terça-feira, 21 de dezembro de 2021

Chung Li: A Agonia do Verde

Chung-Li: A Agonia do Verde (The Death of Grass), John Christopher. Tradução: Luiz Horário da Mata. Capa: Raul Rangel. 199 páginas. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves Editora, Coleção Mundos da Ficção Científica n. 19, 1980. Lançamento original de 1956.



Desde 2020 estamos imersos na pandemia da covid-19, nome científico para um vírus gripal que já dizimou cerca de 5 milhões e 200 mil pessoas em todo o mundo, quando escrevo, em dezembro de 2021. Apesar do avanço da vacinação já ter produzido bons resultados, a desigualdade no acesso a elas e o surgimento de novas cepas tem ameaçado a retomada da vida, ao menos próxima, da que existia antes deste evento trágico.

Pois este romance também aborda a tragédia e as consequências do surgimento de um vírus. É Chung-Li, e recebeu este nome porque, justamente, surgiu na China. Mas, em vez de ameaçar a vida humana diretamente, ele é extremamente letal contra todas as formas de gramíneas, incluindo arroz e trigo, as mais consumidas.

A praga se espalha rapidamente no Sudeste Asiático provocando o colapso da economia e a fome generalizada. Os países desenvolvidos enviam ajuda, mas quando o vírus chega às suas fazendas e plantações, tudo muda. Chung-Li destrói todas as formas de grama e, rapidamente, falta alimentos de todos os tipos e a fome se torna crônica.

O romance é narrado a partir de John Custance, um engenheiro que, após ser informado que Londres seria bloqueada para a saída, foge com sua família, a de seu amigo Roger Buckley e, inesperadamente, do vendedor de armas Pirrie e sua esposa. O objetivo do grupo é chegar a Westmorland, onde está situada a fazenda do seu irmão David.

A história acompanha o drama do grupo e, no caminho, eles se dão conta de que terão de deixar de lado seus valores morais, lutando para sobreviver matando sempre que possível. Assim, John se torna o líder e não deixa de ser chocante constatar como ele se transforma de um cidadão responsável e de personalidade amigável, em um líder frio e resoluto, o que não deixa de espantar seu amigo Roger e, principalmente, sua esposa Ann.

A fuga súbita e desesperada do grupo foi motivada, contudo, menos pela possibilidade de ficarem presos na capital britânica, mas pelo vazamento da informação de que o governo jogaria nas principais cidades do país bombas de hidrogênio para eliminar aproximadamente metade da população, cerca de 25 milhões de pessoas. Segundo este plano sinistro, metade do problema da fome estaria ´resolvido´. Esta decisão chocante e inverossímil causou grande polêmica entre os leitores quando da publicação da obra, em capítulos no The Saturday Evening Post. De fato, mesmo numa situação extrema como esta de colapso alimentar seria muito improvável que tal atitude fosse tomada, ainda mais num país de sólida tradição democrática. Ora, poderia ser declarado um Estado de sítio, com a suspensão das garantias constitucionais: restrição rígida de mobilidade, bloqueio de cidades e vias de acesso, toque de recolher, isolamento social, distribuição de pontos de racionamento de alimentos, mobilização das Forças Armadas para ocupar e policiar o território, fechamento de fronteiras etc. Como nada disso foi colocado em prática, o governo foi derrubado e um comitê civil improvisado assumiu o poder. É curioso que em nenhum momento Christopher faz alusão à família real e o que poderia ter acontecido com ela.

Como se percebe, o livro é contado dentro da realidade do Reino Unido, embora, em certo momento, o grupo ouve por um rádio que os Estados Unidos e a Austrália, ao que parece, eram os únicos lugares do mundo em que a civilização se mantinha precariamente em pé, com a adoção do pacote de medidas autoritárias citadas acima. Mas não só a Inglaterra, mas toda a Europa regrediu inexorável e rapidamente à barbárie da anarquia e luta crua pela sobrevivência: sem leis, sem Estado, sem energia e sem comida.

Esta história de pós-apocalipse ambiental aborda o tema de uma praga viral e é comparável com o clássico Só a Terra Permanece (Earth Abides; 1948), de George R. Stewart (1895-1980). Se neste, o vírus quase exterminou os seres humanos, aqui o efeito é indireto, mas não menos catastrófico.

Numa época em que a maior parte dos romances de pós-apocalipse abordava o pesadelo de um holocausto nuclear, Chung Li: A Agonia do Verde apresenta uma variação interessante e chocante do tema, ao lembrar que podemos estar sujeitos a uma situação deste tipo. E a pandemia do novocoronavírus, em certo sentido, mostra isso. Afinal, uma das possibilidades aventadas para o seu surgimento está relacionado com os intensos métodos de produção industrial da agricultura e da pecuária que, produzidos em escala maciça e padronizada, reduziriam a heterogeneidade genética, tornando grãos, vegetais e animais mais suscetíveis e fragilizados diante do surgimento de um novo vírus. Além disso, e não menos importante, os cada vez mais sofisticados pesticidas também contribuiriam com o problema. De fato, no próprio romance é justamente o desenvolvimento de um novo agrotóxico para combater a quinta cepa do vírus é que acaba, ao contrário, tornando a praga definitivamente mortal.

Ao que parece, iremos conviver com novas variantes da covid-19 e outros vírus que virão, em parte como consequência do modelo consumista e predatório de civilização capitalista que a humanidade vem praticando em escala global. Nesse sentido, este romance competente de John Christopher mantém-se, de forma perturbadora, muito atual e espero que não seja presciente do que virá.

John Christopher é, na verdade, um dos vários pseudônimos usados pelo escritor Sam Youd (1922-2012), que variou sua obra entre romances de FC com forte crítica social e aventuras infanto-juvenis. E o que torna Chung-Li: A Agonia do Verde – aliás, que belo título escolheram para a versão da obra entre nós –, tão efetivo é também a sua prosa limpa, econômica, objetiva. O que não reduz a construção densa e verossímil dos personagens e as situações dramáticas mostradas na história.

O romance recebeu uma adaptação para o cinema com o título de A Mais Cruel Batalha (No Blade of Grass; 1970), dirigida por Cornel Wilde, lançada no Brasil mas raríssimo de ser vista, e é o único livro do autor publicado em nosso país. Em Portugal recebeu o título de A Última Fome, na Coleção FC Europa-América n. 4. Além disso esta coleção publicou Os Dias do Cometa (The Year of the Comet; 1955) (n. 14) e Os Possessores (The Possessors; 1964) (n. 8). Já outra editora lusa, a Presença, publicou em sua coleção Volta ao Mundo, As Montanhas Brancas (The White Mountains; 1967) (n. 7), A Cidade de Ouro e Chumbo (The City of Gold and Lead; 1967) (n. 8) e O Poço de Fogo (The Poll of Fire; 1968) (n. 9), livros que compõe a série de FC infanto-juvenil “The Tripods”. Vale a pena procurar e ler estes também.

John Christopher mostra que há escritores de FC interessantes e necessários, entre os não muito conhecidos. E isso fica claro especialmente com Chung Li: A Agonia do Verde, pois é o tipo de obra que ecoa perfeitamente o argumento de Ray Bradbury (1920-2012), de que a melhor FC é aquela que nos alerta sobre problemas que podem ocorrer. Para que possamos, ao menos, tentar evitá-los.

Marcello Simão Branco



quinta-feira, 25 de novembro de 2021

Os Sete Dedos da Morte


 Os Sete Dedos da Morte (The Jewel of Seven Stars), de Bram Stoker. Tradução: Stefania A. Lago. Capa: Anderson Junqueira. 261 páginas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2021. Lançamento original em 1903.

 

Quando este romance foi publicado Bram Stoker (1847-1912) já era um escritor reconhecido no Reino Unido, após seu sucesso com Drácula (1897). Em Os Sete Dedos da Morte, o autor prossegue em sua linha de explorar o horror sobrenatural num teor culturalista, diria não ocidental. Pois se em Drácula, o contexto em que surge o protagonista é a pouco conhecida Europa Oriental, neste toda a história é trabalhada a partir da perspectiva da cultura e mitologia do Egito antigo.

Sim, estamos diante de um livro sobre a múmia. Mas não se trata de uma história sobre a monstruosidade em si, mas sim dos possíveis efeitos do conhecimento e seus poderes ocultos a partir dela. Nesse sentido, se em Drácula o foco se concentra mais nas ações do protagonista – um estranho que desestabiliza a sociedade londrina do fim do século XIX – em Os Sete Dedos da Morte, o enredo se desenvolve através dos mistérios em torno da cultura egípcia.

O arqueólogo Abel Trelawny é encontrado ferido e inconsciente por sua filha dentro do seu quarto. Abalada, ela chama a polícia londrina e Malcom Ross, um advogado que ela conhecera recentemente e que se revelara seu amigo. Trelawny tem ferimentos nas mãos e na cabeça e jaz deitado no chão perto de um cofre. Em princípio, a história se move em torno deste mistério e várias hipóteses de investigação são postuladas para se descobrir o que poderia ter acontecido.

Narrado em primeira pessoa por Ross, temos uma perspectiva externa ao drama do pai e sua filha, Margaret Trelawny que, como logo deixa claro o personagem, está apaixonado por ela, daí seu verdadeiro interesse em ajudá-la, embora ela ainda não saiba disso. Ross praticamente muda para a casa dos Trelawny e se envolve completamente em seu duplo objetivo: descobrir o que aconteceu com o arqueólogo e, principalmente, conquistar Margaret.

O romance começa a adquirir uma conotação mais interessante quando, mesmo sob vigília de Ross, Margaret e outras pessoas, o evento se repete. Todos ficam inconscientes e quando despertam, o arqueólogo é visto no chão e cheio de machucados. A partir deste momento, a polícia e os demais passam a associar o mistério à atividade de Trelawny. Ou seja, de algum modo, haveria uma influência de pessoas ou elementos sobrenaturais no desencadeamento do evento. A casa toda, de estilo gótico, está cheia de peças trazidas do Egito: enfeites, pedras, ornamentos, um cofre, e as múmias de uma mão, de um gato e, descobre-se depois, um sarcófago contendo, simplesmente, a múmia da rainha Tera, que havia governado há cinco mil anos.

Contudo, a história assume diretamente seu caráter de horror ou fantástico quando Abel Trelawny desperta do seu coma que, vem a se saber foi, de fato, provocado, por suas experiências relacionadas à Tera. Pois ele e seu parceiro, o também arqueólogo Corbeck, estiveram várias vezes no Egito, e de lá trouxeram todas as peças que faziam da residência um autêntico museu. Segundo o que eles descobriram, a múmia teria um plano para reviver e, de alguma forma, eles teriam interferido. De qualquer forma, ao modo dos dois pesquisadores, a intenção era a mesma: testar a possibilidade de ressuscitar a rainha Tera e, com isso, eventualmente, descobrir segredos perdidos que poderiam trazer novos conhecimentos – ou ameaças, mas valia correr o risco – para a humanidade.

Como se percebe o livro trabalha o confronto entre a cultura ocidental – mostrada como mais “civilizada” – e uma cultura oriental, no momento decadente e subjugada, mas, que no passado teria experimentado um desenvolvimento e esplendor ainda não atingido pelos europeus. A história mostra o fascínio dos personagens diante de um desconhecido que pode trazer poder e destruição. No fundo, mais uma vez, estamos diante, da crença de que em momentos longínquos e controversos a humanidade teria tido conhecimentos que, por razões misteriosas, se perderam. Assim, os europeus estariam na missão de reconstruir estes saberes e, desta forma, haveria uma justificativa para explorar a fundo seus mistérios. Nem que com isso, violassem e destruíssem as instalações de culturas antigas, no caso em questão, a dos egípcios.

Claro que é preciso levar em consideração o contexto histórico, mas não deixa de incomodar o desplante com que Trelawny e Corbeck furtam descaradamente os templos sagrados dos egípcios, como se tivessem algum direito sobre isso. Não só violam a câmara funerária de uma antiga governante, mas a levam embora para Londres! E para uma residência particular! Tudo isso, mostrado com a maior naturalidade, revela a postura imperialista dos britânicos naquele período histórico. No contexto contemporâneo seria impensável e injustificável ações como as realizadas durante a narrativa.

Para realizar a experiência, aos dois arqueólogos se unem Malcom Ross, Margareth e o doutor Winchester, que havia cuidado de Abel, numa casa afastada na região litorânea da Cornualha. A esta altura, também, a narrativa quase se equilibra entre o objetivo fantástico da missão e a paixão do advogado, cada vez mais preocupado com a transformação na personalidade de sua amada: de uma mulher tímida e insegura, para uma entusiasmada pelo mistério da missão, e ora carinhosa, ora distante. Pois como se percebe, há uma estranha e cada vez mais evidente coincidência entre a suposta personalidade de Tera e a da filha do arqueólogo.

Para além da ação competente, há no romance descrições profundas e contextualizadas do conhecimento da arqueologia da época sobre o Egito antigo. Pode-se dizer, talvez, que Stoker era um apaixonado pelas culturas orientais, e pesquisou bastante, o que traz um grau de realismo e verossimilhança que chega a impressionar. Mas sem tirar o viés fantástico da trama que tem o seu desfecho após uma longa preparação de todos.

De saída, talvez o leitor tenha estranhado que o título nacional guarda pouca relação com o original: de A Joia das Sete Estrelas se chamou Os Sete Dedos da Morte. Mas ambos são válidos. No primeiro se valorizou o rubi que daria poderes ao renascimento da múmia, e no segundo ao estranho fato de que a rainha tinha sete dedos em uma de suas mãos – justamente a decepada e separada do corpo. Talvez a intenção tenha sido a de sugerir um romance mais voltado ao horror. Mas ao ler a história, embora seja um texto do gênero, ele segue uma linha fantástica, até óbvia por abordar eventos sobrenaturais a partir de uma cultura misteriosa.

Os Sete Dedos da Morte têm dois finais diferentes. Na edição original de 1903 há um capítulo a mais do que a versão de 1912, esta que foi traduzida aqui no Brasil. Houve certa polêmica na época pelo fato de Stoker ter relançado a obra com um final menos chocante ao leitor médio. De fato, o final da história se revela pacífico para os participantes da experiência, embora deixe no ar uma interessante ambiguidade com relação à nova personalidade assumida por Margareth Trelawny e o destino da rainha Tera.

Todas estas possibilidades foram, de qualquer forma, trabalhadas nas várias adaptações audiovisuais da obra. Entre outras, talvez a melhor tenha sido a primeira: Sangue no Sarcófago da Múmia, da produtora inglesa Hammer, em 1971. Outras que vale a pena conhecer são: O Despertar (1980), A Tumba (1986) e A Lenda da Múmia de Bram Stoker (1998). Programas de TV e de rádio também a adaptaram, mostrando que a obra é uma das principais referências no subgênero da múmia.

Este livro faz parte da “Coleção Mistério e Suspense”, da editora Nova Fronteira e tem sido vendida em bancas de jornais, onde eu comprei meu exemplar. Outros autores interessantes na coleção já publicados são Henry James (A Outra Volta do Parafuso), H.P. Lovecraft (O Sussurro nas Trevas), Joseph Conrad (O Coração das Trevas), Gaston Leroux (O Fantasma da Ópera), Robert Louis Stevenson (O Médico e o Monstro), H.G. Wells (O Homem Invisível), Mary Shelley (Frankenstein), e além de Os Sete Dedos da Morte, mais dois de Bram Stoker: Drácula (em dois volumes) e a coletânea O Hóspede de Drácula e Outros Contos Estranhos. Embora sejam todos livros já publicados anteriormente – talvez com a exceção da coletânea de Stoker – vale a pena ler, reler ou colecionar, a depender do grau de interesse de cada um. E adicionado pelo fato das edições terem uma diagramação muito bonita. A conferir se outros títulos serão lançados.

 

Marcello Simão Branco


quarta-feira, 3 de novembro de 2021

A Virgem e os Mortos (A Virgin Among the Living Dead, França, 1973)

 


“Gosto de noites escuras. Lembre-se, os abutres sobrevoam os locais de morte. Eu quase ouço o barulho de suas asas.”

 

O cineasta espanhol Jesús Franco (1930 / 2013) tem um currículo imenso como diretor e roteirista, principalmente de filmes bagaceiros de horror com qualidade questionável e orçamentos reduzidos. Vários deles em parceria com o ator suíço Howard Vernon, como “A Virgem e os Mortos” (A Virgin Among the Living Dead (França, 1973).

 

 A jovem Christina Benton (Christina von Blanc) recebe a notícia da morte misteriosa de seu pai, Ernesto (Paul Muller), que não conhecia pessoalmente, e vai para o sinistro e isolado castelo de sua família num local remoto para participar da leitura do testamento. Chegando lá, ela conhece seu tio Howard (Howard Vernon) e outros parentes como a tia (Rosa Palomar) e a bela Carmencé (a portuguesa Carmen Yazalde, creditada como Britt Nichols), além do tosco empregado Basilio (muito bem interpretado pelo diretor Jesús Franco), que fala com dificuldade e tem um comportamento estranho, e da jovem Linda, uma misteriosa garota cega (Linda Hastreiter). Christina sofre com pesadelos terríveis e mistura o tempo todo a realidade com devaneios onde mensagens de seu pai falecido, alertando-a dos perigos que rondam o castelo e a estranha família.

 

“A Virgem e os Mortos” é um título que já é “spoiler” ao revelar o drama da mocinha atormentada pelos mortos-vivos do castelo. É um daqueles filmes “exploitation” bagaceiros cujos cartazes promocionais chamativos despertam a curiosidade (é só ver a bela capa do DVD nacional), além de uma história com elementos interessantes envolvendo o mistério de uma família bizarra num castelo gótico com atmosfera onírica perturbadora. Só que o filme entrega um pouco menos do que se espera pelas boas premissas. O ritmo narrativo é algumas vezes excessivamente lento e a confusão constante entre realidade e pesadelo atrapalha o entendimento da história.

Por outro lado, temos uma boa dose de cenas de nudez das belas atrizes, especialmente Christina von Blanc, que é muito bonita, mas que teve uma carreira bem curta. E além do desfecho pessimista e carregado com uma atmosfera macabra, existe um desconfortável sentimento de morte e horror na maior parte do tempo, acentuado pelas boas atuações dos experientes atores Howard Vernon e Paul Muller, que interpretaram respectivamente o tio misterioso e o pai suicida da protagonista Christina.

Vale a pena registrar duas cenas em especial, que se destacam de forma convincente na construção de um clima de horror, ambas com o ator Paul Muller fazendo aparições fantasmagóricas ao se comunicar com a filha em suas visões. A primeira ocorre na floresta que cerca o castelo, onde ele com uma bizarra corda no pescoço se movimenta para trás como um cadáver flutuando em meio às árvores, e a outra cena é quando ele está sentado numa cadeira e é arrastado para a escuridão pela sinistra “Rainha da Noite” (Anne Libert), se ocultando no limbo das sombras.

 

O filme foi lançado em DVD no Brasil pela “Vinny Filmes” em Janeiro de 2012, na coleção “Clássicos do Terror”, sem material extra, numa versão reduzida com 75 minutos de duração. Existe outra versão com cenas adicionais dirigidas pelo francês Jean Rollin.

 

(Juvenatrix – 03/11/21)





segunda-feira, 25 de outubro de 2021

As Filhas de Drácula (Twins of Evil, Inglaterra, 1971)

 


“Nós andamos na Terra, mas só existimos no inferno.” – Condessa Mircalla.


O livro “Carmilla”, do irlandês Sheridan Le Fanu (1814 / 1873), apresentando vampiras sensuais e sedutoras, serviu de inspiração para a “trilogia Karnstein”, produzida pelo estúdio inglês “Hammer” no início da década de 1970. A trinca de filmes é formada por “Camilla, a Vampira de Karnstein” (The Vampire Lovers), de Roy Ward Baker e com Peter Cushing e Ingrid Pitt, “Luxúria de Vampiros” (Lust For a Vampire), de Jimmy Sangster e com Yutte Stensgaard, e “As Filhas de Drácula” (Twins of Evil), de John Hough e com as gêmeas Madeleine e Mary Collinson, além de novamente Cushing, como um caçador de bruxas.


Num típico vilarejo europeu com aldeões supersticiosos existe um grupo de vigilantes liderados pelo fanático religioso Gustav Weil (Peter Cushing), que persegue jovens mulheres acusadas sem provas de bruxaria, e que são executadas queimadas vivas em fogueiras. Nesse cenário de medo e tensão, chegam as gêmeas órfãs Maria e Frieda Gellhorn (Mary e Madeleine Collinson), sobrinhas de Weil e que vão morar com ele e a tia Katy (Kathleen Byron).

Uma das gêmeas é mais ousada e determinada (Frieda), e se interessa pelo Conde Karnstein (Damien Thomas), adorador do diabo e que gosta de rituais satânicos em seu castelo. A outra é mais pacata e insegura (Mary), que tenta alertar a irmã dos perigos ao sair escondida à noite procurando aventuras com o sinistro conde, que por sua vez, se transforma em vampiro após invocar a Condessa Mircalla (Katya Wyeth) de seu túmulo através de um ritual sangrento com sacrifício humano.

Depois que ocorrem mortes misteriosas no vilarejo, com as vítimas sem sangue e com marcas de mordidas no pescoço, os justiceiros liderados por Weil e um jovem professor de música, Anton Hoffer (David Warbeck), mesmo em lados opostos, se unem para invadir o castelo e salvar a inocente Maria das garras do vampiro.   


“As Filhas de Drácula” encerra a “trilogia Karnstein”, e assim como nos filmes anteriores, aposta na beleza e sensualidade de belíssimas mulheres jovens transformadas em vampiras sedentas de sangue. Contando com os tradicionais elementos dos filmes góticos de horror como o sinistro castelo, as execuções de mulheres inocentes na fogueira, os rituais satânicos, a atmosfera fantasmagórica das florestas envoltas em névoas, e o respeito com a mitologia tradicional dos vampiros: aversão aos crucifixos, inexistência de reflexo nos espelhos e morte apenas com estaca no coração ou decapitação.

As gêmeas Mary e Madeleine Collinson são mulheres lindas e fizeram um bom trabalho ao interpretarem irmãs com personalidades opostas. Elas tiveram carreiras muito curtas no cinema e foram escolhidas para a capa da revista “Playboy” em 1970. 

Peter Cushing sempre agrega muito valor aos filmes que participa, deixando de lado dessa vez o papel de cientista louco ou do incansável caçador de Drácula, para interpretar um religioso cego pelo fanatismo, que é o responsável pela morte violenta de mulheres inocentes acusadas de bruxaria.   

O título nacional foi mal escolhido, o que não é novidade, num tratamento oportunista citando Drácula, quando na verdade o filme é inspirado no vampirismo do universo ficcional de “Karnstein”.  

Curiosamente, o ator Dennis Price faz aqui o papel de Dietrich, um fornecedor de diversão para o Conde Karnstein, como trazer jovens camponesas para os rituais demoníacos no castelo. Um papel similar que ele fez também no anterior “O Horror de Frankenstein” (1970), onde foi um ladrão de cadáveres para as experiências macabras do cientista na criação de vida artificial.  


O filme foi lançado em DVD no Brasil pela “Works / Dark Side / London”, sem material extra, encartado na revista “Dark Side DVD” ano 2, número 11 (Agosto de 2005). A revista, com distribuição nas bancas, tem vários interessantes textos sobre o filme em questão, além da “Trilogia Karnstein”, um artigo caprichado sobre as belas atrizes de filmes de horror que posaram nuas para a revista “Playboy”, e um perfil do cineasta John Hough, que dirigiu também o cultuado filme de fantasmas “A Casa da Noite Eterna” (The Legend of Hell House, 1973).


(Juvenatrix – 25/10/21)






Interestelar

Interestelar (Idem), Greg Keyes. Baseado no roteiro de Jonathan Nolan e Christopher Nolan. Tradução: Vera Whately. Capa: Gabinete das Artes. 266 páginas. Rio de Janeiro: Gryphus Editora/Coleção Gryphus Geek, 2016. Lançamento original de 2014.

 


Quando lançado no cinema o filme Interestelar foi cercado de muita expectativa. Seus realizadores, os irmãos Christopher e Jonathan Nolan já haviam se estabelecido como dois dos artistas mais talentosos e inovadores do cinema norte-americano no século XXI. São deles, por exemplo, o perturbador Amnésia (Memento; 2000), a instigante e misteriosa FC A Origem (Inception; 2010) – este só de Christopher –, e a renovação da franquia do Batman, com três novos filmes. Talvez seja possível dizer que eles fizeram no cinema o que Frank Miller havia feito com o personagem nos quadrinhos.

Me recordo que quando vi Interestelar na tela grande fiquei perplexo e fascinado. Primeiro por um filme tão classudo de FC, como há muito não via em tela grande. E em segundo, e mais importante, pelo roteiro e desenvolvimento ser tão interessantes, ao explorar um tema de fronteira da Física teórica em uma perspectiva cósmica.

Interestelar é um dos melhores filmes de FC do século XXI, ao lado de Filhos da Esperança (Children of Men; 2006), Gravidade (Gravity; 2013) – ambos de Alfonso Cuarón – e Lunar (Moon; 2009), de Duncan Jones. Mas talvez seja o mais ambicioso deles, pois coloca em nível épico a exploração do espaço como nosso destino final, caso queiramos sobreviver a longo prazo como espécie.

Talvez por isso tenha me interessado em ler a novelização anos depois, pois costumo evitar obras derivadas por crer que, em essência, nada acrescentam à original. Mas tive uma surpresa. O livro é muito bom. Segue passo a passo o filme, justamente por ser uma obra originada por um roteiro e não o inverso, quando costuma ocorrer mais liberdades em relação ao livro original. Mesmo para quem não viu o filme é uma obra interessante e competente por si mesma.

Tinha a expectativa de que o livro pudesse aprofundar algumas questões do filme como, por exemplo, o que teria causado o colapso climático da Terra. Mas a novelização é igual ao roteiro e esta questão de fundo fica num plano superficial. É um ponto de partida, não se detalha o que poderia ter inviabilizado a continuidade da vida no planeta. Como se, de certa forma, neste momento, já estivéssemos vivendo o início do problema. Assim sendo, não fica claro em que época a história se passa, mas se deduz que seja em algum momento do século XXI. Isso porque as memórias do mundo de hoje ainda estão presentes na nostalgia daqueles que viveram antes da catástrofe. O que poderia ser mais explorado, ao menos, é as causas do obscurantismo científico que se seguiu. Embora, seja intrigante que estejamos vivendo retrocessos semelhantes nesta altura da primeira metade do século. Além da crise climática que só piora, estamos envoltos numa tragédia mundial no curto prazo, a pandemia do novocoronavírus, a pior já vivida pela humanidade em número absoluto de mortos.

Com uma praga que está matando todos os vegetais, a vida na Terra está com seus dias contados.  Tempestades maciças de poeira são rotineiras e as fontes de alimentação se tornam escassas, aumentando a fome e a violência. A civilização regrediu em seus valores e hábitos, e repudia qualquer gasto que não seja para preservar o que sobrou. Assim, é chocante que até a História é ´recontada´, deturpando ou negando os avanços científico-tecnológicos de antes da crise. Ensina-se nas escolas, por exemplo, que o homem não pousou na Lua. Tudo não passou de propaganda política do governo. Ora, não há uma minoria que crê nesta bobagem atualmente? Isso sem falar no criacionismo e no terraplanismo. O analfabetismo científico, se não combatido, poderá nos conduzir a uma nova era de ignorância, autoritarismo e queda nos valores humanos.

Cooper é um ex-astronauta que teve de aprender a ser fazendeiro nesta nova realidade. Viúvo, cuida dos filhos (Tom e Murph) e é ajudado por seu sogro, Donald. Após uma tempestade de poeira, ele e Murph testemunham um fenômeno estranho no quarto dela, que os conduz até um local onde está instalada no subterrâneo o que restou da Nasa. Pois prepara-se, secretamente, o envio de uma missão ao espaço para poder colonizar outros planetas.

Após ser convidado, Cooper lidera a missão em direção a três planetas que orbitam um buraco negro, numa outra galáxia, numa distância de milhares ou milhões de anos-luz. Os planetas receberam visitas prévias de astronautas para informar se são viáveis à vida humana. Mas como chegaram lá? Por meio do recurso do buraco de minhoca, uma teoria especulativa relativística, que faz aproximar pontos distantes no espaço sem ser preciso percorrê-los de forma contínua. Uma espécie de túnel dimensional na estrutura do espaço-tempo. Tal ideia proposta no filme teve a consultoria do prestigioso físico Kip Thorne e já havia sido apresentada antes numa FC mais popular, no romance Contato (Contact; 1985), de Carl Sagan (1934-1996) e depois levado às telas num ótimo filme dirigido por Robert Zemeckis, em 1997, – curiosamente com o ator que interpreta Cooper em Interestelar, Matthew McConauguey, como um padre.

Contudo, a decisão de Cooper é muito difícil e marcará todo o restante de sua vida, embora se ele não a aceitasse não teria sido possível uma chance de esperança para a humanidade. Isso porque, é ele que envia as informações possíveis, no estranho fenômeno no quarto de Murph, que permite que a missão seja bem-sucedida. Tudo por causa dos efeitos da força da gravidade, que torna possível ir além das três dimensões e contornar o próprio tempo. Pois a história se sustenta num campo de especulação científica que, embora sólida, guarda uma relação muito próxima com os delírios imaginativos da própria FC. Sense of wonder!

Poucas vezes vi um filme de FC tão instigante e que desafia a inteligência do espectador. As soluções apresentadas são elegantes e didáticas e, tão importante quanto, equilibradas com o drama humano, no relacionamento especial e sofrido entre um pai e sua filha. Em resumo, o livro é bom, mas não acrescenta algo novo ao filme. Contudo, torna-se um prazer renovado ler a novelização e tomar, de uma outra perspectiva, um novo contato com esta obra-prima da FC.

                                                                                             Marcello Simão Branco


terça-feira, 19 de outubro de 2021

Almanaque da Arte Fantástica Brasileira

 



Chegou o livro do Almanaque!

Esta publicação tem por base o blogue de mesmo nome, publicado desde 2015 por Marcello Simão Branco e Cesar Silva, e que dá continuidade ao projeto anterior, o Anuário Brasileiro de Literatura Fantástica, publicado entre os anos de 2005 e 2014, com perfil semelhante à desta nova publicação. O diferencial do Almanaque é que aumenta o campo de análise artística, já que inclui também artigos e resenhas sobre histórias em quadrinhos e cinema.

Com esta nova publicação, os autores reafirmam seu projeto e compromisso de acompanhar e participar do desenvolvimento e da divulgação da ficção científica, fantasia e horror produzidos no Brasil, contribuindo também para o exercício da resenha e da crítica, tão necessários para a reflexão em benefício do aperfeiçoamento dos gêneros com características e identidade brasileiras.

Almanaque da Arte Fantástica Brasileira (blogue e agora livro) é parte de um esforço histórico e idealista para divulgar e desenvolver a produção de ficção científica, fantasia e horror realizado no país. Esta edição faz a cobertura informativa e crítica do desenvolvimento e características dos gêneros fantásticos na segunda década do século XXI (2011-2020), contribuindo para a consciência crítica e as possíveis perspectivas para os gêneros no país.

Contém dezenas de resenhas de livros publicados no período, de autores brasileiros e estrangeiros traduzidos, artigos sobre o estado da arte na literatura, histórias em quadrinhos e artes visuais, além de uma seção histórica voltada à análise e resgate de eventos e livros clássicos da ficção científica brasileira.

O livro está disponível para venda em várias livrarias online, e pode ser adquirido também no site da Avec:

https://aveceditora.com.br/produto/almanaque-da-arte-fantastica-brasileira-2011-2020/



segunda-feira, 18 de outubro de 2021

O Circo dos Vampiros / O Vampiro e a Cigana (The Vampire Circus, Inglaterra, 1972)

 


“Os vampiros só existem nas lendas.” – Dr. Kersh.

 

No currículo da produtora inglesa “Hammer” existem muitos filmes explorando o tema do vampirismo, incluindo uma longa série com Drácula e a dupla Christopher Lee e Peter Cushing. Mas, o famoso estúdio, muito conhecido por suas histórias com ambientação gótica, também lançou outros filmes de vampiros sem esses atores ícones da história do cinema de Horror e sem o famoso personagem criado pelo escritor Bram Stoker. Um deles é “O Circo dos Vampiros” (The Vampire Circus, 1972), também conhecido como “O Vampiro e a Cigana”, dirigido por Robert Young em sua estreia como cineasta.

 

O vampiro Conde Mitterhaus (Robert Tayman) está aterrorizando um vilarejo sérvio no interior da Europa chamado Schtetell, no início do século XIX. Os aldeões supersticiosos e revoltados com o sumiço de suas crianças, decidem atacá-lo invadindo seu castelo e cravando uma estaca de madeira no peito. Mas, antes de morrer, o vampiro jura vingança contra seus algozes e pede para sua amante Ann Mueller (Domini Blythe), que é a esposa de um dos moradores, o Prof. Albert Mueller (Laurence Payne), para encontrar seu primo Emil (Anthony Corlan), que ajudaria a ressuscitar através do sangue de crianças, filhos de seus agressores.

Quinze anos depois, o vilarejo está tomado por uma doença contagiosa e enquanto o Dr. Kersh (Richard Owens) tenta encontrar uma cura com remédios, os demais aldeões, entre eles o burgomestre (Thorley Walters), Albert Hauser (Robin Hunter) e Schilt (John Bown), acreditam numa maldição sobrenatural.

Em paralelo, um circo bizarro itinerante chega ao vilarejo, comandado por uma misteriosa cigana (Adrienne Corri). Ela conta com um grupo de pessoas estranhas, om anão palhaço sinistro Michael (Skip Martin), um homem forte que não fala nada (interpretado por David Prowse, que ficou mais conhecido por vestir a armadura do vilão “Darth Vader” da primeira trilogia de “Star Wars”), um casal de gêmeos acrobatas, Helga (Lalla Ward) e Heinrich (Robin Sachs), e o enigmático Emil, que se transforma em pantera negra.

Enquanto o “Circo das Noites” está supostamente entretendo os moradores do vilarejo com suas atrações exóticas como os acrobatas que se transformam em morcegos e a misteriosa sala dos espelhos, pessoas e crianças estão desaparecendo, com mortes violentas na região. O jovem Anton Kersh (John Moulder-Brown), filho do médico da vila, tenta impedir o triunfo do “circo dos vampiros”, e defender sua namorada Dora Mueller (Lynne Frederick), filha do professor e alvo na conspiração para reviver o Conde Mitterhaus.       

 

Mesmo sem a presença da dupla Lee & Cushing, e numa época de decadência da “Hammer” a partir do início da década de 1970, “O Circo dos Vampiros” ainda mantém o interesse através dos elementos característicos das produções góticas do estúdio, como um castelo macabro e um vilarejo assustado com lendas de vampiros. Geralmente sendo considerado subestimado e pouco lembrado quando em comparação com os filmes da série com Drácula, sua história é bem ousada acrescentando uma dose elevada de mortes sangrentas (principalmente para a época), crianças assassinadas, e explorando a sensualidade de belas mulheres, com destaque para a dança erótica de uma mulher-tigresa (Serena).   

 

“O Circo dos Vampiros” foi lançado em DVD no Brasil pela “Works / Dark Side / London”, sem material extra, encartado na revista “Dark Side DVD” ano 2 número 10 (Julho de 2005). A revista, com distribuição nas bancas, tem vários interessantes textos sobre o filme em questão, além de “Monstros” (Freaks, 1932), uma filmografia comentada dos filmes de vampiros da “Hammer”, e o perfil da atriz Adrienne Corri (que interpretou a cigana).

Anteriormente, na época das fitas de vídeo VHS, o filme foi lançado pela “FJ Lucas” com o título “O Vampiro e a Cigana”.

 

(Juvenatrix – 18/10/21)





terça-feira, 12 de outubro de 2021

Horror de Frankenstein (Horror of Frankenstein, Inglaterra, 1970)

 


“O objetivo da Ciência é mergulhar no desconhecido.” – Victor Frankenstein.

 

A produtora inglesa “Hammer” fez sete filmes inspirados na história “Frankenstein”, de Mary Shelley. São eles: “A Maldição de Frankenstein” (1957), “A Vingança de Frankenstein” (1958), “O Monstro de Frankenstein” (1964), “Frankenstein Criou a Mulher” (1967), “Frankenstein Tem Que Ser Destruído” (1969), “Horror de Frankenstein” (Horror of Frankenstein, 1970) e “Frankenstein e o Monstro do Inferno” (1974).

O penúltimo filme da série foi dirigido por Jimmy Sangster, que é mais conhecido por seus trabalhos como roteirista em muitos filmes da própria “Hammer”. “Horror de Frankenstein” não tem dessa vez o cultuado ator Peter Cushing como o cientista (ele esteve em todos os outros filmes da série), deixando o papel agora para Ralph Bates. E o monstro foi interpretado por David Prowse, que tem seu nome sempre lembrado como o vilão Darth Vader na primeira trilogia de “Star Wars” (com a voz cavernosa de James Earl Jones).

 

Victor Frankenstein (Bates) é um jovem em crise com seu pai dominador (George Belbin). Depois de estudar medicina em Viena, ele retorna para o castelo da família e inicia um trabalho de pesquisa científica com experiências de reanimação de partes mortas de animais e pessoas, apesar de não obter a aprovação do ajudante e colega de faculdade, Wilhelm Kassner (Graham James).

Insistindo com suas experiências macabras, ele cria um monstro a partir de pedaços de cadáveres, e que devido ao cérebro danificado por um corte com estilhaço de vidro, torna-se violento e assassino, espalhando o horror no castelo e na floresta em volta.

 

Aqui o cientista dessa vez é um jovem psicopata, inescrupuloso, frio e calculista, não medindo esforços para atingir seus objetivos na criação de vida artificial. Eliminando todos em oposição aos seus planos maquiavélicos ou que pudessem atrapalhar seu trabalho científico, incluindo desde o pai, o colega de faculdade, a bela amante e governanta, Alys (Kate O´Mara) e o fornecedor de cadáveres frescos (um ladrão de túmulos interpretado por Dennis Price).

Mesmo recebendo uma atenção especial da bela Elizabeth Heiss, antiga colega de escola da época de adolescentes e filha do prestigiado, porém falido, Prof. Heiss (Bernard Archard), Victor Frankenstein continua só se importando com suas obscuras pesquisas científicas e com o monstro feito de cadáveres que desperta a atenção da polícia do vilarejo próximo do castelo, com a investigação do tenente Henry Becker (Jon Finch), depois que várias mortes misteriosas e violentas ocorrem na região.

Quanto ao monstro, ao contrário de vários outros filmes da série da “Hammer”, não tem as deformações, cicatrizes e bandagens típicas, com apenas a simulação não convincente de cortes em partes do corpo e algumas maquiagens na cabeça com placas e rebites discretos. Além dessa caracterização fraca, o ator David Prowse também não conseguiu transformar o monstro em algo necessariamente sinistro e ameaçador, com um resultado apenas mediano. Ele também interpretou o monstro no filme seguinte da série, “Frankenstein e o Monstro do Inferno”, porém com uma maquiagem mais carregada e interessante.

“Horror de Frankenstein” é divertido dentro dos moldes característicos da “Hammer”, com sua ambientação gótica, castelo imponente, laboratório bizarro de “cientista louco”, e a criatura artificial composta de pedaços de cadáveres espalhando o horror e deixando um rastro de morte. Mas, dentro do universo ficcional com vários outros filmes sobre o mesmo tema produzidos pelo cultuado estúdio inglês, é um filme menor e com menos atrativos que o habitual, além de perder bastante com a falta da presença do carismático Peter Cushing.         

 

Curiosamente, é considerado uma espécie de refilmagem de “A Maldição de Frankenstein”, o primeiro filme da série produzido em 1957, com a adição de algumas cenas de sexo e humor negro.  Foi lançado no Brasil em DVD em 2003 pela “Works / Dark Side / London”, trazendo materiais extras como biografias de Jimmy Sangster e Ralph Bates, sinopse, trailer, galeria de fotos e posters, além de um espaço especial dedicado à atriz Veronica Carlson, com fotos e galeria de arte com suas pinturas. Também foi lançado em DVD pela “Obras Primas”, na “Coleção Estúdio Hammer Volume 4”.

 

(Juvenatrix – 12/10/21)





quarta-feira, 6 de outubro de 2021

O Castelo Maldito / Herança Maldita (Castle Freak, EUA / Itália, 1995)

 


O cineasta Stuart Gordon (1947 / 2020) tem seu nome registrado na história do cinema de horror pela notável carreira dentro do gênero, e principalmente por uma série de filmes cultuados inspirados em histórias de H. P. Lovecraft, como “Re-Animator: A Hora dos Mortos-Vivos” (1985), “Do Além” (1986) e “Dagon” (2001), além de um divertido filme de 1995 que é conhecido aqui pelos títulos nacionais “Herança Maldita” e “O Castelo Maldito” (Castle Freak).

A produção é da “Full Moon”, empresa de Charles Band especializada em filmes de horror (nos mesmos moldes do estúdio anterior do produtor, que se chamava “Empire”). Com um roteiro utilizando uma pequena referência do conto “O Intruso” (The Outsider), de Lovecraft, “O Castelo Maldito” tem um elenco liderado por Jeffrey Combs e a musa Barbara Crampton, que já estiveram juntos em outros filmes da mesma equipe.


Na história, o americano John Reilly (Jeffrey Combs) recebe a notícia que herdou um castelo do século XII no norte da Itália, após a morte da amargurada Duquesa D´Orsino (Helen Stirling). Ele decide levar a família para conhecer o castelo, sua bela esposa Susan (Barbara Crampton) e a filha adolescente cega Rebecca (Jessica Dollarhide), com o objetivo de inventariar o imóvel e seus bens para uma possível venda. 

Os americanos são recepcionados pelo advogado italiano Giannetti (Massimo Sarchielli), responsável pelas questões legais envolvendo o castelo, e por sua irmã Agnese (Elisabeth Kaza), que é a cozinheira e arrumadeira na nova e imensa moradia. Mas, o casal Reilly está enfrentando uma complicada crise conjugal depois da morte trágica do filho pequeno num acidente de carro que também deixou a filha cega.

Porém, eles não imaginavam que ao herdarem o imponente castelo, teriam que enfrentar um morador indesejável, Giorgio (Jonathan Fuller), a aberração do título original do filme. A criatura monstruosa foi um prisioneiro deformado física e mentalmente, que ficou acorrentado por dezenas de anos numa masmorra sombria nos porões do castelo. Uma vez conseguindo escapar do cárcere, ele persegue os novos moradores, espalhando o horror sangrento com a ocorrência de mortes violentas, despertando a atenção da polícia do vilarejo local, sob a investigação do Inspetor Forte (Luca Zingaretti).    


Em “O Castelo Maldito” a diversão torna-se garantida quando temos uma equipe formada pelo produtor Charles Band, o diretor e roteirista Stuart Gordon e os atores Jeffrey Combs e Barbara Crampton, todos com proximidades com o cinema de horror. Deixando de lado o humor negro dos filmes anteriores, dessa vez aqui a atmosfera é mais sombria e depressiva, a história é trágica e pessimista, com os personagens sofrendo e enfrentando crises pessoais, além principalmente do vilão assassino ser na verdade uma vítima torturada e incompreendida, que foi mantido prisioneiro por anos em busca de liberdade e eventual vingança. Não faltam cenas com mortes sangrentas e perseguições insanas nos corredores sinistros de um castelo assombrado pela dor e agonia.

Sem o uso artificial dos efeitos gráficos de computador, o assassino é um homem disforme e atormentado, com o ator Jonathan Fuller coberto de próteses e maquiagens aplicados em sessões de longas seis horas, porém tendo como resultado final um trabalho excepcional na transformação em uma criatura humana grotesca.     


O filme foi lançado no Brasil primeiramente em VHS pela “VTI” como “Herança Maldita” e depois em DVD pelo selo “Works / Dark Side / London” com o nome “O Castelo Maldito”, numa versão sem cortes e trazendo alguns materiais extras como sinopse, trailer, biografias do diretor Stuart Gordon e do ator Jeffrey Combs, além de um curto, mas interessante documentário com informações de bastidores e depoimentos de Combs, Barbara Crampton, Jonathan Fuller e Jessica Dollarhide.

Também foi lançado em DVD pela “Versátil” como "Herança Maldita", na coleção “Lovecraft no Cinema Volume 3”, junto com “Dagon” (2001), “A Maldição do Altar Escarlate” (1968) e “O Altar do Diabo” (1970).

Em 2020 teve uma refilmagem dirigida por Tate Steinsiek e com Charles Band e Barbara Crampton na equipe de produção, recebendo o título “Herança Maldita”.


(Juvenatrix – 05/10/21)





sábado, 2 de outubro de 2021

Papai Noel Conquista os Marcianos (Santa Claus Conquers the Martians, EUA, 1964)

 


“Veja: Os marcianos sequestram o Papai Noel! Oficina do Polo Norte do Papai Noel! A fantástica fábrica de brinquedos marciana! Crianças da Terra se encontrando com crianças de Marte! Viagem de nave espacial da Terra a Marte! Papai Noel transforma o robô de Marte em um brinquedo mecânico!” – slogan promocional


No cinema fantástico bagaceiro, a maioria dos filmes são divertidos justamente por causa da precariedade geral da produção, roteiro exagerado no escapismo e elenco amador, além principalmente dos monstros toscos de borracha e efeitos especiais e maquiagens risíveis. Mas, também existem aqueles filmes tão ruins que não conseguem divertir o suficiente. É o caso do patético “Papai Noel Conquista os Marcianos” (Santa Claus Conquers the Martians, 1964), que já começa pelo título sonoro e incomum que anuncia uma história absurda mais voltada para o humor com elementos de ficção científica.


Com direção de Nicholas Webster, o filme mostra as crianças marcianas entediadas com a overdose de conhecimentos que são obrigadas a receber através de máquinas acopladas as suas mentes. Sem diversão na infância e fascinadas com programas de televisão da Terra que mostram o Papai Noel (John Call) espalhando alegria e brinquedos para as crianças, elas por outro lado são tristes e apáticas, despertando a preocupação do líder dos marcianos, Kimar (Leonard Hicks), ao sentir o desânimo de seus filhos Bomar (Chris Month) e Girmar (Pia Zadora). 

Para tentar resolver o problema, ele decide consultar um sábio ancião, Chochem (Carl Don), que recomenda uma expedição à Terra para trazer o Papai Noel na tentativa de divertir as crianças marcianas. Porém, o líder Kimar terá que administrar a oposição de um chefe conselheiro conservador, Voldar (Vincent Beck), que insiste em manter a disciplina guerreira de Marte.

Eles vão à Terra e sequestram duas crianças, Billy Foster (Victor Stiles) e sua irmã mais nova Betty (Donna Conforti), que ajudam a localizar o Papai Noel em sua fábrica de brinquedos no Polo Norte. De volta à Marte, eles implantam o espírito natalino e se divertem numa oficina automatizada de brinquedos, contando com a ajuda do atrapalhado Dropo (Bill McCutecheon), que sempre traz para si as cenas mais cômicas e que quer assumir o papel de Papai Noel marciano. Mas, terão que enfrentar também a ira persistente de Voldar e seus comparsas.


A diversão fica comprometida pela história patética, e o que pode talvez se salvar, para os apreciadores do cinema bagaceiro de ficção científica dos anos 50 e 60 do século passado, são os elementos típicos como as roupas coloridas ridículas e os capacetes fuleiros com antenas que os marcianos usam. O líder ainda tem uma capa adicional no estilo dos super-heróis. Tem também a bizarra arquitetura interna das casas, com aberturas ovalizadas servindo de portas e móveis arredondados. E a espaçonave ultra tosca com os cenários internos repletos de luzes piscando, painéis com botões, alavancas e mostradores analógicos. Ainda tem um urso polar exageradamente tosco (um ator vestindo uma péssima fantasia) e um robô chamado Torg, que aparece pouco em cena e está entre os piores do cinema bagaceiro de FC (um ator dentro de uma caixa metálica com dois mostradores com os ponteiros fixos e um balde na cabeça). Apesar de todas essas tranqueiras que divertem nos filmes bagaceiros, “Papai Noel Conquista os Marcianos” não desperta atenção pelo roteiro banal e carregado de humor infantil.


O filme está em domínio público e foi lançado em DVD no Brasil em 2007 pela “Works / London / Dark Side” em sua “Sci-Fi Collection”, num mesmo disco trazendo a tranqueira “Os Adolescentes do Espaço” (Teenagers From Outer Space, 1959), de Tom Graeff. De material extra tem a sinopse e biografias dos atores Bill McCutecheon e Pia Zadora (que virou cantora).


(Juvenatrix – 02/10/21)








quarta-feira, 29 de setembro de 2021

Homem Mais

     Homem Mais (Man Plus), de Frederik Pohl. Tradução: Maria Teresa Pinto Pereira. Publicações Europa-América, Coleção Livros de Bolso FC, n. 130, 1987. Lançamento original em 1976.

 

Entre os vários autores que despontaram na Golden Age da FC norte-americana, na década de 1940, Frederik Pohl (1919-2013) foi um dos mais interessantes, por sua prosa direta e cheia de ironia, personagens complexos e um acentuado viés de crítica social. Talvez por causa destas muitas qualidades, foi também um dos autores desta época que melhor transitou pela revolução desencadeada pela New Wave, nos anos 1960, permanecendo como um autor de renovado interesse até sua maturidade.

Nesse sentido, a década de 1970 foi extremamente relevante em sua carreira, com ao menos três romances importantes. Homem Mais (Man Plus; 1976), A Porta das Estrelas (Gateway; 1977) e Jem: A Construção Duma Utopia (Jem: The Making of a Utopia; 1979). Os três livros foram premiados, o primeiro com o Nebula, o segundo com o Locus e o terceiro com o National Book Award.

O primeiro trata da colonização de Marte através do desenvolvimento de um humano cibernético, o segundo aborda as consequências da descoberta de restos de uma civilização ultra tecnológica num asteroide e o terceiro nos mostra a disputa entre os países em busca do domínio de novas fontes de energia em um planeta já habitado. Nos três está embutida uma boa discussão sobre individualismo, ganância, imperialismo e capitalismo. Mas dos três Homem Mais é o menos interessante. Não pelo tema, mas sim pela forma como foi desenvolvido.

Estamos em algum momento do século XXI e o mundo está próximo de um conflito militar generalizado que pode ameaçar a sobrevivência da espécie humana. Com receio de que a paz não possa ser alcançada, os EUA desenvolvem um projeto secreto para colonizar Marte e garantir a continuidade da humanidade. Para isso o diferencial é a transformação de uma pessoa num ciborgue, com o intuito de que ele possa viver de forma segura sob as condições climáticas do planeta vermelho.

Nos anos 1970 a ciência cibernética estava em voga – é só lembrar do sucesso da série de TV O Homem de Seis Milhões de Dólares (The Six Million Dolan Man; 1974-1978) –, e Pohl imaginou como ela poderia ser incorporada no uso de um ciborgue vivendo em outro planeta. Assim, uma colonização seria mais rápida e econômica, pois seriam evitados os riscos e custos de construir estruturas artificiais que pudessem permitir a vida humana num ambiente hostil. Faz sentido, mas talvez fosse mais promissor, então, desenvolver robôs ou androides para isso.

Desta forma, após um primeiro ciborgue morrer devido à incompatibilidade do cérebro em processar a entrada sensorial dos dados e estímulos mecânicos e eletrônicos, Roger Torraway, um astronauta aposentado, se submete à experiência que mudará em definitivo sua vida e ideia do que é ser humano.

Não fica muito claro porque Torraway aceita fazer parte do projeto, mas talvez tenha algo a ver com a infidelidade de sua esposa com seu melhor amigo. Mas ainda assim não é muito razoável pensar que alguém deixe de ser humano, mesmo que com a transformação num ciborgue possa ter suas funções e capacidades expandidas. Pois, por outro lado, também há a perda de sensações e prazeres, talvez a principal delas, o sexo. Além disso não há garantia de sucesso – ainda mais com o fracasso da primeira experiência – e o sofrimento envolvido no processo de transformação só me convence de que, de fato, não faz muito sentido passar por tudo isso. Só se o sujeito for masoquista.

A maior parte do livro se desenrola na experiência de transformação de um homem numa máquina. Nisso, Pohl parece ter pesquisado muito, pois as descrições do processo são extremamente detalhadas e convincentes, ao menos para um leigo. Muitos conceitos de engenharia, cibernética biônica e medicina são apresentados. Ao que parece, com o que havia de mais moderno para a época. Nesse sentido os mecanismos que permitem que um homem tenha parte de seus órgãos, sentidos e funções substituídos por próteses, sensores e conexões cibernéticas soam como plausíveis.

Como já dito, a inspiração ocorre por causa da crise política generalizada pelo qual passa a Terra, estimulada, não por uma disputa ideológica, mas sim por recursos de energia cada vez mais escassos. É meio duvidoso que isso levasse a um conflito desta magnitude, ainda mais porque Pohl não aprofunda os motivos. De qualquer forma é curiosa a presciência de Pohl, pois a principal rival econômica e militar dos EUA é a China, renomeada de Nova Aliança Asiática, pois inclui também alguns outros países orientais. Contudo, é de se questionar que o estabelecimento de uma colônia em outro planeta seja a melhor solução para salvar a humanidade no caso da eclosão de um conflito nuclear. É enviado para Marte um ciborgue para dar início ao processo. Mas para que a missão seja segura e bem-sucedida muitos outros deverão se juntar a ele. E isso levaria muito tempo.

Além disso, os países fizeram em anos precedentes dezenas de visitas a Marte. Norte-americanos, chineses, japoneses, ingleses, franceses, russos, brasileiros. E não estabeleceram vínculos nenhum lá? Esta nova missão é dada como pioneira, e é no sentido de instalar lá um humano tecnologicamente modificado, mas e toda a experiência pregressa das outras missões? Ao que parece não serviu para nada. Além disso, quando chega a Marte, Torraway e os outros dois astronautas humanos que o acompanham descobrem vida vegetal próximo ao local de sua aterragem. Que golpe de sorte!

Como se vê, há fragilidades por todo o romance. Embora interessante, ele não se sustenta porque o autor foi desleixado em desenvolver melhor as tramas e sub-tramas do enredo. Outra situação inverossímil é a postura de Torraway que, poucos dias após chegar a Marte, resolve não voltar mais para sua antiga vida na Terra. Sente-se plenamente realizado num planeta inóspito e de escassos recursos para uma vida saudável, mesmo que ele não seja mais inteiramente humano.

Além disso, para tornar o contexto ainda mais problemático, o último capítulo revela que, na verdade, os humanos haviam sido manipulados por uma rede de computadores que adquiriram sensciência, devido à ameaça de uma guerra nuclear. Eles, assim, induzem o homem a criar um novo ser e, desta maneira, permitir a sobrevivência do homem e da máquina num novo mundo, caso a Terra venha a ser destruída. Mas é tudo meio solto, como se as soluções aparecessem às pressas, sem a devida justificativa no conjunto da história.

É de se perguntar como Homem Mais pode ter vencido o Prêmio Nebula 1976 de “Melhor Romance” e ter sido finalista do Prêmio Hugo em 1977. Talvez pelo prestigio de Pohl? Ou então porque a concorrência não era tão boa? Os outros finalistas do Nebula foram Inferno, de Larry Niven & Jerry Pournelle; Islands, de Martha Randall; Triton, de Samuel R. Delany; Shadrach in the Furnace, de Robert Silverberg e Where Late the Sweet Byrds Sang, de Kate Wilhelm. Não li os demais, mas Delany e Silverberg são autores fortes em qualquer disputa. Seja como for, Homem Mais tem o mérito de contribuir de forma efetiva no debate sobre os diferentes modelos possíveis para a colonização humana em Marte, o planeta mais provável de ser colonizado pela humanidade em algum momento de seu futuro.

 

Marcello Simão Branco