Sem problemas, não é a primeira vez que isso acontece com esse mesmo título, que anteriormente havia sido classificado como ecologicamente incorreto, e o mesmo já aconteceu com muitos outros títulos ao longo do tempo.
Lobato é sabidamente um autor polêmico devido a suas crenças eugenistas, mais declaradas no romance O presidente negro, de 1926. Como naquela época não era crime ser racista, Lobato nunca sentiu qualquer pudor em inserir esses valores – discutíveis é certo – em sua literatura, de forma mais ou menos explícita. Não há dúvida que esse conteúdo deve ser cuidadosamente avaliado pelos educadores nos dias de hoje, e é isso que o CNE sugeriu.
Mas parece que a sociedade brasileira é muito sensível quando se trata de qualquer coisa que lembre censura, por motivos óbvios, ou que envolva Monteiro Lobato, que é uma espécie de herói nacional. Talvez seja por causa das séries de tv, já que a juventude moderna prefere guloseimas mais confeitadas, como Harry Potter e Crepúsculo.
O CNE foi achincalhado de todo lado, acusado de censura – o que é no mínimo um exagero – e de tentar denegrir a memória do autor, o que de forma alguma foi o caso. Foi o próprio Lobato que o fez a si mesmo quando usou a literatura infantil como ferramenta doutrinária.
Ninguém deixa de reconhecer o valor de Lobato como um dos principais incentivadores do hábito da leitura no Brasil, e ele merece todo o mérito por isso. Mas ele não era perfeito. Vamos com calma, pessoal. As vezes, os morcegos tem que ser espantados do sótão.
Na verdade, o CNE elabora um estudo sobre os livros escolares e emite recomendações que servem de parâmetro para o MEC - Ministério da Educação e Cultura, definir os títulos que vai incluir no pacote de compras a ser distribuído às escolas e bibliotecas públicas em todo o país. Muita gente falou que devia ter mais gente nesse pacote, sugeriram nomes etc, mas quase ninguém se incomodou em saber quais são os títulos que o MEC tem efetivamente comprado.
A escritora Ana Cristina Rodrigues, através de um bem vindo email a uma lista de discussão, informou links em que se pode ver as listas de livros do programa Biblioteca da Escola para 2011.
Vejam só, entre clássicos da FC&F como Fahrenheit 451, de Ray Bradbury, 1984, de George Orwell, Frankenstein, de Mary Shelley, A máquina do tempo, de H. G. Wells e Cidades invisíveis, de Italo Calvino, estão títulos moderninhos como O ladrão de raios, de Rick Riordan, Ponte para Terabítia, de Leslie Burke e Jesse Aarons, e Para sempre, de Alyson Noel.
E entre os autores brasileiros, ao lado de O pirotécnico Zacarias, de Murilo Rubião, aparecem lançamentos novíssimos como Sangue de lobo, de Rosana Rios e Helena Gomes, Histórias de arrepiar, de Regina Drummond e Babel Hotel, de Luis Brás. Na minha opinião, mesmo sem Lobato, é uma boa seleção para a garotada ler. Todo ano a lista muda, de forma que as bibliotecas podem ser continuamente abastecidas com novidades.
Portanto, pelo menos para mim, parece que toda a discussão foi uma grande bolha de opiniões que sequer aconteceria se elas fossem melhor embasadas. Sinal que a maior parte dos leitores conhece muito mal a obra de Lobato e ainda menos a respeito das estruturas técnicas que regem a pedagogia no Brasil. E nem quer conhecer.
— Cesar Silva
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