segunda-feira, 30 de março de 2020

O Ciclo do Pavor (Kill Baby... Kill!, Itália, 1966)


“Só uma moeda no coração pode dar paz àqueles que foram mortos de forma violenta.”

O cinema gótico italiano, assim como os filmes da produtora inglesa “Hammer”, garantiu seu lugar de destaque de forma significativa na história do Horror. “O Ciclo do Pavor” (Operazione Paura / Kill Baby... Kill!, 1966) é mais uma dessas preciosidades de valor inestimável para os apreciadores do estilo. O filme tem direção do mestre Mario Bava (1914 / 1980), um dos grandes nomes cultuados do cinema fantástico, especialmente pelas obras-primas do horror gótico como “Os Vampiros” (1957), “A Maldição do Demônio” (1960), “As Três Máscaras do Terror”, “O Chicote e o Corpo” (ambos de 1963), entre outros.
O médico legista Dr. Paul Eswai (Giacomo Rossi-Stuart) vai até um distante vilarejo chamado Karmingam para realizar a autópsia de uma jovem mulher, Irena Hollander (Mirella Panfili), que morreu de forma violenta e misteriosa. Ao chegar, logo é avisado pelo cocheiro da carruagem que o transportou que o local é maldito, e também é mal recebido pelos aldeões supersticiosos, percebendo que no vilarejo impera o medo e reina a morte.
As investigações do óbito suspeito são lideradas pelo Inspetor da polícia Kruger (Piero Lulli), que recebe o apoio, mesmo que meio contrariado, do burgomestre local Sr. Karl (Max Lawrence, pseudônimo de Luciano Catenacci).   
O Dr. Eswai recebe a ajuda de uma estudante de medicina também recém chegada, Monica Schuftan (Erika Blanc), que tem uma história familiar misteriosa com a pequena cidade. E também recebe o apoio de uma estranha feiticeira, Ruth (Fabienne Dali), que parece conhecer os enigmas obscuros que rondam as ruas do vilarejo amaldiçoado, e a relação com a Villa Graps, uma mansão tétrica e decadente onde vive reclusa a Baronesa Graps (Giana Vivaldi), que tinha uma filha, Melissa (curiosamente interpretado por um menino, Valerio Valei, em seu único trabalho no cinema), que morreu num acidente trágico enforcada há vinte anos, com seu espírito atormentado vagando em busca de vingança.  
O Horror Gótico é um dos subgêneros mais fascinantes do cinema fantástico. Esse filme de Mario Bava tem uma atmosfera sinistra constante de gelar a espinha, um clima pesado, sombrio e depressivo com o vilarejo amaldiçoado, os aldeões supersticiosos e péssimos anfitriões, o cemitério envolto em névoa espessa, as casas frias de pedra, a mansão macabra com aposentos enormes cheios de teias de aranha, a escada em espiral hipnotizante, a cripta com túmulos gelados, os gemidos agonizantes povoando a mente com tormentos e fantasmagorias.    
“O Ciclo do Pavor” teve uma versão americana reduzida, que recebeu o título “Curse of the Living Dead”, e outra mais completa para distribuição em vídeo com o nome mal escolhido “Kill Baby... Kill! (não é só no Brasil que muitos títulos são péssimos).
Para a satisfação dos colecionadores e apreciadores do Horror Gótico, foi lançado em DVD no Brasil pela “Versátil”, na coleção “Obras-Primas do Terror – Volume 2”. Como material extra temos um valioso depoimento do diretor e roteirista italiano Luigi Cozzi, sobre uma entrevista que ele fez com Mario Bava quando ainda era bem jovem e jornalista a serviço da lendária revista americana “Famous Monsters of Filmland”, do editor Forrest J. Ackerman (1916 / 2008). Cozzi relatou várias curiosidades interessantes.
As filmagens externas foram feitas em apenas seis noites e o total com as cenas de estúdio totalizou doze dias. Bava revelou que não gostava de excesso de sangue e a exposição de monstros aterrorizantes nos filmes, e que preferia um horror mais sugerido, optando por não mostrar o monstro, obtendo um resultado melhor.
O diretor italiano não era reconhecido na época em seu próprio país, mas era admirado nos Estados Unidos, justificando o interesse pela entrevista, num exemplo similar com o nosso José Mojica Marins (“Zé do Caixão”), que recebeu o nome “Coffin Joe” nos Estados Unidos, onde seus filmes eram cultuados, e que felizmente depois (antes tarde do que nunca) foi reconhecido no Brasil como um merecido “mestre do Horror”.
“O Ciclo do Pavor” teve muitas dificuldades na distribuição, pois a produtora responsável pelo filme faliu antes do lançamento. Cozzi disse que conseguiu ver o filme num cinema pequeno e que ficou em cartaz por pouco tempo. Felizmente foi reconhecido mais tarde como “obra-prima” e respeitado como um filme de horror gótico que deve ser reverenciado eternamente.

(Juvenatrix – 30/03/20)


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