sábado, 20 de fevereiro de 2016

O Incrível Homem Que Encolheu (The Incredible Shrinking Man, EUA, 1957, PB)


Produção da “Universal” de 1957 com fotografia em preto e branco, “O Incrível Homem Que Encolheu” tem direção de Jack Arnold e história de Richard Matheson, dois especialistas no gênero fantástico. Arnold (1916 / 1992) tem no currículo preciosidades como “Veio do Espaço” (1953), “O Monstro da Lagoa Negra” (1954), “A Revanche do Monstro” (1955), “Tarântula!” (1955), “Mensagem do Planeta Desconhecido” (1958) e “O Monstro Sanguinário” (1958). E o escritor Matheson (1926 / 2013) escreveu vários episódios da série de TV “Além da Imaginação” e roteiros de filmes produzidos por Roger Corman e inspirados em Edgar Allan Poe como “O Solar Maldito” (1960), “O Poço e o Pêndulo” (1961), “Muralhas do Pavor” (1962) e “O Corvo” (1963). Também escreveu os roteiros de “Farsa Trágica” (1964), “As Bodas de Satã” (1968), da “Hammer” e “Encurralado” (1971), de Steven Spielberg, e parte de seus livros foram adaptados para o cinema em filmes como “Mortos Que Matam” (1964) e “A Casa da Noite Eterna” (1973).

Minha prisão. Uma área perigosa e solitária no espaço e no tempo. Pensei que assim como o homem tinha dominado o seu mundo, eu dominaria o meu.” – Scott Carey, analisando o porão de sua casa.

Scott Carey (Grant Williams) está passeando com sua esposa Louise (Randy Stuart) num barco no mar, descansando e tomando um banho de sol. Porém, uma misteriosa nuvem radioativa surge no caminho e apenas ele entra em contato com a estranha neblina. Passados alguns meses e depois que ele também entra em contato aleatório com uma névoa de inseticida, percebe que suas roupas estão ficando folgadas no corpo. Analisando melhor o mistério, descobre que está incrivelmente encolhendo e exames médicos indicaram uma reorganização da estrutura molecular das células de seu corpo, provocada pela exposição à radiação misturada com o inseticida. Com o encolhimento crescente e desenfreado de seus órgãos, Scott Carey tornou-se vítima da imprensa sensacionalista e se isolou do convívio social. Diminuiu tanto de tamanho que passou a morar numa casa de bonecas, lutando por sua vida contra a ameaça de seu gato de estimação. Com o encolhimento progressivo e depois de um acidente num confronto com o imenso gato, ele cai no porão e mora numa caixa de fósforos. Na nova condição repleta de perigos e dificuldades para a sobrevivência, ele terá que lutar o tempo todo por sua vida, encolhendo sem parar, enfrentando desde uma inundação com um vazamento de água de um cano até a batalha mortal com uma aranha enorme que vive no porão e quer manter seu domínio no local.

Meu inimigo parecia imortal. Mais que uma aranha, ele representava todos os medos desconhecidos do mundo. Todos eles, juntos num medonho horror negro.” – Scott Carey, sobre a guerra contra a aranha colossal.

“O Incrível Homem Que Encolheu” é uma pérola do cinema fantástico dos anos 50 do século passado, geralmente considerado pelos apreciadores do gênero como um dos mais importantes filmes de todos os tempos. Ambientado numa época onde a guerra fria entre os Estados Unidos e a antiga União Soviética pela supremacia do mundo, gerava um clima desconfortável de constante instabilidade e medo de um apocalipse nuclear, com a especulação dos efeitos destrutivos do uso indevido da radiação. A espetacular história mantém o interesse contínuo fazendo o espectador torcer pelo sucesso do protagonista, entendendo seu drama incomum e criando uma empatia por sua grave situação de homem encolhido que luta pela vida num ambiente onde tudo se transforma em perigoso e potencialmente mortal. Sem contar o imenso esforço psicológico para suportar a nova condição e não enlouquecer ou entrar num estado de depressão sem volta, perante o completo cenário pessimista ao seu redor. É difícil até imaginar como seriam nossas ações se tivéssemos que enfrentar uma situação similar, num mundo novo de desafios e perigos, onde o ápice do caos está no confronto com uma aranha que se transformou num monstro gigante pela perspectiva do homem encolhido.
Apesar de uma produção de baixo orçamento, os efeitos especiais são excelentes, principalmente pela época e pelos recursos disponíveis, num período sem a facilidade e artificialidade da computação gráfica, utilizando a construção de mobílias e objetos gigantes para simular a condição diminutiva do personagem. Além de efeitos eficientes de trucagem em cenas como a perseguição do gato de estimação, que de dócil tornou-se um monstro carnívoro ameaçador.
O desfecho, carregado de comentários filosóficos do protagonista, refletindo sobre questões existenciais, é memorável e se destaca na história do cinema de Ficção Científica, ao lado de outros marcantes como “O Homem dos Olhos de Raio-X” (1963) e “O Planeta dos Macacos” (1968).

Mas, de repente entendi que eram dois extremos de um mesmo conceito. O incrivelmente pequeno e o vasto acabaram se encontrando, como se um grande círculo se fechasse. Olhei para o céu como se de algum modo pudesse compreender, o céu, o universo, os mundos infinitos, a tapeçaria prateada de Deus que cobre a noite. Eu ainda existo.” – Scott Carey, refletindo sobre sua nova condição como “o incrível homem que encolheu”, e que continua encolhendo de forma infinitesimal.

Curiosamente, o escritor Richard Matheson criou uma história para possível sequência onde Louise Carey, a esposa do homem encolhido, também teria que enfrentar o mesmo drama, porém o projeto foi cancelado pelos produtores. E um erro atribuído ao filme é que a aranha utilizada é uma tarântula, porém esses aracnídeos não vivem em teias como mostrado, e sim em tocas e buracos.

(Juvenatrix – 19/02/16)

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