domingo, 28 de junho de 2020

O Planeta Fantasma (The Phantom Planet, EUA, 1961, PB)



     Direção de William Marshall. A humanidade possui uma base de pesquisas na Lua, de onde foguetes partem para explorações espaciais. Porém, um imenso objeto parecido com um planeta tem causado destruição colidindo contra naves terrestres, surgindo de repente no espaço e desaparecendo misteriosamente. Apelidado de “planeta fantasma”, um astronauta renomado, Capitão Frank Chapman (Dean Fredericks), é enviado numa missão de investigação, junto com o Tenente Ray Makonnen (Richard Weber), que acidentalmente se perde no espaço ao tentar reparar um problema externo no foguete. Quanto à Chapman, ele acaba pousando no tal planeta chamado Raiton, que abriga uma raça de humanóides em miniatura, uma civilização avançada tecnologicamente (tanto que transformaram o planeta numa espécie de nave gigante), mas que preferiram viver de forma primitiva, abolindo as máquinas e o luxo de uma vida entediante, optando pela luta pela sobrevivência. O astronauta terrestre também diminui de tamanho em contato com a atmosfera local e passa a viver entre os alienígenas, liderados pelo veterano Sessom (Francis X. Bushman), tendo que enfrentar a antipatia do rival Herron (Anthony Dexter), além de escolher uma namorada entre a loira ambiciosa Liara (Coleen Gray) e a bela morena silenciosa Zetha (Dolores Faith), enquanto planeja um meio de retornar ao tamanho natural e voltar para a base lunar. 

     Curiosamente, o filme é ambientado em 1980, um futuro de duas décadas em relação à época de produção (1961), com a Terra mantendo uma base na Lua e com viagens espaciais regulares, porém, ao contrário das previsões otimistas dos escritores de ficção científica, após cerca de três décadas depois desse período abordado no roteiro, ainda caminhamos lentamente em relação à exploração espacial. 

     “O Planeta Fantasma” tem fotografia em preto e branco e foi lançado em DVD juntamente com a space opera italiana “Batalha no Espaço Estelar” (1977). A história é até interessante, abordando um planeta que se move como uma nave e é habitado por uma civilização miniaturizada que vive uma situação paradoxal, possuindo grande conhecimento científico e ao mesmo tempo preferindo uma vida primitiva ao extremo. Os efeitos especiais são precários e exageradamente toscos, apesar da produção de cerca de meio século atrás, onde destaco no quesito “momento bagaceiro” o ataque das naves incendiárias dos solarites, uma raça inimiga dos humanóides, e a presença de um destes alienígenas horrendos com olhos esbugalhados, interpretado pelo gigante ator Richard Kiel, escondido numa fantasia de borracha típica dos filmes dos anos 50 e 60, não faltando a clássica cena do monstro carregando nos braços uma bela mulher desacordada.

(Juvenatrix – 12/11/09)



O Mundo Perdido (The Lost World, EUA, 1960)



     Baseado em livro homônimo de Arthur Conan Doyle e com direção de Irwin Allen, o criador de nostálgicas e memoráveis séries de TV dos anos 60 do século passado, como “Perdidos no Espaço”, “Viagem ao Fundo do Mar”, “Terra de Gigantes” e “O Túnel do Tempo”. E também produtor de clássicos do subgênero “catástrofe”, como “O Destino do Poseidon” (1972) e “Inferno na Torre” (1974). Além dessas ótimas credenciais, “O Mundo Perdido” tem em seu elenco Claude Rains (“O Homem Invisível”, 1933 e “O Fantasma da Ópera”, 1943), Michael Rennie (“O Dia Em Que a Terra Parou”, 1951) e David Hedison, o capitão Crane da série “Viagem ao Fundo do Mar” e o “cientista louco” de “A Mosca da Cabeça Branca” (1958). 

     O excêntrico Prof. George Edward Challenger (Claude Rains) consegue reunir uma expedição científica com destino à Amazônia, para localizar e explorar um imenso platô onde supostamente ainda existem dinossauros gigantes. O grupo ainda conta com um famoso aventureiro, Lord John Roxton (Michael Rennie), um jornalista, Ed Malone (David Hedison), outro cientista, o Prof. Summerlee (Richard Haydn), a filha de um investidor da expedição, Jennifer Holmes (Jill St. John), o jovem irmão dela, David (Ray Stricklyn), e dois homens da região do Amazonas, Costa (Jay Novello) e o piloto de helicóptero Manuel Gomez (Fernando Lamas). Chegando à região misteriosa, eles encontram dinossauros e índios nativos hostis, e depois que o helicóptero é destruído, o desafio é conseguir encontrar um meio de sair do “mundo perdido”, retornar para a civilização com vida e se possível, trazendo alguma prova da existência dos monstros pré-históricos. 

     Clássico da saudosa “Sessão da Tarde”, da época quando ainda eram exibidos filmes antigos e divertidos. “O Mundo Perdido” é uma aventura com elementos de ficção científica e humor, onde o destaque é a forma como são mostrados os dinossauros. Numa época sem a tecnologia de computação gráfica para a criação dos monstros, Irwin Allem preferiu não utilizar os tradicionais bonecos em “stop motion” e optou por filmar animais vivos (lagartos maquiados com chifres) caminhando sobre cenários em miniatura, com a perspectiva de filmagem por baixo, dando a sensação de serem monstros gigantescos. 

     Curiosamente, vale citar que o livro de Conan Doyle teve várias outras adaptações para o cinema, sendo a primeira em 1925, na época do cinema mudo. Teve também um telefilme em 1999 que originou uma série de TV produzida até 2002. 

(Juvenatrix – 01/01/14)



sábado, 27 de junho de 2020

O Monstro de Duas Cabeças (The Thing With Two Heads, EUA, 1972)



     Filme bagaceiro de “cientista louco” do início dos anos 70 do século passado.

   Um famoso e bem sucedido cirurgião médico, Maxwell Kirshner (Ray Milland), está doente terminal e vê num ousado plano de transplante de sua cabeça e cérebro brilhante no corpo de outra pessoa, como a única forma de manter a sobrevivência. Porém, extremamente racista, com a piora rápida de sua saúde, ele não imaginaria que a única opção disponível era um homem negro presidiário no corredor da morte e que alega inocência, Jack Moss (Rosey Grier, primo da bem mais conhecida Pam Grier). A ideia após o transplante é adaptar o corpo para a nova cabeça e depois eliminar a original. A cirurgia tem sucesso e um “monstro de duas cabeças” foi criado, causando uma série de transtornos após fugir do hospital, sendo perseguido pelos médicos que realizaram a operação e pela polícia incompetente.

     Divertida tranqueira com elementos de horror e ficção científica e um roteiro tão absurdo que seus realizadores tiveram que flertar com o humor em diversas situações para não ficar tão ridículo, devido às cenas inevitavelmente hilárias. O excelente ator Ray Milland é conhecido por estrelar preciosidades do cinema fantástico como “Obsessão Macabra” (1962), “Pânico no Ano Zero” (1962), “O Homem dos Olhos de Raio-X” (1963), “A Invasão das Rãs” (1972) e “Galáctica – Astronave de Combate” (1978), entre outras.

     Destaque para uma enorme sequência de perseguição de quatorze carros da polícia contra a “coisa de duas cabeças” fugindo pilotando uma moto numa área descampada fora da cidade.

     Curiosamente, o famoso técnico em maquiagem Rick Baker (de “Nasce um Monstro”, “O Incrível Homem Que Derreteu”, “Grito de Horror”, “Pague Para Entrar, Reze Para Sair”, “Um Lobisomem Americano em Londres” e “Videodrome – A Síndrome do Vídeo”, entre outros), faz uma ponta vestindo a roupa de um gorila que serviu de cobaia para um transplante de cabeça. Mais uma curiosidade é que um ano antes, em 1971, tivemos outro filme com temática similar, “O Incrível Transplante de Duas Cabeças” (The Incredibre Two-Headed Transplant), com Bruce Dern e Pat Priest.

(Juvenatrix – 01/12/13)



quarta-feira, 24 de junho de 2020

A Mansão da Meia-Noite (House of the Long Shadows, Inglaterra, 1983)



     Produzido pela “Cannon Group”, "A Mansão da Meia-Noite", de Pete Walker, é o único filme da história que conseguiu reunir quatro dos mais consagrados nomes do cinema de horror de todos os tempos: Vincent Price, Christopher Lee, Peter Cushing e John Carradine. 

     Um jovem escritor americano, Kenneth Magee (Desi Arnaz), aceita uma aposta de seu editor, Sam Allyson (Richard Todd), para escrever um livro em 24 horas, se isolando numa mansão abandonada no interior do País de Gales, cujo ambiente tétrico e atmosfera sombria poderia servir de inspiração. Porém, várias pessoas misteriosas aparecem em seu caminho, como dois idosos caseiros da mansão (interpretados por John Carradine e Sheila Keith), a secretária de seu editor, Mary Norton (Julie Peasgood), antigos moradores do casarão e membros da histórica família Grisbane (Vincent Price e Peter Cushing), e um empresário investidor em imóveis antigos, Sr. Corrigan (Christopher Lee). Além da existência de um terrível segredo do passado da mansão e da família amaldiçoada que vivia nele quarenta anos antes. 

     O roteiro de Michael Armstrong, baseado no livro “Seven Keys to Baldpate”, de Earl Derr Biggers, não foge muito dos habituais clichês do gênero, explorando sutilmente elementos de horror psicológico e apostando em reviravoltas. Mas, o que interessa mesmo é a presença num único filme dos ícones Price, Lee, Cushing e Carradine, alguns dos mestres que deram vida ao fascinante cinema de horror, e que povoaram nossos sonhos e pesadelos com o puro entretenimento de seus filmes. Este fato torna “A Mansão da Meia-Noite” um filme único, indispensável e altamente recomendável, com seu lugar garantido na memória do gênero. 

     Curiosamente, foi apenas lançado no Brasil em VHS, através da “Globo Vídeo”, cuja mesma cópia original em inglês e com legendas em português, pode também ser encontrada na internet em blogs que permitem que sejam baixados em versão DVD. 

(Juvenatrix – 27/12/13)



domingo, 21 de junho de 2020

O Horror Vem do Espaço / Monstro Sem Face (Fiend Without a Face, Inglaterra, 1958, PB)


     Produção inglesa com fotografia em preto e branco, dirigida por Arthur Crabtree e com roteiro baseado na história “The Thought Monster”, de Amelia Reynolds Long. Filme curto (apenas 75 minutos) da década de 1950 do século passado, com história absurdamente divertida, e com dois títulos nacionais. O primeiro e mais coerente pela tradução literal, “Monstro Sem Face” (conforme o livro “Ficção Científica”, de Gilberto Schoereder, 1986), e o outro pessimamente escolhido quando lançado em DVD, O Horror Vem do Espaço”, pois a história não tem relação com algo vindo do espaço.

     As ações se passam numa base militar americana e canadense, que trabalha com pesquisas com energia nuclear para o desenvolvimento de um potente radar atômico que possibilitaria espionar atividades suspeitas na antiga União Soviética, durante o conturbado período da guerra fria. Porém, soldados e moradores de uma pequena cidade próxima, aparecem mortos e estampando o horror em suas faces desesperadas. O Major Cummings (Marshall Thompson) é destinado para invertigar os misteriosos assassinatos e em paralelo, tenta defender a mocinha Barbara Griselle (Kim Parker), irmã de uma das vítimas dos demônios invisíveis. Ele descobre relações entre as bizarras experiências de um cientista, Prof. Walgate (Kynaston Reeves), com a materialização de pensamentos e a influência destrutiva da energia radiativa dos reatores atômicos da base militar, criando monstros inicialmente “sem rostos” e depois visíveis na forma grotesca de um cérebro com espinha dorsal.

     Percebemos aqui uma influência e relações com a ideia central do clássico de FC “Planeta Proibido” (1956), onde um terrível monstro invisível, criado pela mente perturbada de um cientista, ataca um grupo de astronautas que chegam num planeta colonizado por humanos. Com efeitos especiais de “stop motion” complexos para a época, ao mostrar os monstros e seus movimentos de ataque, e situado dentro do ambiente que retrata a paranoia da guerra fria e o medo dos efeitos nocivos da energia nuclear, o filme “O Horror Que Vem do Espaço” (na verdade, que vem do “pensamento”), é mais uma garantia de diversão para quem aprecia essas preciosas tranqueiras do cinema bagaceiro antigo de FC & Horror.

(Juvenatrix – 26/05/13)


O Beijo do Diabo (Devil´s Kiss, França / Espanha, 1976)



     Filme europeu de horror, numa produção franco-espanhola de baixo orçamento, que faz parte da coleção “Clássicos do Terror”, lançada em DVD no Brasil pela “Vinny Filmes”.

     Uma aristocrata falida e praticante de ocultismo, Claire Grandier (Silvia Solar), juntamente com seu amigo cientista com poderes de telepatia, Prof. Gruber (Oliver Matthau), são convidados a realizarem suas experiências no porão de um imponente castelo francês de propriedade do Duque de Haussemont (José Nieto), que tem interesse na comunicação com os mortos. Porém, o objetivo da dupla de novos moradores do castelo é colocar em prática um sangrento plano de vingança contra os aristocratas locais que não ajudaram a evitar a falência de Claire, fato que motivou o suicídio de seu marido. Com a colaboração do cientista telepata, eles criam um zumbi assassino (Jack Rocha) a partir do cadáver de um indigente, que retornou a caminhar entre os vivos graças à união de experiências científicas com regeneração de células e a invocação de poderes ocultos de demônios.

     Em “O Beijo do Diabo” podemos encontrar todos os elementos típicos do horror gótico. A ambientação num castelo repleto de corredores escuros, com um laboratório no porão para as bizarras experiências de um cientista louco, num estilo similar ao Dr. Frankenstein. A presença de um anão como ajudante, as ações de uma criatura zumbi assassina comandada por telepatia, a realização de rituais de magia negra, mulheres nuas desfilando seus belos corpos, a investigação policial das misteriosas mortes, e as perseguições pelos imensos aposentos do castelo e na floresta ao redor. É bem datado, como percebemos nas roupas das mulheres de meados dos anos 70 do século passado, e nos aparelhos médicos do hospital onde são realizados exames numa vítima do monstro.

     Curiosamente, é solicitada a ajuda do demônio Astaroth num ritual diabólico, lembrando fato similar do filme do mesmo ano de 1976, “Uma Filha Para o Diabo” (To the Devil a Daughter), com Christopher Lee, e de onde retirei a ideia de nome para meu fanzine de horror “Astaroth”, criado em 1995 e em animação suspensa desde 2008.

(Juvenatrix – 12/07/14)



sábado, 20 de junho de 2020

Descobrimentos


Descobrimentos, João Batista Melo. Apresentação de Roberto de Sousa Causo. Capa de Cerito, sobre pintura de Andries van Eervelt e ilustrações internas de João Pirolla. 93 páginas. São Paulo: Devir Livraria, Coleção Asas do Vento, 2012.


Na boa e longa apresentação do livro, Roberto Causo defende que as três histórias que formam esta coletânea poderiam ser classificadas como ficção científica recursiva. Seriam o que a The Encyclopedia of Science Fiction (1993) chama de “histórias que tratam de pessoas reais, e os mundos ficcionais que ocupam os seus sonhos, como dividindo graus equivalentes de realidade”. Normalmente tem sido um recurso para contar histórias de ficção científica situadas no passado, no qual algum evento histórico ocorre de forma diferente – as assim chamadas histórias alternativas – ou algum tipo de tecnologia é antecedida ou desenvolvida de forma distinta – geralmente classificadas como steampunk. O uso de personagens reais, em ambos os casos, procuraria dar mais verossimilhança a tais criações ficcionais.
Embora este livro tenha sido publicado em 2012 é interessante porque marcou a volta do autor mineiro João Batista Melo ao convívio da FC brasileira, ainda que apenas uma de suas três histórias seja inédita. Melo publicou livros importantes no gênero como as coletâneas O Inventor de Estrelas (1991) e As Baleias de Saguenay (1995). É uma literatura com prosa refinada e abordagens que fogem do lugar comum em histórias de temas semelhantes. Sua FC transita entre uma densidade mais literária e uma espécie de diálogo limítrofe com o fantástico. Em Descobrimentos estas características estão presentes e servem como uma boa porta de entrada para conhecer esta FC de certa forma incomum dentro do panorama nacional.
A história que abre o livro é “Caminho das Índias” e mostra mais o espírito de aventura e mistério do desconhecido nas históricas expedições marítimas europeias dos séculos XV e XVI. A narrativa mostra de forma intimista as reações emocionais e existenciais de um tripulante da missão de Cristóvão Colombo que objetiva alcançar as índias, mas que acabará por descobrir o Novo Mundo. Na apresentação Causo sugere que este texto possa ser visto “como uma espécie de história alternativa das ideias, se não dos fatos históricos”. Isso soa subjetivo demais, mas a intenção de Melo foi mais ou menos essa, e não contar de forma mais concreta algum ponto de divergência que alteraria os rumos subsequentes da viagem de Colombo. Na verdade acredito que nenhuma destas histórias agradaria a um leitor de história alternativa tradicional, pois Melo não está preocupado com os impactos dos eventos em si, mas em como pessoas comuns os teriam percebido e reagido no contexto da época. Ora, imaginar como pensariam as pessoas de determinada época é uma tarefa complexa não só do ponto de vista histórico, mas principalmente filosófico. Mas se falta um mergulho mais intenso sobre a identificação de um zeitgeist da época, sobra em Melo sensibilidade e boa construção das personagens, e a serviço de uma prosa fluente e agradável.
Tais elementos em conjunto são vistos em especial na novela inédita “1500”. Índios brasileiros se aventuram no mar para enfrentar uma possível ameaça denunciada pelos sonhos do guia espiritual de uma tribo. Ele teve visões de uma invasão iminente vinda do mar, por homens em tudo semelhantes aos europeus. A jornada de Krakatan e seus companheiros é emocionante, e nos coloca diante de uma História não alternativa, mas como se fosse ao contrário. Uma narrativa inteligente e das mais interessantes publicadas na ficção científica brasileira nos últimos anos. O volume valeria mesmo só por esta novela.
O conto que fecha é “A Moça Triste de Berlim”. O dirigível Hindenburg está a caminho do Rio de Janeiro e um jovem brasileiro organiza um atentado terrorista que deverá desmoralizar de uma só vez Hitler e Getúlio Vargas. A premissa é das mais instigantes, mas a realização não, porque a opção mais subjetivista do autor talvez não seja a mais adequada para o tipo de enredo político montado, ou sugerido. Aqui, uma história de ficção científica mais política ou alternativa, no sentido mais tradicional, daria mais força dramática ao que sugere o enredo.
É estranho que João Batista Melo seja um autor tão desconhecido junto ao fandom brasileiro de FC. Menos pelo que ele publicou e do reconhecimento que já adquiriu junto ao mainstream, ao vencer prêmios e concursos literários de prestígio. Talvez a sua ausência física explique em parte isso. Eu mesmo só o conheci pessoalmente na já distante Fantasticon – Simpósio de Literatura Fantástica, em setembro de 2012. Mas o problema principal deve ser mesmo o esnobismo do leitor e fã médio brasileiro aos autores de sua própria terra. Não sabe o que perde, mas tem uma boa oportunidade de finalmente descobrir o talento de Melo neste livrinho pequeno em tamanho e grande em qualidade.

Marcello Simão Branco

quinta-feira, 18 de junho de 2020

A Maldição da Mosca (Curse of the Fly, Inglaterra, 1965, PB)



A franquia da “Mosca” é composta por uma trilogia formada por “A Mosca da Cabeça Branca” (The Fly, 1958), seguido por “O Monstro de Mil Olhos” (Return of the Fly, 1959), e fechando a saga com “A Maldição da Mosca” (Curse of the Fly, 1965), com fotografia em preto e branco e estrelado por Brian Donlevy, lançado em DVD no Brasil pela “Fox”. Depois, muitos anos mais tarde, o cineasta David Cronenberg fez a refilmagem “A Mosca” (The Fly, 1986), investindo pesado no sangue, escatologia e efeitos especiais nojentos, que foi seguido por “A Mosca II” (The Fly II, 1989), uma seqüência dispensável.

No terceiro filme da série, com direção de Don Sharp, o filho do cientista da película original de 1958, Henri Delambre (Brian Donlevy), continua trabalhando no projeto de teletransporte da matéria, aperfeiçoando a máquina para enviar seres humanos entre Quebec (Canadá), onde fica baseado um laboratório mantido por seu filho Martin (George Baker), e Londres (Inglaterra), no laboratório administrado pelo outro filho, Albert (Michael Graham). Henri está obcecado em obter sucesso nas experiências, tanto que cobaias humanas foram utilizadas e se transformaram em monstros mutantes por causa de falhas técnicas, mantidas aprisionadas na fazenda do cientista. Ele também tem que enfrentar a desaprovação de seus filhos, que querem ter uma vida comum, montando suas famílias, e que estão cansados de continuar a saga de gerações atrás do sonho (ou será pesadelo?) do teletransporte, o que já causou muitos transtornos e tragédias no passado. Os problemas aumentaram ainda mais depois que Martin, numa viagem a Montreal para comprar um equipamento científico, encontrou a bela jovem Patricia Stanley (Carole Gray), que estava fugindo de um hospital psiquiátrico onde se tratava de um distúrbio emocional, e se apaixonou pela garota trazendo-a consigo para se casar. A moça acabou descobrindo as vítimas deformadas das experiências e chamou a atenção da polícia, que estava em seu encalço, que veio novamente atrapalhar os planos do cientista.

Particularmente, aprecio muito os filmes de “cientista loucos” obcecados por seus trabalhos para o “bem da humanidade”, tornando-se tão concentrados em seus objetivos que perdem os escrúpulos, cometendo crimes para alcançar resultados. É como diz o cientista Henri Delambre em duas oportunidades: “Somos cientistas. Temos de fazer coisas que odiamos e que nos enojam...” e “Há sacrifícios humanos em todos os grandes avanços científicos...”. E em “A Maldição da Mosca”, a idéia principal continua o foco na tão sonhada máquina que permitiria o transporte de seres vivos entre pontos distantes do planeta, através da desintegração e reintegração da matéria, e que por falhas ainda a serem corrigidas, tem causado mutações nas pessoas que participaram dos testes.

Curiosamente, nesse terceiro filme aparece numa ponta o Inspetor Charas (Charles Carson), que foi o policial que investigou o caso em “A Mosca da Cabeça Branca” (aqui, interpretado por Herbert Marshall), criando mais uma ponte de ligação entre os filmes.
Também por curiosidade e apenas para registro, seguem abaixo pequenos comentários sobre os outros quatro filmes dentro desse mesmo universo ficcional:
* “A Mosca da Cabeça Branca”: com direção de Kurt Neumann, fotografia a cores, um elenco formado por David Hedison (o Capitão Lee Crane da série de TV dos anos 60 “Viagem ao Fundo do Mar”) e o ícone do horror Vincent Price, e inspirado num conto de George Langelaan, esse filme é um clássico do subgênero “cientista louco” e “homem transformado em monstro”. Quando o cientista Andre Delambre (Hedison), pioneiro nas experiências de teletransporte de matéria, utilizou a si mesmo como cobaia, ocorreu um acidente e ele teve seu corpo misturado ao de uma mosca intrusa na cabine. Transformou-se num monstro com cabeça e uma das patas da mosca, e o inseto fugiu com uma cabeça e braço humanos. Lançado em DVD no Brasil pela “Fox”.
* “O Monstro de Mil Olhos”: em preto e branco e novamente com Vincent Price, nessa seqüência o filho do cientista do original, Phillipe Delambre (Brett Halsey), com a ajuda do tio François (Price), retoma as experiências de teletransporte novamente criando um monstro metade homem metade mosca. O filme falha por praticamente manter a mesma história do original, investindo exclusivamente no drama do filho do cientista transformado numa criatura mutante. Enquanto no filme anterior, o monstro é pouco mostrado, aqui ele é o foco do roteiro, sem inovações.
* “A Mosca”: ótima nova versão do clássico de 1958, atualizado para os anos 80 por David Cronenberg, com uma overdose de cenas sangrentas e efeitos especiais interessantes. Agora o cientista é Seth Brundle (Jeff Goldblum) que se transforma num monstro após o fracasso de uma experiência de teletransporte. Sua namorada Veronica Quaife (Geena Davis) tenta em vão ajuda-lo.
* “A Mosca II”: o filho do cientista do filme de 1986, Martin Brundle (Eric Stoltz) retoma as experiências do pai, novamente com resultados desastrosos. Filme menor e que poderia ter sido evitado, não acrescentando nada à saga, sendo facilmente esquecido depois de visto.

(Juvenatrix - 20/08/2009)




segunda-feira, 15 de junho de 2020

A Coisa (The Stuff, EUA, 1985)



“Você está comendo ela... ou ela está comendo você?”

          Se fôssemos questionados para citar um filme despretensioso de horror da metade dos anos 80, numa produção de baixo orçamento, e que tenha elementos de humor negro e mensagens interessantes em seu argumento, um bom exemplo que viria à mente seria “A Coisa” (The Stuff, 1985), com direção e roteiro de Larry Cohen, americano nascido em 1938 e um nome bem conhecido no cinema fantástico “B”, sendo o criador das séries de filmes com um bebê assassino, iniciada com “Nasce um Monstro” (It´s Alive, 74), e com um policial psicopata, “Maniac Cop” (88). Além também de escrever as histórias de filmes mais comerciais como o ótimo “Por Um Fio” (Phone Booth, 2002), com Colin Farrell, Forest Whitaker e Kiefer Sutherland, e o fraco “Celular – Um Grito de Socorro” (Cellular, 2004), com Kim Basinger.     

A história de “A Coisa” apresenta uma curiosa substância gosmenta encontrada por mineradores numa região com neve e que por possuir um sabor agradável ao paladar humano, passa a ser comercializada em larga escala através de lojas e supermercados como uma espécie de sobremesa bem apetitosa. O creme misterioso, de cor branca e parecido com um iogurte ou sorvete, recebeu o nome de “A Coisa”, ou “The Stuff”, e rapidamente conquistou uma imensa legião de consumidores ávidos em conhecer seu sabor e  conseqüentemente ingerir grandes quantidades do produto.
Porém, um ex-agente do FBI e agora um espião industrial, David “Mo” Rutherford (Michael Moriarty), é contratado para tentar desvendar a fórmula do doce e descobre um terrível segredo por trás de sua aparência atrativa. Ele une seus esforços com uma publicitária, Nicole (Andrea Marcovicci, de “A Mão”, 81), que foi a responsável pela bem sucedida campanha de marketing do produto, e também acolhe um garoto fugitivo, Jason (Scott Bloom), que havia testemunhado uma cena estranha envolvendo o creme dentro de sua geladeira e cuja família passou a ter um comportamento misterioso depois de consumir doses exageradas da “coisa”.
Juntos, eles tentam combater a ameaça da sobremesa assassina convencendo um militar fanático de direita, Coronel Malcolm Grommett Spears (Paul Sorvino), para lançar seu exército contra a invasão de uma raça de criaturas alienígenas que manipulam suas vítimas transformando-as em escravos, alimentando-se de suas vísceras. 

O filme, através de um clima descontraído de puro entretenimento, procura transmitir uma série de mensagens interessantes resgatando aquela nostálgica magia do cinema “B” principalmente dos anos 50, onde a “coisa” seria considerada uma espécie de metáfora da paranóia dos americanos contra uma invasão comunista, algo que era bem típico nos argumentos dos filmes bagaceiros de horror e ficção científica daquele conturbado período da guerra fria. A “coisa” é uma parasita alienígena que engana suas vítimas, tomando o controle de suas mentes e depois consumindo seus corpos por dentro, se alimentando das entranhas e transformando as pessoas em cascas vazias.
As cenas e diálogos envolvendo o truculento militar Coronel Spears, quando ele entra em ação para combater a ameaça alienígena, somente realça um sentimento obcecado contra um suposto inimigo que quer tomar a liberdade dos cidadãos, além também de enfatizar o incrível fascínio que os armamentos bélicos despertam nos americanos.
Outras mensagens oportunas inseridas na história pelo diretor e roteirista Larry Cohen são a ênfase da sociedade americana num consumo descontrolado por produtos manipulados pelo poder da propaganda, pois a “coisa” é largamente divulgada em comerciais de televisão chamando a atenção dos consumidores famintos por experimentar seu sabor.
Tem também o alerta para a selvagem concorrência dentro do mercado, com espiões industriais espalhados para todos os lados e conspirações para segurar o interesse dos clientes, além da facilidade de propagação do tráfico ilegal de um produto proibido, como sugere o desfecho da história.

Curiosamente, o personagem David “Mo” Rutherford, interpretado por Michael Moriarty, ganhou o apelidado de “Mo” porque quando ele recebia dinheiro das pessoas que o contratavam para seus serviços de espionagem, ele sempre queria mais (ou “more” em inglês). Para simular a “coisa”, os produtores utilizaram sorvete e iogurte de verdade, e numa determinada cena onde aparece uma avalanche da criatura, foi utilizada uma imensa quantidade de espuma de extintor de incêndio.            

“A Coisa” já havia sido lançado no Brasil em VHS pela “Poletel”, e está há muito tempo fora de catálogo. E também o filme foi lançado em DVD com distribuição nas bancas em Junho de 2005, encartado na revista “Play Video” ano 1, número 3, da “NBO Editora”. O disco traz de material extra apenas duas pequenas biografias dos atores Michael Moriarty e Paul Sorvino, além de uma sinopse curta e simples. A revista também não tem grandes atrações, trazendo uma matéria bem superficial sobre o gênero Horror no cinema, dando um destaque maior para filmes mais conhecidos como “Pânico” (96), “The Evil Dead” (82) e “Hellraiser” (87), ou mais recentes como o confronto dos famosos psicopatas no crossover “Freddy vs. Jason” (2003), o barulhento “Van Helsing” (2004) e a excelente história de fantasmas “Os Outros” (2002).

“Você sempre vai querer mais da coisa” – slogan de um comercial de televisão

(Juvenatrix - 13/07/2005)




sábado, 13 de junho de 2020

O Lobisomem no Quarto das Garotas (Werewolf in a Girl´s Dormitory, Itália / Áustria, 1962, PB)



“Aviso! Esse filme é apenas para pessoas com nervos de aço!” – frase de efeito, reproduzida do trailer

O misterioso Dr. Julian Olcott (o austríaco Carl Schell) é um médico com um passado misterioso que é contratado para trabalhar como professor de ciências numa escola reformatória somente para moças. Porém, ele não imaginava os problemas que iriam surgir e abalar a reputação da instituição quando durante certa noite de lua cheia, uma das garotas, Mary Smith (Mary McNeeran), que mantinha um romance secreto com um outro professor, Sir. Alfred Whiteman (Maurice Marsac), é encontrada morta com os olhos arregalados de pavor e com o pescoço violentamente dilacerado. A investigação policial sugere um ataque de lobo, já que esses animais habitam a floresta que circunda a escola, enquanto uma amiga da vítima, a jovem Priscilla (a polonesa Barbara Lass), alega que ela não foi assassinada por animais, despertando o medo entre as estudantes e criando uma lista de suspeitos na escola. 

Confesso que depois de ver o apelativo nome do filme, “O Lobisomem no Quarto das Garotas” (Lycanthropus / Werewolf in a Girl´s Dormitory, 1962), imaginei se tratar de uma bomba daquelas totalmente descartáveis. Porém, para minha surpresa, o filme, com todas as suas falhas, pode ainda assim ser classificado naquele grupo de bagaceiras divertidas, procuradas apenas pelos colecionadores de filmes que sejam os mais bizarros e desconhecidos possíveis, ou seja, com produção paupérrima, elenco amador, roteiro despretensioso e efeitos toscos (nesse caso, a maquiagem do lobisomem).
Com direção do italiano Paolo Heusch (creditado com o pseudônimo de Richard Benson), o roteiro de Ernesto Gastaldi (sob o pseudônimo de Julian Berry), procura contar uma história de mistério, assassinatos e suspense, tentando estabelecer uma interação com o público para descobrir a identidade do autor dos crimes. Porém, falha em não explorar devidamente uma investigação policial (a participação do detetive é inexpressiva), deixando esse trabalho praticamente nas mãos dos próprios suspeitos, cuja lista vai desde professor recém chegado à escola, Julian Olcott, que no passado trabalhou na pesquisa de um antídoto para reverter o processo de transformação do lobisomem, seu companheiro de ofício, o adúltero Sir. Alfred Whiteman, passando pelo respeitável diretor do reformatório, Sr. Swift (o polonês Curt Lowens), e indo até o esquisito zelador Walter Jeoffrey (Luciano Pigozzi, creditado como Alan Collins), e o silencioso porteiro Tommy (Joseph Mercer).
O roteiro superficial também não explora as possíveis origens e motivos que levaram um homem a se transformar numa fera assassina, passando a idéia que um lobisomem não seria algo extraordinário, pelo contrário, seria algo comum que faz parte do cotidiano e que não surpreenderia ninguém (fato comprovado quando o assunto é abordado pela primeira vez, com uma naturalidade que deveria ser inexistente). Outro ponto fraco na história é que um espectador um pouco mais atento logo desconfia qual a identidade da fera, tornando o desfecho previsível. Mas, a despeito disso tudo, o filme é até recomendável a título de curiosidade e principalmente por apresentar todas as características de uma produção “B” despretensiosa. Eu prefiro bagaceiras como essa em vez de bombas dispensáveis como “Amaldiçoados” (Cursed, 2005), de Wes Craven, um lixo produzido com muito dinheiro e uma tecnologia moderna à disposição, mas que não evitaram o péssimo resultado final.  

 “O Lobisomem no Quarto das Garotas” foi filmado em preto e branco, tem apenas 83 minutos, e foi lançado em DVD no Brasil pela “Fantasy Music” em Setembro de 2006, na coleção “Sessão da Meia-Noite”, trazendo no mesmo DVD o filme “Criatura Sangrenta” (Blood Creature / Terror is a Man, 1959), com história baseada em “A Ilha do Dr. Moreau”, de H. G. Wells (não creditado).  

(Juvenatrix - 05/11/2006)



Criatura Sangrenta (Blood Creature, EUA / Filipinas, 1959, PB)



O escritor inglês Herbert George Wells foi o autor de inúmeros livros de Ficção Científica e Horror que serviram de inspiração para o cinema fantástico. Histórias como “O Homem Invisível”, “A Guerra dos Mundos”, “O Alimento dos Deuses”, “Daqui a Cem Anos”, “Os Primeiros Homens na Lua”, “A Máquina do Tempo”, transformaram-se em muitos filmes e várias versões. No caso de “A Ilha do Dr. Moreau” (1896), o livro foi filmado em três produções mais conhecidas, em 1933 (com Charles Laughton e Bela Lugosi), 1977 (com Burt Lancaster, Michael York e Richard Basehart), e 1996 (com Marlon Brando e Val Kilmer).
Porém, em 1959 foi lançada uma bagaceira chamada “Criatura Sangrenta” (Blood Creature / Terror is a Man), dirigida pelo filipino Gerry de Leon, cujo roteiro de Harry Paul Harber também é baseado na famosa obra literária de Wells, porém de forma não creditada. E surpreendentemente, o filme teve distribuição em DVD por aqui, para a satisfação dos colecionadores ávidos por filmes bizarros, exóticos, desconhecidos e principalmente ruins de forma não proposital.      

O único sobrevivente do naufrágio de um navio de carga, o engenheiro de petróleo William Fitzgerald (Richard Derr), chega inconsciente num bote até o litoral de uma ilha isolada na costa do Oceano Pacífico. Lá, ele é resgatado pelo Dr. Charles Girard (o tcheco Francis Lederer), um médico exilado de New York, que procurou privacidade na ilha para se dedicar às pesquisas e experiências genéticas com animais e homens, dando origem a um grotesco ser mutante. Inevitavelmente, o novo hóspede acaba tendo um romance com a carente esposa solitária e insatisfeita do cientista, Frances (a dinamarquesa Greta Thyssen), cujo marido cirurgião está mais preocupado com seu trabalho, no desenvolvimento de uma raça de homens perfeitos, gerados a partir de uma pantera negra e através da descoberta de um composto químico capaz de controlar o tamanho do cérebro, transformando a matéria viva.
Porém, a “criatura sangrenta” consegue fugir do laboratório, entre uma cirurgia e outra, fazendo vítimas fatais em quem atravessasse seu caminho, como o ajudante do cientista, Walter Perrera (Oscar Keesee Jr.), e uma criada, Selene (Lilio Duran), que vive na casa com seu irmão pequeno Tiago (Peyton Keesee). E, após seqüestrar Frances se refugiando na floresta, o Dr. Girard e o visitante náufrago partem em seu encalço para salvar a mulher das garras da besta assassina.     

O filme, com fotografia em preto e branco e apenas 82 minutos de duração, é uma produção das Filipinas, e foi realizado com um orçamento minúsculo. No roteiro, temos o “cientista louco” obcecado em contribuir para o bem da humanidade, e seu assistente que mais tarde não concorda com os resultados das experiências, além do mocinho (alguém que surge para tentar se opor às barbaridades científicas do vilão), e da mocinha (uma mulher infeliz com o casamento e à espera de alguém para salvá-la). Não poderia faltar também o monstro (interpretado por Flory Carlos), que no caso é uma fera gerada através de inúmeros procedimentos cirúrgicos, e que obviamente escapa e volta-se contra o criador em busca de vingança.
A história original de H. G. Wells é famosa e cultuada, explorando um argumento bem interessante, principalmente para a época em que foi escrita, há mais de um século atrás, apresentando um cientista na criação de uma raça mutante, transformando animais em homens. E diante de todas as limitações impostas pela produção barata, o que mais importa é que “Criatura Sangrenta” até consegue atingir seu objetivo de entreter os apreciadores de filmes bagaceiros, ou seja, todos aqueles que sabem antecipadamente o que irão encontrar num filme com essas características: vários defeitos facilmente notáveis, com imagens muito escuras em algumas cenas noturnas, maquiagem tosca do monstro, edição ineficiente e cheia de cortes bruscos, elenco inexpressivo, diálogos banais, desfecho previsível e roteiro superficial.      

 “Criatura Sangrenta” foi lançado em DVD no Brasil pela “Fantasy Music” em Setembro de 2006, na coleção “Sessão da Meia-Noite”, trazendo no mesmo DVD a tranqueira “O Lobisomem no Quarto das Garotas” (Lycanthropus / Werewolf in a Girl´s Dormitory, 1962), de Richard Benson (pseudônimo do diretor italiano Paolo Heusch). Infelizmente, a qualidade das imagens apresentadas no DVD é ruim, com algumas manchas, riscos e imperfeições que parecem causados por deterioração e má conservação dos originais.

(Juvenatrix - 04/11/2006)



A Mulher Vespa (The Wasp Woman, EUA, 1960, PB)



“Uma rainha da beleza de dia, uma vespa rainha voraz à noite!”

O produtor e diretor americano Roger Corman é um profissional que tem seu nome eternamente gravado dentro do gênero fantástico por causa de seus inúmeros filmes de baixo orçamento, principalmente aqueles realizados entre os meados da década de 1950 até o final dos anos 60. Sua maior especialidade é a de fazer filmes com agendas apertadas, correndo contra o tempo com o mínimo de recursos disponíveis, aproveitando e reciclando cenários, demonstrando uma habilidade e talento incomum que lhe garantiu o título de “Rei dos Filmes B”, tendo sua obra cultuada por uma legião de fãs de filmes bagaceiros. Ele também é conhecido por oferecer a oportunidade do lançamento das carreiras de personalidades que se consagraram como os diretores Francis Ford Coppola, Martin Scorsese e Peter Bogdanovich, e os atores Jack Nicholson, Robert DeNiro e Ellen Burstyn.
Entre as muitas divertidas tranqueiras de sua filmografia como cineasta está o inusitado “A Mulher Vespa” (The Wasp Woman, 1960), cuja simples menção do nome já desperta inevitavelmente aquela curiosidade para os apreciadores de filmes exóticos e com roteiros absurdos, onde não falta o cientista louco, a mulher que ambiciona a juventude eterna e um monstro mutante assassino. 

Também produzido por Corman, com fotografia em preto e branco e duração curta de aproximadamente 71 minutos, o bizarro roteiro de Leo Gordon a partir de uma história de Kinta Zertuche mostra uma poderosa proprietária de uma empresa de cosméticos, Janice Starlin (Susan Cabot), que está preocupada com a crescente queda de vendas de seus produtos. Temendo perder todo o patrimônio que conquistou ao logo dos anos de muito trabalho, ela foi convencida pelos executivos da empresa que sua imagem distante da juventude pode ser um dos motivos do desinteresse do público.
Em paralelo, um cientista que faz pesquisas com enzimas de vespas e que vem obtendo bons resultados de rejuvenescimento em experiências com insetos e animais, Dr. Eric Zinthrop (Michael Mark), é demitido por seus patrocinadores e apresenta seu trabalho para a Srta. Starlin, que uma vez à procura de manter sua juventude, aceita servir de cobaia humana para as experiências do cientista, deixando preocupados seus amigos e companheiros de trabalho como a secretária Mary Dennison (Barboura Morris) e o namorado dela Bill Lane (Anthony Eisley, creditado como Fred Eisley), além do cientista Arthur Cooper (William Roerick).
Uma vez animada com a possibilidade de resultados bem sucedidos, a mulher tenta secretamente acelerar o processo injetando em si mesma uma quantidade exagerada da solução química, ocasionando com isso uma terrível mutação, transformando-se num monstro grotesco e incontrolável, que passa a atacar as pessoas que atravessam seu caminho, procurando se alimentar do sangue de suas vítimas.

Com um roteiro desses, é óbvio que devemos assistir o filme de forma totalmente descontraída, esperando ver uma tranqueira em todos os sentidos, desde os absurdos da história até a falta de recursos de uma produção de baixo orçamento, que obrigou seus realizadores a trabalhar com efeitos bizarros na concepção da criatura mista de mulher e vespa, uma maquiagem tão tosca que se na época (há quase meio século atrás) poderia causar medo, espanto e repulsa nos espectadores, manipulando suas emoções perante um filme de horror, nos dias atuais da modernidade do século 21, causaria acessos de risos no público. Esse é mais um dos motivos que comprova que devemos ver o filme sem exigência e procurando apenas se divertir com a precariedade da produção, respeitando os esforços dos envolvidos no projeto, principalmente o cultuado diretor e produtor Roger Corman. Tanto que a “mulher vespa” aparece pela primeira vez na tela somente com 50 minutos de filme, ou seja, bem próximo do fim da projeção, e com participações rápidas no ataque às suas vítimas. E, apesar do desfecho previsível e das poucas mortes, “A Mulher Vespa” é um “trash” que garante a diversão.

Seguem algumas curiosidades que merecem registro:
* o próprio Roger Corman (ainda bem jovem) aparece numa ponta super rápida não creditada como um médico no hospital. Aliás, ele costuma usar esse expediente em vários de seus filmes, participando de forma discreta, assim como em filmes de outros amigos também como aconteceu em “Trilogia do Terror” (Body Bags, 1993), de John Carpenter e Tobe Hooper, onde Corman também interpretou um médico no episódio “Olho”.
* “A Mulher Vespa” recebeu outros nomes alternativos originais como “Insect Woman” e “The Bee Girl”.
* Ao contrário do que aparece no cartaz promocional e sensacionalista que traz uma interessante ilustração com uma vespa gigante com rosto de mulher atacando um homem, no filme o monstro é uma mulher de tamanho natural com a cabeça e patas de vespa, algo bem mais fácil para ser reproduzido pela equipe de produção e de custo reduzido. Algo similar aconteceu com “A Mosca da Cabeça Branca” (The Fly, 1958), que mostrou um cientista que sofreu um acidente em sua experiência de teletransporte e transformou-se num monstro com a cabeça e uma das patas de mosca. 
* Em 1995 foi produzida uma refilmagem diretamente para a televisão, com direção de Jim Wynorski, produção executiva de Roger Corman e com Jennifer Rubin e Doug Wert no elenco.
* Para a satisfação dos colecionadores de filmes de horror, “A Mulher Vespa” foi lançado no Brasil em DVD pela “Fantasy Music” em Setembro de 2006, numa coleção chamada “Sessão da Meia-Noite”, que inclui outras tranqueiras divertidíssimas da mesma época. Filmes que eram exibidos com freqüência nos drive-in´s americanos. O mesmo DVD de “A Mulher Vespa” traz também “O Ataque das Sanguessugas Gigantes” (Attack of the Giant Leeches, 1959), de Bernard L. Kowalski e com Ken Clark e Yvette Vickers, e apresenta como materiais extras os respectivos trailers legendados em português.  

(Juvenatrix - 21/10/2006)



O Ataque das Sanguessugas Gigantes (Attack of the Giant Leeches, EUA, 1959, PB)



“Das escuras cavernas submersas surgem monstruosas criaturas aquáticas! Esfomeadas por vítimas humanas!”

Com produção executiva do especialista Roger Corman, produção de seu irmão Gene Corman e direção de Bernard L. Kowaski, “O Ataque das Sanguessugas Gigantes” (Attack of the Giant Leeches / Demons of the Swamp, 1959) é mais uma daquelas tranqueiras produzidas numa época de paranóia nuclear, que motivou uma infinidade de filmes explorando os efeitos nocivos da radiação sobre animais, sendo nesse caso sanguessugas que vivem num pântano, e que se tornam monstruosas e assassinas.

Um pescador, Lem Sawyer (George Cisar), encontra uma criatura estranha nadando num pântano e descarrega seu rifle tentando matá-la. Na cidade, ninguém acredita em sua história até que ocorrem misteriosos desaparecimentos, entre lês um casal de amantes formado pela bela Liz Walker (Yvette Vickers) e Cal Moulton (Michael Emmet), apesar de o marido traído da moça, o obeso Dave Walker (Bruno VeSota), ser acusado de suas mortes. A partir daí, um guarda florestal, Steve Benton (Ken Clark), inicia uma investigação sobre o paradeiro das prováveis criaturas assassinas, percorrendo todo o pântano e explorando em cavernas submersas, contando com a ajuda de sua noiva Nan (Jan Shepard) e do pai dela, o médico Dr. Greyson (Tyler McVey), e também enfrentando a desconfiança do xerife local Kovis (Gene Roth).   

O filme tem todos aqueles elementos e clichês característicos do cinema bagaceiro dos anos 50 e 60 do século passado, ou seja, o enorme título sonoro e sensacionalista (“O Ataque das Sanguessugas Gigantes”); a produção paupérrima com monstros toscos (atores vestindo fantasias de borracha, nesse caso simulando sanguessugas mutantes de tamanho descomunal); a duração curta (aqui temos apenas 62 minutos de projeção); a fotografia em preto e branco, bastante escura para esconder as falhas da produção; o roteiro superficial (de Leo Gordon, habitual colaborador da “American International Pictures”), que explora o efeito da radiação de testes nucleares com foguetes em animais na região (aqui temos um pântano contaminado que transforma simples sanguessugas em monstros gigantes e sedentos por sangue humano); personagens arquetípicos como o sempre presente homem da ciência (o médico Dr. Grayson, responsável pelas teorias que explicam a origem das criaturas), o mocinho (o guarda florestal Steve, que combate a ameaça mortal das sanguessugas), sua noiva e par romântico (Nancy, filha do Dr. Grayson), o xerife (Kovis, bonachão e caipira), que obviamente é descrente sobre qualquer explicação fora do normal para a causa das mortes misteriosas na região; e o tradicional desfecho previsível onde sempre sabemos com muita antecedência o destino das criaturas assassinas, quem serão as vítimas e quem serão os heróis responsáveis pela eliminação da ameaça.
Mas, são justamente todos esses clichês absurdos que fazem desses filmes bagaceiros uma diversão impagável, comprovando o motivo de serem cultuados por uma legião de admiradores do cinema “trash” ao longo dos tempos. O segredo para embarcar nessas histórias absurdas com monstros ridículos é apenas relaxar e divertir-se. E é curioso notar como essa fórmula é utilizada até os dias atuais em inúmeras tranqueiras produzidas em pleno início de século 21, nos filmes abordando a temática de animais mutantes que ameaçam a humanidade, com poucas diferenças em relação ao que se fazia em meados do século anterior.

“O Ataque das Sanguessugas Gigantes” foi lançado em DVD no Brasil pela “Fantasy Music” em Setembro de 2006, na coleção “Sessão da Meia-Noite”, trazendo no mesmo DVD outro filme igualmente tosco, “A Mulher Vespa” (The Wasp Woman, 1960), com direção e produção do cultuado “Rei dos Filmes B” Roger Corman e elenco liderado por Susan Cabot, Anthony Eisley (creditado como Fred Eisley) e Barboura Morris.  

(Juvenatrix - 22/10/2006)



sexta-feira, 12 de junho de 2020

A Besta da Caverna Assombrada (Beast From the Haunted Cave, EUA, 1959, PB)



Uma quadrilha de assaltantes formada pelo líder Alex Ward (Frank Wolff), sua amante Gypsy Boulet (Sheila Carol), e dois comparsas, Marty Jones (Richard Sinatra) e Byron Smith (Wally Campo), planejam roubar ouro de um banco de uma pequena cidade no Estado americano de Dakota. Para isso, eles se hospedam numa estação de esqui no meio das montanhas geladas e carregadas de neve. O plano ainda consiste na explosão de uma mina com uma bomba para desviar a atenção das pessoas da região enquanto roubam barras de ouro do banco da cidade.
Fugindo para uma cabana isolada nas montanhas, de propriedade do instrutor de esqui Gil Jackson (Michael Forest), o grupo aguarda um resgate de avião para o Canadá, porém eles não imaginavam que a explosão na caverna despertou a ira de uma criatura monstruosa parecida com uma aranha, repleta de tentáculos peludos e que se alimenta do sangue de suas vítimas, que ficam imobilizadas e presas em teias. Agora, além de enfrentar problemas de relacionamento entre eles (a única mulher do bando está querendo abandonar a carreira de crimes e inevitavelmente se apaixona pelo “garoto natureza” Gil), e de tentar colocar em prática o plano de fuga com o ouro roubado, eles terão também que lutar por suas vidas contra a fúria da “besta da caverna assombrada”.

A Besta da Caverna Assombrada” (Beast From the Haunted Cave, 1959) é mais uma bagaceira de orçamento paupérrimo da nostálgica década de 50 do século passado, produzido pelos irmãos Corman (Gene e Roger, este último mais conhecido como o “Rei dos Filmes B”), e com direção de Monte Hellman a partir de um roteiro de Charles B. Griffith. Com pouco mais de 70 minutos de duração, o filme tem um nome chamativo, mas na verdade a história é bem superficial e decepcionante não despertando grande interesse, servindo praticamente apenas como um pretexto para mostrar os ataques de um monstro assassino (interpretado por Christopher Robinson), que habitava a escuridão de uma caverna.
As cenas com a criatura são poucas e quando ela aparece, suas ações são muito rápidas e de visualização prejudicada pela fotografia escura demais, exceto pela seqüência final dentro de seu próprio ambiente, onde ocorre um sangrento confronto entre o monstro vampiro e os assaltantes de banco, com um desfecho tradicional e totalmente previsível.
Vale conhecer como curiosidade, por se tratar de mais uma daquelas tranqueiras produzidas em preto e branco há quase meio século atrás, com produção executiva do cultuado Roger Corman, e pela fera absurda do título.

 “A Besta da Caverna Assombrada” foi lançado em DVD no Brasil pela “Fantasy Music” em Setembro de 2006, na coleção “Sessão da Meia-Noite”, trazendo no mesmo DVD o divertido “O Cérebro Que Não Queria Morrer” (The Brain That Wouldn´t Die, 1962), dirigido por Joseph Green e com Jason Evers, Virginia Leith e Leslie Daniels.  

(Juvenatrix - 29/10/2006)


O Cérebro Que Não Queria Morrer (The Brain That Wouldn´t Die, EUA, 1962, PB)



“O cérebro dela foi mantido vivo por experimentos científicos! Por um homem com uma paixão anormal, inspirado em tentar o impossível!” – reprodução de trecho narrado no trailer

Com um título sonoro desses e vendo o pôster de divulgação, que traz a cabeça de uma mulher sobre uma bacia inundada com um líquido misterioso e cercada de aparelhos típicos de um laboratório de “cientista louco”, é muito difícil não despertar um interesse e principalmente curiosidade em assistir “O Cérebro Que Não Queria Morrer” (The Brain That Wouldn´t Die, 1962), bagaceira super divertida da “American International Pictures”, dirigida por Joseph Green a partir do roteiro de Rex Carlton, com fotografia em preto e branco e elenco principal formado por Jason Evers, Virginia Leith e Leslie Daniels.

Um jovem cirurgião, Dr. Bill Cortner (Jason Evers, creditado como Herb Evers), faz experiências secretas em seu laboratório numa casa de campo, com o objetivo de conseguir sucesso no transplante de membros humanos, utilizando um soro especialmente desenvolvido para evitar a rejeição. Quando ocorre um grave acidente de carro que vitimou sua noiva Jan Compton (Virginia Leith), ele consegue recuperar apenas sua cabeça dos escombros em chamas e decidiu mantê-la viva em seu laboratório, repousando-a numa bandeja com o soro. Agora, o desafio do cientista é encontrar um corpo de uma bela mulher, sem chamar a atenção da polícia, para tentar uma cirurgia de transplante na cabeça da noiva, que por sua vez não aceita a condição monstruosa em que se encontra, adquirindo poderes não previstos, distorcendo a mente, adquirindo raiva e conseguindo se comunicar e se aliar com uma aberração grotesca que está mantida presa no porão, fruto das experiências fracassadas do cirurgião.  

O filme é curto, apenas 82 minutos, e apresenta uma história bastante ousada para a época de produção, há quase meio século atrás, tanto que ocorreram problemas com a censura devido às cenas fortes e bizarras de horror com direito a uma cabeça viva sem o corpo, um enorme monstro mutante formado por pedaços de cadáveres, um braço amputado de forma sangrenta e nacos de carne arrancados a violentas dentadas.
Em “O Cérebro Que Não Queria Morrer”, como já esperado nesse tipo de produção de baixo orçamento, encontramos os elementos típicos dos filmes de horror daquele período, não faltando o “cientista louco” de plantão, sendo nesse caso um jovem cirurgião que faz sucesso entre as mulheres, sempre que não está trabalhando em suas experiências com transplantes de partes danificadas do corpo humano. Nem falta também o tradicional ajudante e cúmplice de suas barbaridades científicas, sendo nesse caso o cirurgião Kurt (Leslie Daniels), que perdeu o braço direito num acidente e serviu de cobaia nas experiências do cientista, sempre apresentando rejeição com o membro transplantado, e acreditando que um dia deixaria de ser deformado. O laboratório do Dr. Cortner faz lembrar o do seu companheiro de ofício e loucuras (porém, bem mais famoso) Dr. Frankenstein, repleto de líquidos borbulhantes, aparelhos elétricos, tubos de ensaio e instrumentos de medição. Sem contar a similaridade também de sua ambição no transplante de pedaços de corpos humanos, criando um ser monstruoso.
É claro que se fizermos uma análise crítica mais apurada, encontraremos vários furos no roteiro e situações manipuladas apenas para favorecer o trabalho do roteirista, como por exemplo o simples fato de não ocorrer nenhuma investigação da polícia sobre o acidente de carro do Dr. Cortner e sua noiva, na estrada que leva ao laboratório, apesar que toda a ação ocorre rapidamente num final de semana.  
Curiosamente, não posso deixar de citar uma frase da apaixonada Jan Compton para seu noivo Dr. Bill Cortner, antes de sofrer o acidente. Ela disse: “Sempre que toca em mim eu perco a cabeça”. Ela não imaginaria que pouco tempo depois perderia o corpo carbonizado e ficaria viva justamente apenas com sua cabeça. Seria irônico e hilário se não fosse trágico...
“O Cérebro Que Não Queria Morrer” foi lançado em DVD no Brasil pela “Fantasy Music” em Setembro de 2006, na coleção “Sessão da Meia-Noite”, trazendo no mesmo DVD o filme “A Besta da Caverna Assombrada” (Beast From Haunted Cave, 1959), produzido pelos irmãos Corman (Gene e Roger, esse último mais famoso e cultuado como o “Rei dos Filmes B”).  

(Juvenatrix - 30/10/2006)



quarta-feira, 10 de junho de 2020

Jasão e os Argonautas (Jason and the Argonauts, EUA / Inglaterra, 1963)



Jasão e os Argonautas” (Jason and the Argonauts, 1963), que também é conhecido no Brasil como “Jasão e o Velo de Ouro”, título que recebeu quando foi exibido na televisão, é um daqueles filmes antigos de puro entretenimento que passavam na saudosa “Sessão da Tarde” da TV Globo. Na época em que eram exibidas preciosidades do cinema fantástico como “O Planeta dos Macacos” (1968), “Viagem Fantástica” (1966), “Robur, o Conquistador do Mundo” (1961), “Destino: Lua” (1951), “Jornada ao Centro do Tempo” (1968), “Viagem ao Centro da Terra” (1959), entre outras.
Com direção de Don Chaffey e co-produção entre Estados Unidos e Inglaterra, o filme é muito conhecido entre os apreciadores do cinema fantástico do passado, principalmente por causa dos excepcionais efeitos especiais de Ray Harryhausen (1920 / 2013), um mestre na concepção de criaturas que ganham vida com a técnica de “stop motion”.
Na divertida história inspirada na mitologia grega, Jasão (Todd Armstrong), é o herdeiro do trono de Tessália, e pretende assumir o seu posto vinte anos depois que seu pai foi assassinado e o reino tomado por Pelias (Douglas Wilmer). Porém, Jasão acaba participando de um jogo manipulado pelos deuses do Olimpo, Zeus (Niall MacGinnis) e Hera (Honor Blackman), e reúne um grupo de guerreiros gregos que partem num navio de guerra para o fim do mundo. O objetivo é se apossar de um valioso artefato, o “Velo de Ouro” do título alternativo, um presente dos deuses para o reino de Cólquida, e que garante paz e prosperidade para o povo que o possuir.
No tortuoso caminho, Jasão e os argonautas, os tripulantes da nau “Argos” (mesmo nome de seu proprietário, interpretado por Laurence Naismith), recebem a ajuda limitada de Hera, a rainha dos deuses, e enfrentam grandes perigos que ameaçam suas vidas. Incluindo um gigante de bronze (“Talos”), guardião dos tesouros dos deuses numa ilha escondida; demônios alados (“harpias”), que atormentam um velho cego, Hermes (Michael Gwynn), que sabe como chegar ao destino final da expedição; um desmoronamento mortal na passagem do navio por um estreito das “Rochas Estrondosas”; um monstro de sete cabeças (“hidra”), que protege o “velo de ouro” de saqueadores; e finalmente um grupo de esqueletos guerreiros invocados do mundo dos mortos por vingança pelo rei Aeetes (Jack Gwillim).
Além ainda de enfrentar a traição de Acastus (Gary Raymond), filho de Pelias, infiltrado na expedição. Mas, para compensar a imensa quantidade de desafios mortais em sua jornada, Jasão encontra a bela Medea (Nancy Kovack), resgatada de um naufrágio e que o ajudou na localização do desejado “velo de ouro”.          
“Jasão e os Argonautas” é um clássico “B” da Fantasia com elementos de Horror, com uma história extremamente divertida e sem compromisso com a realidade, um mergulho no escapismo que traz a simples satisfação do entretenimento. Mas, o que principalmente faz do filme algo que fica guardado num lugar especial na memória, se destacando de tantos outros similares, são as criaturas animadas pelo mestre em “stop motion” Ray Harryhausen. Os efeitos de qualidade impecável são obtidos com um trabalho árduo na captação dos movimentos quadro a quadro da miniaturas dos monstros, com um resultado impressionante para a época da produção, e que desperta admiração até hoje. Particularmente, acho essa técnica mais interessante que os efeitos do cinema moderno com imagens geradas por computador, que muitas vezes soam tão artificiais que depreciam os filmes.
Um destaque certamente é a fascinante batalha de três argonautas com um pequeno exército de sete esqueletos criados em “stop motion”, sendo um dos melhores trabalhos de toda a bem sucedida carreira de Ray Harryhausen. Essa sequência serviu de inspiração para os esqueletos de “Uma Noite Alucinante 3” (1992), terceiro filme da trilogia “Evil Dead”, de Sam Raimi.
Seguem algumas pequenas curiosidades. O filme teve um final aberto, com um gancho para a continuação que não aconteceu. Com o fim da perigosa jornada de Jasão, surgiu uma vasta variedade de possibilidades para o herói, infelizmente não exploradas. O ator Todd Armstrong (1937 / 1992), que interpretou Jasão, teve uma carreira curta e “Jasão e os Argonautas” foi seu único trabalho relevante. Sua parceira em cena, Nancy Kovack, que fez a mocinha Medea, aparece pouco, somente a partir do último ato, apesar de seu nome figurar em destaque nos créditos.    

(Juvenatrix – 10/06/20)