sexta-feira, 19 de abril de 2024

BESTA DE GÉVAUDAN


BESTA DE GÉVAUDAN

Miguel Carqueija

 

Não saia de casa à noite,

aguarde até de manhã;

que ela vem como um açoite:

a Besta de Gévaudan!

 

Quem tem um uivo medonho

e matar é o seu afã,

quem mais parece um mau sonho?

É a Besta de Gévaudan!

 

Ela é a fera noturna

que ataca para matar:

e pela noite soturna

está sempre a vaguear!

 

Nada consegue por medo

na perversa criatura,

que carrega o seu segredo

desde o monte até a planura!

 

 

Ó Deus, protege este povo!

Como será o amanhã?

Sempre mais mortes, de novo,

na vila de Gévaudan?

 

A Besta quer muito sangue

e não receia morrer:

deixa sua vítima exangue,

ela mata por prazer!

 

Que mal que fez esta terra

pra tamanho merecer?

E sustentar esta guerra

Com tão poderoso ser?

 

Cavaleiros e cachorros

o monstro já perseguiram

pelas charnecas e morros

porém nada conseguiram!

 

Precisamos de um herói

ou então de um grande santo

porque esta matança dói

e a Morte estende o seu manto!

 

É grande a dor no horizonte

e reina a fatalidade;

de onde será a fonte

que gerou essa maldade?

 

As patas pisam silentes

como forradas por lã;

punindo os impenitentes:

a Besta de Gévaudan!

 

Olhos de sangue injetados

cheios de ódio a nós espiam

enquanto os mortos, coitados,

pelas estradas jaziam!

 

É um lobo, uma hiena,

ou um dragão repulsivo

que nos mata sem ter pena?

Será dos céus um aviso

 

do que virá sobre a França

e que fará perecer

homem, mulher e criança

e será ver para crer?


Este é o flagelo de Deus,

a Besta é um vaticínio:

protejam os filhos seus

que aí vem o morticínio!

 

E o bispo na procissão

suplica o auxílio dos santos:

livrai-nos da maldição,

enxugai os nossos prantos!

 

Rio de Janeiro, 6 de abril de 2024

 

 

 imagem pinterest

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