Entretanto, em 2004 nenhum desses gêneros foi muito prestigiado pelos autores brasileiros e reunir os títulos que formam a lista de lançamentos no ano foi uma tarefa árdua, sendo necessária alguma permissividade quanto ao alcance dos gêneros. E mesmo assim, foi um ano muito fraco.
O conteúdo dos trabalhos publicados não superou o óbvio e não aconteceu o lançamento de nenhum bom trabalho inédito. As revistas publicaram histórias de personagens já vistos, sendo algumas apenas compilações do que já havia sido publicado em outros tempos. Entre os fanzines houve estreias de personagens, mas sem inovação quanto a forma e conteúdo que continuaram a imitar o que é visto nos quadrinhos estrangeiros, especialmente americano e japonês.
Entre os velhos personagens que retornaram em edições novas tivemos As aventuras do Leão Negro, da dupla Ofeliano e Cynthia, fantasia publicada nos anos 1980 em tiras no jornal carioca O Globo e em álbum pela Meribérica Brasil, e nos anos 1990 na revista Saga (Escala). Retornou numa coleção com edição por demanda comercializada pela internet, republicando as tiras saídas no jornal citado há pouco.



Apesar de realizado com competência técnica, não há nada de muito original a ser destacado.


Brado retumbante, produzida e publicada independentemente por uma cooperativa de autores emergidos dos fanzines, apresenta várias séries de autores diversos. As histórias seguem o modelo dos super heróis americanos, tanto no estilo narrativo quanto na plástica. Não há muito o que se destacar nas histórias, mas alguns dos ilustradores surpreendem.


Uma delas é O martelo, editado por Erick Lustosa em Recife. O fanzine é dedicado aos quadrinhos de horror brasileiro clássico, lançou três edições em 2004 republicando histórias anteriores a 1980, de autores como Rubens Lucchetti, Nico Rosso, Toninho Lima, José Menezes, Renato Silva e Francisco Armond, com comentários relevantes do editor. Ainda que não tenha trazido nada de novo aos leitores, isso não impediu que O martelo fosse uma das mais expressivas publicações de quadrinhos fantásticos brasileiros em 2004, por conta de seu caráter documental.

2004, portanto, foi um ano no qual a hq brasileira de fc&f andou pouco e para o lado. Talvez tenha sido inibida pela publicação massiva de quadrinhos estrangeiros, entre eles muitos títulos de qualidade indiscutível vindos do Japão. Há uma gangorra histórica entre os quadrinhos nacionais e estrangeiros em ação no país: quando um está em alta, o outro está em baixa. Este ano foi a vez dos quadrinhos brasileiros ficarem na posição inferior, infelizmente.
— Cesar Silva
Lançamentos de quadrinhos de fc&f de autores brasileiros publicados no Brasil em 2004
Álbuns e revistas:
Fantasia
- Dungeon crawlers, Marcelo Cassaro/Daniel HDR/Ricardo Riamonte, Mythos
- As aventuras do Leão Negro, Ofeliano de Almeida/Cynthia, Vitor Moura, ed.
- Ethora, Beth Kodama/Karina Erica Horita/Elton Azuma, Talismã
- Brado retumbante (antologia), Leonado Santana, org., dos autores
- Kaos! (antologia), Gisele Roth Saiz, Fabio Akio Fugikawa, eds., Manticora
- Banzai (antologia), Franco de Rosa, ed., Escala
Ficção científica
- Quebra-Queixo: Technorama, Volume 1, Marcelo Campos, Devir
Fanzines:
Fantasia
- Máscara de Prata, Cleber Cachoeiras, ed.
- Power of the dreams, Marco/Cris/ Vanessa, eds.
- Demônios lendários, Júlio Cesar da Silva Costa, ed.
- Tormenta, Eduardo Manzano, ed.
- Projeto Continuum, Rafael de Melo Tavares, Daniel Siqueira e Adriano Sapão, eds.
Ficção científica
- Aventura, Luiz eduardo de Castro, ed.
- Freedom, Fabrício Santos e Gleison Santos, eds.
- A maldição, Reciney Rodrigues, ed.
Horror
- O martelo, Erick Lustosa, ed.
- Trindade, Pablo Augusto da Silva, ed.
- Canibais, Michael Kiss, ed.
- Assombração, Michael Kiss, ed.
- Demônios, Eudes S. Lopes, ed.
Obs: Este artigo relata o que se pode encontrar nas bancas de São Paulo em 2004, mas muitas das publicações citadas trazem datas anteriores. Isso acontece porque a publicação de quadrinhos no Brasil não é cuidadosa com as datas que faz estampar – quando o faz –, por isso muitas revistas apresentam disparidades. E a distribuição setorizada pode fazer uma publicação demorar a chegar as bancas em certas regiões, dificultando os registros mesmo entre testemunhas oculares.
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