“O cérebro dela foi mantido
vivo por experimentos científicos! Por um homem com uma paixão anormal,
inspirado em tentar o impossível!” – reprodução de trecho narrado no trailer
Com um título sonoro desses e
vendo o pôster de divulgação, que traz a cabeça de uma mulher sobre uma bacia
inundada com um líquido misterioso e cercada de aparelhos típicos de um
laboratório de “cientista louco”, é muito difícil não despertar um interesse e
principalmente curiosidade em assistir “O Cérebro Que Não Queria Morrer”
(The Brain That Wouldn´t Die, 1962), bagaceira super divertida da “American
International Pictures”, dirigida por Joseph Green a partir do roteiro de Rex
Carlton, com fotografia em preto e branco e elenco principal formado por Jason
Evers, Virginia Leith e Leslie Daniels.
Um jovem cirurgião, Dr. Bill Cortner (Jason Evers,
creditado como Herb Evers), faz experiências secretas em seu laboratório numa
casa de campo, com o objetivo de conseguir sucesso no transplante de membros
humanos, utilizando um soro especialmente desenvolvido para evitar a rejeição.
Quando ocorre um grave acidente de carro que vitimou sua noiva Jan Compton
(Virginia Leith), ele consegue recuperar apenas sua cabeça dos escombros em
chamas e decidiu mantê-la viva em seu laboratório, repousando-a numa bandeja
com o soro. Agora, o desafio do cientista é encontrar um corpo de uma bela
mulher, sem chamar a atenção da polícia, para tentar uma cirurgia de
transplante na cabeça da noiva, que por sua vez não aceita a condição
monstruosa em que se encontra, adquirindo poderes não previstos, distorcendo a
mente, adquirindo raiva e conseguindo se comunicar e se aliar com uma aberração
grotesca que está mantida presa no porão, fruto das experiências fracassadas do
cirurgião.
O filme é curto, apenas 82
minutos, e apresenta uma história bastante ousada para a época de produção, há
quase meio século atrás, tanto que ocorreram problemas com a censura devido às
cenas fortes e bizarras de horror com direito a uma cabeça viva sem o corpo, um
enorme monstro mutante formado por pedaços de cadáveres, um braço amputado de
forma sangrenta e nacos de carne arrancados a violentas dentadas.
Em “O Cérebro Que Não Queria
Morrer”, como já esperado nesse tipo de produção de baixo orçamento,
encontramos os elementos típicos dos filmes de horror daquele período, não
faltando o “cientista louco” de plantão, sendo nesse caso um jovem cirurgião
que faz sucesso entre as mulheres, sempre que não está trabalhando em suas experiências
com transplantes de partes danificadas do corpo humano. Nem falta também o
tradicional ajudante e cúmplice de suas barbaridades científicas, sendo nesse
caso o cirurgião Kurt (Leslie Daniels), que perdeu o braço direito num acidente
e serviu de cobaia nas experiências do cientista, sempre apresentando rejeição
com o membro transplantado, e acreditando que um dia deixaria de ser deformado.
O laboratório do Dr. Cortner faz lembrar o do seu companheiro de ofício e
loucuras (porém, bem mais famoso) Dr. Frankenstein, repleto de líquidos
borbulhantes, aparelhos elétricos, tubos de ensaio e instrumentos de medição.
Sem contar a similaridade também de sua ambição no transplante de pedaços de
corpos humanos, criando um ser monstruoso.
É claro que se fizermos uma
análise crítica mais apurada, encontraremos vários furos no roteiro e situações
manipuladas apenas para favorecer o trabalho do roteirista, como por exemplo o
simples fato de não ocorrer nenhuma investigação da polícia sobre o acidente de
carro do Dr. Cortner e sua noiva, na estrada que leva ao laboratório, apesar
que toda a ação ocorre rapidamente num final de semana.
Curiosamente, não posso
deixar de citar uma frase da apaixonada Jan Compton para seu noivo Dr. Bill
Cortner, antes de sofrer o acidente. Ela disse: “Sempre que toca em mim eu
perco a cabeça”. Ela não imaginaria que pouco tempo depois perderia o corpo
carbonizado e ficaria viva justamente apenas com sua cabeça. Seria irônico e
hilário se não fosse trágico...
“O Cérebro Que Não Queria
Morrer” foi lançado em DVD no Brasil pela “Fantasy Music” em Setembro de 2006,
na coleção “Sessão da Meia-Noite”, trazendo no mesmo DVD o filme “A Besta da
Caverna Assombrada” (Beast From Haunted Cave, 1959), produzido pelos irmãos
Corman (Gene e Roger, esse último mais famoso e cultuado como o “Rei dos Filmes
B”).
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