A guerra fria entre Estados Unidos e a
antiga União Soviética após o fim da Segunda Guerra Mundial, gerou uma tensão
constante em nosso planeta com o medo de um holocausto nuclear com bombas
atômicas e também uma corrida de conquista espacial entre as duas grandes
potências. Os soviéticos saíram na frente colocando o primeiro homem no espaço
em 1961, o astronauta Yuri Gagarin, e a resposta americana viria em 1969 com a
nave Apollo 11 chegando até a Lua (nesse caso, existem conspirações que afirmam
que foi uma farsa). De qualquer forma, a corrida espacial instigou a imaginação
dos roteiristas de cinema e uma infinidade de filmes sobre o tema foi lançada
durante as décadas de 1950 e 1960. “O Primeiro Homem no Espaço” é de 1959, dois
anos antes da viagem do astronauta russo pelo espaço sideral, e é uma produção
de baixo orçamento inglesa, com direção de Robert Day.
Em Albuquerque, cidade no Estado americano
do Novo México, uma base militar está realizando testes com o lançamento de
foguetes para o espaço. Sob a liderança do Comandante Charles Ernest Prescott
(Marshall Thompson), auxiliado pelo Capitão Ben Richards (Robert Ayres) e o
médico da Aeronáutica Dr. Paul van Essen (Carl Jaffe), um projeto com o foguete
Y-13 está em andamento.
Com o piloto de testes Tenente Dan Milton Prescott (Bill
Edwards), irmão do Comandante, sendo lançado ao espaço a partir de um avião em
grande altitude. O piloto tem uma bela namorada, Tia Francesca (a italiana Marla
Landi, de “O Cão dos Baskervilles”, Hammer, 1959), que trabalha com cardiologia
para o Dr. van Essen, mas graças a sua rebeldia de jovem impetuoso, ávido em
ser o “primeiro homem no espaço” (do título do filme), ele desobedece as regras
e o foguete supera os limites de controle, ficando à deriva no espaço e sendo
afetado por uma tempestade de poeira cósmica de meteoritos. Um módulo com o
piloto é ejetado do foguete e retorna à Terra, porém com um estranho recobrimento
na fuselagem que intriga as autoridades. O piloto de testes não é localizado e
é dado inicialmente como desaparecido. Porém, tem início uma série de mortes
misteriosas de animais e pessoas nas proximidades, com as gargantas cortadas e
ausência de sangue, sempre com a presença de misteriosos pontos brilhantes nas
vítimas, despertando a atenção das investigações.
“O Primeiro Homem no Espaço” é um filme
com um roteiro pretensioso, mas uma produção com características do cinema
fantástico bagaceiro dos anos 50 do século passado. O centro de comando tem
todos aqueles computadores imensos e painéis de controle cheios de mostradores,
botões e luzes, o foguete é uma maquete tosca e o monstro assassino é um homem
deformado numa maquiagem bizarra de borracha. Com fotografia em preto e branco,
o filme faz parte do sub-gênero conhecido como “homem transformado em monstro”,
tão comum na época, com uma infinidade de histórias similares onde as pessoas
transformavam-se em monstros como consequência da curiosidade em desbravar o
desconhecido, ultrapassando os limites da ciência. Vale destacar os ataques do
monstro, o piloto mutante que voltou do espaço recoberto com uma camada de
poeira de meteoritos, uma espécie de crosta criada pela exposição aos raios
cósmicos que servem como uma blindagem contra disparos de armas de fogo, mas
que também necessita de sangue de suas vítimas. A abordagem desses homens
intrépidos que se transformam em monstros perturbados sempre é interessante,
enfatizando o drama de suas novas condições, como nas palavras de desespero do
piloto de testes, “... andei sem rumo por um labirinto de medo e dúvidas...”.
Os ataques do monstro podem ser considerados até bem violentos para a época da
produção, e certamente os realizadores conseguiram impressionar a plateia. Mas,
projetando um paralelo com os dias atuais, as cenas são inocentes e ingênuas
quando comparadas com similares numa infinidade de filmes onde a violência é
explícita, com um horror gráfico repleto de mutilações e sangue em profusão,
que deixariam as audiências dos anos 50 traumatizadas. São as mudanças que
ocorrem com o passar dos anos, e a humanidade cada vez mais está se acostumando
com a violência e se impressionando menos.
Curiosamente, uma história bem similar foi
filmada em 1977 na divertida bagaceira “O Incrível Homem Que Derreteu” (The
Incredible Melting Man), escrito e dirigido por William Sachs, e com efeitos de
maquiagem de Rick Baker. Nesse filme, um astronauta parte numa missão espacial
aos anéis de Saturno, e ao retornar para a Terra, seu corpo começou a
se deteriorar de forma crescente, derretendo literalmente e transformando-se
numa massa gosmenta de fluídos, músculos, carne e ossos partidos, deixando um
rastro de sangue e vítimas por seu caminho.
Outra
curiosidade interessante é que o ator americano Marshall Thompson (1925 / 1992)
participou de outras pérolas do cinema fantástico bagaceiro dos anos 50 como
“Maldição da Serpente” (Cult of the Cobra, 1955), “O Horror Veio do Espaço”
(Fiend Without a Face, 1958) e “A Ameaça do Outro Mundo” (It! The Terror From
Beyond Space, 1958). Além de uma grande variedade de séries de TV como a
popular “Daktari” (1966 / 1969).
(Juvenatrix – 21/09/15)
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