Horror em Red Hook (The horror at Red Hook), H. P. Lovecraft. 64 páginas. Tradução de Jorge Ritter. Capa de Ivan Pinheiro Machado. Editora L&PM, Porto Alegre, 2012.
Em 2011, a editora L&PM criou uma nova coleção dentro de sua tradicional linha de livros de bolso, a Coleção 64 Páginas, que é exatamente isso, livros de bolso com exatas 64 páginas, oferecidos ao custo de R$5,00, proposta que eu aprecio em todos os sentidos. Primeiro pelo potencial de levar literatura de baixo custo a uma ampla faixa de consumidores, depois porque dá oportunidade de destaque a contos e noveletas que, geralmente, desaparecem em meio aos romances e antologias. Há muita ficção curta tão bem feita que merece um título só para si, e a Coleção 64 Páginas, tal como a coleção Asas do Vento, da Devir, investe especificamente nesse espaço.
O que caracteriza esta seleção é a escolha de textos na fronteira entre o terror psicológico e o sobrenatural. "Horror em Red Hook", que abre a seleção, pode ser perfeitamente lida como uma história policial que se densenrola em um bairro decadente, pobre e violento de Nova York, onde amontoam-se imigrantes estrangeiros. Um detetive, que investiga crimes cometidos na região, desconfia do envolvimento de um figurão, descendente de uma família fundadora da cidade, que apresenta um comportamento esquisito e não tem dificuldade de se relacionar com os estrangeiros do bairro, sempre descritos da pior forma possível. As revelações da investigação são tão terríveis que levam o policial à beira da psicose, embora não se saiba ao certo se o que ele testemunhou foi real ou apenas um delírio. O que impacta no texto é o altíssimo nível de xenofobia e intolerância contra os estrangeiros, especialmente árabes e orientais, que Lovecraft não maquiou de forma alguma.
"Ele" é o texto mais lisérgico da seleção, sobre o passeio emocional que um homem dá por bairro de Nova York que ainda sustenta ruas e casas de tempos passados. A certa altura, ele encontra um outro homem de interesses similares, que o convida para uma excursão especial e o conduz por um caminho que parece levá-los centenas de anos de volta no tempo.
Finalmente, "A tumba", um conto clássico do autor, conta sobre a fixação de um jovem pelas ruínas de um antigo túmulo abandonado no meio da mata, construção sobrevivente de uma tragédia ocorrida muito tempo atrás.
A coletânea, por não dispôr do horror cosmológico que caracteriza os textos sobrenaturais de Lovecraft, ressalta sua técnica literária, que muitos classificam como extravagante e exageradamente adjetivada, mas também expõe com nitidez a melancolia do autor ao ver a memória e a beleza arquitetônica do passado sendo devoradas pelos avanços da modernidade, da tecnologia e, principalmente da maldade humana.
Horror em Red Hook é um bom volume para iniciar o leitor nos labirintos da obra lovecraftiana, uma ótima introdução aos horrores indizíveis do Cavalheiro de Providence.
— Cesar Silva
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