“Você está comendo ela... ou ela está comendo você?”
Se fôssemos questionados para citar um filme
despretensioso de horror da metade dos anos 80, numa produção de baixo
orçamento, e que tenha elementos de humor negro e mensagens interessantes em
seu argumento, um bom exemplo que viria à mente seria “A Coisa” (The Stuff,
1985), com direção e roteiro de Larry Cohen, americano nascido em 1938 e um
nome bem conhecido no cinema fantástico “B”, sendo o criador das séries de
filmes com um bebê assassino, iniciada com “Nasce um Monstro” (It´s Alive, 74),
e com um policial psicopata, “Maniac Cop” (88). Além também de escrever as
histórias de filmes mais comerciais como o ótimo “Por Um Fio” (Phone Booth,
2002), com Colin Farrell, Forest Whitaker e Kiefer Sutherland, e o fraco
“Celular – Um Grito de Socorro” (Cellular, 2004), com Kim Basinger.
A história de “A Coisa”
apresenta uma curiosa substância gosmenta encontrada por mineradores numa
região com neve e que por possuir um sabor agradável ao paladar humano, passa a
ser comercializada em larga escala através de lojas e supermercados como uma
espécie de sobremesa bem apetitosa. O creme misterioso, de cor branca e
parecido com um iogurte ou sorvete, recebeu o nome de “A Coisa”, ou “The Stuff”,
e rapidamente conquistou uma imensa legião de consumidores ávidos em conhecer
seu sabor e conseqüentemente ingerir
grandes quantidades do produto.
Porém, um ex-agente do FBI e
agora um espião industrial, David “Mo” Rutherford (Michael Moriarty), é
contratado para tentar desvendar a fórmula do doce e descobre um terrível
segredo por trás de sua aparência atrativa. Ele une seus esforços com uma
publicitária, Nicole (Andrea Marcovicci, de “A Mão”, 81), que foi a responsável
pela bem sucedida campanha de marketing do produto, e também acolhe um garoto
fugitivo, Jason (Scott Bloom), que havia testemunhado uma cena estranha
envolvendo o creme dentro de sua geladeira e cuja família passou a ter um
comportamento misterioso depois de consumir doses exageradas da “coisa”.
Juntos, eles tentam combater a
ameaça da sobremesa assassina convencendo um militar fanático de direita, Coronel
Malcolm Grommett Spears (Paul Sorvino), para lançar seu exército contra a
invasão de uma raça de criaturas alienígenas que manipulam suas vítimas
transformando-as em escravos, alimentando-se de suas vísceras.
O filme, através de um clima
descontraído de puro entretenimento, procura transmitir uma série de mensagens
interessantes resgatando aquela nostálgica magia do cinema “B” principalmente
dos anos 50, onde a “coisa” seria considerada uma espécie de metáfora da
paranóia dos americanos contra uma invasão comunista, algo que era bem típico
nos argumentos dos filmes bagaceiros de horror e ficção científica daquele
conturbado período da guerra fria. A “coisa” é uma parasita alienígena que
engana suas vítimas, tomando o controle de suas mentes e depois consumindo seus
corpos por dentro, se alimentando das entranhas e transformando as pessoas em
cascas vazias.
As cenas e diálogos envolvendo
o truculento militar Coronel Spears, quando ele entra em ação para combater a
ameaça alienígena, somente realça um sentimento obcecado contra um suposto
inimigo que quer tomar a liberdade dos cidadãos, além também de enfatizar o
incrível fascínio que os armamentos bélicos despertam nos americanos.
Outras mensagens oportunas
inseridas na história pelo diretor e roteirista Larry Cohen são a ênfase da
sociedade americana num consumo descontrolado por produtos manipulados pelo
poder da propaganda, pois a “coisa” é largamente divulgada em comerciais de
televisão chamando a atenção dos consumidores famintos por experimentar seu
sabor.
Tem também o alerta para a
selvagem concorrência dentro do mercado, com espiões industriais espalhados
para todos os lados e conspirações para segurar o interesse dos clientes, além
da facilidade de propagação do tráfico ilegal de um produto proibido, como
sugere o desfecho da história.
Curiosamente, o personagem
David “Mo” Rutherford, interpretado por Michael Moriarty, ganhou o apelidado de
“Mo” porque quando ele recebia dinheiro das pessoas que o contratavam para seus
serviços de espionagem, ele sempre queria mais (ou “more” em inglês). Para
simular a “coisa”, os produtores utilizaram sorvete e iogurte de verdade, e
numa determinada cena onde aparece uma avalanche da criatura, foi utilizada uma
imensa quantidade de espuma de extintor de incêndio.
“A Coisa” já havia sido lançado no Brasil em VHS pela
“Poletel”, e está há muito tempo fora de catálogo. E também o filme foi lançado
em DVD com distribuição nas bancas em Junho de 2005, encartado na revista “Play
Video” ano 1, número 3, da “NBO Editora”. O disco traz de material extra apenas
duas pequenas biografias dos atores Michael Moriarty e Paul Sorvino, além de
uma sinopse curta e simples. A revista também não tem grandes atrações,
trazendo uma matéria bem superficial sobre o gênero Horror no cinema, dando um
destaque maior para filmes mais conhecidos como “Pânico” (96), “The Evil Dead”
(82) e “Hellraiser” (87), ou mais recentes como o confronto dos famosos
psicopatas no crossover “Freddy vs. Jason” (2003), o barulhento “Van Helsing”
(2004) e a excelente história de fantasmas “Os Outros” (2002).
“Você sempre vai querer mais da coisa” – slogan de
um comercial de televisão
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