sábado, 30 de maio de 2015

Lua negra, Laura Elias

Lua negra, Laura Elias. 190 páginas. Capa: Altair Sampaio. Mythos Editora, São Paulo, 2010.

Lua negra é o segundo volume da série Red Kings, sequência de Crepúsculo vermelho, publicado em 2009 pela mesma editora. Mas a leitura deste volume prescinde daquele e o leitor não terá dificuldade em acompanhar a história sem ter lido o primeiro volume, como foi o meu caso.
A protagonista da série é Megan Grey, jovem de 17 anos de idade que mantém um relacionamento emocionalmente intenso com Bill Stone, líder da banda de sucesso The Red Kings of Dark Paradise e, não por acaso, também um descendente da linhagem dos rovdyr, raça inumana de caçadores de vampiros que sustentam uma guerra surda com poderosas e tradicionais famílias de sugadores. Envolvida na disputa, Megan foi mortalmente ferida no primeiro romance da série e sobreviveu graças ao sangue de Bill que lhe foi administrado.
A história de Lua negra inicia durante um inverno especialmente severo, que tornou branca a paisagem da pequena cidade de Red Leaves, onde Megan vive com sua família, enquanto Bill está fora em excursão com sua banda. Mas o rigor desse inverno não é natural: é decorrente do despertar de forças antigas e poderosas. Um exército feroz de monstros do Ártico está marchando para o sul, disposto a aniquilar tudo o que encontrar pelo caminho, e a onda de baixas temperaturas e tempestades violentíssimas é apenas seu cartão de visitas.
O risco de aniquilamento une vampiros e rovdyrs contra o inimigo comum, numa batalha sangrenta nos campos nevados de Red Leaves. Segredos de família, intrigas e fantasmas do passado vão tornar a relação de Megan e Bill uma montanha russa de acontecimentos trágicos, com muita ação e violência. Megan ainda enfrentará o despertar de estranhos poderes herdados do sangue rovdyr de Bill, que ela não entende e nem controla.
Laura Elias tem uma narrativa ágil, fluida e agradável, apesar do tema mórbido. A linha principal da história acompanha o ponto de vista da Megan mas salta, eventualmente, para plots paralelos. Há uma grande quantidade de personagens coadjuvantes orbitando a relação de Megan e Bill, que os mantém quase sempre afastados e levam a impetuosa Megan a meter-se em enrascadas mortais para ficar perto de seu amado.
Nem todos os mistérios apresentados na trama são explicados, uma vez que Lua negra não é uma conclusão e a história deve ter pelo menos mais um volume, provisoriamente intitulado Luz na noite, sem data de publicação definida*.
Laura Elias é fluminense de Barra Mansa, atualmente radicada em Santo André, no ABC paulista. Apesar de pouco conhecida, é uma autora experiente, com mais de 35 livros publicados sob diversos psedônimos, tais como Loreley Mackenzie, Sophie H. Jones, Suzy Stone, Laura Brightfield. A maior parte de sua obra é formada por romances de banca realistas, mas a autora também navega no fantástico – como nos livros da série Red Kings – e no infanto-juvenil, como no livro Tristin Mckey e o mistério do dragão dourado, assinado como Elizabeth Carrol, publicado em 2007 também pela Mythos Books. Sua produtividade autoral é invejável, e ela afirma com tranquilidade que consegue produzir um romance do porte de Lua negra em poucas semanas, pois esta é uma exigência comum no mercado em que ela atua.
A autora revelou, numa de suas muitas palestras e entrevistas, que o título e os nomes dos personagens de Crepúsculo vermelho foram definidos pelo editor, originalmente eram outros. Isso porque a Mythos não sabia se um romance de horror iria emplacar entre o seu público e Laura nunca havia trabalhado no gênero, embora sempre tivesse gostado dele. Quando Crepúsculo vermelho finalmente foi distribuído, em 2009, tornou-se o seu livro mais vendido, o que lhe deu maior liberdade em Lua negra.
Os livros da coleção Mythos Books seguem o padrão dos romances de banca tradicionais, como os das populares coleções Harlequim, Bianca e Sabrina, com capas envernizadas em papel mole e miolo em papel jornal impresso em rotativa. A produção é modesta, mas caprichada, com boa apresentação e revisão, e um preço ao consumidor bastante acessível.
Laura Elias é pioneira nos romances fantásticos brasileiros dirigidos às mulheres e distribuídos em banca. Antes dela, tivemos apenas livros de pequeno porte dirigidos aos leitores masculinos, como os da Coleção Mini Bolso, da Editora Opera Graphica, da Coleção Império, publicada pela Editora MC, e da série Pocket Suspense, da Editora Fittipaldi. O sucesso do trabalho da Laura Elias, somado ao expressivo crescimento de interesse dos leitores por textos do gênero, pode anunciar o início de um novo e promissor mercado para os autores nacionais de fc&f.
Cesar Silva

* O romance foi publicado em 2013 pela Editora Literata sob o título de A rainha vermelha.

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