A dupla de atores ícones do gênero Horror,
Peter Cushing e Christopher Lee, estiveram juntos em vários filmes, agregando
um valor inestimável ao gênero. Alguns destes filmes foram produzidos pelo
cultuado estúdio inglês “Hammer”, e parte deles também teve a direção do
especialista Terence Fisher, o principal cineasta da produtora. “A Górgona”
(1964) reúne os três numa história com elementos góticos explorando um monstro
da mitologia grega, com roteiro de John Gilling, a partir de uma história
original de J. Llewellyn Devine.
“Sobre a aldeia de Vandorf se ergue o
Castelo Borski. Desde a virada do século, um monstro de tempos remotos chegou
para viver lá. Ninguém que tenha se deparado com ele sobreviveu, e o espírito
da morte ronda esperando sua próxima vítima.”
Com essa narração, o filme tem início com
uma ambientação no início do século XX numa pequena cidade alemã. O médico de
um hospital psiquiátrico, Dr. Namaroff (Peter Cushing), tenta guardar um
segredo envolvendo a ocorrência de mortes misteriosas na região durante a lua
cheia, com os cadáveres literalmente petrificados, registrando atestados de
óbito falsos e encobrindo a verdade. Sua assistente, a bela Carla Hoffman
(Barbara Shelley), não se sente à vontade com o excesso de super proteção do
médico. A polícia, representada pelo Inspetor Kanof (Patrick Troughton), está
pressionada pelo contínuo insucesso na investigação dos misteriosos
assassinatos, num ambiente que evidencia uma conspiração de silêncio e medo. Nesse
cenário de mistério, as coisas complicam mais ainda após a chegada no vilarejo
de Paul Heitz (Richard Pasco), que vem para investigar a morte de seu pai, o
Prof. Jules Heitz (Michael Goodliffe), estudioso de mitologia grega e que morreu
em circunstâncias estranhas. O jovem recém chegado se apaixona por Carla, que
corresponde o seu interesse amoroso. Ele também solicita a ajuda de seu amigo
Prof. Karl Meister (Christopher Lee), um conceituado acadêmico da Univedrsidade
de Leipzig, para juntos tentarem descobrir o mistério por trás das mortes cujas
vítimas foram transformadas em pedra.
“Havia três horrendas irmãs monstruosas,
as Górgonas. Seus nomes eram Tisifona, Medusa e Megera. Tinham serpentes vivas
nas cabeças e cada uma delas era um tentáculo do cérebro diabólico que
possuíam. Tão espantosas eram as Górgonas que todo aquele que as viam se
convertia em pedra.” – anotações do Prof. Heitz, escritas momentos antes de
morrer petrificado, revelando informações sobre a lenda de dois mil anos de uma
mulher com cobras na cabeça e que poderia estar em atividade ao se apossar do
corpo de outra mulher.
Gosto pessoal é algo totalmente subjetivo,
e no caso específico de “A Górgona” posso revelar que o filme está entre os
meus preferidos da “Hammer”. Além da presença da dupla Cushing e Lee e do
cineasta Terence Fisher, a ambientação gótica é bastante eficiente, com uma
atmosfera sinistra constante, acentuada pelo castelo abandonado há meio século,
envolto em névoa e cercado por árvores retorcidas e fantasmagóricas. E tem um
monstro habitando suas ruínas decrépitas, a última das górgonas, que transforma
suas vítimas em pedra. Apesar
da concepção visual da górgona Megera (interpretada por Prudence Hyman) não ter
agradado ao produtor Anthony Nelson Keys, que juntamente com Christopher Lee,
revelou sua insatisfação com os efeitos toscos utilizados para simular as
serpentes, e também pelos clichês inevitáveis da história, o filme ainda assim funciona
muito bem como representante legítimo do estilo gótico e horror sugestivo da
“Hammer”.
Curiosamente, o grande ator Christopher
Lee, que normalmente faz os papéis de vilão (com destaque para o eterno vampiro
“Drácula”), assume o posto contrário em “A Górgona”, interpretando um influente
professor que tenta desvendar os assassinatos misteriosos em Vandorf. E Peter
Cushing, que na maioria das vezes está do lado que combate o mal, é agora o
principal articulador de uma conspiração para abafar a real causa dos
assassinatos, apesar de sua motivação ser passional.
(Juvenatrix – 28/06/15)
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