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quarta-feira, 30 de setembro de 2020

A Vingança do Monstro (Tobor the Great, EUA, 1954, PB)

 


Logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, com a turbulência política polarizada entre as duas grandes potências da época, Estados Unidos e antiga União Soviética, iniciou-se uma guerra fria com desconfiança mútua e que trouxe ao mundo uma paranoia do apocalipse nuclear, um medo terrível que a humanidade aniquilasse o próprio planeta.

Surgiram a partir daí muitos filmes de ficção científica e eventualmente com elementos de horror, explorando o medo de uma guerra com bombas atômicas e a necessidade de uma corrida armamentista e conquista espacial.

Em 1954, a “Republic”, uma distribuidora de filmes com orçamentos reduzidos, lançou “A Vingança do Monstro” (Tobor the Great), com fotografia em preto e branco, duração curta de apenas 76 minutos e direção de Lee Sholem, apresentando uma história com um enorme robô (o “Tobor” do título original, que na verdade é “robot” soletrado de trás para frente), que foi criado para pilotar o primeiro foguete americano rumo ao espaço.

 

Os cientistas Prof. Arnold Nordstrom (Taylor Holmes) e Dr. Ralph Harrison (Charles Drake) estão trabalhando no programa espacial americano, no desenvolvimento de foguetes nucleares. Eles concordam que é muito perigoso a utilização de astronautas humanos nos testes dos voos espaciais, arriscando suas vidas em protótipos de foguetes experimentais. Como solução alternativa, o Prof. Nordstrom constrói um robô enorme ou um simulador elétrico do Homem, como ele definiu, uma espécie de ser sensitivo com instinto sintético, comandado pela percepção extra-sensorial do seu criador.

Brian Roberts (Billy Chapin), o inteligente neto de apenas onze anos do Prof. Nordstrom, acaba criando uma relação de amizade com o robô, sempre supervisionado pelo avô e acompanhado à distância pela mãe viúva do rapaz, Janice Roberts (Karin Booth). Porém, logo o extraordinário robô desperta a atenção de espiões estrangeiros infiltrados nos Estados Unidos, interessados em sua tecnologia voltada para fins militares, a criação de um exército de robôs com estímulos destrutivos, e na disputa da corrida espacial da guerra fria, devido suas habilidades na pilotagem de foguetes.

 

“A Vingança do Monstro” (título nacional mal escolhido e apelativo) é mais uma daquelas preciosidades do cinema fantástico antigo de baixo orçamento. Sim, o roteiro é simples, previsível e ingênuo, o elenco é apenas esforçado, os efeitos são toscos, mas a soma disso tudo é diversão garantida, principalmente pelas cenas com Tobor (uma em especial é hilária, quando ele está dirigindo um jipe). Ele  também é um dos robôs que ficaram eternizados, apesar de bem menos conhecido. Mesmo num patamar menor, certamente está figurando ao lado de outros mais populares e clássicos como “Maria” (“Metropolis”, 1926), “Gort” (“O Dia Em Que a Terra Parou”, 1951), “Robby” (“Planeta Proibido”, 1956) e “B-9” (série de TV “Perdidos no Espaço”, 1965-1968).

A casa do Prof. Nordstrom, onde em seu laboratório subterrâneo ele inventou o robô piloto espacial, é repleta de aparelhos e dispositivos tecnológicos altamente impressionáveis na época, com sistemas sofisticados de alarme e monitoramento por telas, e que certamente soam comuns e antiquados para nosso tempo. Mas, são justamente características como essas que despertam a curiosidade dos apreciadores do cinema bagaceiro. 

Curiosamente, numa jogada de marketing muito utilizada na época com filmes similares, os cartazes de divulgação mostram o robô Tobor segurando em seus braços uma bela mulher, o que não acontece no filme. Na verdade, ele apenas carrega nos braços o neto do cientista, o garoto com quem cria um laço de afeição.

 

(Juvenatrix – 30/09/20)






sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Superman and the Mole-Men (EUA, 1951)


“Há muitos anos atrás, quando o planeta Krypton, lar de uma raça de super homens, explodiu no espaço, o único sobrevivente foi um menino que veio para a Terra, com poderes e habilidades muito superiores a dos homens mortais. Hoje o menino é um adulto conhecido como Super Homem. Para ajuda-lo em sua batalha sem fim contra as forças do mal, ele se disfarça de Clark Kent, um discreto repórter de um grande jornal de Metrópolis. Ninguém sabe que Kent é o Super Homem, corajoso defensor da verdade, da justiça e da América.”
Com essa introdução narrada inicia-se o filme de aventura com elementos de fantasia e ficção científica “Superman and the Mole-Men”, produção em preto e branco de 1951 que numa tradução literal seria “Super Homem e os Homens-Toupeira”. Curto, com apenas 58 minutos de duração, o filme é bem ruim, principalmente pela história ingênua e previsível demais, cheia de clichês óbvios e cansativos (mesmo para aquela distante época), e pelos efeitos hilários de tão bagaceiros.
Com direção de Lee Sholem, a história mostra a pequena cidade de Silsby, que é conhecida pelo poço de petróleo mais profundo do mundo. Os repórteres do jornal “Planeta Diário”, Lois Lane (Phyllis Coates) e Clark Kent (George Reeves, que morreu com apenas 45 anos), foram escalados para viajar até a cidade e fazer uma matéria sobre o assunto. Porém, eles são mal recebidos pelo supervisor do campo de petróleo, Bill Corrigan (Walter Reed), que informa que o poço está fechado, contrariando até o responsável pelas relações públicas da empresa, John Craig (Ray Walker), que não sabia desse fato e acompanhava os jornalistas na visita monitorada.
Entretanto, os repórteres ainda ganhariam um assunto interessante e no mínimo incomum para sua matéria, depois que dois pequenos seres estranhos parecidos com toupeiras (daí a motivação para o título original “mole-men”), decidiram sair de suas tocas num mundo subterrâneo através de uma escotilha no poço de petróleo, e investigar por curiosidade o mundo dos humanos acima do solo.
As criaturas são mal recebidas pelos moradores da cidade, e liderados pelo prepotente Luke Benson (Jeff Corey), começam a caçar mortalmente os invasores com a ajuda de cães farejadores. Resta ao herói Super Homem a tarefa de impedir a chacina e salvar os homens toupeira, restabelecendo a ordem e justiça na cidade.
O filme especula que o centro da Terra é oco e que o profundo poço de petróleo permitiu a entrada de uma raça de criaturas parecidas com toupeiras radioativas na superfície do planeta. Elas são inofensivas, mas são confundidas como seres hostis, ameaçadores e perigosos, validando a ideia extremamente explorada no cinema fantástico sobre a intolerância da humanidade contra tudo que desconhece, sempre adotando reações ofensivas antes de avaliar a situação com mais inteligência. As criaturas inevitavelmente tornaram-se vítimas dos homens da superfície, sendo perseguidas e caçadas violentamente.
A história é tão ingênua e recheada de situações óbvias e previsíveis, que fica difícil despertar algum interesse no espectador. E os efeitos bagaceiros ao extremo, típicos de uma produção de baixíssimo orçamento e com as dificuldades técnicas da época, apenas ajudaram a tornar o filme ainda mais ruim. Normalmente, para os apreciadores de filmes bagaceiros, os efeitos toscos fazem parte da diversão junto com as histórias exageradas no escapismo e fantasia, mas no caso de “Superman and the Mole-Men”, o roteiro banal de super herói junto com os efeitos ruins tornaram o resultado final bem decepcionante.
As criaturas do centro da Terra são anões fantasiados de forma hilária, usando uma espécie de touca na cabeça para simular a falta de cabelos na parte central, e com sobrancelhas grossas e mãos peludas, tentando passar a ideia de seres com corpo de marmota e rostos humanoides. Entre os “efeitos especiais”, vale destacar uma cena que provavelmente está entre as mais toscas que já vi no cinema fantástico bagaceiro, e posso garantir que já vi muita porcaria do gênero: o resgate de um homem toupeira baleado, caindo do alto de uma barragem e sendo salvo no ar pelo super homem.
Para completar, ainda temos um xerife extremamente incompetente, interpretado por Stanley Andrews, que não tem autoridade na pequena cidade e é facilmente dominado pelos habitantes revoltosos contra as criaturas do subterrâneo. Aliás, os homenzinhos tentam se vingar da má receptividade dos humanos utilizando uma enorme arma de raios que quase não conseguem carregar, que é risível de tão bizarra.
(Juvenatrix – 21/09/17)