BESTA DE GÉVAUDAN
Miguel Carqueija
Não saia de casa à noite,
aguarde até de manhã;
que ela vem como um açoite:
a Besta de Gévaudan!
Quem tem um uivo medonho
e matar é o seu afã,
quem mais parece um mau sonho?
É a Besta de Gévaudan!
Ela é a fera noturna
que ataca para matar:
e pela noite soturna
está sempre a vaguear!
Nada consegue por medo
na perversa criatura,
que carrega o seu segredo
desde o monte até a planura!
Ó Deus, protege este povo!
Como será o amanhã?
Sempre mais mortes, de novo,
na vila de Gévaudan?
A Besta quer muito sangue
e não receia morrer:
deixa sua vítima exangue,
ela mata por prazer!
Que mal que fez esta terra
pra tamanho merecer?
E sustentar esta guerra
Com tão poderoso ser?
Cavaleiros e cachorros
o monstro já perseguiram
pelas charnecas e morros
porém nada conseguiram!
Precisamos de um herói
ou então de um grande santo
porque esta matança dói
e a Morte estende o seu manto!
É grande a dor no horizonte
e reina a fatalidade;
de onde será a fonte
que gerou essa maldade?
As patas pisam silentes
como forradas por lã;
punindo os impenitentes:
a Besta de Gévaudan!
Olhos de sangue injetados
cheios de ódio a nós espiam
enquanto os mortos, coitados,
pelas estradas jaziam!
É um lobo, uma hiena,
ou um dragão repulsivo
que nos mata sem ter pena?
Será dos céus um aviso
do que virá sobre a França
e que fará perecer
homem, mulher e criança
e será ver para crer?
Este é o flagelo de Deus,
a Besta é um vaticínio:
protejam os filhos seus
que aí vem o morticínio!
E o bispo na procissão
suplica o auxílio dos santos:
livrai-nos da maldição,
enxugai os nossos prantos!
Rio de Janeiro, 6 de abril de 2024
imagem pinterest
Nenhum comentário:
Postar um comentário