sábado, 27 de maio de 2017

Kurt Vonnegut, Jr. (1922-2007)

Escritor americano faleceu aos 84 anos no dia 10 de abril de 2007 em conseqüência de lesões cerebrais provocadas por uma queda em sua residência, semanas antes. É um dos mais prestigiados e controversos autores de sua geração, influente em temas como sátira política e comportamental, boa dose de humor negro e, claro, ficção científica. Dizia que não pertencia ao gênero enquanto tal usava-o como uma ferramenta metafórica para criticar os homens e a sociedade de sua época, mas também entre os especialistas do gênero, Vonnegut é celebrado por sua inteligência e descompromisso com qualquer padrão, uma alma iconoclasta, antes de qualquer outra coisa. Nascido em Indianápolis (Indiana) em 1922, estudou química na Universidade de Cornell, antes de se alistar no Exército para a Segunda Guerra Mundial. Foi feito prisioneiro dos alemães e um dos poucos sobreviventes do bombardeio de Dresden, o pior realizado na Europa, em 1945. 
Depois da guerra trabalhou como jornalista em vários lugares até começar a escrever e publicar. Seu primeiro romance é Player piano (Revolução no futuro), de 1951. Logo depois, vieram Sirens of Titan (As sereias de Titã), de 1959, seu primeiro livro publicado no Brasil, pelo editor Gumercindo Rocha Dorea, em 1966. Talvez seu livro mais conhecido seja Slaughterhouse-Five, or the children’s cruzade: A duty-dance with death (Matadouro 5 ou a cruzada das crianças), de 1969, em que mistura viagens no tempo com alienígenas do futuro do planeta Tralfamadore e suas próprias experiências pessoais de sobrevivente do bombardeio de Dresden. Ganhou uma boa adaptação para o cinema em 1971, sob direção de George Roy Hill. Outros livros importantes incluem Cat’s cradle (Cama de gato), de 1963, God-bless you, Mr. Rosewater (1965) – aqui apresentando um de seus alter egos, Eliot Rosewater, retomado em livros posteriores. Outros incluem Billy Pilgrim – o sobrevivente de Dresden de Matadouro 5 – e  Kilgore Trout, um mal-sucedido autor justamente de, ficção científica neste romance e também em Breakfast of champions, or goodbye, blue monday! (Almoço dos campeões), de 1973.

Outros livros importantes são Galapagos (Galápagos), de 1985, uma fantasia de humor negro sobre os sobreviventes de um holocausto nuclear que vivem na tal ilha do título; Hocus Pocus, or what’s the hurry,  Sam?(Hocus Pocus), de 1990, uma ácida especulação sobre as contradições sociais que poderiam levar à auto-destruição da civilização. Vonnegut era, à maneira de um Mark Twin, um sujeito existencialista, no sentido de partir das dúvidas básicas da vida, tais como “Por que estamos neste mundo?” ou “Há mesmo alguma figura presidindo tudo isso?”. Era, assim, um pessimista contumaz e usava a mordacidade cômica para disfarçá-la ou melhor, torná-la mais explícita e suportável. Muito polêmico, foi guru dos hippies e da contra-cultura, o que lhe custou reações truculentas, como quando seus livros foram queimados por grupos conservadores no início dos anos 1970. Apesar do reconhecimento sofreu de depressão a maior parte da vida e tentou o suicídio – assim como sua mãe que se matou –, em 1984, tomando pílulas e álcool.
Tem um público fiel no Brasil, para além das fronteiras da ficção científica, pois dos seus 14 romances escritos sete estão disponíveis no mercado, incluindo o publicado em 2007, pela editora Record, Deus, o abençoe, Dr. Kervokian. Um nome importante, talvez mais da cultura ocidental do pós-guerra, do que propriamente da ficção científica, mas que mesmo nela, a ilustrou com sua irreverência e inteligência acima da média.

– Marcello Simão Branco

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