Num país em que a tradição do fantástico é tão tênue como no Brasil, é importante que nos lembremos de todos os artistas que dedicaram suas carreira a construção de um imaginário especulativo iminentemente nacional.
É o caso do artista plástico Marcelo Grassmann que, através de ilustrações de seres fantásticos e imaginários, criou um ambiente repleto de maravilhamento que dialoga intimamente com os conceitos de ficção fantástica nacional, especialmente aquela desenvolvida pelos autores da Segunda Onda da Ficção Científica Brasileira.
Grassmann nasceu no dia 23 de setembro de 1925, em São Simão, São Paulo. Entre 1939 e 1942, estudou entalhe em madeira para móveis na Escola Profissional Masculina do Brás mas, já em 1943, passou a produzir ilustrações em xilogravuras, e foi na gravura que desenvolveu a maior parte de sua obra.
Ainda nos anos 1940, trabalhou como ilustrador em diversos jornais importantes, como Diário de São Paulo, O Estado de S. Paulo e Jornal do Estado da Guanabara. Mais tarde, estudaria a arte da gravura em metal, com Henrique Oswald (1918-1965), e litografia, com Poty (1924-1998). Um prêmio no Salão Nacional de Arte Moderna de 1953 o leva a estudar na Academia de Artes Aplicadas, em Viena, na Áustria.
Os desenhos de Grassmann são de um detalhismo impressionante e retratam cavaleiros medievais, seres mitológicos, dragões, harpias, demônios, monstros e criaturas híbridas. Sobre sua obra, disse o escritor Braulio Tavares em um artigo publicado no blogue Mundo Fantasmo: "É curioso que numa época como a atual, em que a Fantasia Heróica vem conquistando tantos leitores no país (através de séries como O Senhor dos anéis, Game of thrones e outras) a obra de Grassmann estivesse meio esquecida. Porque ele descobriu esse universo meio século atrás, e o cultivou com sensibilidade estética e uma certa sensualidade, que corria paralela com os monstros, com o lado tenebroso. Foi o nosso grande fantasista, criando uma obra pessoal, sombria, mas cheia de inventividade, retornando, numa espiral insistente, aos temas, paisagens e seres que mais o atraíam".
Em 1969, a obra completa de Grassmann passou a integrar o acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo. A casa em que ele nasceu, em São Simão, foi tombada em 1978 pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo-Condephaat e é hoje um museu dedicado à sua memória.
Grassmann morreu no dia 21 de junho de 2013, aos 88 anos, depois de uma crise aguda de pneumonia.
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