O cinema antigo de horror mexicano tem
algumas preciosidades que não podem ficar esquecidas. Essa é uma produção de
1961, porém lançada dois anos depois, com fotografia em preto e branco,
dirigida e escrita por Rafael Baledón, a partir de uma história de Fernando
Galiana, que por sua vez utilizou elementos de uma lenda popular sobre uma
mulher fantasma que chora de forma assustadora.
Na história do filme, a jovem Amelia (a
venezuelana Rosita Arenas, de “La Momia
Azteca Contra el Robot Humano” / “The Robot vs. The Aztec
Mummy”, 1958), recém casada com Jaime (Abel Salazar, de “El Barón del Terror” /
“The Brainiac”, 1962), recebe o convite para visitar sua tia Selma (Rita
Macedo), que não vê há 15 anos e que mora solitária num casarão afastado no
meio de uma floresta. A casa de aspecto sombrio é conhecida na região por ser
assombrada e temida pelos moradores das aldeias próximas por causa da
ocorrência misteriosa de assassinatos noturnos na estrada em seus arredores,
cuja autoria é investigada sem sucesso pelo capitão da polícia local (Mario
Sevilla), e onde as vítimas são encontradas sem sangue. Chegando ao destino, o
casal é recebido pelo rude serviçal Juan (Carlos López Moctezuma), manco e com
o rosto desfigurado. No encontro da jovem Amelia com sua tia Selma, logo é
informada a real intenção do convite, com a revelação da existência de uma
maldição familiar envolvendo a antiga bruxa maléfica Marina, que renegou todos
os seus bens e adquiriu um poder sobrenatural das trevas. Ela foi executada com
uma lança no peito, e ficou conhecida como “a mulher chorona”, devido seus
gritos aterrorizantes de agonia (daí o título original). Seu cadáver apodrecido
está escondido no porão da casa, aguardando apenas a oportunidade de ressurgir
entre os vivos. E como elas eram suas únicas descendentes, a ideia seria
reviver a feiticeira num ritual de magia negra, no aniversário de 25 anos de
Amelia, cujo presente seria o seu sacrifício, dando a vida para trazer a antiga
bruxa de volta.
“A Maldição da Chorona” é uma pérola do
cinema gótico com todas as suas tradicionais características de um horror
sutil, mas extremamente eficiente na elaboração de uma atmosfera sombria e
sinistra. Temos a carruagem como meio de transporte da época, tornando sempre
árdua e demorada a tarefa de se locomover; a floresta com árvores secas e
aspecto fantasmagórico envoltas numa tenebrosa névoa espessa; e o casarão frio
e deprimente de pedra, repleto de passagens secretas e ambientes tétricos,
decorado por teias de aranha, habitado por ratos e morcegos e protegido por
imensos cães assassinos, que mais parecem guardiões dos portais do inferno. Estão
também presentes aqueles esperados clichês que contribuem de forma decisiva
para a construção de um clima mórbido como o serviçal demente com o rosto
desfigurado; o porão sinistro que esconde um segredo aterrador; e a música
tétrica de um órgão tocando acordes de gelar a espinha. Além de um espelho
mágico que reflete a personalidade sombria escondida na jovem Amelia, que é
vítima de uma maldição familiar; um alçapão que serve de inesperada armadilha; e
os gritos estridentes de uma mulher chorona ecoando pelos corredores do
casarão. Sem contar a presença de um homem preso no sótão, deformado pela
loucura (no caso, é o marido de Selma, o Dr. Daniel Jaramillo, interpretado por
Enrique Lucero, e que perdeu a sanidade nos anos forçados de reclusão, vivendo
como um animal). A maquiagem da maléfica Selma, quando transformada em bruxa,
com o rosto modificado simulando a região dos olhos como escuras cavidades
vazias, é um dos pontos fortes do filme, passando a sensação do Mal absoluto.
Curto, com apenas uma hora e quinze
minutos de duração, e com uma constante atmosfera de tensão e horror sugerido, “A
Maldição da Chorona” é recomendável para apreciadores do cinema gótico e histórias de bruxas e maldição familiar, e para quem procura por produções antigas (nesse
caso, da década de 60 do século passado) fora do tradicional mercado americano
ou europeu.
(Juvenatrix - 29/03/15)
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