A produtora inglesa “Hammer” também contribuiu
significativamente para o sub-gênero do cinema de horror que aborda o
satanismo. No final dos anos 60 e início da década seguinte, tivemos um período
com ótimos filmes com propostas similares, como “O Bebê de Rosemary”, de Roman
Polanski, e “Balada Para Satã”, de Paul Wendkos. Em 1968 foi lançado “As Bodas
de Satã”, com direção do especialista Terence Fisher, o mais importante cineasta
do cultuado estúdio, e com o ícone Christopher Lee no elenco. O roteiro é do
renomado escritor Richard Matheson, a partir de um livro de Dennis Wheatley,
cujas histórias serviram de inspiração para “O Continente Esquecido” (1968) e
“Uma Filha Para o Diabo” (1976), ambos também da “Hammer”.
Ambientado em 1929, os amigos Duque
Nicholas de Richleau (Christopher Lee) e Rex Van Ryn (Leon Greene) prometeram
ao pai falecido do jovem Simon Aron (Patrick Mower), que cuidariam dele. E
pensando nisso, e após sem vê-lo por alguns meses, eles decidem visitá-lo em
sua casa, surpreendendo-o no meio de uma estranha reunião de uma suposta
sociedade astronômica. Como profundo conhecedor de doutrinas e ciências
ocultas, o duque desconfia dos misteriosos diagramas desenhados no chão de um
grande salão no andar de cima da casa e após encontrar galinhas escondidas numa
cesta como se estivessem prontas para o abate num ritual de sacrifício, ele
acredita que Simon faz parte de uma seita demoníaca. Ele tenta retirar o jovem
e outra garota, Tanith Carlisle (Nike Arrighi), da influência maligna dos
seguidores do culto, uma vez que eles estavam sendo preparados para um batismo
num sabbath, onde passariam a servir o diabo. Então, Nicholas e o amigo Rex,
apaixonado por Tanith, juntam esforços com a sobrinha do duque Marie Eaton
(Sarah Lawson) e seu marido Richard (Paul Eddington), e todos tentam salvar os
jovens das forças do mal e das garras do líder satânico Mocata (Charles Gray),
mestre em nível superior do culto demoníaco.
“Na magia não existe o bem e o mal. É
somente uma ciência. A ciência de fazer com que ocorram mudanças por meio da
vontade própria. A reputação sinistra que a acompanha não tem fundamento. É
baseada em superstições, não em observações objetivas”. Essas são as palavras
de Mocata, e segundo ele, não há motivos para se temer a magia. Porém, não é o
que se vê no filme, principalmente em cenas onde dezenas de seguidores do culto
se banham freneticamente com o sangue fresco de um bode abatido em sacrifício,
ou quando surge a presença física do demônio Baphomet numa missa negra, uma
aparição extremamente sinistra, de uma criatura meio homem e meio bode.
É curioso notar que o ator Christopher
Lee, segundo o site “IMDB” (Internet Movie Database), afirmou que “As Bodas de Satã”
é seu filme preferido da “Hammer”, e ele esteve em muitas produções do estúdio,
interpretando personagens de todos os tipos, principalmente o vampiro Conde
Drácula. E que ele insistiu bastante com os produtores para filmarem uma
história de Dennis Wheatley. Porém, contrapondo um pouco o entusiasmo de
Christopher Lee, o filme é bem exagerado na fantasia, com demônios surgindo
envolvidos em névoas, através de rituais sombrios, e parece bem estranho ver o
cultuado ator recitando energicamente palavras mágicas de uma oração para
combater o poder das trevas. O desfecho também é bastante previsível, onde
podemos imaginar com razoável antecedência os rumos das ações, culminando com o
manjado confronto final entre o bem e o mal e a óbvia punição para os derrotados.
Entre os momentos de destaque certamente
vale registrar uma cena tensa envolvendo uma aranha gigante, que ameaça o Duque
e seus amigos quando estão no interior de um círculo desenhado no chão,
participando de um ritual para combater o demônio e tentar libertar os jovens
Simon e Tanith de sua influência maligna. O enorme aracnídeo peludo utilizado
na cena é real, filmado numa perspectiva que o faz parecer bem maior e
imponente, realmente passando uma sensação imensa de desconforto, mesmo para
quem não sofre de aracnofobia.
Lançado em DVD no Brasil pela “Cult
Classic”, os letreiros de abertura do filme são ilustrados por diversos símbolos
e imagens de magia negra, causando um efeito interessante e perturbador logo no
início.
(Juvenatrix – 24/11/15)
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