quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

Guerra sem fim, Joe Haldeman

Guerra sem fim (Forever war), John Haldeman. 304 páginas. Tradução de Leonardo Castilhone. São Paulo: Landscape, 2009.

Guerra sem fim foi o título brasileiro que a editora Landscape escolheiu para o romance Forever War, do escritor americano John Haldeman, um drama de guerra espacial publicado originalmente em 1975, que faturou o Hugo e Nebula, os principais prêmios norte-americanos para o gênero.
A história conta a experiência de um soldado em uma guerra num planeta tão distante que, ao retornar depois de dois anos de serviço, não encontra mais o mundo de onde partiu, visto que, por causa dos efeitos da relatividade, o tempo na Terra passou dezenas de anos mais rápido. E missões mais distantes ainda o aguardam.
Mas esse argumento não é o único apelo relevante do livro de Haldeman. Na verdade, histórias com esse mesmo conceito já foram escritas aos montes, entre elas o excelente O dilema do astronauta (Starman's Quest, 1958), de Robert Silverberg, publicado pela editora portuguesa Panorama. O que importa na ficção de Haldeman são os conceitos políticos ali discutidos, sobre a presença dos homens em guerras nas quais eles nunca deveriam se envolver. Essas ideias advém do fato de Haldeman ser veterano da guerra do Vietnã, condecorado com uma medalha por ferimentos em combate.
Os paralelos entre Guerra sem fim e sua experiência como soldado não são mera coincidência. Haldeman é um escritor influente em seu país, com vários outros Hugos e Nebulas no currículo. Entre 1983 e 2014, foi professor sênior de escrita criativa do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). No Brasil ele foi pouco - ou nada - publicado. Provavelmente seu único texto saiu no extinto fanzine Hipertexto publicado pela UFSCar, apenas porque seus editores tiveram a sorte de encontrá-lo pessoalmente num simpósio de ficção científica em Portugal e puderam negociar diretamente com o escritor.
A lamentar o fato de que o romance só ganhou publicação no Brasil depois que o diretor de cinema Ridley Scott (de Blade Runner e Alien) adquiriu seus direitos para uma versão filmada, nunca realizada. Como tem sido patente nos últimos vinte anos, a publicação de uma ficção científica original parece ter que vir a reboque de um subproduto audiovisual. É lamentável que as editoras brasileiras ditas profissionais ainda se comportem dessa forma. Pelo menos a Landscape teve a iniciativa de traduzir e publicar o livro sem esperar pelo filme, o que já é mais do que se poderia desejar. Outras editoras talvez não o fizessem. 
A edição da Landscape é bacana mas três coisas eu pessoalmente desgostei: primeiro, o título. A obra já era conhecida há anos no fandom como "Guerra eterna", e essa teria sido a sua melhor tradução. Existe até uma adapatação em quadrinhos traduzida em Portugal com esse título. E também houve, em 1993, uma novela produzida pela extinta TV Manchete com o título de Guerra sem fim e muita gente bem poderia pensar que o livro é sua novelização. Segunda coisa: a imagem da capa não traduz nem de longe o clima do romance, parece mais um romance de bolso dos anos 1950. Terceiro, o preço. A editora brasileira sugeriu o preço de capa em R$54,90, um valor quase impraticável para a época de sua publicação no Brasil, em 2009, quando os preços dos livros estavam num patamar muito abaixo disso. Só fãs muito ardorosos compraram esta edição, que é hoje muito rara, e um livro dessa qualidade merecia ser lido mais amplamente. E foi mesmo uma pena pois, um pouco por causa disso - e mais pelo fato do filme nunca ter vindo -, que nunca tivemos a publicação dos romances subsequentes, Forever Free e Forever Peace, ambos também muito bons.
Hoje, o romance está disponível em edição de 2019 da Editora Aleph. A capa e o título continuam ruins, mas o preço está bem mais acessível.
Cesar Silva

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