“À noite,
Nosferatu crava suas presas em sua vítima e alimenta-se de seu sangue, seu
infernal elixir da vida. Cuidado para que a sombra dele não sobrecarregue seus
sonhos com medos horríveis.”
Um dos mais importantes estilos
cinematográficos da história do cinema de Horror é o “Expressionismo Alemão”, que
produziu filmes principalmente na década de 1920. Caracterizado pelo uso de
cenários e personagens distorcidos, com maquiagem exagerada e uma atmosfera
sombria e sobrenatural obtida por recursos criativos de fotografia, com a ideia
de expressar o momento pessimista e depressivo que a Alemanha enfrentava após a
derrota na Primeira Guerra Mundial (1914 / 1918).
E um dos mais significativos
representantes desse estilo é “Nosferatu”
(Nosferatu, eine Symphonie des Grauens, 1922), mudo, fotografia em preto e
branco, e direção de F. W. Murnau. Foi lançado em DVD no Brasil em 2019, numa
edição especial da “Versátil”, junto com a versão de 1979 dirigida por Werner
Herzog, e vários materiais extras interessantes.
Ambientado em 1838 na cidade alemã de
Wisborg, o corretor de imóveis Hutter (Gustav V.
Wangenheim) vai para a Transilvânia, nos Montes Cárpatos, visitar o misterioso
Conde Orlok (Max Scherek) para oferecer a venda de uma grande casa abandonada,
que fica situada em frente da sua própria casa em Wisborg. Ao chegar num
vilarejo próximo ao castelo desolado de seu cliente, ele é alertado pelos
aldeões amedrontados e supersticiosos para não continuar a viagem até o
sinistro conde, mas Hutter ignora os avisos. Ele é recebido por Orlok, também
conhecido como o temível vampiro Nosferatu, e concretiza a venda do imóvel,
mesmo sentindo uma desconfortável atmosfera sombria no castelo e com seu
anfitrião estranho. As coisas complicam ainda mais depois que Orlok vê uma foto
da bela e jovem esposa de Hutter, Ellen (Greta Schroder), por quem ele fica
obcecado.
Nosferatu viaja para
Wisborg e seu navio amaldiçoado chega ao porto trazendo um caixão com a terra
natal do conde, junto com uma invasão de ratos pestilentos e todos os
tripulantes mortos, deixando a polícia local intrigada e preocupada com a
disseminação da peste negra na cidade. O vampiro se instala na nova casa e com
hábitos noturnos e aversão ao sol, passa a perseguir implacavelmente a inocente
Ellen em busca de seu sangue imaculado.
“Nosferatu” é um dos
principais filmes mudos de horror que ficou eternizado com algumas das cenas
mais clássicas e marcantes na história do gênero. Temos “a sombra do vampiro
subindo as escadas para o ataque no quarto de Ellen” (e que ilustra um dos
cartazes do filme); “o navio fantasma chegando ao porto sem ninguém vivo,
trazendo a praga para a cidade”, e “Nosferatu levantando-se vagarosamente de
seu repouso no caixão que está no navio da morte”, entre outras.
O filme possui uma
diferença significativa em comparação com outros do expressionismo alemão, ao
realizar filmagens externas com planos sinistros de florestas fantasmagóricas e
do castelo gótico, em vez de cenários artificiais criados em estúdios. Outro
detalhe interessante que merece registro é a concepção do vampiro, num estilo
mais folclórico e assustador, com orelhas pontudas, sem cabelos, olhos
profundos, dentes pontiagudos e dedos longos com unhas imensas, diferente dos
vampiros românticos e sedutores muito explorados nos filmes seguintes. Curiosamente,
na versão lançada em DVD pela “Versátil”, ao contrário de outras versões, as
cenas externas possuem uma coloração azulada para passar uma ideia de ação
noturna, uma vez que o vampiro seria destruído pela luz do dia.
Na época do lançamento nos
cinemas, o retorno financeiro foi abaixo do esperado com uma recepção fria do
público, e a produtora “Prana” entrou em falência poucos meses depois, ao
enfrentar também um processo judicial movido pela viúva do escritor
irlandês Bram Stoker, que acusou o filme de ser baseado sem autorização no
livro “Drácula”, escrito em 1897. As cópias de “Nosferatu” foram recolhidas e
destruídas, mas por sorte o filme conseguiu ainda sobreviver “como um vampiro”
e recebeu várias restaurações para serem apreciadas pela eternidade, agregando
um valor inestimável para o cinema de horror gótico.
“Da semente do
Belial veio o vampiro Nosferatu, que vive e se alimenta do sangue dos homens e,
sem redenção, faz sua morada em horrendas cavernas, sepulturas e caixões
repletos de terra amaldiçoada dos campos da Peste Negra.”
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