terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Futuro proibido


Futuro proibido [Semiotext(e)], Rudy Rucker, Robert Anton Wilson & Peter Lamborn Wilson, orgs. 224 páginas. Tradução de Sergio Kukpas, Ludmila Hashimoto Barros e Alexandre Matias. Capa de Johnny Freak e Denis Takata. Editora Conrad, São Paulo, 2003.

A editora brasileira comenta, na apresentação assinada por Marietta Baderna, que o livro seria publicado no Brasil em duas partes, anunciando para o segundo volume os textos de Philip José Farmer e Robert Sheckley entre outros. No entanto, publicou só o primeiro volume, deixando os leitores brasileiros com apenas parte desse curioso projeto, na qual se destacam-se os nomes de Bruce Sterling, Colin Wilson, Willian Gibson, Rudy Rucker e J. G. Ballard.
A ideia dos organizadores de Futuro proibido era reunir textos ousados e perturbadores que eventualmente tivessem sido censurados em suas edições originais, mas a maior parte dos contos não foi realmente censurada. Publicados em fanzines, são textos algo libertinos para o estado da arte vigente a época em que foram escritos, mas lidos hoje soam bastante normais. De fato, há trabalhos mais ousados entre os modernos escritores brasileiros de fc&f, mas é possível que muitos deles tenham sido influenciados pela leitura deste mesmo volume.
No aspecto erótico, os contos mais expressivos são "Êxtase no espaço", de Rudy Rucker – que não termina lá muito bem – e "O pênis Frankenstein", de Ernest Hogan – o mais entusiasmante do conjunto.
"Vemos as coisas de modo diferente", de Bruce Sterling e "Relatório sobre uma estação espacial não identificada", de Ballard, são textos bastante profissionais. O de Sterling lida com um tema sensível para os americanos, que é a presença em destaque de personagens árabes, mas ambos são trabalhos conservadores no estilo, ainda que avançados nas ideias.
A maior parte dos 16 contos publicados na edição brasileira se destaca mais pela ousadia formal, pós-moderna, do que pelos conteúdos. O trabalho de Colin Wilson sequer chega a ser um conto, está mais para um artigo. Dentre esses textos alternativos, impressiona "Visite Port Watson!", de um autor anônimo, que se desenvolve na forma de um guia de viagem a uma ilha no meio do Pacífico que vai soar familiar a quem acompanhou o seriado Lost.
Completam a edição alguns portfólios de artistas plásticos que perderam muito de seu possível apelo por serem publicados em uma apresentação pobre, sem cores e com definição ruim.
Por ser um livro pela metade, a sensação de incompletude é frustrante. Imaginar o que Farmer e Sheckley fizeram e que não sabemos é de deixar maluco. É difícil dar uma avaliação final realmente isenta, mas a impressão geral é que a ideia é melhor que o resultado. Poucos dos trabalhos publicados realmente cumprem a promessa do futuro proibido prometido pelo título nacional, mas vale a pena conhecer o que estes autores pensam ser uma fc imaginativa aos olhos do século XXI. Pelo menos a metade do livro é bastante inspiradora, o que é muito mais do que eu geralmente se pode esperar das antologias em geral.
Cesar Silva

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