O sub-gênero do cinema italiano que aborda
histórias de assassinos em série ficou conhecido como “Giallo”, que significa
“amarelo” em italiano, numa referência às capas amarelas das revistas populares
de suspense e romance policial, com assassinatos sendo investigados por
detetives. Esses tipos de filmes tiveram seu ápice entre as décadas de 70 e 80
do século passado, apresentando as ações de assassinos usando luvas pretas, com
as vítimas na maioria das vezes sendo mulheres, e com a investigação policial
tentando descobrir o mistério por trás das mortes, com a solução apenas no
final e reservando surpresas.
Com o título original italiano “Il
Coltello di Ghiaccio”, o espanhol “Detrás del Silencio” e o inglês “Knife of
Ice”, o filme foi lançado em 1972 e dirigido por Umberto Lenzi, um cineasta
italiano conhecido por outros significativos trabalhos dentro do Horror como os
violentos “Os Vivos Serão Devorados” (80) e “Canibal Ferox” (81), sobre
canibais, e “Nightmare City” (80), sobre zumbis.
Na história, Martha Caldwell (Carroll Baker) é uma mulher
que perdeu a capacidade de falar após um evento traumático ocorrido quando era
adolescente, através de um acidente ferroviário que matou seus pais num
incêndio. Ela mora com seu tio inglês Ralph (George Rigaud) numa casa ao lado
de um cemitério, localizada numa pequena cidade espanhola próxima de Barcelona.
Ela recebe a visita de sua prima Jenny Ascot (Ida Galli, atuando sob o
pseudônimo de Evelyn Stuart), uma cantora bem sucedida. Porém, mortes
misteriosas começam a ocorrer na casa e proximidades, colocando pessoas do
círculo de amigos e empregados da família numa lista de suspeitos, como o
sinistro motorista Marcos (Eduardo Fajardo) e o médico Dr. Laurent (Alan
Scott), além do próprio proprietário da casa, o idoso Ralph, um estudioso de
ocultismo. Outro suspeito dos crimes é um jovem hippie viciado em morfina e
simpatizante de cultos satânicos. Entre as candidatas a tornarem-se vítimas do
misterioso assassino, temos a governanta Sra. Annie Britton (Silvia Monelli) e
a adolescente Christina (Rosa-Maria Rodrigues), filha adotiva de um padre
local, Martin (José Marco). E para tentar desvendar a autoria dos crimes e
impedir mais mortes, o Inspetor Duran (Franco Fantasia) está na liderança das
investigações.
O filme é um “Giallo” com as tradicionais
características desse sub-gênero, tentando manipular o espectador no mistério
que envolve os assassinatos, com pistas falsas, elementos de satanismo e
investigação policial. Não é muito empolgante e as cenas com as poucas mortes
são filmadas “off screen”, reduzindo a intensidade de violência. Mas, ainda
assim, a história até desperta algum interesse, principalmente pela surpresa no
final, com a esperada revelação da identidade e motivações do assassino.
Entre as curiosidades, podemos citar que o diretor
Umberto Lenzi procurou mostrar muitas cenas evidenciando os olhos dos
personagens, uma característica que ficou mais conhecida e associada com outro
diretor italiano de filmes de horror, o cultuado Lucio Fulci. E, em determinado
momento, a jovem Jenny recém chegada de viagem, presenteia seu tio Ralph, apreciador
de ciências ocultas, com livros sobre feitiçaria, zumbis e demônios, e informa
que são materiais raros comprados no Brasil. O cineasta Lenzi, que também
participa do roteiro, talvez quisesse apenas citar nosso país como uma breve
homenagem, mas com um resultado estranho, uma vez que não somos conhecidos por
esses tipos de livros com temáticas não convencionais, principalmente sendo raros.
(Juvenatrix - 03/04/15)
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