Produção da “Universal” de 1957 com
fotografia em preto e branco, “O Incrível Homem Que Encolheu” tem direção de
Jack Arnold e história de Richard Matheson, dois especialistas no gênero
fantástico. Arnold (1916 / 1992) tem no currículo preciosidades como “Veio do
Espaço” (1953), “O Monstro da Lagoa Negra” (1954), “A Revanche do Monstro”
(1955), “Tarântula!” (1955), “Mensagem do Planeta Desconhecido” (1958) e “O
Monstro Sanguinário” (1958). E o escritor Matheson (1926 / 2013) escreveu
vários episódios da série de TV “Além da Imaginação” e roteiros de filmes
produzidos por Roger Corman e inspirados em Edgar Allan Poe
como “O Solar Maldito” (1960), “O Poço e o Pêndulo” (1961), “Muralhas do Pavor”
(1962) e “O Corvo” (1963). Também escreveu os roteiros de “Farsa Trágica”
(1964), “As Bodas de Satã” (1968), da “Hammer” e “Encurralado” (1971), de
Steven Spielberg, e parte de seus livros foram adaptados para o cinema em
filmes como “Mortos Que Matam” (1964) e “A Casa da Noite Eterna” (1973).
“Minha prisão. Uma área perigosa e
solitária no espaço e no tempo. Pensei que assim como o homem tinha dominado o
seu mundo, eu dominaria o meu.” – Scott Carey, analisando o porão de sua casa.
Scott Carey (Grant Williams) está
passeando com sua esposa Louise (Randy Stuart) num barco no mar, descansando e
tomando um banho de sol. Porém, uma misteriosa nuvem radioativa surge no
caminho e apenas ele entra em contato com a estranha neblina. Passados alguns
meses e depois que ele também entra em contato aleatório com uma névoa de
inseticida, percebe que suas roupas estão ficando folgadas no corpo. Analisando
melhor o mistério, descobre que está incrivelmente encolhendo e exames médicos
indicaram uma reorganização da estrutura molecular das células de seu corpo,
provocada pela exposição à radiação misturada com o inseticida. Com o
encolhimento crescente e desenfreado de seus órgãos, Scott Carey tornou-se
vítima da imprensa sensacionalista e se isolou do convívio social. Diminuiu
tanto de tamanho que passou a morar numa casa de bonecas, lutando por sua vida
contra a ameaça de seu gato de estimação. Com o encolhimento progressivo e
depois de um acidente num confronto com o imenso gato, ele cai no porão e mora
numa caixa de fósforos. Na nova condição repleta de perigos e dificuldades para
a sobrevivência, ele terá que lutar o tempo todo por sua vida, encolhendo sem
parar, enfrentando desde uma inundação com um vazamento de água de um cano até
a batalha mortal com uma aranha enorme que vive no porão e quer manter seu
domínio no local.
“Meu inimigo parecia imortal. Mais que uma
aranha, ele representava todos os medos desconhecidos do mundo. Todos eles,
juntos num medonho horror negro.” – Scott Carey, sobre a guerra contra a aranha
colossal.
“O Incrível Homem Que Encolheu” é uma
pérola do cinema fantástico dos anos 50 do século passado, geralmente
considerado pelos apreciadores do gênero como um dos mais importantes filmes de
todos os tempos. Ambientado numa época onde a guerra fria entre os Estados Unidos
e a antiga União Soviética pela supremacia do mundo, gerava um clima
desconfortável de constante instabilidade e medo de um apocalipse nuclear, com
a especulação dos efeitos destrutivos do uso indevido da radiação. A
espetacular história mantém o interesse contínuo fazendo o espectador torcer
pelo sucesso do protagonista, entendendo seu drama incomum e criando uma
empatia por sua grave situação de homem encolhido que luta pela vida num
ambiente onde tudo se transforma em perigoso e potencialmente mortal. Sem
contar o imenso esforço psicológico para suportar a nova condição e não
enlouquecer ou entrar num estado de depressão sem volta, perante o completo
cenário pessimista ao seu redor. É difícil até imaginar como seriam nossas
ações se tivéssemos que enfrentar uma situação similar, num mundo novo de
desafios e perigos, onde o ápice do caos está no confronto com uma aranha que
se transformou num monstro gigante pela perspectiva do homem encolhido.
Apesar de uma produção de baixo orçamento,
os efeitos especiais são excelentes, principalmente pela época e pelos recursos
disponíveis, num período sem a facilidade e artificialidade da computação
gráfica, utilizando a construção de mobílias e objetos gigantes para simular a
condição diminutiva do personagem. Além de efeitos eficientes de trucagem em
cenas como a perseguição do gato de estimação, que de dócil tornou-se um
monstro carnívoro ameaçador.
O desfecho, carregado de comentários
filosóficos do protagonista, refletindo sobre questões existenciais, é
memorável e se destaca na história do cinema de Ficção Científica, ao lado de
outros marcantes como “O Homem dos Olhos de Raio-X” (1963) e “O Planeta dos
Macacos” (1968).
“Mas, de repente entendi que eram dois
extremos de um mesmo conceito. O incrivelmente pequeno e o vasto acabaram se
encontrando, como se um grande círculo se fechasse. Olhei para o céu como se de
algum modo pudesse compreender, o céu, o universo, os mundos infinitos, a
tapeçaria prateada de Deus que cobre a noite. Eu ainda existo.” – Scott Carey, refletindo
sobre sua nova condição como “o incrível homem que encolheu”, e que continua
encolhendo de forma infinitesimal.
Curiosamente, o escritor Richard Matheson
criou uma história para possível sequência onde Louise Carey, a esposa do homem
encolhido, também teria que enfrentar o mesmo drama, porém o projeto foi
cancelado pelos produtores. E um erro atribuído ao filme é que a aranha
utilizada é uma tarântula, porém esses aracnídeos não vivem em teias como
mostrado, e sim em tocas e buracos.
(Juvenatrix – 19/02/16)
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