Solarium 3, Frodo Oliveira, org. 220 páginas, capa de Natalia Caruso. Editora Multifoco, selo Anthology, Rio de Janeiro, 2014.
Em 2009, Frodo Oliveira organizou para a Editora Multifoco o primeiro volume da coleção Solarium,
uma antologia de contos de ficção científica com textos de autores
novos e algumas boas revelações. A parceria já rendeu três
sequências, a mais recente delas é o volume quatro, publicada em 2016. O objeto desta resenha é o volume três, de 2014.
Solarium 3 manteve a proposta de apresentar
autores novos no panorama da fc brasileira. O próprio organizador assina
um dos 29 textos da edição, que também tem Aldo Costas,
Anderson Dias Cardoso, Andrei Miterhofer Cutini, Bruno Eleres, Cesar
Bravo, Cristiano Gonçalves, Daniel I. Dutra, Davi M. Gonzales, David
Machado Santos Filho, Demetrios Miculis, Edgard Santos, Eduardo Alvares,
Emerson D. E. Pimenta, Fabiana Guaranho, Fabio Baptista, Fernando
Aires, Giovane Santos, Gutemberg Fernandes, Helil Neves, Ítalo Poscai,
Jowilton Amaral da Costa, Lucas Félix, Marcelo Sant'Anna, B. B. Jenitez,
Patrick Brock, Ricardo Guilherme dos Santos, Sheila Schildt e Thiago
Lucarini.
Não seria produtivo comentar conto a conto aqui, pois a
maior parte é amadora e carece de um desenvolvimento mais apurado mas,
como sempre acontece em antologias, alguns textos se destacam
e merecem ser observados mais detidamente.
"Olhos de Cronos", de
Andrei Miterhofer Cutini, é uma ucronia sobre um homem ferido e sem
memória que desperta nos arredores de um povoado arruinado pela guerra e
habitado por aleijados e moribundos assolados por ladrões de órgãos. Em
seus bolsos, alguns itens estranhos que vão se revelar as chaves da
salvação do seu mundo. Fica patente a influência da obra de Philip K.
Dick, especialmente do conto "O pagamento" (em Realidades adaptadas,
Philip K. Dick, Aleph, 2012), mas Cutini demonstra habilidade na
condução do enredo, sem replicar os maneirismos do autor americano.
"Contato
secreto: Operação Forget", de Cristiano Gonçalves, é uma bem elaborada
ficção ufológica na linha do seriado de televisão Arquivo X.
Militar desmemoriado desperta no hospital depois de participar de uma
ação secreta que o deixou em coma por alguns dias. Disposto a entender o
que se passou, inicia uma investigação que irá levá-lo a uma evidente
conspiração governamental.
"O agricultor", de David Machado
Santos Filho, vai a um futuro no qual comer carne se tornou um crime. A
engenharia genética desenvolveu, então, uma nova espécie de vegetais
híbridos que replicam tecidos comestíveis para substituir a proteína
animal na mesa dos consumidores. Entre simulacros de aves, boi, porco e
até mesmo leite e ovos, a próxima aposta do agricultor é um novo tipo de
carne que pode se tornar um grande negócio no futuro. Humor negro
absurdista apresentado em detalhes instigantes e um desfecho surpresa
bem construído – coisa rara –, este bom texto critica os extremos da
moda do veganismo.
"Ogum S. A.", de Patrick Brock, é uma divertida space opera
apresentada em forma de diário de um pouco honesto empreendedor do ramo
dos transportes interplanetários, que relata os dramas e alegrias,
sucessos e fracassos de sua vida atribulada. Um dos melhores textos do
volume que, junto ao conto comentado no parágrafo anterior, usa de um
protagonista sem caráter, típico da literatura brasileira, para
especular sobre a nossa cultura e atitudes frente a vida.
"Só", de Ricardo Guilherme dos Santos – autor cujos préstimos me fez chegar às mãos este volume – também investe numa space opera
na qual a inteligência artificial de uma espaçonave de gerações relata a
história dramática do povo que a construiu e usou através dos séculos,
em sua viagem em direção à eternidade. A personalização de espaçonaves e
computadores, que é um dos temas recorrentes da ficção científica, tem
aqui um exemplo de contornos poéticos que obteria resultados mais
expressivos se o autor tivesse elaborado uma voz própria para a sua
I.A., uma linguagem de máquina, digamos assim – perseguida por William Gibson e Bruce Sterling em A máquina diferencial,
totalmente perdida na tradução brasileira, diga-se de passagem –, que
daria ao texto um aspecto literário mais expressivo. Exemplo de
construção de vozes próprias bem sucedidas na fc&f brasileira
estão no conto "Meu nome é Go", de André Carneiro, publicado na
coletânea A máquina de Hyerônimus e outras histórias (UFSCar, 1997), e nos textos da série A saga de Tajarê, de Roberto de Sousa Causo, vistos em A sombra dos homens
(Devir, 2004), mas como não são especificamente vozes de máquinas, este
é aparentemente um desafio ainda por realizar na fc brasileira.
Há
potencial nos demais textos apresentados na antologia, que renderiam
ótimas peças se tivessem uma orientação técnica especializada, mas é
preciso ter em mente que, tal como suas edições anteriores, Solarium 3
é uma antologia de autores novos, muitos deles estreantes. A proposta
da seleção não é publicar o melhor da fc nacional, mas abrir espaço ao
exercício do gênero no país, uma missão legítima e digna geralmente feita
por revistas e fanzines, pouco publicados neste momento. Encarado
como um periódico literário, Solarium 3 não decepciona e, como tal, é uma iniciativa que deve ser valorizada.
Solarim 3 – bem como os demais volumes da série – pode ser encontrado no saite da Editora Multifoco, aqui.
olá!! só uma correçãozinha pequena: é "David Machado SANTOS Filho", e não "David Machado CAMPOS Filho". :-) Mas tudo bem,perdoo o deslize se me permitirem divulgar aqui outra obra, esta só minha, que publiquei também na editora Multifoco: "Fórmula do Caos" http://editoramultifoco.com.br/loja/product/formula-do-caos/
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