segunda-feira, 21 de setembro de 2015

O Primeiro Homem no Espaço (First Man Into Space, Inglaterra, 1959)


A guerra fria entre Estados Unidos e a antiga União Soviética após o fim da Segunda Guerra Mundial, gerou uma tensão constante em nosso planeta com o medo de um holocausto nuclear com bombas atômicas e também uma corrida de conquista espacial entre as duas grandes potências. Os soviéticos saíram na frente colocando o primeiro homem no espaço em 1961, o astronauta Yuri Gagarin, e a resposta americana viria em 1969 com a nave Apollo 11 chegando até a Lua (nesse caso, existem conspirações que afirmam que foi uma farsa). De qualquer forma, a corrida espacial instigou a imaginação dos roteiristas de cinema e uma infinidade de filmes sobre o tema foi lançada durante as décadas de 1950 e 1960. “O Primeiro Homem no Espaço” é de 1959, dois anos antes da viagem do astronauta russo pelo espaço sideral, e é uma produção de baixo orçamento inglesa, com direção de Robert Day.
Em Albuquerque, cidade no Estado americano do Novo México, uma base militar está realizando testes com o lançamento de foguetes para o espaço. Sob a liderança do Comandante Charles Ernest Prescott (Marshall Thompson), auxiliado pelo Capitão Ben Richards (Robert Ayres) e o médico da Aeronáutica Dr. Paul van Essen (Carl Jaffe), um projeto com o foguete Y-13 está em andamento. Com o piloto de testes Tenente Dan Milton Prescott (Bill Edwards), irmão do Comandante, sendo lançado ao espaço a partir de um avião em grande altitude. O piloto tem uma bela namorada, Tia Francesca (a italiana Marla Landi, de “O Cão dos Baskervilles”, Hammer, 1959), que trabalha com cardiologia para o Dr. van Essen, mas graças a sua rebeldia de jovem impetuoso, ávido em ser o “primeiro homem no espaço” (do título do filme), ele desobedece as regras e o foguete supera os limites de controle, ficando à deriva no espaço e sendo afetado por uma tempestade de poeira cósmica de meteoritos. Um módulo com o piloto é ejetado do foguete e retorna à Terra, porém com um estranho recobrimento na fuselagem que intriga as autoridades. O piloto de testes não é localizado e é dado inicialmente como desaparecido. Porém, tem início uma série de mortes misteriosas de animais e pessoas nas proximidades, com as gargantas cortadas e ausência de sangue, sempre com a presença de misteriosos pontos brilhantes nas vítimas, despertando a atenção das investigações.
“O Primeiro Homem no Espaço” é um filme com um roteiro pretensioso, mas uma produção com características do cinema fantástico bagaceiro dos anos 50 do século passado. O centro de comando tem todos aqueles computadores imensos e painéis de controle cheios de mostradores, botões e luzes, o foguete é uma maquete tosca e o monstro assassino é um homem deformado numa maquiagem bizarra de borracha. Com fotografia em preto e branco, o filme faz parte do sub-gênero conhecido como “homem transformado em monstro”, tão comum na época, com uma infinidade de histórias similares onde as pessoas transformavam-se em monstros como consequência da curiosidade em desbravar o desconhecido, ultrapassando os limites da ciência. Vale destacar os ataques do monstro, o piloto mutante que voltou do espaço recoberto com uma camada de poeira de meteoritos, uma espécie de crosta criada pela exposição aos raios cósmicos que servem como uma blindagem contra disparos de armas de fogo, mas que também necessita de sangue de suas vítimas. A abordagem desses homens intrépidos que se transformam em monstros perturbados sempre é interessante, enfatizando o drama de suas novas condições, como nas palavras de desespero do piloto de testes, “... andei sem rumo por um labirinto de medo e dúvidas...”. Os ataques do monstro podem ser considerados até bem violentos para a época da produção, e certamente os realizadores conseguiram impressionar a plateia. Mas, projetando um paralelo com os dias atuais, as cenas são inocentes e ingênuas quando comparadas com similares numa infinidade de filmes onde a violência é explícita, com um horror gráfico repleto de mutilações e sangue em profusão, que deixariam as audiências dos anos 50 traumatizadas. São as mudanças que ocorrem com o passar dos anos, e a humanidade cada vez mais está se acostumando com a violência e se impressionando menos.
Curiosamente, uma história bem similar foi filmada em 1977 na divertida bagaceira “O Incrível Homem Que Derreteu” (The Incredible Melting Man), escrito e dirigido por William Sachs, e com efeitos de maquiagem de Rick Baker. Nesse filme, um astronauta parte numa missão espacial aos anéis de Saturno, e ao retornar para a Terra, seu corpo começou a se deteriorar de forma crescente, derretendo literalmente e transformando-se numa massa gosmenta de fluídos, músculos, carne e ossos partidos, deixando um rastro de sangue e vítimas por seu caminho.
Outra curiosidade interessante é que o ator americano Marshall Thompson (1925 / 1992) participou de outras pérolas do cinema fantástico bagaceiro dos anos 50 como “Maldição da Serpente” (Cult of the Cobra, 1955), “O Horror Veio do Espaço” (Fiend Without a Face, 1958) e “A Ameaça do Outro Mundo” (It! The Terror From Beyond Space, 1958). Além de uma grande variedade de séries de TV como a popular “Daktari” (1966 / 1969).
(Juvenatrix – 21/09/15)

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