domingo, 21 de janeiro de 2018

Contos da Escuridão (Tales of Tomorrow, EUA, 1951 / 1953, PB)


 “Contos da Escuridão” (Tales of Tomorrow, EUA, 1951/53) foi uma série de televisão com fotografia em preto e branco, produção de baixo orçamento, apresentando antologias de episódios independentes com aproximadamente trinta minutos de duração. Eram histórias básicas de ficção científica, encenadas pelos atores, sem gravações e transmitidas ao vivo pela televisão. Os elencos contavam com muitos atores que já eram conhecidos na época ou que se tornaram bem sucedidos nas carreiras que se seguiram. É considerada a primeira série de TV americana a tratar especificamente o tema da ficção científica, sendo seguida por outras similares extremamente cultuadas pelos fãs, como “Além da Imaginação” (The Twilight Zone) e “Quinta Dimensão” (The Outer Limits).
A série teve duas temporadas, sendo que a primeira entre 1951 e 1952 teve 42 episódios, e a segunda, entre 1952 e 1953, teve 43 episódios. No Brasil, foram lançados apenas três episódios num único DVD, através da antiga “Works” (também conhecida por “Dark Side”), que está fora de catálogo há muito tempo. Os episódios são “Frankenstein”, “O Ovo de Cristal” e “Encontro em Marte”. Também tive acesso ao episódio “The Evil Within”, baixado do blog “Cine Space Monster” e legendado em português.
Pelo título escolhido no Brasil, vale ficar atento para não confundir com outra série de mesmo nome, “Tales From the Darkside” (1983 / 1988), e que também teve um filme em 1990, no formato de antologia com três histórias.
Seguem comentários e curiosidades sobre esses quatro episódios citados, de uma série rara, divertida e altamente recomendada para os apreciadores e colecionadores das nostálgicas bagaceiras do cinema fantástico de meados do século passado.


Frankenstein
A famosa obra literária de Mary Shelley, adaptada à exaustão pelo cinema, também foi utilizada para a produção do episódio homônimo “Frankenstein”, que traz Lon Chaney Jr. no papel do monstro criado artificialmente a partir de restos de cadáveres, pelas mãos e mente brilhante do cientista Victor Frankenstein (John Newland). Porém, ao despertar para a vida pela ação de eletricidade e aparelhos científicos complexos e bizarros, a enorme criatura deformada fica confusa e não entende sua condição de monstro feito de partes de corpos humanos mortos e age com violência e irracionalidade, colocando em risco a vida da noiva do cientista, Elizabeth (Mary Alice Moore) e de seu pai (Raymond Bramley), além dos empregados, Matthew (Farrell Pelly) e Elise (Peggy Allenby), que trabalham no imenso castelo do século XVI isolado no meio de um lago, onde o cientista montou seu laboratório.
Como o episódio foi apresentado ao vivo pela televisão, existe uma curiosidade sobre a participação de Lon Chaney Jr., ator mais conhecido como o lobisomem no clássico da “Universal” de 1941, e por diversas outras bagaceiras do cinema fantástico. Ele estaria bêbado em cena, não percebendo que estava ao vivo no cenário, e uma vez pensando se tratar de apenas um ensaio, teve o cuidado de não quebrar uma cadeira que deveria ser arremessada no chão, levantando-a para o alto com força excessiva e depois colocando em seu lugar novamente com cuidado, mantendo-a intacta. Essa cena é claramente perceptível.


O Ovo de Cristal
O escritor inglês H. G. Wells é um dos grandes nomes da literatura de ficção científica, com vários de seus livros e contos transformados em filmes cultuados como “A Guerra dos Mundos”, “A Máquina do Tempo”, “A Ilha do Dr. Moreau”, “Os Primeiros Homens na Lua”, “O Homem Invisível”, “Daqui a Cem Anos”, “Viagem à Lua”, etc.
Sua obra também inspirou a produção do episódio “O Ovo de Cristal”, onde um cientista renomado, Prof. Frederick Vaneck (Thomas Mitchell) recebe a visita do dono de um antiquário, Sr. Cave (Edgar Stehli), que lhe traz um misterioso artefato, um “ovo de cristal”, para ser analisado e avaliado, depois que um homem estranho, Walker (Gage Clark), demonstrou um interesse incomum em comprá-lo a todo custo. Após trabalhar por incontáveis horas estudando o objeto, o cientista acaba ficando obcecado por seus mistérios depois que consegue visualizar através dele a superfície de outro planeta, e de descobrir que estamos sendo observados por marcianos.
O ator Thomas Mitchell já era muito experiente e conhecido na época, tendo participado de clássicos como o western “No Tempo das Diligências”, o drama “... E o Vento Levou” e o horror “O Corcunda de Notre Dame”, todos de 1939. Esse episódio tem uma história muito interessante ao abordar o mistério por trás do ovo de cristal e sua relação com uma conspiração alienígena, destacando a cena onde um marciano tosco típico do cinema bagaceiro do período está espionando a Terra.


Encontro em Marte
Um grupo de três astronautas viaja pelo espaço sideral até Marte numa missão de exploração de minérios, descobrindo grande quantidade de urânio, extremamente valioso e que os deixaria ricos na Terra. O grupo é formado pelo piloto da nave Capitão Robert (Leslie Nielsen), Bart (William Redfield) e Jack (Brian Keith). Eles encontram um planeta árido coberto por arbustos estranhos e pedras para todos os lados, e aparentemente sem pessoas ou vida inteligente, com um incômodo e constante uivo de fortes ventos. Sem os monstros verdes de olhos esbugalhados e fogo saindo da boca, idealizados pela cultura popular. Porém, começam a ocorrer graves crises de relacionamento entre eles, com brigas, discussões e acessos de loucura e violência, evidenciando características típicas da raça humana como ganância e desconfiança, levando o grupo para um fim trágico.
O ator canadense Leslie Nielsen estaria depois no clássico “Planeta Proibido” (1956), um dos mais importantes filmes da história do cinema de FC, e curiosamente muitos anos mais tarde seu nome seria eternamente relacionado ao gênero comédia, com uma infinidade de títulos na carreira como “Apertem os Cintos... o Piloto Sumiu”, “Corra Que a Polícia Vem Aí”, “Drácula – Morto, Mas Feliz”, “Mr. Magoo”, “2000.1 – Um Maluco Perdido no Espaço”, etc.      


The Evil Within
O cientista Peter (Rod Steiger) está trabalhando arduamente num soro especial que estimula os sentimentos ruins internos das pessoas. Sem testar ainda em seres humanos, ele traz o experimento para casa para mantê-lo refrigerado, uma vez que a geladeira de seu laboratório quebrou. Em casa, sua esposa dedicada Anne (Margaret Phillips) está incomodada com a vida solitária, sem a atenção do marido ocupado com o trabalho científico, e reclama da situação desconfortável no casamento. As coisas se complicam ainda mais depois que um acidente fez com que ela ingerisse um pouco da poção química sem perceber e seu comportamento e personalidade transformaram-se, trazendo à tona o seu “mal interno” do título. Agora, o cientista precisará encontrar um antídoto para salvar a esposa.
Esse episódio lembra a ideia básica de “O Médico e o Monstro”, livro de Robert Louis Stevenson que foi adaptado incontáveis vezes no cinema. O ator James Dean, que fez uma participação minúscula como Ralph, o ajudante do cientista, teve uma carreira curta falecendo num acidente de carro em 1955, apenas com 24 anos de idade. Ele já era um ator cultuado, apesar de muito jovem, por participações em clássicos como “Juventude Transviada” e “Vidas Amargas” (ambos de 1955).  Rod Steiger (1925 / 2002) também foi outro ator com nome bastante reconhecido por sua carreira bem sucedida com quase 150 créditos.

(Juvenatrix – 20/01/18)

Nenhum comentário:

Postar um comentário