segunda-feira, 20 de junho de 2016

Não Verás País Nenhum

Não Verás País Nenhum, Ignácio de Loyola Brandão. Global Editora, 11a. edição, São Paulo, 1985, 357 páginas. Lançado originalmente em 1981.

Durante os anos da ditadura militar (1964-1985) a literatura brasileira produziu algumas obras muito boas sobre a condição política e social do país. E, de forma surpreendente para alguns, a partir de um ponto de vista não convencional, pela metáfora, pelo fantástico e sobretudo pela ficção científica, também chamada para este caso específico de ficção distopica.
Talvez o livro mais importante e influente tenha sido Não Verás País Nenhum, de Ignácio de Loyola Brandão. Quando o escreveu, o autor já era reconhecido, tendo publicado obras importantes, inclusive, sobre aspectos da repressão, como o controverso Zero (1974), ainda hoje o seu livro de maior impacto. Também editou com sucesso a primeira versão da revista Planeta, na primeira metade dos anos 1970, quando publicava contos de ficção científica, inclusive de autores brasileiros. Vê-se, portanto, que o autor tem alguma comunicação com o gênero. Sendo assim, Não Verás País Nenhum deve interessar particularmente os leitores tradicionais do gênero.
Desconfio, entretanto, que poucos fãs brasileiros de ficção científica já o tenham lido. É realmente de se lamentar, pois se está diante de um verdadeiro livraço.[1] Foi, inclusive, publicado nos Estados Unidos e países europeus com premiações e críticas elogiosas,[2] o que atesta também o seu caráter universalista, mesmo abordando de forma profunda não só a ditadura, mas a própria ideia do que é ser brasileiro, especialmente a partir da segunda metade do século passado, isto é, urbanizado e em contato com mudanças tecnológicas.
Estamos no início do século XXI em São Paulo. A ditadura militar não terminou e perpetuou seus métodos de governo autoritário e sua repressão política e comportamental à sociedade. Temos como protagonista Souza, um ex-professor de História, que aposentado à força pelo regime, trabalha como um burocrata metódico e entediado. Além da ditadura política em si, o país passa por um desequilíbrio ecológico grave, com racionamento de água, calor intenso, alimentos artificiais e manufaturados, ausência quase total de vida animal e vegetal, nascimento de crianças deformadas e mutantes. Pois a floresta amazônica e as demais foram destruídas, transformadas em gigantescos desertos, o que explica as altas temperaturas durante o ano inteiro.
Situações próximas do surrealismo ilustram o contexto, como os banheiros públicos que reciclam a urina – com o requinte de selecionar as urinas mais saudáveis – para transformá-la em água, usada para beber e outros fins pelas pessoas. Os bolsões de calor, que provocam a queimadura até a morte, no início no Nordeste, mas no fim também em São Paulo, levando à construção de uma obra faraônica e inútil, uma quilométrica Grande Marquise para abrigar do calor os miseráveis e os sem-teto.
Desta forma tanto quanto uma distopia política, Não Verás País Nenhum também é uma distopia ecológica. Em que não apenas um Estado dispõe de forma autoritária e truculenta sobre os recursos da natureza, como a própria sociedade, além de não ter controle sobre as ações do governo, parece ter pouco apreço pelo meio-ambiente em si – destrói um museu sobre a natureza e uma reserva ecológica clandestina, por exemplo –, embora seja quem realmente sofra suas consequências danosas, já que os agentes estatais se protegem por meio de cúpulas climatizadas e refrigeradas.
Em acréscimo a esta degradação ambiental, o Brasil perdeu parte de seu território, principalmente o Nordeste, que se transforma numa Reserva Multinacional. Foi cedido a outros países e grupos econômicos internacionais, provavelmente por causa da dívida externa do país. Esta perda provoca um grande êxodo de nordestinos para o Sudeste, que os reprime construindo grandes cercas em tornos das áreas metropolitanas de suas principais metrópoles. Assim é que se concentra nos arredores de São Paulo, uma quantidade imensa de acampamentos, verdadeiro campo de refugiados dentro do próprio país. Sem poder voltar ao que perdeu. E sem poder entrar no que nunca, de fato, pôde desfrutar.
Neste contexto de repressão política e caos ambiental, o melhor tipo de emprego que se pode conseguir é por meio da adesão ao regime, ou seja, sendo militar ou um burocrata. Ou as duas coisas, os tais ‘militecnos’, que atuam em empresas estatais e cargos de direção do Estado – aqui chamado de Esquema – certamente uma alusão aos tecnocratas dos anos 1970 de nosso país. Para desgosto do antigo contestador Souza, há um militecno em sua família, seu jovem sobrinho. Há também os ‘civiltares’, espécie de segmento responsável pelo patrulhamento, espionagem e repressão do regime. Tropas de elite de cunho civil-militar, mantidas pelo Estado e por grupos privados que o apoiam, de caráter paramilitar, o que lhe abre a oportunidade de agir frontalmente às margens de lei já por si mesmas discricionárias.
Dentro deste cenário geral, o romance é narrado em dois planos que se justapõem, o macro e o micro. No micro, a história pessoal de Souza e de como é a sua vida neste país governado há cerca de 40 anos pelos militares. No macro, a contextualização social, política e ecológica desta realidade.
Impressiona o nível de detalhes que o autor elabora para construir a sua ditadura que nunca terminou. Nesta São Paulo, as pessoas vivem restritas aos seus bairros. Precisam de bilhetes especiais para transitar pela cidade. Se os perdem simplesmente não podem voltar para suas casas.
Através da perspectiva de Souza, um intelectual sufocado pelo regime e que ainda carrega culpas dentro de si mesmo, Loyola extrapola a ditadura militar para o futuro próximo, sempre olhando para o passado. Este é um recurso válido, pois permite uma visão retrospectiva de como um futuro veria a ditadura dos anos 1970 e 1980. Em termos de ficção científica é manjado, com um observador exterior (geralmente um alienígena ou viajante do tempo) usado para comentar as mazelas de nossa civilização. Já no caso do livro, o observador é o próprio protagonista (em primeira pessoa), pois não há propriamente um encadeamento de sequencias no desenrolar da narrativa. Tanto que o romance recebe o subtítulo de “memorial descritivo”, embora por meio deste recurso o contexto geral seja aprofundado com o drama crescente vivido pelo protagonista. Ao invés do personagem se movimentar dentro de um mundo – e desta forma procurar modificá-lo –, é como se este mundo impulsionasse e transformasse o personagem.
Ademais, a decorrência mais comum desta linha de abordagem narrativa são as observações sarcásticas que ridicularizam o regime de uma forma geral.  Loyola é particularmente feliz com colocações agudas que provocam no leitor aquele sorriso torto no canto da boca, tanto de lembrança do fato, como de sua interpretação absolutamente demolidora do nonsense daquilo tudo. Então há os que se ‘locupletaram’(fala aqui de boa parte da classe média), os ministros ‘embriagados’, os corruptos e os apenas incompetentes. Chega a nomear algumas fases pelas quais passou o regime, de clara ressonância para quem o viveu, como por exemplo, os “Abertos 80”, uma referência ao processo de abertura que o regime viveu a partir de meados dos anos 1970 e que chegava ao auge no começo dos 1980, e à “Era Casuística”, esta dos anos 1970, quando os militares mudavam as regras eleitorais para favorecer os políticos do partido que os apoiava.[3]
Em meio a este contexto, surge um furo numa das mãos de Souza, pretexto para a virada definitiva em seu comportamento e para os rumos da própria história. Por medo do que lhe possa acontecer – ser preso e confinado ao isolamento, ou perder o emprego –, ele resiste em ir ao médico, apesar dos apelos de sua passiva e conservadora Adelaide, sua esposa. Passa também a enfrentar seu sobrinho milico e relaxa com sua higiene e alimentação, além de chegar atrasado para o trabalho.[4]
Souza vai gradativamente deixando sua resignação de lado, bem como sua segurança econômica, pois é demitido do emprego, abandonado por sua esposa e tem seu apartamento invadido por um grupo de estranhos, aliados de seu sobrinho, como parte de uma atividade de contrabando ilegal de alimentos. Muito deprimido com tantas mudanças pessoais, Souza é impotente para expulsar os invasores. Mas reage quando estes começam a matar aqueles que os incomodam, os pedintes e mutantes que aos poucos rompem os acampamentos e entram em São Paulo, aumentando ainda mais o caos social e o grau de opressão.
Souza teme ser morto e acaba sendo abandonado em um lixão na periferia da cidade. Vira um ninguém, como tantos pedintes, desempregados e refugiados que ele antes tinha pena, quando ainda possuía uma ocupação, residência e esposa. Neste processo de decadência pelo qual passa o protagonista, Loyola nos fala da degeneração social e moral da própria sociedade submetida ao um regime perverso e sem freios.
Outro aspecto interessante é que Loyola contrapõe o seu Brasil distópico como uma espécie de antítese da tradição da ficção científica anglo-americana. Chega a citar autores importantes do gênero e as supercivilizações tecnológicas que criaram e como teríamos engendrado por aqui o inverso: Uma urbe superpopulosa, poluída, caótica e sob uma ditadura. Como se realmente tivéssemos ficado sem ver país nenhum.
Mary Elisabeth Ginway, em Ficção Científica Brasileira: Mitos Culturais e Nacionalidade no País do Futuro (Devir, 2005) observa outro aspecto, de que Loyola aproveita para criticar a ficção científica anglo-americana, vista por ele como excessivamente otimista, determinista ou mesmo ingênua sobre o impacto da tecnologia na sociedade e na ação dos indivíduos. Faz sentido, mas talvez da perspectiva dela – como uma americana – e não da perspectiva de quem faz a análise a partir de seu país, como o meu caso. Ou, creio, como na intenção original do autor.
Qual? A de um Brasil que a partir do autoritarismo falha definitivamente em ser o tal país do futuro, que se imaginava pudesse ser algo semelhante a algumas das utopias hedonistas e tecnicistas da ficção científica escrita no Norte. Nesta linha de interpretação, àquilo que se assemelhava a uma ficção científica para o Brasil teria de ser de má qualidade, no sentido de só podermos produzir anti-utopias para o nosso país. Mas, ao menos no caso de Loyola, com sofisticação.
Isso porque o romance lembra a estrutura paranoica vista na maior das anti-utopias, 1984, de George Orwell, embora pelo ponto de vista de sua ineficiência de gestão, ainda que com repressão. E uma estrutura existencial à lá Kafka, remontando a uma melancolia com o estado geral das coisas, ilustrada, claro, por situações absurdas. Mais absurdas ainda porque reais. Como o sumiço final do furo na mão de Souza, o último sujeito dos porquês em um mundo que se esqueceu de questionar a si mesmo e se entregou a um niilismo quase suicida.
Vale a pena citar ao menos uma passagem que mostra a sensibilidade crítica do autor com relação à postura das pessoas com respeito aos efeitos de um regime autocrata:

“Fomos nos habituando, de tal modo que passamos a pactuar com a tragédia, aceitando-a como cotidiano. Me espanta essa capacidade de acomodação da mentalidade, sua adaptação ao horror. Acredito que a gente possua um componente de perversidade que nos leva a encarar como normal esse pavor, a desejá-lo, às vezes, desde que não nos toque. Uma porcentagem de perversidade que tem sido alimentada pelo Esquema, essa coisa tão abstrata, que consegue se manter em meio à anarquia, ao caos estabelecido como ordem, à anomalia mascarada em progresso.” (página 191).

No fundo, Loyola descreve o fracasso do projeto de modernização do país e seus efeitos no cotidiano e mentalidade das pessoas. Uma opção de desenvolvimento importante não criada, mas ampliada de forma exagerada e distorcida pelos militares, por eles ufanistamente nomeada de “Brasil Potência”, com super usinas hidrelétricas e nucleares. E o autor escreveu justamente na época em que as esperanças do país renasciam, os anos 1980, por causa da liberalização política do regime e as perspectivas concretas que se avizinhava para o retorno da democracia.
Se o pessimismo da obra não coaduna com o momento específico que o país vivia, talvez seja porque o autor não acreditasse de fato que o país voltasse à ordem constitucional ou então de que mesmo nela o país já estaria inviável do ponto de vista de sua modernização e equidade social. Desta forma, Não Verás País Nenhum é o Brasil do futuro que nunca se realizou.[5]
Este é o melhor romance brasileiro de ficção científica já escrito. Um exemplo concreto das potencialidades de uma ficção de caráter especulativo que contesta a realidade e reflete sobre os problemas do país e do mundo contemporâneo. E, se possível, responda a alguma inquietação existencial do próprio autor.

Marcello Simão Branco

 [1] Em pesquisa do fanzine Megalon, ano XI, número 51, dezembro de 1998, sobre o melhor livro de ficção científica brasileira de todos os tempos, Não Verás País Nenhum ficou em oitavo lugar, com apenas dois votos.
[2] Recebeu, por exemplo, o Prêmio Illa, como o melhor livro latino-americano publicado na Itália em 1983, e resenhado no The New York Times Book Review.
[3] No artigo “Ventos de Mudança: A Ficção Científica Brasileira e a Transição Democrática”, argumento que Não Verás País Nenhum foi um romance que inaugurou uma mudança temática dentre aqueles que discutiram criticamente o regime militar. Pois quando escrito não se estava mais no período mais sombrio da repressão – da ficção distópica, mas sim no contexto do processo de liberalização do regime – uma ficção da abertura. Desta forma sinalizou, em termos literários, as novas perspectivas que se abriam para o Brasil. Ver em Semina: Revista de Ciências Sociais e Humanas, vol. 34, n. 2, 2013.
[4] Na coletânea Cadeiras Proibidas (1977), o autor retoma o tema no conto absurdista “O Homem do Furo na Mão”.
[5] No lançamento do livro Ficção Científica Brasileira: Mitos Culturais e Nacionalidade no País do Futuro, de M. Elisabeth Ginway, em 27 de julho de 2005, Loyola afirmou, em um debate na livraria Fnac, em Pinheiros, São Paulo, que este livro foi a conclusão de sua trilogia sobre a ditadura militar. Teria começado com sua instauração com Zero (1974), analisado o codidiano das pessoas sob sua vigência na coletânea Cadeiras Proibidas (1977) e especulado o seu desfecho futuro com Não Véras País Nenhum (1981). Em termos literários, provavelmente, a melhor contribuição a este perído histórico do país. 

sexta-feira, 3 de junho de 2016

Os Náufragos do Selene

Os Náufragos do Selene (A Fall of Moondust), Arthur C. Clarke. Tradução de Jorge Luiz Calife. Capa de Victor Burton. 265 páginas. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1984.


Quando escreveu Os Náufragos do Selene, Arthur C. Clarke (1917-2008) já era um nome consolidado no campo da ficção científica e da astronáutica. Havia estabelecido sua reputação nos anos 1950 com romances como O Fim da Infância (Childhood´s End, 1953) e A Cidade e as Estrelas (The City and the Stars, 1956) – que se tornaram clássicos – e o influente ensaio A Exploração do Espaço (The Exploration of Space, 1952).
Clarke acabara de receber ainda o Prêmio Kalinga, da Unesco, por sua contribuição à divulgação da ciência e publicado, de qubra, o livro de não-ficção Perfil do Futuro (The Profiles of the Future, 1962). Neste cenário Os Náufragos do Selene (A Fall of Moondust) é um romance que sem a mesma ambição filosófico-cósmica dos anteriores, busca uma aproximação mais realista, entre uma ficção de caráter especulativo e o conhecimento científico da época.
O livro narra os efeitos dramáticos de um acidente com uma nave que fazia uma excursão por pontos turísticos da Lua, já no século XXI colonizada pela humanidade. Pois a nave Selene sofre um acidente numa superfície aparentemente segura ao afundar como se numa areia movediça estivesse, a algumas dezenas de metros abaixo da superfície do Mar da Sede.
Temos o que na linguagem da ficção científica se costuma chamar de uma “problem story”, ou seja, um enredo que procura explorar todas as possibilidades racionais para se solucionar um problema de caráter natural ou tecnológico, ou ambos no caso do romance em questão. Clarke pontua bem os acontecimentos derivados do acidente, entre o drama dos personagens próximos da morte, e a formação de hipóteses e alternativas técnicas para salvá-los.
O romance tem o mérito de não mergulhar num dramalhão convencional tão comum em histórias deste tipo e populares nos cinemas como “filmes catástrofes”, ao interligar as vidas pessoais dos infortunados com o drama coletivo que os une. Mas talvez o autor inglês tenha exagerado ao diluir demais a dramaticidade, com personagens que se comportam a maior parte do tempo com uma fleuma e racionalidade pouco verossímeis numa situação limite como esta. Por exemplo: após o acidente e sem notícias sobre um possível resgate passam boa parte do tempo em passatempos, como leitura oral de romances!
Se Clarke mostra-se fraco em aprofundar a densidade psicológica dos personagens, a força de Os Naufragos do Selene esta, justamente, na resolução da “problem story”. De como será possível localizar a nave, contactar os passageiros e tripulantes, e mantê-los vivos enquanto os engenheiros e técnicos imaginam como irão fazer para tirá-los de lá em segurança. Aliás, tal contraste ilustra bem as virtudes e limites do autor britânico, repetidas no restante de sua obra.
Clarke usa bem o recurso de estilo narrativo de contar a história a partir de perspectivas diferentes, se alternando, como a dos passageiros, dos administradores e engenheiros, e de um jornalista que, por sorte e faro profissional, descobre o acidente antes, e procura tirar proveito disso.
É pela interação entre a liderança do espirituoso comodoro Hansteen – a bordo de forma anônima na Selene – do inicialmente hesitante comandante da nave, Pat Harris e do engenheiro-chefe da administração lunar Lawrence, que lidera a equipe que busca salvar os náufragos, que o romance tira o seu melhor na tradição de resolução de um problema aparentemente complexo e de incerta solução. Páginas e páginas ao longo dos capítulos esmiúçam em detalhes as várias possibilidades de resgate possível, e como elas vão sendo descartadas para que outras surjam, sem que com isso, as vidas dos passageiros e tripulantes deixem de estar em constante perigo.
A Lua é um dos cenários preferidos da ficção científica, a começar com as aventuras de Julio Verne, e ainda mais quando o romance foi escrito, pois estava na crista da onda, devido à corrida espacial entre norte-americanos e soviéticos. Além de ser uma conquista científico-tecnológica sem par era, principalmente, um troféu para a propaganda da ideologia vencedora. Tanto que depois que os Estados Unidos lá chegaram o interesse foi declinando, e a União Soviética acabou nem enviando uma nave tripulada para lá. Pelo que tudo indica, neste início de século XXI os chineses devem ser os próximos a nos mandar notícias e imagens in loco daqui há alguns anos.
De qualquer forma, como atesta Os Náufragos do Selene, e outras várias boas histórias sobre a Lua no terreno da FC, nosso satélite natural é um destino inevitável para as próximas décadas. Estratégico mesmo para viagens mais ousadas: Marte e além.
Nesse contexto, quando já existem projetos concretos de turismo espacial em órbita, o romance deverá ganhar um novo interesse, já que com uma provável colonização da Lua, atividades turísticas como as retratadas no livro deverão existir até de forma rotineira.
No conjunto da obra de Clarke Os Náufragos do Selene não chega perto de seus clássicos, os citados e outros como, por exemplo, 2001, uma Odisséia no Espaço (2001: A Space Odissey, 1968) e Encontro com Rama (Rendesvous with Rama, 1973). Tem um status intermediário, talvez subestimado. Mas por sua inteligência especulativa, em equilíbrio com um senso de verossimilhança que deverá se tornar ainda mais realista nas próximas décadas, é um livro de renovado interesse. Tanto para os fãs de ficção científica, como para os que procuram um livro elegante na forma e instigante no conteúdo.

– Marcello Simão Branco



quinta-feira, 2 de junho de 2016

Bokurano


Bokurano (Bukurano), Hiroyuki Morita. Gonzo, Japão, 2007.

Um grupo de estudantes em férias, oito meninos e sete meninas, encontram uma caverna na praia. Dentro dela, um programador de computadores meio louco propõe a eles uma boa diversão: participar de um novo jogo que ele criou, para o qual são necessários exatamente quinze jogadores. Como as crianças estão entediadas, decidem aceitar. Para isso são levadas a "assinar" um contrato, colocando a palma da mão numa espécie de leitor ótico.
Depois disso, as crianças desmaiam e acordam na praia, achando que tudo não passou de um sonho. Até que começa a aparecer no mar um robô gigantesco e todas as crianças são teletransportadas para seu interior. Lá, reencontram o programador e ficam sabendo que uma das regras do jogo é que cada um deles pilote o robô em uma luta mortal contra um outro robô gigante. E que, como o robô usa a energia do piloto, este morre depois da luta.
Mas há segredos ainda mais tenebrosos por detrás do jogo, que envolvem inclusive a existência de todo o universo.
Bokurano é uma história de ficção científica de dimensões cósmicas, criada por Mohiro Kitoh, publicada originalmente no Japão em uma série de história em quadrinhos entre 2003 e 2009. Chegou ao Brasil na forma de uma série de desenhos animados exibida pela extinta emissora a cabo Animax, em 24 episódios semanais.
Apesar da aparência de uma aventura infanto juvenil, Bokurano é uma história dramática e realista, sendo que o único ponto de fantasia é a existência dos tais robôs gigantes, que são realmente enormes. Com centenas de metros de altura, destroem cidades inteiras durante os combates.
A escolha do piloto é aleatória e ninguém sabe quem será escolhido para o sacrifício: a criança só sabe que será a próxima a ocupar o posto de piloto quando uma estranha tatuagem surge em sua pele, uma expectativa de horror na vida todas delas. Enquanto o governo tenta descobrir o que está acontecendo, o que é aquele monstro e o que as crianças têm a ver com ele, elas tentam administrar suas vidas, cada qual com seus próprios problemas pessoais e familiares.
Mas, afinal, o que é o jogo? É real ou apenas uma simulação? De onde vêm os robôs? E por que eles lutam? As respostas serão dadas aos poucos por um bizarro avatar de nome Koyemshi que, apesar da aparência simpática, é um cretino de marca maior.
O seriado está disponível online no saite Crunchyroll, aqui.
Cesar Silva