Escrito originalmente em 06/02/2006.
“Remover a
cabeça ou destruir o cérebro é a única forma de combatê-los.”
– alerta de um
apresentador de noticiário de televisão
Shaun (Simon Pegg) é um homem
fracassado que não consegue visitar sua mãe Barbara (Penelope Wilton), tem
problemas de relacionamento com seu padrasto Philip (Bill Nighy, o chefe
supremo dos vampiros em “Underworld”), mora numa casa dividindo o espaço com os
companheiros Ed (Nick Frost), um gorducho inútil e desempregado, e o severo
Pete (Peter Serafinowicz), não é respeitado pelos colegas de trabalho numa loja
de eletrodomésticos, freqüenta apenas um único bar como diversão, e não
consegue também agradar ou surpreender com criatividade a bela namorada Liz
(Kate Ashfield), que está cansada da rotina do namoro, dispensando-o e preferindo
a companhia de um casal de amigos, David (Dylan Moran) e Dianne (Lucy Davis).
Ele chega à conclusão que precisa “dar um jeito na vida”, ter atitudes e sair
do marasmo. Ele só não imaginaria que seria obrigado a assumir o papel de herói
meio atrapalhado e teria que fazer tudo isso repentinamente, depois que um
vírus contamina as pessoas transformando-as em mortos-vivos vagando
desorientados pelas ruas de Londres, famintos por carne humana. Shaun acaba
assumindo a liderança de um grupo que tenta sobreviver em meio ao caos
instaurado pelos zumbis. Eles se refugiam num pub, onde ficam encurralados e
são atacados, obrigando Shaun a lutar por sua vida e a dos amigos, além também
de tentar recuperar o amor da namorada.
Depois de
assistir o filme inglês “Todo Mundo
Quase Morto” (Shaun of the Dead, 2004) fica um sentimento que seus
criadores Edgar Wright (também o diretor) e Simon Pegg não se decidiram se
fariam um filme de comédia de humor negro sobre o fim do mundo ou um drama
sério de horror com cenas fortes de violência e mortes, pois o resultado ficou
uma mistura das duas coisas e que para mim não funcionou. Eu particularmente
não sou muito fã de comédias ou paródias, sendo que entre as poucas exceções
destaco “O Jovem Frankenstein” (1974), de Mel Brooks, e “Malditas Aranhas!”
(2001), homenagem e sátira divertida dos nostálgicos filmes dos anos 1950 com
aquelas criaturas tornando-se gigantes por causa do contato com produtos
químicos que alteraram seu metabolismo. Eu prefiro filmes mais sérios. Ou, caso
a ideia seja satirizar algum gênero, que o filme seja reconhecidamente uma
comédia de humor negro, e não uma mistura onde temos piadas e situações cômicas
perdidas no meio de cenas sangrentas com zumbis putrefatos devoradores de carne
humana.
Como filme de
humor negro, não achei tão divertido quanto esperava, principalmente depois das
expectativas geradas após ler diversos comentários positivos a respeito, vindos
de todos os lados (tanto que no site “Internet Movie Database”, a maior fonte
de dados de cinema do mundo, a nota média dos leitores ao avaliarem o filme é
até bem alta). Utilizei como referência para chegar a essa conclusão o fato que
somente consegui rir de alguma coisa ao ver nos materiais extras do DVD algumas
cenas cortadas por erros de gravação, principalmente quando o obeso Ed tenta
explicar para Shaun as características devassas de uma mulher deprimida de meia
idade e ex-atriz pornô que sempre freqüenta solitária o bar “The Winchester”.
Já como filme
sério de horror gore, existem algumas boas cenas que merecem destaque como
aquela onde uma garota afetada pelo vírus que a tornou uma morta-viva, a caixa
de supermercado Mary (Nicola Cunningham), é empalada por um cano grosso de aço,
e a seqüência onde um dos personagens é destroçado violentamente com suas
entranhas devoradas por uma legião de zumbis, lembrando cena muito similar com
um militar arrogante, o Capitão Rhodes, em “O Dia dos Mortos” (1985), de George
Romero.
Aliás, vale
enaltecer as várias citações e homenagens aos filmes do mestre Romero, “A Noite
dos Mortos-Vivos” (1968), “Despertar dos Mortos” (1978) e o já citado “O Dia
dos Mortos”, além de outras personalidades do cinema de horror como os
cineastas Lucio Fulci e John Landis, e o cultuado ator Bruce Campbell (isso sem
falar no diretor Danny Boyle e no ator Ken Foree, de “Despertar dos Mortos”). E
uma cena também em especial, onde Shaun demonstra uma completa alienação,
típica do ser humano consumista, numa crítica social interessante quando ele
sai de casa para comprar um refrigerante e um sorvete num pequeno mercado e
consegue a incrível proeza de não perceber que o bairro está misteriosamente
sem movimento e que vários mortos-vivos estão cambaleando pela região, próximos
dele.
“Todo Mundo
Quase Morto” foi lançado em DVD no Brasil no final de Outubro de 2004 pela
“Universal”, trazendo cerca de uma hora de materiais extras, divididos entre os
tópicos “Carne Crua”, “Galeria de Zumbis”, “Rastros dos Monstros” e “Partes
Cortadas”. No primeiro tópico, temos uma interessante apresentação de Edgar
Wright e Simon Pegg sobre o esboço do filme, mostrando a ideia básica do
roteiro que imaginaram através de rascunhos escritos num “flip chart”, além de
detalhes dos efeitos especiais, testes de maquiagem e um “featurette”
promocional com comentários do diretor Edgar Wright e dos atores Simon Pegg,
Kate Ashfield, Nick Frost, Lucy Davis, Dylan Moran e Bill Nighy. O segundo
tópico apresenta fotos e cartazes do filme. Já em “Rastros dos Monstros”, temos
a exibição de “teasers”, “trailers” e comerciais de televisão. Finalizando os
extras, o último tópico destaca cenas que foram cortadas da edição final com a
opção dos comentários dos roteiristas Edgar Wright e Simon Pegg, além de uma
interessante revelação do destino de três cenas que ficaram no ar durante o
filme, ou seja, como Shaun conseguiu despistar a legião de zumbis que o
perseguiam antes de chegar ao pub “The Winchester”, o que aconteceu com Lucy
depois que decidiu enfrentar sozinha os mortos-vivos num acesso de fúria, e uma
explicação envolvendo a cena final.
Finalizando, justifico a minha nota como sendo 6 (de
total de 10) devido quase que exclusivamente pela quantidade de citações e
homenagens inseridas no roteiro do filme, e pelas boas cenas de horror gore,
pois sinceramente não consegui entrar no clima do humor negro proposto pela
história. Mas, independente de qualquer coisa, como um filme de mortos-vivos,
vale uma conferida...(Juvenatrix - 06/02/2006)
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