quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

A batalha dos deuses


A batalha dos deuses, Juliano Sasseron, org. 176 páginas. Capa de Carlos Eduardo Gomes. Editora Novo Século, Barueri, 2011.

Anunciada no final de 2011, a primeira antologia da Editora Novo Século, A batalha dos deuses, organizada pelo escritor Juliano Sasseron (Crianças da noite, Novo Século, 2008), propõe especular sobre os diversos panteões de deuses mitológicos ao longo da história.
O volume de 176 páginas tem um boa apresentação, em papel pólen e capa com orelhas enormes e elegantes. A ilustração da capa não foi creditada.
Entre os nove contos selecionados, está o excelente "A menina que olhava", de Albarus Andreos, é um dos melhores conto que li nos últimos anos, poderoso e perturbador, conta a história de uma menina que é incitada por um demônio a desejar o mal das pessoas a sua volta. Bem escrito e com bom desfecho, lembra os dramas existenciais e espiritualistas de Orson Scott Card.
Outro bom conto é "Ragnarok", de Sid Castro, que conta a aventura de um grupo de vikings em viagem para suas colônias na América do Norte; mas eles se perdem e acabam chegando ao Rio Amazonas. O conto sustenta várias linhas de diálogo com outras obras da fantasia nacional, como A sombra dos homens (2004), de Roberto de Sousa Causo e A lendária Hy-Brasil (2005), de Michelle Klautau. Aos poucos, a fantasia heróica brasileira vai construindo um padrão, e isso é bom.
"Popol Vuh", de Sérgio Pereira Couto, também é um texto curioso, investindo no relato de um jovem que, sob influência de alucinógenos, tem visões com deuses do panteão maia. Reporta ao ponto alto do clássico romance de ficção científica Amazônia misteriosa (1925), de Gastão Crulz.
Mas a qualidade da antologia é comprometida pelo recorrente discurso anticristão dos demais textos, que torna a leitura muito cansativa e antipática. "Consciência quântica", o conto que fecha a antologia, de autoria do próprio organizador Juliano Sasseron, reforça a proposta dando ao conjunto o corpo de um manifesto em favor do ateísmo, um proselitismo inadequado porque antagônico à proposta fundamental da própria antologia.
Ainda assim, o livro vale pelos três textos destacados, que merecem ser lembrados em referência futuras.
Cesar Silva

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