Um jogo muito popular nas ofinas de escrita criativa é o round robin, uma dinâmica que consite em, a partir de uma fragmento de texto inicial, um outro autor é estimulado a dar-lhe continuidade. Por sua vez, após ter escrito o trecho que lhe cabia, este passa a tarefa a outro autor e assim por diante até que o texto seja finalizado. Cada autor pode dar ao texto o encaminhamento que quiser, mas deve respeitar o que foi feito antes dele e deixar um gancho dramático que desafie o autor seguinte. O resultado dessa dinâmica costuma ser um tanto desconjuntado, mas isso é o que menos importa: o importante é exercitar a criatividade e a capacidade de improviso.
Por isso é supreendente o resultado que Fabio Fernandes e Nelson de Oliveira obtiveram na curiosa noveleta Oneironautas, construída no molde de um round robin. É claro que o fato de termos aqui autores experientes e de muitos recursos, além de serem apenas dois, contribuiu para que a narrativa tivesse um padrão mais regular e os conceitos propostos não fossem abandonados pelo caminho.
Fabio Fernandes é um autor da Segunda Onda da ficção cinetífica brasileira, que fez parte ativa do fandom dos anos 1980/1990, quando a produção nacional era praticada principalmente nos fanzines. Mais recentemente, Fernandes tornou-se referência no fandom digital e forte influenciador dos autores da terceira onda. Seu livro Back in the U.S.S.R., editado pela Patuá em 2019, figurou entre os dez finalistas do Prêmio Jabuti na categoria Entretenimento. Já Nelson de Oliveira é uma sumidade no ambiente mainstream literário, por duas vezes vencedor do Prêmio Casa de Las Americas. Ficou mais conhecido no ambiente dos fãs de ficção científica com o heterônimo Luiz Brás, que criou especialmente para assinar seus trabalhos nesse gênero. É um escritor consagrado, portanto.
Logo, não se podia esperar pouco de Oneironautas. A história é um cabo de guerra entre os dois autores, cada um deles retesando a corda o mais que pode para derrubar o oponente. Mas quem vence a disputa são os leitores.
Oneironautas é uma viagem lisérgica na qual os dois autores, que se colocam como personagens da história, deslocam-se loucamente pelos sonhos um do outro, encontrando personalidades alternativas de si próprios e de seus acompanhantes, com as quais interagem em situações imprevisíveis e absurdas. Em alguns momentos a narrativa ganha ares de ficção científica, com divertidas referências à elementos da cultura pop, como personagens de desenhos animados, séries de tv, cinema e histórias em quadrinhos.
De qualquer forma, a história é o que menos importa, já que o grande mérito de Oneironautas é o prazer estético formal da narrativa que, em muitos momentos, flerta com a poesia – embora nunca abandone o padrão de prosa – em quinze capítulos curtíssimos de trezentas palavras cada (uma regra do jogo), mais um epílogo, nomeados de forma nem sempre legível. A edição enxuta vem ilustrada por padrões gráficos que dão ao conjunto uma estética concretista que também remete a uma certa poética. A leitura pode ser tão rápida quanto se queira. Dá para ler o volume todo em pouco mais de meia hora, mas aí se perde boa parte da graça, que é vaguear sem freios pelos sonhos absurdos destes dois oneironautas.
Logo, não se podia esperar pouco de Oneironautas. A história é um cabo de guerra entre os dois autores, cada um deles retesando a corda o mais que pode para derrubar o oponente. Mas quem vence a disputa são os leitores.
Oneironautas é uma viagem lisérgica na qual os dois autores, que se colocam como personagens da história, deslocam-se loucamente pelos sonhos um do outro, encontrando personalidades alternativas de si próprios e de seus acompanhantes, com as quais interagem em situações imprevisíveis e absurdas. Em alguns momentos a narrativa ganha ares de ficção científica, com divertidas referências à elementos da cultura pop, como personagens de desenhos animados, séries de tv, cinema e histórias em quadrinhos.
De qualquer forma, a história é o que menos importa, já que o grande mérito de Oneironautas é o prazer estético formal da narrativa que, em muitos momentos, flerta com a poesia – embora nunca abandone o padrão de prosa – em quinze capítulos curtíssimos de trezentas palavras cada (uma regra do jogo), mais um epílogo, nomeados de forma nem sempre legível. A edição enxuta vem ilustrada por padrões gráficos que dão ao conjunto uma estética concretista que também remete a uma certa poética. A leitura pode ser tão rápida quanto se queira. Dá para ler o volume todo em pouco mais de meia hora, mas aí se perde boa parte da graça, que é vaguear sem freios pelos sonhos absurdos destes dois oneironautas.
— Cesar Silva
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