* Carnossauro
(1993)
“A Terra não foi criada para nós. Ela foi
feita para os dinossauros. Estava desenhada para suas dimensões. Os seres
humanos são como formigas passeando pelos seus quartos.” – comentário da
“cientista louca” Dra. Jane Tiptree
Aproveitando o lançamento em
1993 de “Jurassic Park – O Parque dos Dinossauros”, de Steven Spielberg, que
gerou uma franquia milionária, o produtor e também diretor Roger Corman, com
centenas de filmes no currículo, a maioria situados no gênero fantástico,
aproveitou o momento favorável comercialmente e lançou o cultuado
“Carnossauro”. O filme é uma tranqueira divertida de dinossauros que gerou outras
duas continuações. Corman é conhecido como “O Rei dos Filmes B” por seu
incrível talento em produzir filmes com orçamentos baixos e filmagens em tempos
curtos, e sua carreira marcante teve início nos anos 1950, já tendo acumulado
mais de 400 filmes no currículo, e também grande quantidade de créditos na
função de diretor, tendo trabalhado com atores ícones do Horror como Vincent
Price e Boris Karloff. É uma pena que seu último trabalho na direção foi em
1990 com “Frankenstein – O Monstro das Trevas” (Frankenstein Unbound). Mas, em
compensação, como produtor Corman tem mais de 60 anos de contribuições para o
cinema fantástico bagaceiro, com um legado eterno de filmes de qualidade
duvidosa, mas a maioria com diversão garantida.
Em “Carnossauro”, dirigido por
Adam Simon (de “Brain Dead”, 1990) e com sequências adicionais por Darren
Moloney, temos uma história tosca ao extremo apresentando a “cientista louca”
Dra. Jane Tiptree (Diane Ladd) liderando um projeto científico de engenharia
genética com estudos de recombinação de DNA e manipulação de um vírus de
frangos. Como resultados, temos dinossauros nascendo em ovos de galinha,
crescendo numa velocidade extremamente rápida, e devorando as pessoas. Além da
propagação de uma contaminação nas mulheres causando uma febre misteriosa e
transformando-as em grávidas de dinossauros. Tudo faz parte de um plano
maquiavélico da cientista para eliminar as mulheres e consequentemente a raça
humana, dando lugar para os dinossauros pré-históricos povoarem novamente nosso
planeta. Para tentar combatê-la, temos um vigia noturno, Doc Smith (Raphael
Sbarge), que toma conta dos tratores de uma empresa que está destruindo a
natureza, e uma ecologista hippie, Ann Thrush (Jennifer Runyon, atriz casada
com um sobrinho de Corman), que defende o slogan “As grandes corporações estão
matando nosso mundo”. E tem também um xerife durão, Fowler (Harrison Page), que
tenta impedir a invasão dos dinossauros.
Ao contrário da produtora
picareta “The Asylum”, que copia ideias e faz filmes modernos extremamente
ruins e exagerados nos efeitos de computação gráfica, o cultuado produtor Roger
Corman sempre aproveitou argumentos e cenários usados para fazer filmes também
ruins, mas divertidos. Principalmente pela precariedade dos recursos, sem a
utilização dos efeitos artificiais de CGI, como exemplificado nos dinossauros
toscos de “Carnossauro”, feitos por bonecos em miniatura com controle remoto e
fantoches de mão, ou como no caso do tiranossauro, por um robô desajeitado com
quase cinco metros de altura. Temos as sempre esperadas cenas de mortes
violentas de dezenas de vítimas com o sangue jorrando, e pedaços de seus
frágeis corpos destroçados pelas garras e dentes das feras, que vão de um
imponente tiranossauro aos ágeis deinonicos (animais parecidos com
velociraptores). É verdade que o roteiro é bem exagerado na fantasia, desde a
ideia insana da cientista geneticista até a forma como ela coloca seu plano
diabólico em ação, mas em compensação, a overdose de mortes sangrentas e o
desfecho pessimista contribuem significativamente para o interesse pelo filme,
que concluiu com um gancho para sequências inferiores que foram lançadas nos
anos seguintes.
Curiosamente, a veterana atriz
Diane Ladd é mãe de Laura Dern, que no mesmo ano de 1993 atuava ao lado de Sam
Neill, Jeff Goldblum e Richard Attenborough em “Jurassic Park – O Parque dos
Dinossauros”. O experiente ator Clint Howard, com mais de 230 créditos no
currículo, tem uma participação rápida com destaque para uma cena onde conta
uma piada num bar antes de virar comida de dinossauro. A famosa cena do bebê
alien rasgando o ventre de seu hospedeiro no clássico “Alien, o Oitavo
Passageiro” (1979) é também referenciada em cena similar no filme produzido por
Corman.
Carnossauro 2 (1995)
“Carnossauro” impulsionou a
realização de outros filmes ambientados em seu universo ficcional, nas mesmas
mãos de Roger Corman como produtor. Em 1995 foi lançado “Carnossauro 2” (Carnosaur 2), com direção de
Louis Morneau (de “Morcegos”, 1999 e “Lobisomem: A Besta Entre Nós”, 2012) e
com o veterano ator John Savage, com mais de duas centenas filmes na carreira.
Foi exibido na televisão na “Sessão das Dez” do SBT.
Na história, ocorre um acidente
numa mina de urânio operada por militares, uma unidade secreta localizada no
meio do deserto. Depois que os funcionários morrem misteriosamente, cortando as
comunicações, o governo americano decide enviar um representante para
averiguar, Major Tom McQuade (Cliff De Young). Ele é acompanhado por um grupo
contratado de especialistas em missões especiais de resgate, liderado por Jack
Reed (John Savage). A equipe é ainda formada por Ben Kahane (Don Stroud), Monk
Brody (Rick Dean), a bela Sarah Rowlins (Arabella Holzbog), o expert em
computação e piadista Ed Moses (Miguel A. Núñez Jr.) e a piloto de helicóptero
Joanne Galloway (Neith Hunter). Ao entrar nas instalações militares, o grupo
encontra um cenário de destruição com mortes violentas, e resgatam um
sobrevivente em estado de choque, o adolescente Jesse Turner (Ryan Thomas
Johnson). Mas, o pior ainda viria com a descoberta de que o local está
infestado de dinossauros ávidos por suas frágeis carnes.
Em termos de roteiro, mesmo
sendo um clichê colossal, podemos considerar que é melhor do que o filme
original, cuja história básica é extremamente exagerada na fantasia. Mas, por
outro lado, temos aqui a tão manjada ambientação claustrofóbica, onde um grupo
de pessoas está encurralado num local isolado, sendo atacado por dinossauros
carnívoros e tentando desesperadamente lutar por suas vidas. Esse argumento é
um dos mais explorados no cinema de horror e ficção científica, com centenas de
filmes similares, alternando apenas as pessoas, o local e a ameaça. Como sendo
nitidamente uma produção de baixo orçamento, o ambiente interno é bem escuro
para ajudar a camuflar a precariedade dos efeitos dos dinossauros, mas assim
como no filme anterior, temos várias cenas de mortes sangrentas, com braço
decepado, cabeça arrancada a dentadas e dilacerações diversas. Porém, os
ataques dos monstros demoram e a carnificina inicia apenas depois de meia hora
de filme (antes, as cenas de mortes são “off screen”).
“Carnossauro 2” é curto, com pouco mais de 80
minutos, e o desfecho é bem similar ao filme original, com um confronto
inverossímil e exagerado entre o adolescente metido a herói Jesse, dirigindo
uma grande empilhadeira, contra um tiranossauro, culminando com aqueles
resultados já previsíveis. Curiosamente, e talvez como uma homenagem ao
clássico da guerra do Vietnã “Apocalipse Now” (1979), de Francis Ford Coppola,
quando o helicóptero do grupo de resgate chega à instalação militar, um dos
membros da equipe faz questão de ouvir um trecho da música clássica “Cavalgada
das Valquírias”, do alemão Richard Wagner. É uma referência para uma cena
similar do filme de Coppola, onde um grupo de helicópteros ataca uma aldeia
vietnamita ao som da mesma música.
Criaturas do Terror (1996)
Em 1996 veio o terceiro filme
da franquia, que recebeu por aqui o manjado título sem criatividade “Criaturas
do Terror” (Carnosaur 3: Primal Species), dirigido por Jonathan Winfrey. O pior
é que ainda recebeu outro nome patético quando foi exibido na telinha na
“Sessão Especial” da TV Record, “Carnossauro: O Monstro Destruidor”, apenas
para confundir e dificultar ainda mais um trabalho de catalogação dos filmes
que chegam no Brasil.
Um comboio do exército
escoltando um caminhão misterioso é surpreendido numa emboscada por mercenários
terroristas, que o roubam acreditando num carregamento valioso de urânio.
Porém, eles descobrem que na verdade a carga trata-se de uma criação de répteis
carnívoros que logo os transforma em alimento. São réplicas de dinossauros
geneticamente construídos através de um projeto científico que buscava a cura
de várias doenças, estudando sua estrutura de DNA regenerativa. Uma equipe
especial de militares, liderada pelo Coronel Rance Higgins (Scott Valentine) e
contando com soldados treinados como Sanders (Rodger Halston) e o piadista
Polchek (Rick Dean, que curiosamente esteve também em “Carnossauro 2” como outro personagem), é
convocada pelo General Pete Mercer (Anthony Peck) para investigar a ocorrência
do roubo da carga secreta. Eles encontram corpos despedaçados e sangue
espalhado para todos os lados e ficam sabendo através da cientista Dra. Hodges
(Janet Gunn) sobre o projeto científico de criação de dinossauros e da
necessidade de capturar as criaturas vivas. O grupo do Cel. Higgins une-se com
uma equipe de fuzileiros navais para combater as feras, primeiramente num
galpão e depois num navio, onde um tiranossauro rex imenso montou um ninho no
porão de carga e está criando dúzias de ovos para reprodução.
O terceiro filme da franquia
“Carnossauro” pode ser classificado simplesmente como “mais do mesmo”. Ou seja,
roteiro similar aos anteriores, explorando o velho clichê formado por um grupo
de soldados num ambiente fechado e com atmosfera de claustrofobia (galpão,
depois navio), combatendo uma ameaça (dinossauros famintos por suas carnes). O
filme tem até um desfecho novamente com gancho, mas a série parou por aí, até
porque não tinha mais como contar uma história com um mínimo de interesse.
Também temos os mesmos efeitos bagaceiros e fotografia escura para esconder a
precariedade, e os mesmos personagens estereotipados como um líder militar
metido a durão. E continuam as piadas banais e comentários absurdos de
personagens que estão prestes a morrer de forma violenta, e ainda encontram
humor nos últimos momentos de vida, não combinando com a postura esperada de
soldados. Tudo isso até consegue divertir um pouco, principalmente para os
apreciadores de cinema bagaceiro, mas no caso desse “Carnossauro 3” a repetição de clichês
tornaram o filme mais cansativo, num último suspiro da franquia.
Curiosamente, um dos policiais
que chega ao local onde está o caminhão roubado pelos terroristas com a carga
de dinossauros, encontra um cenário sangrento repleto de vítimas esquartejadas,
e faz um comentário hilário: “Isto aqui está parecendo um pesadelo de
sexta-feira 13” .
(Juvenatrix – 17/02/16)
Quando eu tinha meus 4 anos de idade achava o filme 3 um terror diguino de me fazer perder o sono HAHAHAHAHA
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