O escritor inglês Herbert
George Wells foi o autor de inúmeros livros de Ficção Científica e Horror que
serviram de inspiração para o cinema fantástico. Histórias como “O Homem
Invisível”, “A Guerra dos Mundos”, “O Alimento dos Deuses”, “Daqui a Cem Anos”,
“Os Primeiros Homens na Lua”, “A Máquina do Tempo”, transformaram-se em muitos
filmes e várias versões. No caso de “A Ilha do Dr. Moreau” (1896), o livro foi
filmado em três produções mais conhecidas, em 1933 (com Charles Laughton e Bela
Lugosi), 1977 (com Burt Lancaster, Michael York e Richard Basehart), e 1996
(com Marlon Brando e Val Kilmer).
Porém, em 1959 foi lançada uma
bagaceira chamada “Criatura Sangrenta”
(Blood Creature / Terror is a Man), dirigida pelo filipino Gerry de Leon, cujo
roteiro de Harry Paul Harber também é baseado na famosa obra literária de
Wells, porém de forma não creditada. E surpreendentemente, o filme teve
distribuição em DVD por aqui, para a satisfação dos colecionadores ávidos por
filmes bizarros, exóticos, desconhecidos e principalmente ruins de forma não
proposital.
O único sobrevivente do naufrágio de um navio de
carga, o engenheiro de petróleo William Fitzgerald (Richard Derr), chega
inconsciente num bote até o litoral de uma ilha isolada na costa do Oceano
Pacífico. Lá, ele é resgatado pelo Dr. Charles Girard (o tcheco Francis
Lederer), um médico exilado de New York, que procurou privacidade na ilha para
se dedicar às pesquisas e experiências genéticas com animais e homens, dando
origem a um grotesco ser mutante. Inevitavelmente, o novo hóspede acaba tendo
um romance com a carente esposa solitária e insatisfeita do cientista, Frances
(a dinamarquesa Greta Thyssen), cujo marido cirurgião está mais preocupado com
seu trabalho, no desenvolvimento de uma raça de homens perfeitos, gerados a
partir de uma pantera negra e através da descoberta de um composto químico
capaz de controlar o tamanho do cérebro, transformando a matéria viva.
Porém, a “criatura sangrenta” consegue fugir do laboratório,
entre uma cirurgia e outra, fazendo vítimas fatais em quem atravessasse seu
caminho, como o ajudante do cientista, Walter Perrera (Oscar Keesee Jr.), e uma
criada, Selene (Lilio Duran), que vive na casa com seu irmão pequeno Tiago
(Peyton Keesee). E, após seqüestrar Frances se refugiando na floresta, o Dr.
Girard e o visitante náufrago partem em seu encalço para salvar a mulher das
garras da besta assassina.
O filme, com fotografia em preto e branco e apenas
82 minutos de duração, é uma produção das Filipinas, e foi realizado com um
orçamento minúsculo. No roteiro, temos o “cientista louco” obcecado em
contribuir para o bem da humanidade, e seu assistente que mais tarde não
concorda com os resultados das experiências, além do mocinho (alguém que surge
para tentar se opor às barbaridades científicas do vilão), e da mocinha (uma
mulher infeliz com o casamento e à espera de alguém para salvá-la). Não poderia
faltar também o monstro (interpretado por Flory Carlos), que no caso é uma fera
gerada através de inúmeros procedimentos cirúrgicos, e que obviamente escapa e
volta-se contra o criador em busca de vingança.
A história original de H. G. Wells é famosa e
cultuada, explorando um argumento bem interessante, principalmente para a época
em que foi escrita, há mais de um século atrás, apresentando um cientista na
criação de uma raça mutante, transformando animais em homens. E diante de
todas as limitações impostas pela produção barata, o que mais importa é que
“Criatura Sangrenta” até consegue atingir seu objetivo de entreter os
apreciadores de filmes bagaceiros, ou seja, todos aqueles que sabem
antecipadamente o que irão encontrar num filme com essas características:
vários defeitos facilmente notáveis, com imagens muito escuras em algumas cenas
noturnas, maquiagem tosca do monstro, edição ineficiente e cheia de cortes
bruscos, elenco inexpressivo, diálogos banais, desfecho previsível e roteiro
superficial.
“Criatura Sangrenta” foi lançado em DVD no
Brasil pela “Fantasy Music” em Setembro de 2006, na coleção “Sessão da
Meia-Noite”, trazendo no mesmo DVD a tranqueira “O Lobisomem no Quarto das
Garotas” (Lycanthropus / Werewolf in a
Girl´s Dormitory, 1962), de Richard Benson (pseudônimo do diretor
italiano Paolo Heusch). Infelizmente, a qualidade das imagens apresentadas no
DVD é ruim, com algumas manchas, riscos e imperfeições que parecem causados por
deterioração e má conservação dos originais.
(Juvenatrix - 04/11/2006)
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