sábado, 22 de abril de 2023

Anacrônicas, Ana Cristina Rodrigues

Anacrônicas: Contos mágicos e trágicos, Ana Cristina Rodrigues. 204 páginas. Rio de Janeiro: Aquário, 2014.


Ana Cristina Rodrigues construiu sua reputação como ativista cultural no ambiente da ficção fantástica através das redes sociais, sendo uma autora identificada claramente com o que os estudiosos do gênero convencionaram chamar de "terceira onda" da ficção científica brasileira. Como resultado direto de sua militância, Rodrigues foi, no início do século, a primeira mulher a presidir o Clube de Leitores de Ficção Científica-CLFC e teve sua ficção destacada principalmente no ambiente virtual. 
Anacrônicas: Pequenos contos mágicos foi, provavelmente, sua primeira seleta individual, publicada em 2009 pela Editora A1. O volume aqui analisado é a segunda edição do título, publicado em 2014 no selo Aquário, que a autora fundou ao lado do cartunista Estevão Ribeiro.
Esta edição reúne, em 204 páginas, boa parte da produção literária inicial da autora; republica doze textos da primeira edição, a eles acrescenta três inéditos e mais nove, vistos primeiro em diversas antologias, num total de 24 contos que se espalham em diversos ambientes no gênero da fantasia, quase sempre medieval. A autora afirma, no prefácio, que alguns dos textos são, de fato, trechos de um mesmo trabalho mais longo. 
Muitos contos são vinhetas e homenagens literárias, como a fanfic de Sandman, "O ladrão de sonhos", e a de Alice no País das Maravilhas, "É tarde".
O melhor texto da seleta é "O longo caminho de volta" que, com 24 páginas, também é mais mais longo do conjunto. Primeiro publicado na antologia Cidades indizíveis (2011, Liyr), fala sobre uma mulher que retorna para sua cidade natal depois de anos no exílio, para tentar restaurar sua dignidade. O interessante é que a cidade em que ela nasceu é uma gigantesca biblioteca a céu aberto. 
Também vale destacar  "O ensurdecedor silêncio dos deuses" (2016, Aquário), que é o texto que mais se aproxima da ficção científica e fala sobre o ritual de sacrifício do povo-macaco que vive oprimido pela tribo dos homens-águia. "Carta a monsenhor", visto primeiramente na antologia Paradigmas 2 (2009, Tarja), revela a confissão de um moribundo que passou a vida aterrorizado por demônios. Em "A morte do temerário", visto primeiro na antologia Espelhos irreais (2009, Multifoco), um príncipe procura por redenção na busca por uma ave mítica. E o drama arturiano "A dama de Shallot", texto já presente na edição de 2009, que fecha esta seleta.
Vale a visita à ficção de Ana Cristina Rodrigues que, independente de qualquer significado político que tenha conquistado ao longo de sua militância no fandom, possui um texto elegante que, devido ao seu aspecto histórico, pode agradar diversos tipos de leitores, especialmente aqueles que não são fãs de ficção fantástica.

Cesar Silva

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