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terça-feira, 19 de outubro de 2021

Almanaque da Arte Fantástica Brasileira

 



Chegou o livro do Almanaque!

Esta publicação tem por base o blogue de mesmo nome, publicado desde 2015 por Marcello Simão Branco e Cesar Silva, e que dá continuidade ao projeto anterior, o Anuário Brasileiro de Literatura Fantástica, publicado entre os anos de 2005 e 2014, com perfil semelhante à desta nova publicação. O diferencial do Almanaque é que aumenta o campo de análise artística, já que inclui também artigos e resenhas sobre histórias em quadrinhos e cinema.

Com esta nova publicação, os autores reafirmam seu projeto e compromisso de acompanhar e participar do desenvolvimento e da divulgação da ficção científica, fantasia e horror produzidos no Brasil, contribuindo também para o exercício da resenha e da crítica, tão necessários para a reflexão em benefício do aperfeiçoamento dos gêneros com características e identidade brasileiras.

Almanaque da Arte Fantástica Brasileira (blogue e agora livro) é parte de um esforço histórico e idealista para divulgar e desenvolver a produção de ficção científica, fantasia e horror realizado no país. Esta edição faz a cobertura informativa e crítica do desenvolvimento e características dos gêneros fantásticos na segunda década do século XXI (2011-2020), contribuindo para a consciência crítica e as possíveis perspectivas para os gêneros no país.

Contém dezenas de resenhas de livros publicados no período, de autores brasileiros e estrangeiros traduzidos, artigos sobre o estado da arte na literatura, histórias em quadrinhos e artes visuais, além de uma seção histórica voltada à análise e resgate de eventos e livros clássicos da ficção científica brasileira.

O livro está disponível para venda em várias livrarias online, e pode ser adquirido também no site da Avec:

https://aveceditora.com.br/produto/almanaque-da-arte-fantastica-brasileira-2011-2020/



quinta-feira, 1 de novembro de 2018

As melhores histórias brasileiras de horror

Este é um convite oficial para o lançamento do livro que ajudei a organizar, As melhores histórias brasileiras de horror, publicado pela Devir Livraria.
As melhores histórias brasileiras de horror tem a intenção de mostrar o quão rica e assustadora é esta trajetória, com uma seleção caprichada que vai de 1870 a 2014, ou seja, cobre 144 anos, quase toda a trajetória independente da vida nacional. Procuramos escolher histórias representativas, em especial as que abordam mais de perto a cultura brasileira, além de se destacar pela qualidade literária. Nesse sentido o conjunto dos autores selecionados é demonstrativo do interesse de parte dos melhores autores brasileiros, de diferentes épocas: Machado de Assis, Aluísio Azevedo, Inglês de Sousa, Afonso Arinos, João do Rio, Gastão Cruls, Thomaz Lopes, Tabajara Ruas, Braulio Tavares, Márcia Kupstas, Roberto de Sousa Causo, Júlio Emílio Braz, Carlos Orsi, M. Deabreu, Walter Martins e Gustavo Faraon.
Um mosaico do que a ficção de horror brasileira já fez de mais interessante em cada época, permitindo uma experiência de leitura rica e diversificada. Aparecerão temas como canibalismo, feitiçarias e misticismos, catalepsia, erotismo sobrenatural, fantasmas e assombrações, fim dos tempos, epidemia, rituais pagãos, pactos e possessões, paranoias e conspirações. Um variado leque para despertar a imaginação e deixar os sentidos alertas. Pois o horror poderá estar à espreita em cada linha, em cada página. E certamente em todas as histórias.
Ficaremos felizes com a sua presença.

domingo, 25 de janeiro de 2015

Os melhores romances brasileiros da fc

Há algumas semanas, conversando com meu colega de Anuário, Marcello Branco, discutimos a respeito dos melhores romances da ficção científica brasileira. Esta é uma daquelas discussões difíceis, porque passa por muitas definições nem sempre possíveis, especialmente em se tratando de ficção científica, além da definição de romance que, no Brasil, tem a ver com a forma narrativa e, nos EUA, com o tamanho físico do texto. Como me importo muito pouco essas definições, vou fazer aqui um levantamento do que, na minha opinião, está entre o melhor que os autores brasileiros de ficção fantástica já produziram.

Por uma questão de pioneirismo, inicio a lista com O Doutor Benignus (1875), de Augusto Emilio Zaluar, embora não seja ficção científica na minha opinião – pelo menos não mais do que A volta ao mundo em 80 dias, de Julio Verne. O romance, resenhado no Anuário 2007, conta sobre uma expedição científica ao planalto central, movida por um intelectual do Rio de Janeiro em busca da prova da habitabilidade do Sol, que acaba acontecendo apenas numa visão do protagonista depois de avistar a queda de um meteoro. O mais interessante da história toda é a descrição da natureza da região central do Brasil que, se não é exata, pelo menos é inspiradora.
Ainda que muita gente torça o nariz, eu não tenho nenhum pudor em relacionar a novela "O alienista" (1882), de Machado de Assis, como uma das mais importantes obras da ficção científica brasileira. Muito antes da New Wave, Machado já especulava sobre as ciências humanas - no caso, a psicologia, que só seria tema da FC internacional mais de 50 anos depois dele. Resenhada no Anuário 2008, em homenagem ao centenário da morte do autor, a novela conta sobre a decisão de um respeitado médico psiquiatra em compreender a mente humana e extirpar dela toda e qualquer loucura. Para isso, instala uma clínica numa pequena cidade interiorana e começa a realizar seus estudos com a população local. Os considerados loucos eram imediatamente trancafiados e submetidos ao tratamento experimental do médico. Aos poucos, toda a população da cidade acaba aprisionada no manicômio.

Outro romance a ser registrado é o excelente A Amazônia misteriosa (1925), de Gastão Crulz, que li há poucas semanas e será resenhado no Anuário 2010. Em muitos apectos, parece-se com o romance de Zaluar, com amplo destaque para a descrição da natureza amazônica, especialmente sua geografia, que o autor executa com maestria. Contudo, Crulz avança vigorosamente na ficção científica ao instalar, no meio da selva, uma aldeia na qual vive um importante cientista europeu que ali desenvolve um trabalho secreto, no qual utiliza os animais e a população nativa da região. Qualquer semelhança com A ilha do Dr. Moreau, de H. G. Wells, não deve ser coincidência.

O escritor modernista Menotti Del Picchia emplaca dois títulos nesta lista. A filha do inca (1930) e Kalum (1940), ambos passados mais ou menos no mesmo universo. Também são histórias que ocorrem em meio à floresta tropical da região centro-oeste, porém Del Picchia não se dedica com tanto afinco a descrever o ambiente e investe mais e melhor nos personagens e nas situações de ação. Em A filha do inca, os sobreviventes de uma expedição científico-militar dizimada por um ataque indígena, descobrem uma cidadela perdida onde habita uma civilização de robôs, descendente de antigos navegadores fenícios que chegaram à América centenas de anos antes de Colombo.

Em Kalum, novamente às voltas com uma tribo agressiva de índios, o sobrevivente de uma equipe de filmagens acaba por encontrar uma civilização de homens minúsculos vivendo nas profundezas de uma caverna. Ambos os livros foram comentados no Anuário 2005.

Por ser o mais polêmico romance de toda a FCB, O presidente negro (1926), de Monteiro Lobato, tem que ser lembrado. É racista, mas é relevante. Conta a história de um jovem escriturário meio boçal que, depois de uma acidente automobilístico, é socorrido por uma jovem cientista que está pesquisando a história do futuro através de um equipamento chamado porviroscópio, inventado por seu pai, um cientista de renome. Nesse futuro, os EUA elegem o primeiro presidente negro, criando um grande problema político para a civilização. O livro foi resenhado no Anuário 2006.

Uma das obras primas da ficção científica brasileira é Zanzalá (1936), de Afonso Schmidt, FC de primeira linha, com tudo o que o gênero tem direito: futuro distante, tecnologia extrapolada, utopia e um movimentado conflito militar. Conta a história de um casal que se muda para um povoado utópico encravado nas encostas da Serra do Mar. Ali, vivem em perfeito idílio e comunhão total com a natureza e com seus semelhantes. Porém, a felicidade desse povo não é vista com bons olhos pelos povos bárbaros no norte que, a certa altura, atacam o povoado com toda a sua potência bélica. Sem dúvida, uma obra de fôlego que merece ser lembrada. O romance foi resenhado no Anuário 2006.
Li O homem que viu o disco voador (1958), de Rubens Teixeira Scavone, quando ainda era muito jovem, mas ainda me lembro de um conjunto de impressões muito fortes. Trata-se de um romance poderoso, que investe nos mistérios da ufologia que, na época em que o livro foi escrito, ainda não havia se tornado a paraciência que é hoje. Scavone era um autor sofisticado, senhor de um estilo erudito, por isso ao publicar o romance pela primeira vez, assinou como Senbur Enovacs, um segredo de polichinelo, pois trata-se apenas do seu próprio nome escrito ao contrário, mas resultou. O livro foi bem recebido e todos ficaram curiosos sobre a origem do autor, que se acredita ser possivelmente tcheco. Mais tarde, quando o livro foi republicado – e o foi diversas vezes – passou a assinar com seu verdadeiro nome. O tema da ufologia não é muito caro à ficção científica, há inclusive algum preconceito, mas no Brasil trata-se de um tema recorrente e muito produtivo, do qual este romance é seu mais importante representante. O homem que viu o disco voador foi resenhado no Anuário 2008. Contudo, este não é o mais significativo trabalho do mestre.

Sua obra prima é O 31º peregrino (1993), uma novela também com viés ufológico, que se apropria do estilo de Os contos de Canterbury, obra do século XV do escritor inglês Geoffrey Chaucer. Scavone insere um 31º personagem a peregrinação à Catedral de Cantuária, uma mulher grávida e amaldiçoada que desequilibra o grupo. Ela sofre um destino trágico depois que testemunha o aparecimento de uma estranha luz no céu. A novela é forte e impactante, certamente uma das melhores obras da FC em língua portuguesa, resenhada no Anuário 2007.

Jerônimo Monteiro foi certamente a personagem principal daquela que chamamos a Primeira Onda da Ficção Científica Brasileira. Monteiro organizou toda a sua carreira em torno da ficção fantástica, como autor e editor, e entre seus muitos escritos importantes está o romance Fuga para parte alguma (1961), que conta a história do fim da civilização, vitimada pelo avanço de um outro ser vivo, melhor preparado para ocupar o ecossistema terrestre: a formiga. Suas imensas cidades subterrâneas, construídas sob as cidades humanas, acabam por destruir toda a infraestrutura da superfície, obrigando os humanos a saírem delas e procurar por lugares onde os vorazes insetos não possam chegar, o que parece impossível. Uma autêntica ficção científica aos moldes daquela praticada nos EUA, que ainda hoje é uma leitura perturbadora.
Um dos mais expressivos autores da fantasia brasileira foi, sem dúvida alguma, o goiano José J. Veiga. Suas histórias invariavelmente seguiam os caminhos do mistério e das coisas estranhas e não explicadas. Para Veiga, a fantasia era um modo de desnudar a alma de suas personagens, revelando os aspectos sombrios e insuspeitos das relações humanas.

Praticamente todos os seus romances são clássicos da fantasia e, entre eles, temos alguma FC, talvez um tanto alegórica para o gosto dos fãs mais empedernidos, mas nem por isso menos ficção científica do que se pode desejar. A hora dos ruminantes (1966), resenhado no Anuário 2006, conta a história de um pequeno povoado que, certo dia, percebe que uma grande operação está sendo realizada em suas redondezas. Muitos caminhões e trabalhadores chegam ao local, mas não há interação com os moradores, que ficam cada vez mais curiosos. Não se sabe o que se trata a tal operação, mas ela traz consequências dramáticas para a cidade, coisas das quais nunca mais poderão ser esquecidas.

Outro romance poderoso de Veiga é Sombras de reis barbudos (1972), a história mais FC do mestre. Trata-se de uma distopia política, aos moldes de 1984, de George Orwell, em que as pessoas de uma determinada comunidade são encarceradas em suas casas por altos muros e uma polícia política tão implacável quanto sem objetivo.

Veiga não esteve associado a nenhum grupo de FC&F, mas produziu alguns dos melhores textos do gênero e chegou a flertar com a história alternativa antes que qualquer outro brasileiro tivesse pensado em fazê-lo. Em A casca da serpente (1989), Veiga traça uma linha histórica alternativa para a Guerra de Canudos, na qual Antônio Conselheiro não morre. Uma premissa muito instigante, com certeza.

Outra história de ficção científica alegórica e perturbadora é Asilo nas torres (1979), de Ruth Bueno. Resenhada no Anuário 2009, é uma novela com um criativo tratamento formal. Conta a história de duas mulheres em tudo opostas, que vivem à sombra de três altíssimas torres que abrigam uma repartição pública industrial, onde praticamente todos trabalham. Não há, aparentemente, mais nada na vida das pessoas além do que as próprias torres, e todos vivem em função delas. Aos poucos, as duas mulheres vão sendo confrontadas, com um final poético e redentor.

Dentre os grandes autores da primeira onda da ficção científica brasileira, um dos poucos que ainda está vivo é André Carneiro. Como todos os outros, a obra de Carneiro é mais retumbante na ficção curta, mas ele tem pelo menos um romance muito significativo, Piscina Livre (1980), resenhado no Anuário 2005. A história fala de uma utopia sexual futurista, na qual os tabus foram superados e as mulheres usam livremente os serviços da Piscina Livre, uma espécie de prostíbulo masculino onde as mulheres podem gozar momentos de satisfação com andróides especialmente desenvolvidos para esse fim. Mas nem tudo é perfeito nesse futuro de total liberdade sexual. Um romance importante que resume perfeitamente as ideias deste que é o mais feminista autor da FC brasileira.

Na minha opinião, o melhor de todos os romances da ficção científica em língua portuguesa é o incisivo Não verás pais nenhum (1981), de Ignácio de Loyola Brandão, extensamente comentado no Anuário 2006. Parte de um projeto do autor, iniciado com o romance Zero (1975), Não verás país nenhum é uma distopia que acompanha os descaminhos políticos e econômicos de um país em que a ditadura militar se perpetua, cometendo absurdos sobre absurdos, tudo testemunhado por um protagonista impotente que tenta sobreviver me meio ao caos. Deveria ser leitura obrigatória para o vestibular. Infelizmente, é o único romance de FC de Brandão, que tem alguns contos muito bons também.
Padrões de contato (1985), de Jorge Luiz Calife, é a nossa melhor hard fiction já publicada. Comentado no Anuário 2005, o romance narra a história de uma jovem que, depois de contatada por uma entidade alienígena, torna-se imortal, e dessa forma, testemunha toda a história do futuro, na qual a humanidade se lança às estrelas. O romance teve duas sequências, Horizonte de eventos e Linha terminal que, em 2009, foram reunidas num único volume pela editora Devir Livraria, uma ótima oportunidade para os leitores experimentarem a totalidade dessa que é a mais vultosa obra da ficção científica brasileira, que muitos especialistas consideram a pedra fundamental da Segunda Onda da Ficção Científica Brasileira.

Blecaute (1986), de Marcelo Rubens Paiva, também é um título que merece estar nesta lista. A prosa naturalista e cheia de estilo de Paiva contribui para o estranhamento da história de três jovens espeleólogos que, ao voltarem de sua última exploração subterrânea, encontram a cidade de São Paulo completamente paralizada, com todas as pessoas congeladas como manequins. Trata-se de um dos maiores sucessos editoriais da ficção científica nacional.

Mais ousado que Paiva, o escritor franco-brasileiro Daniel Fresnot foi extremamente feliz ao escrever A terceira expedição, de 1987 (republicado em 2013 pela Devir Livraria), com toda a certeza, o melhor romance de toda a Segunda Onda da Ficção Científica Brasileira, comentado no Anuário 2007, quando completou vinte anos de publicação. Fresnot conta a aventura de um grupo de moradores do interior de São Paulo, sobreviventes de uma hecatombe mundial, que realizam uma expedição às ruínas da capital do estado. As descrições que Fresnot faz das regiões metropolitanas em total abandono são fortes e emocionantes, especialmente para quem conhece a cidade.

O escritor mineiro Luis Giffoni, que tem sua obra mais vinculada ao mainstream, brindou os leitores com seu intrigante Infinito em pó (2004), uma história sobre uma espaçonave gigante numa jornada de décadas rumo a uma estrela distante. Os tripulantes têm uma relação tensa e complicada, com uma verdadeira espada de Dâmocles sobre suas cabeças: uma mini buraco negro, que é a fonte de energia da espaçonave, mas que também pode destruí-la. Giffoni não faz conceções para uma narrativa fácil: o primeiro diálogo do romance via acontecer apenas por volta da página 100. Mas vale a pena acompanhar a história até o final, pois é um dos raros exemplos de um romance brasileiro sobre uma espaçonave de gerações. O trabalho foi resenhado no Anuário 2004.

Quintessência (2004), de Flávio Medeiros Jr., foi uma grata surpresa e foi resenhado no Anuário daquele ano. Estreia literária do escritor, é um movimentado tecnotriller com elementos de ficção científica muito bem posicionados. Medeiros aproveitou sua origem mineira e instalou a história em uma Belo Horizonte da segunda metade do século XXI. Depois de um atentado fatal num shopping center, o detetive que investiga a ação é arrolado como mandante, e isso vai levá-lo a um torvelinho de situações, com fugas e perseguições dignas de um filme hollywoodiano.

Domingos Pellegrini é outro autor mainstream que se aventurou na ficção científica com ótimos resultados. Não somos humanos (2005), comentado no Anuário 2005, é um romance sobre a escravidão, desta vez a de pessoas geneticamente manipuladas para esse fim. Um jovem casal de escravos foge da fazenda de seus proprietários e, depois de muita luta, encontram uma espécie de quilombo em meio às montanhas. Ainda que a vida ali não fosse fácil, era bem melhor que aquela que eles levavam na fazenda, e eles resolvem ficar por ali. Contudo, como os senhores mantém seus capitães do mato em ação, a comunidade de escravos fugidos vai ter que se envolver mais efetivamente com um movimento de libertação que de desenvolve nos bastidores das grandes cidades.

A ira da águia (2006), do médico carioca Humberto Loureiro, também foi uma boa surpresa. Trata-se de um romance ousado, com vários níveis narrativos, que conta a história de um físico brasileiro que cria uma arma tão poderosa que pode colocar o Brasil na liderança política mundial. Quando um pequeno navio brasileiro põe a pique uma poderosa força-tarefa norte americana, o serviço secreto dos EUA convence-se de que é fundamental conseguir os segredos dessa arma misteriosa, custe o que custar, pois está em jogo o seu predomínio no mundo. O livro foi resenhado no Anuário 2006.

Autor formado durante a Segunda Onda da Ficção Científica Brasileira, Roberto de Sousa Causo exercitou-se um bocado nos fanzines ao longo dos anos 1980 e 1990. Contudo, apesar dessa longa experiência com o gênero, sua literatura tem crescido ainda mais depois que começou a publicar regularmente no mercado editorial. O par: Uma novela amazônica (2008), é um de seus trabalhos mais maduros e intensos, foco de vários de seus temas preferidos, especialmente a vida militar, alienígenas e as profundas matas da Amazônia. Neste romance, um soldado desertor experimenta um contato imediato com um ovni e a partir disso desenvolve um abscesso na perna esquerda, de onde, depois de algum tempo, surge uma jovem que lembra a sua antiga esposa. Juntos, eles continuam a fuga e vão encontrar um acampamento de contrabandistas que pode ser o final de sua jornada. O romance venceu o concurso Projeto Nascente 11, promovido pela Universidade de São Paulo em 2001.
A excelente escritora gaúcha Simone Saueressig publicou em 2011, pela editora Clube de Autores, o interessantíssimo romance B9 (anteriormente desenvolvido em forma de folhetim na internet), que conta os dramas de um grupo de jovens tripulantes de uma espaçonave encalhada na órbita de um buraco negro, um trabalho detalhado e denso, avaliado pelo Anuário como o melhor livro de fc naquele ano.
Encerro aqui este artigo, porém sem fechar a lista. Há ainda muitos livros que não li e que merecem ser citados; a cada ano, renovo a esperança por um novo grande trabalho da ficção científica brasileira. E, geralmente, não me frustro.
Cesar Silva

Lobato e a eugenia

Ao longo do mês de novembro [de 2011], uma polêmica esdrúxula inundou as redes de relacionamento, quando o CNE - Conselho Nacional de Educação, decidiu recomendar que Caçadas de Pedrinho, livro do ciclo do Sítio do Picapau Amarelo, de Monteiro Lobato, originalmente publicado em 1933, fosse melhor contextualizado nas escolas públicas devido ao seu conteúdo etnicamente incorreto.
Sem problemas, não é a primeira vez que isso acontece com esse mesmo título, que anteriormente havia sido classificado como ecologicamente incorreto, e o mesmo já aconteceu com muitos outros títulos ao longo do tempo.

Lobato é sabidamente um autor polêmico devido a suas crenças eugenistas, mais declaradas no romance O presidente negro, de 1926. Como naquela época não era crime ser racista, Lobato nunca sentiu qualquer pudor em inserir esses valores – discutíveis é certo – em sua literatura, de forma mais ou menos explícita. Não há dúvida que esse conteúdo deve ser cuidadosamente avaliado pelos educadores nos dias de hoje, e é isso que o CNE sugeriu.
Mas parece que a sociedade brasileira é muito sensível quando se trata de qualquer coisa que lembre censura, por motivos óbvios, ou que envolva Monteiro Lobato, que é uma espécie de herói nacional. Talvez seja por causa das séries de tv, já que a juventude moderna prefere guloseimas mais confeitadas, como Harry Potter e Crepúsculo.
O CNE foi achincalhado de todo lado, acusado de censura – o que é no mínimo um exagero – e de tentar denegrir a memória do autor, o que de forma alguma foi o caso. Foi o próprio Lobato que o fez a si mesmo quando usou a literatura infantil como ferramenta doutrinária.
Ninguém deixa de reconhecer o valor de Lobato como um dos principais incentivadores do hábito da leitura no Brasil, e ele merece todo o mérito por isso. Mas ele não era perfeito. Vamos com calma, pessoal. As vezes, os morcegos tem que ser espantados do sótão.

Na verdade, o CNE elabora um estudo sobre os livros escolares e emite recomendações que servem de parâmetro para o MEC - Ministério da Educação e Cultura, definir os títulos que vai incluir no pacote de compras a ser distribuído às escolas e bibliotecas públicas em todo o país. Muita gente falou que devia ter mais gente nesse pacote, sugeriram nomes etc, mas quase ninguém se incomodou em saber quais são os títulos que o MEC tem efetivamente comprado.
A escritora Ana Cristina Rodrigues, através de um bem vindo email a uma lista de discussão, informou links em que se pode ver as listas de livros do programa Biblioteca da Escola para 2011.

Vejam só, entre clássicos da FC&F como Fahrenheit 451, de Ray Bradbury, 1984, de George Orwell, Frankenstein, de Mary Shelley, A máquina do tempo, de H. G. Wells e Cidades invisíveis, de Italo Calvino, estão títulos moderninhos como O ladrão de raios, de Rick Riordan, Ponte para Terabítia, de Leslie Burke e Jesse Aarons, e Para sempre, de Alyson Noel.

E entre os autores brasileiros, ao lado de O pirotécnico Zacarias, de Murilo Rubião, aparecem lançamentos novíssimos como Sangue de lobo, de Rosana Rios e Helena Gomes, Histórias de arrepiar, de Regina Drummond e Babel Hotel, de Luis Brás. Na minha opinião, mesmo sem Lobato, é uma boa seleção para a garotada ler. Todo ano a lista muda, de forma que as bibliotecas podem ser continuamente abastecidas com novidades.
Portanto, pelo menos para mim, parece que toda a discussão foi uma grande bolha de opiniões que sequer aconteceria se elas fossem melhor embasadas. Sinal que a maior parte dos leitores conhece muito mal a obra de Lobato e ainda menos a respeito das estruturas técnicas que regem a pedagogia no Brasil. E nem quer conhecer.
Cesar Silva

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Os fanzines em 2011

Houve um tempo, entre 1980 e 2000, em que a produção brasileira de literatura fantástica dependia totalmente dos fanzines, publicações amadoras e de pequena tiragem, geralmente produzidas por fãs para servir de meio de congregação de grupos de interesse específico.
Alguns fanzines brasileiros foram muito prestigiados em seu tempo, como o Megalon, o Somnium, o Juvenatrix e o próprio Hiperespaço, o antecessor deste blogue. Destes, somente o Juvenatrix continua a ser publicado hoje, contudo apenas em formato virtual.
Todos os demais fanzines brasileiros de FC&F desapareceram ao longo da primeira década deste século. O último a sumir foi o Scarium Megazine, cuja última edição foi distribuída em 2010.
Nas primeiras edições, o Anuário Brasileiro de Literatura Fantástica mantinha uma seção para avaliar o desempenho dessas publicações no Brasil mas, quando deixou de haver massa crítica mínima para uma análise, ela foi cancelada.
Desde então, tenho acompanhado a trajetórias dos fanzines por minha conta e já cheguei a falar sobre isso aqui, mas faz algum tempo que não me debruço sobre o assunto. Fui então levantar o estado atual dos fanzines brasileiros de FC&F e fiquei perplexo. Parece que o fandom brasileiro deixou mesmo os fanzines para trás. Publicações que surgiram "chutando a porta", cheias de energia, manifestos e frases de ordem, desapareceram como fumaça poucos meses depois, sem deixar rastros. Nem mesmo o apelo de custos baixos e divulgação viral foram suficientes para manter os fanzines em atividade.
Em suma, 2011 trouxe à luz a publicação de apenas seis títulos, entre os quais um único lançamento.
O mais vigoroso deles foi o já citado Juvenatrix, editado por Renato Rosatti, fã ardoroso de cinema fantástico, que também mantém o blogue InfernotíciasJuvenatrix surgiu com o nome de Vortex, mas logo adotou o novo título inspirado no filme Reanimator. Seu conteúdo é diversificado, abordando especialmente cinema, mas com bom espaço para a literatura e rock extremo. Em 2011, Juvenatrix teve sete edições (números 126 a 132) distribuídas por email diretamente aos interessados, ou seja, as edições não estão online para serem baixadas. É provavelmente o fanzine amador continuamente editado há mais tempo no país.
Outro fanzine que sustentou-se em 2011 foi Flores do Lado de Cima, editado pro Rosana Raven, com duas edições (números 16 e 17). Dedicado à arte soturna, o fanzine passeia pela literatura, artes plásticas e música. As duas edições, distribuídas através de sites de compartilhamento, trouxeram compilações musicais que podem formar um CD com capinha e tudo. Um capricho só. Mas o zine demonstrou algum desgaste em 2011, uma vez que, nos anos anteriores, distribuiu cinco edições em média.
O mesmo se pode dizer de seu fanzine irmão, Fun House Xtreme, que também apresentou duas edições (números 19 e 20) em 2011, quando sua média era de 6 edições ao ano. Editado por Iam Godoy, também é dedicado ao horror, porém focado no cinema, especialmente as produções independentes.
Outro fanzine que puxou o freio de mão em 2011 foi Terrorzine, editado pelo escritor Ademir Pascale. Depois de lançar 22 edições entre 2008 e 2010, publicou somente uma única edição no ano (número 23), com contos ultracurtos e entrevistas com autores nacionais. Talvez o envolvimento do editor em trabalhos profissionais tenha sido a causa do fraco desempenho do fanzine no ano, mas ele foi algo compensado pelas muitas antologias literárias organizadas por Pascale.
Mais dois títulos apareceram em 2011 com apenas uma edição publicada. Um foi o estudo bibliográfico que o jornalista Marcello Simão Branco realizou sobre a obra do escritor americano H. P. Lovecraft, publicado em forma de uma monografia acadêmica. O material causou interesse e talvez o vejamos futuramente em forma real por alguma editora.
O último deles foi a excelente revista eletrônica Hyperpulp, editada por Alexandre Mandarino. Trata-se de uma publicação bilíngue, graficamente profissional, com contos fantásticos nacionais e estrangeiros mas, por sua apresentação digital, podemos classificá-la como um fanzine. A boa notícia é que a revista teve um segundo número publicado em 2012 e ambas as edições podem ser obtidas aqui.
O que se pode concluir deste panorama é que a publicação dos fanzines de arte fantástica está prestes a ser uma coisa do passado, inclusive no ambiente virtual. Em seu lugar estão hoje as redes de relacionamento, bem como as publicações reais, especialmente os livros, que nunca dispuseram de tanto espaço.
Há uma perda, contudo, uma vez que os fanzines publicavam muitos artigos e resenhas, que estão desaparecendo do fandom.
Que venha 2012. Quem sabe o ano ainda nos reserve algumas boas surpresas.

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Artigo: Essencial 2012

Essencial 2012: Literatura
2012 terminando, acredito que dificilmente vai aparecer algum novo grande lançamento antes da virada do ano. Então, arrisco o balanço do que se publicou de essencial no Brasil em matéria de fc&f neste ano.
No que se refere à literatura estrangeira, relevância para A Companhia Negra, de Glen Cook (Record), com uma versão barra-pesada para a geralmente solene fantasia heróica a qual estamos habituados, e A máquina diferencial, de Willian Gibson & Bruce Sterling (Aleph), obra seminal da ficção científica que inaugurou a estética steampunk.
Também vale destacar 1Q84, de Haruki Murakami (Alfaguara), e Contra o dia, de Thomas Pynchon (Companhia das Letras), fantasias científicas pós-modernas com muitos apreciadores dentro e fora do fandom.
O ano foi fraco para as antologias estrangeiras mas, para não dizer que não falei delas, Ruas estranhas, de George Martin & Gardner Dozois (Casa da Palavra), que fica a meio caminho da chiclit, e ainda Realidades adaptadas, de Philip K. Dick (Aleph), que reúne os contos do autor que foram transpostos para o cinema, todos já vistos em outras traduções mas, ainda assim, bacanudos.
Na literatura brasileira, a lista essencial de 2012 tem os romances O alienado, de Cirilo Lemos (Draco) e Sozinho no deserto extremo, de Luiz Bras (Prumo), dois grandes livros de ficção científica com o melhor que o gênero tem a oferecer, de narrativas movimentadas e estilos maduros e incomuns.
Entre os romances de horror aparece Kaori e o samurai sem braço, de Giulia Moon (Giz), terceiro volume com a vampira preferida de uma escritora que tem provado ser a maior revelação do gênero no pais neste século. E entre os muitos romances de fantasia, gênero que predomina no ambiente editorial de fc&f, destaque para Além do deserto, de Erica Bombardi, trabalho de estreia publicado pela própria autora com recursos do Programa de Ação Cultural do Estado de São Paulo – Proac.
Entre as coletâneas, Trilhas do tempo, de Jorge Calife (Devir) coletânea de contos de ficção científica  publicados em revistas masculinas nos anos 1990, bem como a abrangente e provocativa Geração subzero, organizada por Filipe Pena (Record), reunindo contos de jovens autores brasileiros que agrega o mérito de ter veiculado o melhor conto publicado no ano: "A invenção do cânone", de autoria do próprio organizador.
Em não-ficção, vale dar uma olhada em Edgard Alan Poe: O mago do terror, de Jaenette Rozsas (Melhoramentos), uma biografia romanceada do poeta de "O Corvo", repleta de atrativos.

Essencial 2012: Quadrinhos
2012 foi bom para os quadrinhos estrangeiros de fc&f no Brasil. O destaque, vai para o memorável O Eternauta, de Héctor G. Oesterheld e Solano Lopez (Martins Fontes), obra-prima da ficção científica portenha que chegou ao Brasil mais de 50 anos depois de sua publicação original.
Também merecem destaque Pínóquio, de Winshluss (Globo), O incrível Cabeça de Parafuso e outros objetos curiosos, de Mike Mignola (Nemo), e Animal'z, de Enki Bilal (Nemo). Honra ao mérito para os encadernados Incal Integral, de Moebius (Devir) e Trilogia Nikopol, de Bilal (Nemo).
Quanto aos quadrinhos nacionais, a produção de 2012 foi apenas razoável. Mas vale comemorar o lançamento de Noites na taverna, de Reinaldo Seriacopi (Ática), ilustrado por um ótimo time de veteranos, adaptando o clássico romance de Alvares de Azevedo. E Astronauta: Magnetar, de Danilo Beyruth (Panini), com uma releitura dramática do conhecido personagem de Maurício de Sousa.
No finalzinho do ano, veio a notícia da publicação de V.I.S.H.N.U., novela de fc repleta de intenções, com roteiro do jornalista Ronaldo Bressane e desenhos de Fábio Cobiaco (Quadrinhos na Cia), que vale a pena ser destacada.
A medalha de Honra ao Mérito vai para o primeiro volume encadernado do 'mangaijin' Holy Avenger, de Marcelo Cassaro e Érika Awano (Jambô), compilação de uma série de histórias publicadas em revista própria nos anos 1990.
Percebe-se, nesta amostragem, que os quadrinhos deixaram definitivamente de ser um produto popular. Quase não há mais publicações voltadas às bancas e, quando o material é de qualidade reconhecida, a publicação é luxuosa e elitista. É possível afirmar que o mercado editorial de fc&f reduziu de tamanho em 2012, registrando uma queda de cerca de 50% na quantidade de lançamentos em relação a 2011, tanto no que se refere aos quadrinhos quando na literatura. Contudo, ainda é cedo para afirmar que isso seja uma tendência, pois é natural que ocorra um certo movimento de maré nos números de um ano para outro. 2013 já faz promessas e, como o mundo não acabou no temido apocalipse maia, podemos ter esperanças. Quem viver, verá.

Artigo: Coleção Nave Profana

Há alguns dias, publiquei aqui o necrológico de Maria Helena Bandeira, escritora de fc&f muito querida no fandom. A autora publicou em muitas antologias e até na extinta Isaac Asimov Magazine, mas não teve em vida nenhum livro individual no país, exceto dois volumes da Coleção Nave Profana. Mas, que coleção é essa?
A Coleção Nave Profana foi produto da oficina literária Slev – sigla que no primeiro momento significava Suruba Literária Experimental Virtual, depois mudada para Sistema Literário Experimental Virtual.
A oficina Slev foi realizada pela internet por iniciativa do escritor Rogério Amaral de Vasconcellos, autor do romance de fc Campus de guerra (Writers, 2000). O primeiro fruto da oficina foi o romance de ficção científica Idade da decadência: Inferno em Khallah, escrito por muitas mãos e publicado 2001 pela Editora Mitsukai.
Já os livros da Coleção Nave Profana começaram a ser publicados em 2003. Foram escritos por autores voluntários, discutidos em grupo e editados em arquivo digital disponibilizados num saite exclusivo da oficina.
A proposta era construir um universo compartilhado em que cada autor teria liberdade de desenvolver seus próprios personagens e enredos, que poderiam ser aproveitados pelos demais em suas próprias histórias. A base era um ambiente de história alternativa em que épocas e realidades se chocavam.
Os livros eram vendidos a preços bastante acessíveis mas, na época, a internet era incipiente, difusa e nada popular: depois de algum tempo, a iniciativa esgotou-se. Com a desativação do saite, a coleção ficou indisponível e foi rapidamente esquecida.
O projeto da Coleção Nave Profana previa mais de 50 volumes, mas foram publicados apenas 30, o que ainda assim é uma marca considerável.
A coleção tem algumas curiosidades. A primeira é que o número 18 nunca foi distribuído. A título de divulgação, os volumes zero, quatro e seis tiveram distribuição gratuita. Os arquivos vinham com trava de impressão, de forma que só era possível ler no monitor. Vários volumes foram assinados por pseudônimos cujos autores verdadeiros nunca se revelaram, mas desconfia-se que eram todos do próprio Vasconcellos.
Fazem parte da Coleção Nave Profana os seguintes títulos:
1 - Vaca profana: Encruzilhadas, Rogério Amaral de Vasconcellos (2003)
2 - Vaca profana: A nave, Rogério Amaral de Vasconcellos (2003)
3 - Três reis magos, Larissa Redeker (2003)
4 -Tempo dos animais, Paffomiloff der Engel (2003)
5 - Dom Pedro I e... último, Gabriel Bozano (2003)
6 - Prova oral, Rogério Amaral de Vasconcellos (2003)
7 - Iroha, Ernesto Nakamura (2003)
8 - Maya, Alexis Lemos (2003)
9 - Tempo e templos, Maurício Wojciekowski (2003)
10 - A batalha dos egos reais, Cláudia Furtado (2003)
11 - Mahavira, memórias vegetais, Ernesto Nakamura (2003)
12 - Operação Britânia, Ricardo E. Caceffo (2003)
13 - Ahnk, Alexis Lemos (2004)
14 - Deserto, Roderico Reis (2004)
15 - A lei dos seios, Maria Helena Bandeira (2004)
16 - No templo da loucura, Rogério Amaral de Vasconcellos (2004)
17 - Uma janela para o nada, Rogério Amaral de Vasconcellos (2004)
18 - Edição não publicada
19 - Onze dias, Natalia Yudenitsch (2004)
20 - O último profeta, Ricardo Caceffo (2004)
21 - Pavão misterioso, Alexis Lemos (2004)
22 - A forja de Aliq, Ernesto Nakamura (2004)
23 - Guerra das Shetlands, Miguel Angel Pérez Correa (2004)
24 - Memórias de um sociopata, Cláudia Furtado (2004)
25 - Pax, Jaime da Conceição Araujo (2004)
26 - Talvez Helena, Maria Helena Bandeira (2004)
27 - Startrap, Rogério Amaral de Vasconcellos (2004)
28 - A flor improvável, Paffomiloff (2004)
29 - Sepulturas na eternidade, Rogério Amaral de Vasconcellos (2005)
30 - A espada de Dâmocles, Jaime da Conceição Araujo (2005).
Em julho de 2003 foi distribuída a única edição do Ciclope News Slevzine, fanzine virtual de divulgação da Coleção Nave Profana que, em suas 23 páginas, publicou contos e artigos sobre cinema e literatura.
E em 2005, o primeiro volume da coleção, Vaca Profana: Encruzilhadas, escrito por Vasconcellos, ganhou edição real editada pelo autor, com a promessa de, a partir de então, publicar todos os volumes nesse formato, mas o projeto não foi adiante. Uma resenha a esta edição, vista no Anuário Brasileiro de Literatura Fantástica 2005, pode ser lida aqui.

domingo, 18 de janeiro de 2015

Artigo: O humor na fc, por Cesar Silva

Humor na literatura de ficção científica 
A ficção científica não é muito famosa por seu bom humor. Ao contrário, é um gênero mais alinhado com a futurologia pessimista, o que normalmente não dá muita margem ao riso. Também se costuma enxergar a classe científica como extremamente estóica, e a ficção que adota esse ambiente acaba contaminada também por esse conceito.
De fato, a maioria da fc nem se esforça por ser bem humorada. Ou se dedica a fazer enfadonhos discursos paracientíficos, alertar histericamente para um destino trágico da humanidade, ou ser piegas ao elevar jovens imberbes à situação de salvadores do universo. É claro que, como todos os demais gêneros, essas não são situações únicas. Alguns autores conseguem romper essa previsibilidade e desenvolver trabalhos surpreendentes, que se destacam da mediocridade geral e colocam-se num patamar mais elevado. Obras de teor filosófico, psicológico, épico, perturbadoras, emocionantes, maravilhosas e, porque não, engraçadas.
Na literatura, a fc humorística é rara, mas seus poucos exemplos são trabalhos de qualidade. O autor que mais explorou o filão foi britânico Douglas Adams (1952-2001) em uma série de seis livros iniciada com O Guia do mochileiro das galáxias (The hitchhiker's guide to the galaxy, 1979). Adams criou um universo absolutamente caótico, onde tudo pode acontecer e usa isso em favor do humor. Algumas de suas sacadas nesses livros tornaram-se parte da cultura pop, como o Dia da Toalha (25/05), comemorado no mundo todo por seus leitores.
Mas a verve cômica não é fruto recente na fc. O escritor britânico Arthur Conan Doyle (1859-1930), mais conhecido por ter criado o detetive Sherlock Holmes, é provavelmente o exemplo pioneiro. No livro O mundo perdido (The lost world), publicado em 1912, Doyle insere um humor requintado na relação entre os personagens ao longo de sua perigosa jornada pela Amazônia em busca de um platô lendário onde ainda viveriam dinossauros. Toda a carga cômica é apoiada no personagem principal, o excêntrico Professor Challenger, que tem modos muito característicos de se relacionar com seus parceiros de viagem. Assim, Doyle aproveita para rir dos ridículos da sociedade científica.
O norte-americano Fredric Brown (1906-1972) já ridicularizava a paranóia americana por invasões em plena Golden Age da fc (anos 1940 e 1950), em seu romance Os marcianos divertem-se (Martians, go home..., 1955), contando a confusa invasão da Terra por alienígenas cínicos e absolutamente insuportáveis. Sendo uma invasão virtual – os marcianos surgiam como imagens holográficas –, os humanos não tinham como reagir ao falatório ininterrupto e a descarga de ofensas que eles adoravam proferir e, muitas vezes, a aparição incômoda acontecia em lugares e momentos nada próprios, colocando todos os humanos em estado de completo desespero.
Outro trabalho festejado entre os leitores e, na minha opinião, o melhor momento do humor na fc, é o romance de Harry Harrison (1925-2012) Bill, o herói galáctico (Bill, the galactic hero, 1965). Harrison monta um ambiente típico de space-opera para depois demolir todos os seus elementos, um por um. Bill é um jovem sem nenhum futuro, numa colônia periférica do império galáctico, que é enganado pelo discurso de um militar cuja função é recrutar novos soldados. É claro que tudo o que o fulano diz é mentira mas, depois de alistado, não tem jeito: Bill é embarcado numa nave e, a partir daí, nada mais dá certo para o infeliz. Logo de saída, Bill perde o braço esquerdo num ataque à sua nave e tem implantado no lugar dele o braço direito de um de seus falecidos colegas, um negro rebelde e falador. Além de ficar com dois braços direitos, tem de enfrentar a rebeldia do braço implantado, que nem sempre concorda com as ordens que recebe. Isso é só um aperitivo da confusão que se torna a vida de Bill, sempre envolvido em situações de perigo por conta da burocracia imperial, da idiotice de seus companheiros ou de sua própria estupidez.
Mais sutil é o humor do excelente Damon Knight (1922-2002) em O outro pé (The other foot, 1966). Knight foi um autor da geração New Wave da fc (anos 1960 e 1970). Essa história, um dos poucos trabalhos do autor publicados em português, conta da situação inusitada de um homem que, por um capricho da natureza, tem sua consciência trocada com a de um alienígena. Preso num corpo estranho, o homem vai tentar reverter a situação, mas terá de enfrentar os instintos de seu novo corpo, que vão dominando-o pouco a pouco, enquanto o mesmo ocorre com seu antigo corpo, que agora tem a mente do alienígena.
A sutileza máxima do humor as vezes negro, outras apenas ácido, pode ser encontrada permeando toda a obra de Kurt Vonnegut Jr. (1922-2007), um autor de fc que rejeitava o rótulo. Vonnegut foi um dos poucos autores de fc bem aceitos no ambiente mainstream (a literatura não-fc), justamente porque sua ficção é muito diferente do usual. Seu romance mais conhecido é Matadouro 5 (Slaughterhouse-five, 1969), uma história meio autobiográfica que conta o horror do bombardeio a bucólica cidade de Dresden pelos aliados durante a II Guerra Mundial, misturado aos delírios do personagem que acredita ter sido abduzido e viver uma existência paralela num zoológico alienígena, acompanhado por uma famosa atriz de cinema.
Outro autor que gostava de uma boa piada em seus textos era Isaac Asimov (1920-1992). Russo radicado nos EUA, Asimov é um dos pioneiros do gênero e escreveu centenas de livros de ficção e divulgação científica. Mestre em apresentar conceitos científicos de forma agradável e facilmente inteligível por leigos, Asimov é o autor de fc preferido dos brasileiros. Seus romances não eram especificamente cômicos, mas o autor reconhecia a enormidade do próprio ego e constantemente fazia piadas com isso, colocando em muitos de seus textos um alter-ego para ser ridicularizado pelos outros personagens. Esse humor sutil, inteligente e bem comportado está presente em todos os seus textos, não é preciso destacar nenhum em especial, pois Asimov foi um escritor tão regular que qualquer deles apresenta essa característica.
Mais um autor de destaque no gênero é o norte-americano Jack Vance, nascido em 1916 e o único desta relação que ainda está vivo. Vance escreveu uma comédia cujo título já ri de si mesma: Ópera interplanetária (Space opera, 1965). Tudo faz crer que se trata de uma space-opera, subgênero da fc que costumeiramente utiliza ambientes espaciais para contar aventuras de guerra e heroísmo, como o filme Guerra nas Estrelas, por exemplo, mas não é nada disso. Vance conta mesmo a história de um corpo de ópera, com coral e orquestra completos, que viaja pelo universo para levar a refinada arte terrestre aos seres incultos de outros mundos. Mas acontece que os alienígenas não pensam como nós e as apresentações da tal ópera nunca têm o resultado esperado.
No Brasil, sendo a fc um gênero pouco publicado, há ainda menos exemplos de humor. Contudo, o pouco que há, é excelente. O fruto maduro da civilização (1993) é uma coletânea de contos e o único livro de fc de Ivan Carlos Regina, autor paulista de uma ironia refinada que se pode conferir na leitura de "A derradeira publicidade do hebefrênico Alfredo", "O tempo é um carrasco impiedoso" e outros textos que, além de engraçadíssimos, são parte do que de melhor já se escreveu no gênero por estas paragens.

Humor no cinema de ficção científica
O humor de ficção científica que chegou às mídias audiovisuais nem sempre foi de igual qualidade ao da literatura, mas algumas obras valem a pena ser lembradas.
No cinema, Apertem os cintos, o piloto sumiu 2 (Airplane II: The sequel, 1982), de David Zucker, aborda o gênero satirizando os filmes-catástrofe em versão espacial. A história conta as situações absurdas de um ônibus espacial de turismo que se acidenta durante uma viagem à Lua. Entre o grande elenco estão atores veteranos como Lloyd Bridges, Peter Graves, Chuck Connors e a participação muito especial de William Shatner, o icônico Capitão Kirk de Star Trek.
S.O.S.: Tem um louco no espaço (Spaceballs, 1987), de Mel Brooks, tira um sarro das modernas sagas de fc, mais exatamente a franquia Star Wars, com muitas citações que fazem a alegria dos fãs, além de ótimas situações de metalinguagem que são a especialidade desse diretor norte-americano.
Outro longa muito interessante é Galaxy quest (1999), que satiriza as séries de tv e o universo dos fãs de fc. Entre os atores, Sigourney Weaver, a eterna Tenente Rippley da franquia Alien, ao lado de um elenco de comediantes de primeira linha em uma produção caprichadíssima, sobre o elenco de atores de uma série de tv que, durante a participação em uma convenção de fãs, é abduzido por alienígenas pacíficos que, depois de assistirem o seriado, acreditam que eles são heróis de verdade e podem salvá-los do ataque de um perigosíssimo vilão intergaláctico.
Também temos a sutileza mordaz de Brazil (1985), de Terry Gillian, que nos apresenta a visão de um futuro absurdo no qual a burocracia tornou a vida uma impossibilidade prática. O título faz referência a canção Aquarela do Brasil que, naquele ambiente opressivo, leva um burocrata inseguro e insatisfeito, a sonhar com um lugar melhor para viver.
Dr. Fantástico (Dr. Strangelove, 1964), de Stanley Kubrick, com a excelente multi-interpretação de Peter Sellers, jogou a primeira pá-de-cal sobre a Guerra Fria. Neste clássico, um problema de comunicação entre um bombardeio americano e a sua base de operações provoca o risco do lançamento de uma bomba nuclear sobre o solo soviético. Em um crescendo de confusão, as duas nações se vêm às voltas com a ameaça cada vez mais concreta de uma guerra nuclear total, enquanto um cientista maluco tece as mais absurdas teorias sobre o fim da humanidade, e em diversos outros pontos do país, a violência explode alimentada pela ridícula paranoia de uma invasão comunista na América.
Uma fc por excelência, que usa o humor limpo e sem apelações, é a série De volta para o futuro (Back to the future, 1985), de Robert Zemmekis. Foram ao todo três filmes, sendo que o primeiro é um primor de roteiro, direção, cenografia e interpretação, narrando a história de um adolescente envolvido num experimento revolucionário que o joga trinta anos no passado. Preso num paradoxo temporal – um dos mais interessantes temas da fc –, ele vai aos poucos desaparecendo, pois sua presença no passado desencadeia fatos que não deveriam acontecer, alterando o futuro. Um dos melhores filmes de fc de todos os tempos.
Outro filme no mesmo tema, que vale a pena ser lembrado, é O feitiço do tempo (Groundhog Day, 1993), de Harold Ramis, fantasia urbana que, por envolver uma curiosa teoria sobre o tempo, pode ser classificado como fc. Nele, um insuportável apresentador de televisão, interpretado por Bill Murray, ao fazer a cobertura anual do Dia da Marmota, fica preso nele indefinidamente.
Por mais que se esforce, sempre acaba acordando no mesmo dia e passando pelas mesmas coisas novamente. Apenas ele sabe que tudo se repete e, desse modo, vai sendo confrontado pouco a pouco com a sua própria incapacidade como ser humano.
Mais ou menos no mesmo estilo temos O show de Truman (The Truman show, 1998), de Peter Weir, estrelando o famoso comediante Jim Carrey. A história mostra a vida de um homem que, sem saber, vive numa cidade cenográfica, sendo continuamente filmado, desde antes de seu nascimento, para um reality show de grande sucesso. O filme se destaca na filmografia de Carey por ser sutil e delicado, muito diferente do estilo geralmente apelativo e debochado do ator.

Humor nas séries de tv de ficção científica
Na televisão, nem sempre o humor chegou a tanto refinamento quanto no cinema. Tal não é muito próprio da mídia mais popular de todas e, por isso, o que mais se vê nos shows de tv é o humor grosseiro e apelativo. Parafraseando uma máxima empresarial: o humor refinado ri das ideias; o humor comum ri das coisas, e o humor grosseiro ri das pessoas. Com esta régua, o leitor pode montar sua própria escala de qualidade naquilo que vê por aí.
Mas vale destacar alguns seriados que conseguiram apresentar algo mais em matéria de humor na fc.
O exemplo mais conhecido, e que dispensa maiores comentários, é o seriado Perdidos no espaço (Lost in space), que teve três temporadas entre 1965 e 1968, sempre com a presença hilária do desprezível Dr. Smith e sua escada preferida, o Robô "Lata-de-Sardinha", como ele carinhosamente o chamava.
Entre os desenhos animados, o melhor exemplo desde sempre é Os Jetsons (The Jetsons), produzido entre 1962 e 1963 pelos estúdios Hanna-Barbera. Conta as trapalhadas de uma típica família do futuro e os problemas que ela enfrenta diante dos avanços da tecnologia, que nunca são acompanhados por uma proporcional evolução do ser humano, de forma que concluímos que, quanto mais as coisas mudam, mais ficam iguais. Similaridades com a nossa própria vida não são meras coincidências.
Outro seriado clássico é Meu marciano favorito (My favorite martian), comédia de costumes exibida nas tvs americanas entre 1963 e 1965, que usa a presença de um alienígena humanoide entre a sociedade classe média americana para fazer graça com o comportamento dela.
Outro seriado com o mesmo perfil é Alf, o ETeimoso (Alf), produzido entre 1986 e 1990. Neste caso, o alienígena não é humano, mas sim um estranho bicho peludo, último sobrevivente de um planeta que foi destruído pela estupidez de seus próprios habitantes. O seriado teve também uma excelente versão em desenho animado, contando como Alf vivia em seu planeta natal.
Mais um seriado que navegou as mesmas águas foi 3rd rock from the Sun, produzido entre 1996 e 2001, com a presença ilustre e premiada de John Lithgow. Nele, um grupo de alienígenas assume a forma de uma família humana para estudar o comportamento da espécie local. Porém, nem todas as transformações foram bem sucedidas... na verdade, nenhuma delas.
Inédito na tv brasileira, mas possivelmente disponível em canais a cabo e por satélite, o seriado britânico Red Dwarf, produzido entre 1988 e 1993, conta a história do último sobrevivente da Terra viajando pelo que restou da galáxia numa enorme espaçonave, acompanhado de mutantes e alienígenas muito suspeitos. Seu humor advém principalmente da sátira e do pastiche de outros seriados e filmes de fc.
Também da Inglaterra vem a nova série do clássico seriado Doctor Who, cuja primeira temporada foi produzida em 1963. Esta nova série, que estreou em 2005 e ainda está em produção, conta a história do último dos Senhores do Tempo que, por algum motivo misterioso, sente uma atração irresistível pela Terra. A bordo da Tardis, uma poderosa máquina do tempo em forma de cabine telefônica azul ultramar, este Doutor sem nome combate invasões alienígenas e distorções temporais sempre na companhia de uma beldade terrestre que muda de tempos em tempos. Algumas vezes, as aventuras são bastante dramáticas, mas sempre contadas com muito bom humor e repletas de piadas inteligentes que exigem a atenção do expectador.
Outro exemplo recente do humor na fc televisiva é a multipremiada The big bang theory, sitcom focada em um disfuncional grupo de pesquisadores acadêmicos de uma universidade americana e as dificuldades que eles têm em se relacionar entre si e com as pessoas a sua volta. A fc aparece principalmente em citações, uma vez que o gênero é considerado um dos pratos favoritos dos nerds em geral. O seriado estreou em 2007 e é um grande sucesso no mundo todo.

Humor nos quadrinhos de ficção científica
Nos quadrinhos, o humor poucas vezes caminhou ao lado da fc. O exemplo mais clássico dessa rara união está na tira Brucutu (Alley Oop) de Vincente T. Hamlim, criada em 1932. Brucutu é um troglodita que vive entre os dinossauros e viaja pelo tempo através de uma máquina inventada por um cientista maluco do futuro, o professor Papanatas.
Em 1947, o cartunista Carl Barks criou para a Disney, inspirado no Pato Donald e seus sobrinhos, uma série de histórias com Patópolis, uma cidade habitada por patos e outros bichos.
Sua principal criação foi o Tio Patinhas (Scrooge McDuck), empresário multimilionário que sempre se mete em encrencas por causa de sua ganância desmedida. Muitas dessas aventuras tiveram cenários de ficção científica, com os patos indo à Lua, ao fundo do mar e a cidades imaginárias, em histórias inteligentes e divertidas.
Em 1967 surgiu a série francobelga Valérian, agente espaço-temporal (Valérian), da dupla Pierre Christin e Jean-Claude Mézières, que usa de bom humor em doses equilibradas mesclado com muita ação para contar as aventuras de um agente do futuro encarregado de impedir que disfunções espaço-temporais, naturais ou não, prejudiquem o contínuo espaço-tempo. As histórias de Valérian e sua acompanhante Laureline são muito criativas e de alta qualidade artística, uma característica do quadrinho europeu.
Nas franjas do gênero, está um dos maiores sucessos dos quadrinhos em tiras modernos: Calvin e Haroldo (Calvin and Hobbes). A série, publicada entre 1985 e 1995, tem legiões de fãs em todo o mundo, inclusive no Brasil. Seu autor, Bill Watterson, muitas vezes coloca o garotinho traquinas e seu tigre de pelúcia em situações típicas da fc, como viagens no tempo, por exemplo. São invariavelmente tiradas excelentes e de um humor finíssimo.
Também com contatos eventuais com a fc, merece ser registrada uma série dos irmãos Gilbert e Jaime Hernandez, com uma turma de garotas muito divertidas que se envolvem em todo tipo de aventuras. Mais conhecida como Love & Rockets ou Locas, a série criada em 1982 não se preocupava muito com a verossimilhança, apenas situava as garotas em algum ambiente exótico, as vezes futurista, outras em meio aos dinossauros e, desse modo, discutia temas ligados ao universo e ao imaginário feminino.
Pouco mais há que se lembrar. O que determina que fazer humor na fc não é apenas um caminho difícil, como sempre é fazer humor de qualidade, mas uma boa oportunidade de desenvolver um modo novo e diferenciado de tratar o gênero. Quem sabe não esteja justamente aí um caminho favorável para uma bem sucedida ficção científica brasileira, que escape dos lugares comuns e modismos importados tão replicados pelos fãs.