Força Medonha (1945). Lançamento de 2019, em edições bonitas, com capa dura, da editora de livros cristãos Thomas Nelson. Mas os preços estavam proibitivos.
O primeiro livro eu li quando tinha 19 anos, numa edição portuguesa da coleção Europa-América, no. 80, com título levemente diferente: Para Além do Planeta Silencioso, e seu impacto nunca de desfez. Assim, pensei: será que tantos anos depois valeria a pena ler de novo, agora incluindo os dois livros seguintes? É que tive um certo receio de não macular a memória afetiva do período da minha vida em que o li pela primeira vez. Mas, como disse, o livro me impressionou antes e, portanto, pela sua qualidade resolvi arriscar uma nova leitura. Por sorte, a editora Martins Fontes já havia publicado os três livros antes, entre 2010 e 2011, e os consegui por preços bem mais acessíveis.
Além do Planeta Silencioso é uma história de FC do subgênero planetary romance, em que acompanhamos a incrível aventura do linguista Elwin Ransom. Ele é raptado por dois cientistas e levado a Marte, com o intuito de ser oferecido a alienígenas em troca de ouro, abundante no planeta. Mas o livro revela-se muito mais do que este pobre pretexto. Ransom consegue fugir dos seus captores e perambula pelo planeta em busca de ajuda e sobrevivência. Com isso se depara com um mundo fantástico e desconcertante, em suas multicores, vegetação exuberante, seus rios e mares, planícies e montanhas. Por si só as descrições do mundo alienígena de Lewis valem a leitura e estão entre as mais belas e criativas de toda a ficção científica.
Ransom trava contato com uma civilização inteligente, os hrossa – semelhantes a focas –, que o abriga e inicia nos seus costumes e filosofia de vida poética e integrada à natureza. É um povo que extrai por meio da harmonia e simplicidade, uma postura tranquila e pacífica. Mas Ransom descobre que Marte – chamado de Malacandra por seus nativos –, inclui ainda mais duas espécies inteligentes: os sorns e os pfilfltriggi. Os sorns, grandes e semelhantes a pássaros, e os pfilfltriggi, os menores e parecidos com rãs. Linguista, Ransom aprende a se comunicar com as três espécies, aprendendo a língua dos hrossa que é comum a todos (apenas entre eles os sorns e os pfilfltriggi adotam linguagens próprias), e percebe que eles compõem o que chamam de hnau, os seres inteligentes que se respeitam e se complementam com estilos de vida e habilidade próprias. Os sorns mais empreendedores e os pfilfltriggi muito hábeis em construções e serviços manuais. Todos vivem em conexão íntima com o ecossistema do planeta, sem predação justificada por motivos políticos ou econômicos.
Os hanais dizem a Ransom que ele vem de Thulcandra, o planeta silencioso, e que deve ir ao encontro de Oyarsa, o governante e líder espiritual do planeta, que pertence a uma outra espécie, os eldil. Difíceis de serem descritos, por vezes se materializam, por vezes se manifestam com vozes ou sinais indiretos, numa indicação de serem seres etéreos ou sobrenaturais. Alguma semelhança com anjos não é coincidência.
O romance flui de forma leve, apesar de eivado de muitos simbolismos de ordem cristã. Há mesmo um frescor pulp na narrativa em geral – talvez efeito do tipo de ficção que se escrevia nos EUA na época –, o que só o torna mais atraente e prazeroso.
Ransom e seus dois captores descobrirão por que a Terra (Thulcandra) é chamado de o planeta silencioso, isolado de uma espécie de comunidade cósmica que interage pelos céus (e não pelo espaço em si), em busca de uma convivência mais virtuosa e cheia de confiança mútua.
Embora não seja explícita, a alegoria de Lewis é perceptível, no sentido de que a humanidade é uma espécie que decaiu em seus valores e costumes, perdeu-se no egoísmo, inveja, maldade e ganância, sendo mesmo orientada, sub-repticiamente, pelo Torto, como chamado por Oyarsa – um eldil que se bandeou para o mal. A alusão implícita aqui é com Lúcifer.
Além do Planeta Silencioso é um livro interessante e elegante, tanto em sua narrativa, que mistura aventura com descrições inspiradas da natureza, como na filosofia que prega, que longe de ser proselitista, se aproxima mais do que poderíamos chamar de uma visão de mundo pautada por uma ética humanista e cristã.
Em mais um aspecto de interesse o livro se revela metalinguístico, surgindo como um relato fictício de uma experiência verdadeira, através do qual Ransom – também um nome inventado –, achou mais adequado revelar à humanidade sua experiência e descobertas. Não dá para deixar de pensar que Ransom é um alter ego do próprio Lewis – que, depois de ateu na juventude, se tornou reverendo e professor de Literatura Medieval e Renascentista em Cambridge.
E esta literatura de ficção especulativa baseada em alegorias cristãs prosseguiu anos depois quando Lewis concebeu sua série As Crônicas de Nárnia (The Chronicles of Narnia), composta por sete livros, publicados entre 1950 e 1956. Também aqui, e de forma leve e implícita, as aventuras, agora de alta fantasia, são protagonizadas por crianças e animais falantes no Reino de Nárnia.
Aqui no Brasil o livro tem uma importância editorial histórica, pois inaugurou a mais importante coleção da ficção científica brasileira, a FC GRD, editada pelo editor Gumercindo Rocha Dorea, em 1958 - veja a capa acima à direita. A escolha do livro não foi um acaso, pois uniu a paixão de Dorea pela FC e sua vinculação estreita com o catolicismo. O livro ainda seria republicado em meados dos anos 1970, como Longe do Planeta Silencioso – tenho a segunda edição, de 1979 –, pela editora cristã Livros Co-Lab, de Umuarama, Paraná, numa tradução do Reverendo Amantino Adorno Vassão. Depois os três volumes foram publicados na coleção Europa-América, de Portugal, o já citado no. 80 (em 1984), Perelandra Viagem a Vênus, no. 179 (em 1991), e Aquela Força Medonha, nos. 185 e 186 (também em 1991). E voltou a ser publicado no Brasil em 2010 com a edição que usei para esta resenha, seguido em 2011 com a publicação inédita das duas sequências, todos pela WMF Martins Fontes, até a edição mais recente da editora Thomas Nelson, em 2019.
Escrito em 1938 é um livro que também discutiu a sua época, às vésperas da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), como uma espécie de alegoria sobre a condição crítica da humanidade, à beira da barbárie absoluta. Mas seu interesse perene nos anos posteriores, inclusive aqui no Brasil, confirma o seu status de clássico, por equilibrar com rara elegância discussões filosóficas profundas e um sense of wonder dos mais belos.


Marcello Simão Branco

sexta-feira, 22 de novembro de 2019

Atmosfera Rarefeita


Atmosfera Rarefeita: A Ficção Científica no Cinema Brasileiro, Alfredo Suppia. 400 páginas. São Paulo: Devir Livraria, Coleção Enciclopédia Galáctica, 2013.


Há certos livros que de saída chamam a atenção pelo tema. Pois este é o caso de Atmosfera Rarefeita: A Ficção Científica no Cinema Brasileiro. O assunto, à primeira vista, pode causar estranheza a um leitor desavisado ou não familiarizado com a ficção científica, mesmo entre aqueles da área de cinema. Mas mais importante do que isso é que este trabalho – fruto da tese de doutorado do autor, defendida em 2007 – desmistifica lugares comuns e abre a possibilidade de um novo e instigante campo de pesquisa. Para o cinema brasileiro, para a ficção científica, e para os estudos culturais brasileiros.
Alfredo Suppia, que é professor do Instituto de Artes da Unicamp, inicialmente apresenta algumas considerações de ordem teórica, de como compreende o que caracterizaria a FC, baseando-se nos conceitos de intertextualidade e do novum – este desenvolvido pelo acadêmico croata Darko Suvin. Grosso modo, o primeiro relacionado às apropriações e intersecções possíveis entre diferentes assuntos dentro de um mesmo gênero temático de histórias, ou a elas associadas. Já o segundo se refere ao elemento decisivo que torna possível caracterizar uma história como sendo de FC, que a diferenciaria do mundo tal qual lidamos e conhecemos. Tem equivalência na ideia do estranhamento cognitivo, mas talvez seja mais incisiva para pontuar o que pertence ou não ao campo da FC. Estas considerações serão importantes ao longo dos capítulos, principalmente ao analisar ênfases diferentes dos filmes brasileiros vinculados ao gênero.
Depois de apresentar um breve histórico sobre a trajetória da literatura brasileira de FC – que também servirá de substrato para discussões posteriores – Suppia parte para o núcleo duro de sua pesquisa. Nos capítulos três e quatro ele expõe uma extensa e detalhada resenha de dezenas de filmes brasileiros de FC, de longa e curta metragem. Realiza esta façanha de forma cronológica. Primeiro num capítulo sobre os longas-metragens e depois noutro com os curtas-metragens, mostrando com riqueza de detalhes o desenvolvimento do cinema de FC brasileiro, suas fases, características, padrões recorrentes, virtudes e limites.
Assim, são comentados 95 filmes longa-metragem e 63 curtas-metragens. De 1908 a 2013, quando foi publicado o livro. Praticamente um século de análise! Dentro deste longo percurso foi identificado alguns temas mais recorrentes em determinada época, e outros que tem se tornado padrão, se estabelecendo como um tema tradicional do cinema de FC do país. Numa primeira vertente, filmes que satirizam, por meio de elementos ou iconografia, aspectos da sociedade brasileira. Com o passar das décadas esta tendência foi se enfraquecendo, sendo especialmente presente até, pelo menos o final da década de 1950. A esta tendência emergiu outra que relaciona a FC com o humor e a paródia, seja de temas da sociedade, seja do próprio gênero em si, com adaptações que se inspiraram em clássicos do gênero, característica presente principalmente nos filmes do grupo Os Trapalhões, entre os anos 1960 e 1980. Filmes como, por exemplo, Os Trapalhões no Planalto dos Macacos (1976) e Os Trapalhões na Guerra dos Planetas (1978). A intenção destes filmes, fora o óbvio entretenimento e grande apelo popular, seria o de estabelecer uma reflexão do quanto somos subdesenvolvidos, tanto em termos sócio-econômicos, como em termos tecnológicos – da ciência e do cinema em si. Outros filmes marcantes se inserem nesta perspectiva, ainda que com nuances um pouco mais matizadas, como Carnaval em Marte (1954), O Homem do Sputnik (1959) e Os Cosmonautas (1962), que partem do modelo consagrado da chanchada para inserir temas de ficção científica.
 A partir dos anos 1960 uma nova perspectiva começa a ser vislumbrada, a de filmes mais centrados em temas sociais e políticos, como O Quinto Poder (1962), O Homem que Comprou o Mundo (1968), Brasil Ano 2000 (1969), entre alguns outros poucos que não firmaram uma tendência para as décadas posteriores, embora não tenham desaparecido completamente, como pode ser visto em filmes como O Efeito Ilha (1994) e nos mais recentes Branco Sai, Preto Fica (2015) e Bacurau (2019).
Contudo, a perspectiva crítica mais interessante do cinema brasileiro de FC tem sido a abordagem dos temas ambientais, o que faz todo o sentido num país de dimensões continentais, em processo de desenvolvimento econômico e com a maior floresta tropical do planeta e a maior biodiversidade. Como conciliar o desafio de construir uma nação material e socialmente desenvolvida com esta base ecossistêmica? Pergunta que tem desafiado gerações de ambientalistas, economistas, políticos e formuladores de políticas públicas recebeu diversas interpretações, ao longo da trajetória do nosso cinema. Filmes representativos nesta seara são Quem é Beta? (1973), Parada 88: Limite de Alerta (1978), Abrigo Nuclear (1981), Por Incrível que Pareça (1986), Oceano Atlantis (1993) e Acquaria (2004).
Nos últimos anos têm surgido alguns filmes estrelados por atores conhecidos que, mesmo não se assumindo como FC, pertencem ao gênero e podem servir, se esta tendência se mantiver por alguns anos, para um processo de popularização do gênero entre público e crítica. Exemplos como Redentor (2004), A Máquina (2005), Nosso Lar (2010) – este no subgênero espírita, de grande apelo –, O Homem do Futuro (2011) e o já citado Bacurau (2019).
Num primeiro momento ler sobre centenas de filmes pode parecer um pouco cansativo, afinal estes dois capítulos vão da página 29 até a página 236, mas creio que num trabalho pioneiro como este é mais que justificado. Antes de mais nada, vale registrar aqui o volume impressionante de informações que ele levanta – com o mérito adicional de entrevistar vários dos diretores dos filmes – mostrando ser um pesquisador dedicado e apaixonado. Mas a leitura das quase duzentas páginas destes dois capítulos é das mais divertidas. Eu, pelo menos, fiquei com muita vontade em ver filmes absolutamente raros e obscuros, e ao mesmo tempo, frustrado porque a imensa maioria deles não se encontra à disposição, seja na internet e muito menos no mercado de DVDs ou blu-rays. Ainda mais do que na literatura brasileira de FC, há um campo enorme a ser descoberto por parte de fãs, críticos e público interessado sobre o que já foi feito (e se faz) em termos de cinema do gênero.
Mas se estes dois capítulos em si já seriam uma contribuição mais do que suficiente para tornar o livro uma referência tanto para o cinema quanto para a FC no Brasil, Suppia parte para uma discussão mais analítica sobre porque o cinema brasileiro de FC se desenvolveu destas formas, suas possíveis ligações com o realismo mágico e das dificuldades de reconhecimento que a FC encontra tanto no cinema, como na literatura para se tornar uma forma de expressão artística vista como relevante por si enquanto criação, e também enquanto caminhos para refletir sobre problemas da realidade brasileira.
Inicialmente ele procura relativizar a noção de que o cinema brasileiro – e o de FC em particular – deve ter como parâmetro de comparação e qualidade apenas Hollywood. Assim, compara a produção brasileira como a de países com condição social e tecnológica semelhante, como o México, Argentina e o Leste Europeu. Novamente por meio da resenha de alguns filmes importantes de cada país, ele mostra que a questão geográfica nem sempre é a mais adequada para se identificar similaridade entre a produção dos países, mas sim suas conexões e afinidades culturais. Neste sentido, o cinema mexicano se assemelha mais ao brasileiro – principalmente no que diz respeito a não se levar muito a sério e de se reconhecer como tecnologicamente inferior –, do que ao do seu vizinho rico do norte, e o argentino ao da Europa Ocidental, em seu caráter mais sério e socialmente crítico.
O cinema brasileiro de FC tem dificuldades de afirmação e reconhecimento – especialmente no formato longa-metragem –, porque ainda reina um senso comum de que estamos tecnologicamente atrasados com relação aos EUA, e o gênero ser considerado como de pouca relevância num país com tantos problemas históricos e sociais. O livro mostra de forma convincente que o primeiro argumento não se sustenta. Se é fato de que não há condições de se produzir no Brasil filmes com efeitos visuais como os de Hollywood – apesar de novas tecnologias digitais terem reduzido esta distância nos últimos anos –, por outro, isto não é tão importante assim, pois é possível contar boas histórias concentrando-se mais nos roteiros e interpretações. Ou seja, no aspecto mais dramático e de conteúdo do cinema.
Tomando como inspiração o artigo clássico de Fausto Cunha, “FC no Brasil, um Planeta Quase Desabitado”[1], Suppia nomeia o cinema brasileiro como de “atmosfera rarefeita”, mas não invisível dada a quantidade nada desprezível, resistente e contínua da prática de produções cinematográficas brasileiras de FC, mesmo que boa parte delas, em especial nos longas-metragens, tenham sido realizados sem a consciência ou intenção de serem identificados com o gênero. O fato é que o cinema enfrentaria uma dificuldade ainda maior do que a literatura de ser reconhecido e praticado, dado os custos altos exigidos pela arte cinematográfica, mesmo aquela realizada com orçamentos modestos.
Atmosfera Rarefeita, publicado em 2013, é uma obra de referência de qualidade inegável e coloca-se no mesmo patamar que Ficção Científica, Fantasia e Horror no Brasil, 1875-1950 (2003), de Roberto de Sousa Causo, tem para os estudos históricos e pesquisas sobre a literatura de FC brasileira.
O livro é ainda completado por dezesseis páginas coloridas de rico e raro material visual de produções brasileiras de FC, mas ficou incompleto pela ausência de uma listagem dos filmes citados e analisados, além de um índice remissivo, que seria de grande utilidade numa obra desenvolvida com tantas minúcias de informações, especialmente sobre filmes e realizadores.

– Marcello Simão Branco


[1] Publicado como capítulo extra do livro No Mundo da Ficção Científica (Science Fiction Reader´s Guide), de L. David Allen. Summus Editorial, 1975.

domingo, 10 de novembro de 2019

Aimó: Uma viagem pelo mundo dos orixás, Reginaldo Prandi

Aimó: Uma viagem pelo mundo dos orixás, Reginaldo Prandi. Ilustrações de Rimon Guimarães, 200 páginas. Selo Seguinte, Editora Companhia das Letras, São Paulo, 2017.

Tratar de mitologia africana não é novidade no ambiente da ficção fantástica brasileira, embora não seja também uma recorrência. De fato, há ainda uma grande defasagem entre as mitologias fundadoras de nossa cultura e as mitologias de matriz estrangeira quando falamos de ficção brasileira. A esmagadora maioria dos autores brasileiros sente-se pouco confortável com a cultura nativa até porque não a conhece: vive num ambiente aculturado, em que os valores estrangeiros, geralmente europeus, predominam. Por isso, é muito comum encontrarmos autores brasileiros no campo do fantástico trabalhando com mitologias grega, nórdica, japonesa e até nativas da região da América do Norte. É o que vemos no cinema, na tv, nos quadrinhos e na literatura dominante do gênero que, não por acaso, vêm exatamente do mercado anglo-americano que explora todas elas. Em alguns momentos, no ambiente dos autores, até se construíram discursos pró-nativos, de matizes modernistas, mas sempre houve uma forte corrente contrária que a acusava de ser patrulheira e pregar uma ficção estereotipada.
O que tem permitido o crescimento de obras literárias com temas africanistas no ambiente da ficção fantástica brasileira, além da laicização do mercado e da "explosão cambriana" na diversidade cultural, foi a cultura do "faça você mesmo" e, principalmente, a popularização dos processos editoriais. Hoje, diferentemente de todos os outros tempos, publica quem quiser e o que quiser. Com as facilidades editoriais, seja no acesso à impressão por demanda ou no crescimento da atividade literária no espaço virtual, os editores comerciais perderam boa parte do poder de determinar o que pode ou não ser publicado. Ainda há, é claro, um nó górdio na distribuição de livros reais, dominado por uma máfia voraz, mas há quem diga que as livrarias também já têm seus dias contados.
Ao longos dos últimos vinte anos, mais ou menos, formou-se um grande grupo de autores e leitores muito interessados em novidades, integrado pelo avanço da internet. Num primeiro momento, enquanto as grandes editoras ainda insistiam em ignorar esse grupo, os autores fizeram circular fanzines e livros independentes que ajudaram a crescer uma massa de leitores ao ponto de formar um mercado potencial. Timidamente,  autores ligados ao fandom começaram a aparecer nas livrarias e cada vez mais deles percebem que a ficção fantástica tem méritos suficientes para romper preconceitos.
Enfim, depois de muita luta, podemos dizer que as comportas abriram e a ficção fantástica não está mais restrita a um fandom especializado. Autores experientes, inclusive do mainstream, parecem entender as vantagens de trabalhar dentro da ficção especulativa, avançando especialmente no fantasia, que tem sido o gênero de melhor aceitação comercial.
Aimó: uma viagem pelo mundo dos orixás é um exemplo disso. Romance de autoria do sociólogo Reginaldo Prandi, autor paulista e estudioso da mitologia africana que escreveu o importante Mitologia dos orixás (2000, Companhia das Letras) e diversos outros volumes sobre cultura afro-brasileira, elabora uma fabulação singela que, de forma bastante didática, mostra como se fundamenta a religiosidade africana. Aimó não é seu primeiro romance no tema: Ifá, o adivinho (2002, Companhia das Letras), por exemplo, foi premiado em 2003 como Melhor Livro Reconto da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil.
Acompanhamos a jornada de Aimó, menina sem memória que, aos prantos, vaga pelo Orum, o mundo dos orixás. São tantas suas lágrimas que acabam por despertar Olorum, o maior dos orixás, que, sensibilizado pelo sofrimento de Aimó, encarrega Ifá e Exu para que apresentem à menina todas as orixás para que ela possa escolher uma delas como sua mãe espiritual e então reencarnar no Aiê, o mundo dos homens, e restaurar sua linhagem. Aimó inicia assim uma peregrinação por Orum, testemunhando, a partir das narrações de Ifá, as principais histórias de cada uma das orixás femininas e, no processo, também dos orixás masculinos. As narrativas de Ifá, sempre apresentadas em uma fonte diferenciada do estilo principal do texto, também expõem ao leitor as características doutrinárias do Candomblé, religião africana que deu origem às seitas praticadas no Brasil.
As ilustrações de Rimon Guimarães, de um estilo primitivista elegante, ajudam a construir o imaginário do Orum. Cada capítulo é introduzido por um dos signos do oráculo de Ifá (o jogo de búzios), detalhados num anexo no final do volume. Também aparecem em anexos: notas do autor, um glossário com termos das línguas nagô e iorubá citados no livro, e uma relação explicativa sobre cada um dos orixás.
O romance de Prandi, como integrante do selo juvenil da Companhia das Letras, tem o objetivo de levar ao leitor jovem algum conhecimento sobre esta que é a mais viva das mitologias modernas, extremamente influente na cultura brasileira. Contudo faz muito mais do que isso: traz também ao leitor experiente da literatura fantástica um das mais expressivas e esclarecedoras explicações sobre o Candomblé, seus fundamentos e seus personagens, integrando-os com naturalidade ao imaginário coletivo, sem proselitismos. Ao lado de O palácio de Ifê (2000, L&PM) e A estrela de Iemanjá (2009, Cortez), ambos da escritora gaúcha Simone Saueressig, Aimó: uma viagem pelo mundo dos orixás forma uma tríade da melhor ficção fantástica sobre orixás já apresentadas ao leitor brasileiro, leituras obrigatórias principalmente a autores que pretendem navegar por águas tão pouco conhecidas.
Cesar Silva

sexta-feira, 1 de novembro de 2019

Almanaque Entrevista


Roberto de Sousa Causo fala sobre os 30 anos de sua carreira literária e as perspectivas da ficção científica brasileira


por Marcello Simão Branco


Conheço o Causo desde setembro de 1987, faz tempo, a partir de uma reunião mensal do Clube de Leitores de Ficção Científica, em São Paulo. Artista e militante em tempo integral, fez tudo e mais um pouco em prol da ficção científica e fantasia no país desde então. O que se faz com as perguntas a seguir é além de celebrar a longevidade de sua carreira, reconhecer sua importância, que se confunde com a trajetória e desenvolvimento do gênero no país. Pois se ele, numa visão de conjunto, se estabeleceu como um dos nossos autores mais relevantes, tem uma contribuição multiforme, e não menos significativa: fã, fanzineiro, ilustrador, crítico e ensaísta, editor, tradutor, pesquisador acadêmico, organizador de eventos. Poucas pessoas têm uma condição semelhante em nossa comunidade, e também por isso – concorde-se ou não com algumas de suas posições e argumentos, que lhe renderam polêmicas pesadas no passado –, ele tem uma sólida legitimidade.
Na entrevista a seguir Causo repassa sua trajetória, em especial como escritor e suas principais características temáticas, as influências que recebeu e sua postura democrática e diversificada em relação à FC, em parte responsável também por sua abertura e disposição em realizar tantas atividades. Mas responde, principalmente, sobre aspectos mais recentes da FCB e suas perspectivas para que conquiste mais espaço editorial, leitores e renovação de autores e ideias, no intuito de almejar uma condição de mais reconhecimento no meio literário e cultural brasileiro.

Você completou 30 anos de carreira profissional em 2019 escrevendo FC&F no Brasil. O que isso significa para um escritor no qual os gêneros são tão pouco valorizados, e que tipo de paralelo é possível fazer entre a sua trajetória e a da FC&F brasileira neste período?

Carreiras nacionais com esse tempo são raras, então imagino que eu seja um sobrevivente dos percalços desse campo. Tem gente ainda em atividade de um modo ou de outro, que tem mais tempo de estrada: Finisia Fideli, Jorge Luiz Calife, Daniel Fresnot, Simone Saueressig, Carlos Emílio Correia Lima, Braulio Tavares; e contemporâneos meus, Gerson Lodi-Ribeiro, Fábio Fernandes, Henrique Flory e uns poucos outros. As coisas eram bem diferentes em 1989, as portas muito mais estreitas – tanto que minha estreia foi com um conto publicado na revista francesa Antarès, na qual também apareceram André Carneiro, Walter Martins, Calife e Lodi-Ribeiro.
Sou um autor típico da Segunda Onda da FC Brasileira, eu acho. Com influências populares, muita visualidade e um conhecimento da história, da evolução e das questões próprias da ficção científica e fantasia, que baliza a minha produção. Testemunhei o surgimento da Terceira Onda com algum atrito inicial, mas pela boa vontade de editores como Douglas Quinta Reis, Erick Sama, Richard Diegues & Gianpaolo Celli, Samir Machado de Machado, Claudio Brites, Duda Falcão & Cesar Alcázar e Nelson de Oliveira, pude contribuir para algumas das iniciativas características desse momento ainda vigente da FC brasileira – o steampunk, as séries de antologias originais, a fantasia folclórica. Mas acho que mantendo a minha cara e minhas áreas de interesse.
Tenho a impressão de que o rebuliço da Terceira Onda está decantando em algo próximo das características da Segunda Onda, quer dizer, cada autora ou autor encontrando o seu espaço temático e programático individual, numa chave de diversidade de abordagens e de influências. Nomes como Ana Cristina Rodrigues, Ana Lúcia Merege, Ana Rüsche, Cirilo S. Lemos, Christopher Kastensmidt, Eduardo Kasse, Enéias Tavares, Erik Novello, Fábio Kabral, Felipe Castilho, Giulia Moon, Leonel Caldela, Luiz Bras e Tibor Moricz tem um trabalho com características próprias, de abordagens definidas. A diferença – provavelmente mais de grau do que num plano estrutural em relação às coisas da Segunda Onda – é que o campo da literatura jovem representa uma força atratora particular com alguns elementos dominantes com uma pressão uniformizante que contrasta um pouco com esse quadro.

Uma de suas características sempre foi a versatilidade temática, com bom trânsito entre a FC, seus subgêneros, ramos da fantasia, e o horror. Exemplos temos em obras como Glória Sombria (FC espacial), Selva Brasil (história alternativa), Terra Verde (FC ambiental), A Corrida do Rinoceronte (fantasia contemporânea), Anjo de Dor e Mistério de Deus (fantasia sombria). Como você explica tal virtude na perspectiva de uma abordagem humanista e socialmente crítica presente nestas e em outras de suas histórias?

Fico contente que você enxergue a minha atividade assim. Como fã de ficção científica e fantasia, eu entendo esse campo como muito amplo e múltiplo, e nunca fez muito sentido pra mim assumir um único gênero ou tendência. O exemplo de Orson Scott Card, que escreveu e escreve com sucesso FC, fantasia e horror também foi importante pra mim, como um precedente de peso dessa atuação multifacetada.
A realidade também é múltipla, então não existe uma perspectiva literária que sozinha dê conta dela ou que a represente por inteiro – uma ilusão muito frequente do mainstream literário. Escrever em gêneros e subgêneros diferentes me permite abordar as coisas de maneira diferente e compor o meu próprio mosaico.
Caí na FC hard com o Universo GalAxis meio que por acidente, já que a minha formação em exatas é mínima. Mas a gente vive há algum tempo um bom momento da divulgação científica no Brasil, e a FC brasileira precisa refletir isso. Mais ainda na conjuntura atual, em que a produção científica e a contribuição da ciência para a política e para a informação dos cidadãos está ameaçada por fundamentalismos ideológicos, religiosos e de mercado.
Eu cresci durante a ditadura militar, com a censura às artes e às ideias, e por isso costumo dizer que tenho pouca paciência com conceitos como arte pela arte e hermetismo literário. A liberdade de dizer coisas impõe a necessidade de dizer coisas – no meu caso, é a denúncia dos azares da herança violenta da cultura brasileira, a desigualdade e a exploração do semelhante, a ameaça ao meio ambiente, e o isolamento moral de quem tenta ser correto em uma sociedade essencialmente corrupta.

Apesar de ter se consolidado como um autor profissional, você nunca esteve longe do fandom tendo, inclusive, surgido nos primórdios da Segunda Onda, no início dos anos 1980. Qual a importância do fandom em sua carreira, e como analisa suas transformações nestes 30 anos? Afinal em que sentido podemos afirmar que existe um fandom brasileiro de FC&F neste século XXI?

Acho que estou longe de ser um escritor estabelecido. Muita gente já ouviu falar de mim, mas pouca gente me leu.
O fandom é muito importante para mim. Me deu foco, motivação e base para entender a FC e a fantasia de maneira mais aprofundada, e me apresentou amigos e relações que enriqueceram a minha vida. As pessoas do meio, especialmente as que criticam o fandom, têm dificuldade em reconhecer o quanto ele constitui um ambiente frutífero de troca de ideias, uma institucionalidade informal necessária para a vitalidade de uma literatura, quando a institucionalidade formal do mainstream não supre as nossas necessidades específicas.
Era assim lá por 1997, quando eu defendia o fandom e era acusado de ser o guardião dos portões do gueto, e continua sendo assim hoje, em grande parte. De lá pra cá, nenhum de nós, pró ou contra o fandom, foi aceito pelo mainstream literário, embora tenha havido uma forte aproximação dele com todo o campo da ficção especulativa nacional. Daí, inclusive, a gente acompanhar com atenção o empenho de Nelson de Oliveira (que é pró-fandom, segundo eu entendo) em aproximar os dois campos – e como, inclusive, a sua cruzada pela renovação do mainstream pela FC acabou circunscrita ao universo das pequenas editoras. Por tudo isso, também observo com interesse como o pessoal da Terceira Onda tem reagindo à manifestação de Santiago Nazarian como porta-voz dos valores e da qualidade seletiva, exclusiva e autoritária do mainstream.[1]


Fã histórico da série de FC alemã Perry Rhodan, como ela incentivou e influenciou suas histórias? Nota-se, por exemplo, elementos palpáveis dela em sua série As Lições do Matador.

Perry Rhodan é um fenômeno editorial sem paralelo, e a mais vasta space opera de todos os tempos. Para manter esse fôlego, eles usaram muitos temas da FC, mesmo fora da space opera. Desse modo, ler Perry Rhodan na infância e adolescência foi como ter um curso intensivo sobre ficção científica, de um modo despretensioso. Um resultado disso é uma postura democrática, inclusiva e também despretensiosa, a respeito do gênero, que eu acredito que assimilei.
Na minha ficção, certamente herdei da série (e de outras influências) um componente idealista. Além disso, nas Lições do Matador, a premissa da luta dos humanos contra naves-robôs deve ter saído diretamente do primeiro e do segundo ciclo de Perry Rhodan, – eu até escrevi um ensaio enorme sobre isso, conectando o tema com o uso de drones de ataque na atualidade: “Combatendo Robôs”. Também deriva de Perry Rhodan a ideia da humanidade como o sangue novo, o arrojo que pode fazer frente aos alienígenas que comandam essas naves-robôs. Outra influência está na tendência em dividir a minha série em ciclos — até aqui, desenvolvidos simultaneamente. Meu protagonista, Jonas Peregrino, é, como Perry Rhodan, um líder não-ideológico que conquista a confiança dos subordinados pelo exemplo e pela retidão. A grande diferença é que Peregrino opera dentro de uma hierarquia, e nunca irá comandar a humanidade. Ele tem um lado sombrio e melancólico que Rhodan não tem.
Há outras inversões, quer dizer, estratégias que assumi até porque Perry Rhodan não responde a certas ansiedades literárias minhas. Enquanto as novelas que compõem os episódios da série alemã têm texto minimalista, eu gosto mais de textura, de densidade, daí apelar mais para o texto superescrito. Acho que eu queria tanto mergulhar no mundo dessa série, que o minimalismo da prosa não permitia, que acabei buscando o seu oposto.
Perry Rhodan tem um lado conciliador que me agrada muito – raramente há um conflito bélico total ou até a destruição do adversário. Civilizações derrotadas pela humanidade ressurgem como povos amigos e aliados. Mesmo assim, as principais ameaças são quase sempre alienígenas, e a união da humanidade se deu de maneira quase descomplicada. No meu universo ficcional, aparte os tadais e suas naves-robôs, os alienígenas em geral são amigos e mais avançados em termos éticos, enquanto são as divisões humanas que trazem as maiores dificuldades.
Quando Perry Rhodan foi iniciada, na década de 1960, a série expressou uma ansiedade de união da Europa contra a divisão ideológica do mundo entre Leste-Oeste e a sua ameaça de guerra nuclear. O nosso mundo atual vê a União Europeia e outras áreas do mundo – o Brasil e a América Latina entre elas – divididas de maneira ainda mais fragmentária, ideológica, politicamente rasteira e com elevada desigualdade econômica.

Alguns observadores têm defendido que a FC brasileira vive um bom momento. Você concorda? Se sim, seria em que sentido, em termos editoriais, de qualidade das obras publicadas, de uma nova geração de autores?

Em termos editoriais, certamente. O volume de publicações e variedade de iniciativas – editoras, coleções de livros e revistas eletrônicas – deixa os outros momentos da história da FC no Brasil no chinelo, mesmo admitindo que a maioria absoluta disso tudo seja estritamente semiprofissional. A diversidade de abordagens também é algo a se aplaudir – do pulp ao borderline, com a fusão do mainstream com a FC. Quanto à qualidade, escritores como Cirilo S. Lemos, Enéias Tavares, Luiz Bras e alguns outros não devem a autores dos outros momentos da nossa FC. Vale lembrar ainda que gente da Segunda Onda ainda está em atividade: Braulio Tavares, Carlos Orsi, Fábio Fernandes, Gerson Lodi-Ribeiro, Ivan Carlos Regina, Jorge Luiz Calife e Sid Castro, por exemplo.
Há de se lamentar algumas coisas, porém. A principal delas é a absoluta separação, tipo água e óleo, entre o topo da publicação de ficção científica no Brasil – que está nas editoras Aleph, Intrínseca, Morro Branco e Suma – e os autores brasileiros de FC. Estes estão presos, na maioria absoluta, a espaços semiprofissionais e à carência de investimentos editoriais e promocionais. É bem possível, inclusive, que as brigas e divisões dentro do fandom respondam por esse divórcio, assustando as editoras. De qualquer modo, é algo que elas precisam superar. A cultura brasileira não pode ser só um entreposto de produtos importados, e a publicação de FC também não.

De forma repetitiva, obras recentes da nossa FC tem se aproveitado de tendências ou modismos como, por exemplo, steampunk, new weird, new space opera, pós-humanismo, afrofuturismo etc. O que você pensa disso, principalmente na perspectiva da busca e expressão por uma FC mais brasileira, tema presente desde o fim dos anos 1980, mas ainda pertinente para a especulação sobre os problemas e perspectivas do Brasil?

Acho que aí temos algo um pouco problemático. Por conta de uma certa desaceleração e hiato na publicação de FC que você, eu e mais gente da Segunda Onda testemunhamos no fim da década de 1980 e durante a década de 1990, o pessoal da Terceira Onda se engajou, no começo deste século, em um processo bem intenso de atualização das tendências da FC e da fantasia. Esse é outro ponto positivo a se atribuir ao fandom, já que nada disso foi inicialmente abraçado pelas grandes editoras, que subiram nesse bonde bem mais tarde, e com traduções – como a Morro Branco e sua atualização da FC feminista. Coube às pequenas editoras, associadas ao fandom, essa tarefa de atualização, apelando em 90% aos autores nacionais. E alguns desses mesmos editores reconheceram mais tarde que era tanto modismo, que a FC/F nacional parecia a São Paulo Fashion Week (nas palavras de Marcelo Amado, da Editora Estronho).
Como eu já sugeri, esse processo acabou destilando tendências dominantes, especialmente o steampunk, que me parece mais apto a absorver aspectos brasileiros do que outras tendências – a história do país, sua geografia, cultura e suas figuras históricas. Obras como A Lição de Anatomia do Dr. Louison, de Enéias Tavares, e E de Extermínio, de Cirilo Lemos, são romances maduros que expressam o potencial da contribuição steampunk à FC brasileira.
É claro, no seu pior, tal esforço de atualização expressa uma subordinação cultural em relação ao que é produzido nos Estados Unidos e na Inglaterra. Isso também entra na frente da reflexão sobre explorações brasileiras que seriam contribuições originais ao gênero. Durante a Segunda Onda, nós testemunhamos a reação negativa de muitos setores à proposta dessa reflexão, e a Terceira Onda começou repetindo muitos dos argumentos contrários a ela, mas aos poucos foi se dobrando ao steampunk, à fantasia folclórica (a antologia do CLFC com a Editora Draco seria impensável junto às antigas lideranças do clube) e, mais recentemente, à FC jovem distópica ou representativa dos excluídos – como a gente vê, por exemplo, na edição especial sobre FC e fantasia brasileiras da revista eletrônica Strange Horizons. Me parece então que a questão levantada por Ivan Carlos Regina em 1988 – e por Walter Martins na década de 1960 – ainda está viva, mas de forma difusa, faltando apenas mais discussões abertas a respeito. Mas os fóruns também estão muito difusos hoje em dia, não é mesmo?
Daí a importância, inclusive, do evento “Ficção Científica Brasileira: 60 Anos de Manifestos”, organizado por Ana Rüsche, George Amaral e Elton Furlanetto em 1.º de dezembro do ano passado – uma discussão que, em torno de manifestos que vêm de 1958 ao presente, expressou a seriedade e senso de propósito que o gênero pode assumir no Brasil, e as principais linhas de tensão sentidos por ele na sua evolução e no seio do sistema literário do país. Uma discussão que vai muito além de desempenho de mercado e imitação de tendências.


Uma outra vertente interessante presente na FCB nos últimos anos é uma nova geração de pesquisadores e estudos acadêmicos. Embora ela possa contribuir na busca pela superação de preconceitos – especialmente nas universidades – e já tenha produzido trabalhos renovadores, ela não carece, de uma forma geral, de uma cultura mais abrangente sobre a FC, que estaria mais presente na geração de leitores forjada no fandom?

Olha aí, mais uma pergunta incisiva e crucial. Acho que aqueles acadêmicos que possuem essa cultura se destacam, como Ramiro Giroldo, Ana Rüsche e Alfredo Suppia. Eles e outros – aqueles voltados para o coletivo “literatura fantástica” ou “fantasismo”, como Bruno Anselmi Matangrano e Enéias Tavares – estão forjando mais pesquisadores com a mesma inclinação, eu suponho.
Dedicação exclusiva à FC como tópico acadêmico é algo difícil, nem sei se existe em centros mais dinâmicos como Estados Unidos e a Inglaterra. Todo mundo, eu acho, faz o seu malabarismo com muitos assuntos e teorias literárias. Mas eu me lembro daquela visita ao congresso da ABRALIC na USP em 1992, com um único painel sobre literatura fantástica e ficção científica, envolvendo três pesquisadores apenas (dois deles estrangeiros). Quando a gente compara com o congresso do Insólito Ficcional que visitei, graças ao Prof. Flavio García, ano passado na UERJ, com suas dezenas e dezenas de comunicações e conferências, fica claro que houve uma transformação radical na penetração desses assuntos no ambiente acadêmico brasileiro.
Acho que o uso mais utilitário da FC no meio acadêmico seria o de mera ilustração de teorias literárias e teorias da cultura, e tenho certeza de que isso acontece. Mas mesmo daí podem surgir contribuições interessantes.
Acho que sua pergunta traz embutida a questão de uma ausência de diálogo ou sinergia entre essa produção intelectual e a produção artística de FC no país. Tirando Libby Ginway, Ramiro Giroldo, Ana Rüsche e seu grupo, existem poucos acadêmicos com disposição de interagir com autores e fãs. Nesse evento da UERJ, Flavio García fez o gesto importantíssimo de incluir escritores/acadêmicos como conferencistas, sugerindo essa ponte tão importante. Mas não sei se você concorda, o fandom e os seus autores costumam ter um lado anti-intelectual, avesso ao contato com a academia e suas discussões, preferindo falar de mercado e tendências... Isso também está mudando, mas é preciso haver boa vontade para o diálogo, de ambas as partes, para que essa sinergia possa ser mais forte e produtiva.

O que vem pela frente? O que anda escrevendo, quais seus próximos projetos?

Terminei há pouco “Anjos do Abismo”, o terceiro romance das Lições do Matador. Já foi revisado, inclusive, por Carlos Angelo, e aguarda o melhor momento de ser apresentado à editora. O Desire Studio está trabalhando na revista em PDF Universo GalAxis Anual 2019, para promover o Universo GalAxis (do qual fazem parte As Lições do Matador e sua série-irmã, Shiroma, Matadora Ciborgue). Você, inclusive, tem um texto na revista.
A iniciativa de Duda Falcão junto à Editora AVEC, uma série de antologias originais chamada Multiverso Pulp, aceitou há pouco meu conto “Garimpeiros”, que narra uma aventura de Jonas Peregrino na Esquadra Colonial, ainda como tenente. Essa é uma nova frente para As Lições do Matador, e há pouco terminei uma noveleta ambientada em Marte, com uma aventura do cadete Peregrino ainda na academia militar. Além disso, trabalho no primeiro romance de Shiroma, Matadora Ciborgue, com o título de “Cerco em Ulaambaatar” – cuja primeira parte, “Phoenix Terra”, deve virar e-book pela Editora Mojuganide, do Desire Studio, com uma linda ilustração de capa de Carlos Rocha. E também já comecei o quarto romance das Lições do Matador, “Operação Nebulosa”, que deve equilibrar a space opera militar da série com uma space opera mais exótica, tipo Jack Vance.
Luiz Bras, o organizador da coleção Futuro Infinito, me pediu um livro de contos, e eu já entreguei “Brasa 2000 e Mais Ficção Científica”, que sai no fim de 2019 ou em 2020. E a Plutão Livros de André Caniato se prepara para trazer de volta minha noveleta “Patrulha para o Desconhecido” como e-book – ela foi uma das três histórias classificadas no primeiro concurso nacional de contos de FC, o Prêmio Jeronymo Monteiro da Isaac Asimov Magazine, onde apareceu pela primeira vez em 1991, como você deve se lembrar.
Enfim, eu ainda trabalho no projeto literário do Desire, o romance multivolume “Archin”, uma criação de Taira Yuji, o fundador do estúdio.




[1] Causo se refere ao artigo “A dura realidade da ficção fantástica”, de Santiago Nazarian, publicado na Folha de S. Paulo, suplemento “Ilustríssima”, em 29 de setembro de 2019, e a réplica “Ficção fantástica decola e ganha altura”, de Samir Machado de Machado, no mesmo jornal e suplemento, em 6 de outubro de 2019.

sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Ubik

Ubik (Ubik), Philip K. Dick. Tradução de Ludimila Hashimoto. Capa de Thiago Ventura e Luiza Franco. 238 páginas. São Paulo: Editora Aleph. Lançado originalmente em 2009, e com nova edição em 2019.

O que é ubik? Pergunta no fim do livro o desesperado personagem Joe Chip. Pode ser um eletrodoméstico, um pó de café, um remédio para dor de estômago, um desodorante... conforme é ilustrado nas epígrafes de cada capítulo. Mas ubik é tudo isso e muito mais.
O romance Ubik foi lançado originalmente nos Estados Unidos em 1969, e Philip K. Dick estava no auge de sua criação artística, tendo já escrito outros títulos clássicos como O Homem do Castelo Alto (The Man in the High Castle, 1962), Os Três Estigmas de Palmer Eldritch (The Three Stigmata of Palmer Eldritch, 1965) e O Caçador de Andróides (Do Androids Dream of Electric Sheep?, 1968). Neles o autor expandiu os horizontes da ficção científica com um vigor há muito não visto no gênero, refletindo sobre a condição humana e sua frágil compreensão do que é real ou ilusório, seja por meio da história alternativa, dos efeitos alucinógenos de drogas ou da convivência com androides. Nesse sentido, Ubik é uma espécie de ápice criativo, no qual o autor sintetizou o conjunto principal de suas temáticas e reflexões.
Estamos em 1992 e o homem coloniza a Lua e Marte no Sistema Solar. Na Terra, os utensílios domésticos interagem e cobram por seus serviços. Ainda mais estranho é a presença dos precogs, pessoas com poderes telepáticos e precognitivos que trabalham para empresas para fins particulares, como a descoberta de segredos e a espionagem. A empresa Glen Runciter e Associados é uma do tipo chamada de prudência, pois seus agentes — chamados de inerciais — atuam anulando os poderes dos paranormais com poderes ativos. Os grupos prestam serviços e concorrem entre si, cada um efetuando um tipo de trabalho que interfere no trabalho do outro. Por isso, a rivalidade entre eles é muito grande.
Além disso, depois que as pessoas morrem podem ainda ser salvas da perda final, se colocadas numa espécie de bolsa térmica até poucas horas depois do falecimento. São inseridas numa espécie de câmara de sobrevivência, em temperaturas baixíssimas e ficam numa condição entre a vida e a morte, chamada de meia-vida. O mais incrível é que elas podem se comunicar com os vivos, por meio de dispositivos eletrônicos. E se não forem acionadas para estas conversas com frequência podem, eventualmente, ser encarnadas, de volta à vida. Pense por um instante o quanto isto seria revolucionário!
A esposa de Runciter está nessa condição num moratório em Zurique. Depois de voltar de lá, em Nova York, ele recebe o grupo de inerciais para uma reunião. Chip os apresenta a Pat Conley, uma garota que tem o poder de reverter um evento para momentos antes de ele ocorrer. Além disso, recebem um misterioso trabalho para ser executado por todos os membros na Lua. Mas logo depois de lá chegarem descobrem que caíram numa armadilha e são alvos de um atentado. A partir deste evento os fenômenos da realidade e do tempo começam, pouco a pouco e cada vez de forma mais vigorosa, a se embaralhar.
Runciter foi atingido mortalmente e não houve tempo de colocá-lo em meia-vida. Os demais membros são agora liderados por Joe Chip, mas eventos estranhos começam a acontecer com cada um deles. Pouco a pouco eles vão definhando, perdendo suas forças até a morte. Chip tenta entender o que se passa e recebe estranhas mensagens de Runciter, nos lugares mais inusitados como num espelho de banheiro, no telefone e em rótulos de produtos de consumo. Mas são apenas pistas que, aparentemente, mais o perturba do que ajuda a esclarecer a situação. Os objetos começam a apodrecer e logo se percebe que pertencem ao passado imiscuídos no presente. Um processo de regressão começa a ocorrer com o passado se misturando ao presente, como que tomando o seu lugar sem que seja uma espécie convencional de volta no tempo.
O ponto final de regressão, agora completo, é 1939. Chip e os inerciais ainda vivos estão reunidos para o funeral de Runciter. Mas descobrem que, na verdade, não é Runciter que morreu. Toda esta realidade regressiva acontece na realidade daqueles que estão em meia-vida, através de Jory, uma das pessoas do moratório de Zurique que, como se fosse um vampiro, precisa sugar as meias-vidas das pessoas que lá estão para manter a sua própria.
Chip desconfiava de Pat Conley e ela mesma, ingênua, acreditava que ela era a responsável já que na verdade era uma espiã infiltrada no grupo de Runciter. Mas todos pouco a pouco vão perdendo suas meias-vidas. Até que entra em cena, por meio da comunicação de Runciter, o ubik, uma lata de spray que interrompe o processo de regressão e preserva as pessoas no estado de meia-vida. Seria uma criação das pessoas em meia-vida, numa tentativa de enfrentar a volúpia de Jory.
Assim como Chip e os demais personagens em boa parte da história somos conduzidos a uma completa desorientação. Que mesmo que revelada depois, só nos coloca em outras situações desorientadoras e difíceis de aceitar. Por exemplo: depois do acidente Chip e seus colegas descobrem que as moedas que usam têm a efígie de Runciter. E o que pensar quando, posteriormente, Runciter vê as suas moedas com a efígie de Chip?
Ubik vem de ubiquidade, daquilo ou daquele que está em toda parte, e por isso cumpre esta função de manter uma realidade pós-vida, evitando uma morte definitiva. É mais que isso, porém. Torce o conceito de realidade em que nos amparamos e apresenta uma nova perspectiva onde as fronteiras da vida e da morte se perdem. No fundo a discussão subjacente é da complexidade da mente humana. De como o nosso entendimento racional daquilo que compreendemos como realidade, é também uma construção mental, sobretudo, talvez, do racionalismo cartesiano do Ocidente. Isso porque Ubik não é a primeira e nem a última história do autor a tratar de tais temas, sendo notória a sua tentativa de compreensão mais expandida da realidade por meio de uma concepção, diria, mais voltada ao budismo e suas outras ramificações orientais.
No contexto deste, digamos, diálogo sutil e implícito entre concepções ocidentais e orientais do significado do real e da existência, a última epígrafe é a mais eloquente e enigmática:

Eu sou Ubik. Antes que o universo fosse, eu sou. Eu fiz os sóis. Eu fiz os mundos. Eu criei as vidas e os lugares que elas habitam. Eu as transfiro para cá, eu as ponho ali. Elas seguem minhas ordens, fazem o que mando. Eu sou o verbo e meu nome nunca é dito, o nome que ninguém conhece. Eu sou chamado de Ubik, mas este não é o meu nome. Eu sou. Eu Sempre serei.” (pág. 237).

Ubik também é agradável porque Dick tem uma prosa limpa, fluente, sem firulas. De forma paradoxal tem um texto elegante para tratar de assuntos tão complexos. Se pensarmos no tour de force temático de O Caçador de Androides, um romance inteiro que se passa num único dia, veremos que esta obra tem o mesmo tom limpo e econômico. Possivelmente fruto deste momento de sua carreira, já que nem sempre o autor apresentou tal clareza em expor suas ideias.
A obra já era conhecida do leitor brasileiro mais aficcionado, através da publicação em Portugal, na coleção de ficção científica da Europa-América, em seu número seis, em 1980. Mas a sua nova publicação em 2019 no Brasil pela editora Aleph é dos mais relevantes porque Ubik é um romance fundamental, tanto para o universo da ficção científica como fora dele.
— Marcello Simão Branco



quarta-feira, 18 de setembro de 2019

Prêmio ABERST 2018

Instituído pela Associação Brasileira dos Escritores de Romance Policial, Suspense e Terror, aponta os melhores trabalhos publicados pela primeira vez entre 1 de Julho de 2017 e 30 de Junho de 2018 especificamente inscritos para o certame.
Foram eles:
Romance policial:  O casamento, de Victor Bonini;  Faro Editorial;
Romance de horror: Bile negra, de Oscar Nestarez, edição do autor;
Novela de horror: O capeta-caolho contra a besta-fera, de Everaldo Rodrigues, edição do autor;
Conto policial: "Os crimes das dez pras duas", de Duda Falcão, in Narrativas do medo 2, Copabook, selo Neblina Negra;
Projeto Gráfico: O casamento, de Victor Bonini;
Conjunto da Obra: Rubens Francisco Lucchetti.
A cerimônia de entrega aconteceu no dia 27 de outubro de 2018 no auditório da Unibes Cultural, em São Paulo.

domingo, 15 de setembro de 2019

Prêmio Odisseia 2019

O congresso de ficção fantástica Odisseia, criado em 2011 pelos escritores Duda Falcão, Cesar Alcázar e Christopher Kastensmidt, realizou em 2019 a entrega da primeira edição do Prêmio Odisseia de Literatura Fantástica, distribuindo troféus em sete categorias aos favoritos de um juri composto pelos escritores Christian David, Duda Falcão e Nikelen Witter, selecionados em uma relação de obras publicadas em 2018 especificamente inscritas para o certame.
Os vencedores foram anunciados no dia 25 de agosto de 2019, em cerimônia oficial durante a sexta edição do evento.
São eles:
Narrativa Longa Literatura Juvenil: Orlando e o escudo da coragem, Ana Lúcia Merege, Editora Draco.
Narrativa Longa Horror: Nihil, Carolina Mancini, Editora Estronho.
Narrativa Curta Horror: "Madres", Isabor Quintiere, A cor humana, Editora Escaleras.
Narrativa Longa Ficção Científica: Corrosão, Ricardo Labuto Gondim, Editora Caligari.
Narrativa Curta Ficção Científica: A invasão dos macacos, Saulo Adami, Editora DTX.
Narrativa Longa Fantasia: O auto da maga Josefa, Paola Siviero, Dame Blanche.
Narrativa Curta Fantasia: Oceano sorvete de uva, Gabriel Cianeto, Editora Multifoco.
Cesar Silva

Prêmio Le Blanc 2019

No dia 9 de maio de 2019, aconteceu a entrega da segunda edição do Prêmio Le Blanc para os melhores trabalhos de 2018 nas categorias literatura fantástica, quadrinhos, animação e jogos. A entrega aconteceu durante a Semana Internacional de Quadrinhos (SIQ) na Escola de Comunicação da UFRJ.
O Prêmio Le Blanc é uma promoção da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ECO/UFRJ) e da Universidade Veiga de Almeida (UVA).
Eis os vencedores:
Romance nacional: Auto da maga Josefa, Paola Lima Siviero, Editora Dame Blanche.
Antologia nacional: Fractais tropicais, Nelson de Oliveira, org., Sesi-SP Editora.
Romance traduzido: Despertar, Octavia Butler, Editora Morro Branco.
Antologia traduzida: Crônicas de espada e feitiçaria, Gardner Dozois, Editora LeYa Brasil.
Quadrinho independente nacional: The guardian: Em busca da luz, Gustavo Piacentin. 
Quadrinho nacional: Bartolomeu, Victor Moura, Editora Caligari.
Quadrinho traduzido: Mort Cinder, Alberto Breccia, Editora Figura.
Série de tiras nacional: Mar menino, Paulo Moreira.
Animação nacional: Superdrags, Combo Estúdio.
Animação longa: Tito e os pássaros, Gustavo Steinberg, Gabriel Bitar & Andre Catoto Dias. 
Animação nacional curta: Gravidade, Amir Admoni.
Animação publicitária: "A queda", Zombie Studio/Hospital do Amor.
Jogo nacional mobile: Dandara, Raw Fury.
Jogo nacional console: Sword Legacy: Omen, Firecast Studio; Fableware: Narrative Design.
Cesar Silva

Prêmio Le Blanc 2018

A Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro-ECO/UFRJ e a Universidade Veiga de Almeida-UVA anunciaram, em cerimônia oficial realizada no Rio de Janeiro no dia 11 de maio de 2018, os vencedores do I Prêmio Le Blanc de Arte Sequencial, Animação e Literatura Fantástica para lançamentos em 2017, promoção ligada à Semana Internacional de Quadrinhos-SIQ. 
Diz o texto de divulgação: "André Le Blanc foi um artista haitiano com passagens no Brasil e nos Estados Unidos, cuja obra aqui lhe fez merecedor da Ordem do Cruzeiro do Sul. Além de ter trabalhado com concept design de animação, Le Blanc foi o responsável pelas mais icônicas ilustrações da obra infantil de Monteiro Lobato e um dos nomes mais importantes entre os ilustradores que adaptaram clássicos da literatura brasileira para quadrinhos na revista Edição Maravilhosa, da extinta editora Ebal. O prêmio Le Blanc é uma homenagem a esse grande artista, brasileiro de coração".
O prêmio foi apurado em consulta popular pela internet. São estes os vencedores:
Literatura
- Romance: Guanabara Real: Alcova da morte, Enéias Tavares, Nikelen Witter,‎ Andre Zanki Cordenonsi, Avec;
- AntologiaMitografias, Vol. I: Mitos modernos, Leonardo Henrique Tremeschin, Andriolli Costa e Lucas Rafael Ferraz, orgs., independente;
- Romance estrangeiro: Jardins da Lua, Steven Erikson, Arqueiro;
- Antologia estrangeira: Mulheres perigosas, George R. R. Martin, org., LeYa/Omelete
Animação
- Série: Irmão do Jorel, Juliano Enrico, Copa Studio;
- Longa: Historietas assombradas (para crianças malcriadas), Victor Hugo Borges, dir., Copa Studio;
- Curta: Trevas à parte, Maurício Maia, dir., Estúdio Escola de Animação;
- Animação publicitária: Abertura Novo mundo; Luciana Jordão/Leonardo Fleuri, dir., Koi Factory.
Histórias em Quadrinhos
- Comercial: A infância do Brasil, José Aguiar, Avec;
- Independente: Necromorfus, Gabriel Arrais e Rafael Vasconcellos Leite;
- Série: Linha do trem, Raphael Salimena;
- Estrangeira: Alena; Kim W. Andersson, Avec.
Cesar Silva