Quarto e último filme da cultuada
tetralogia dos mortos-vivos cegos do espanhol Amando de Ossorio. “A Noite das
Gaivotas” é o sucessor de “A Noite do Terror Cego” (The Night of the Blind
Terror, 1972), “O Retorno dos Mortos-Vivos” (The Return of the Evil Dead, 1973)
e “O Galeão Fantasma” (The Ghost Galleon, 1974).
Uma ordem de cavaleiros templários com
centenas de anos realiza cerimônias de magia negra idolatrando um demônio do
mar, uma criatura bestial representada por uma estátua, que transformou os
seguidores da seita em mortos-vivos esqueléticos vestindo trapos esfarrapados.
Eles amaldiçoaram uma pequena vila à beira do mar, e para não destruí-la
exigiram a cada sete anos, durante sete noites seguidas, o sacrifício de jovens
e belas mulheres. Um médico, Dr. Henry Stein (Victor Petit) chega ao vilarejo
com sua esposa Joan (Maria Kosti), para substituir o antigo médico (Javier de
Rivera), ávido e impaciente pela transferência daquele lugar maldito. O casal é
mal recebido pelos aldeões que não desejam os serviços médicos e não querem
intrusos. Eles vivem numa aura de mistério e medo, escondendo um terrível segredo.
Porém, uma única pessoa decide ajudá-los, a bela jovem Lucy (Sandra Mozarosky),
que se oferece como empregada. Mas, as sinistras procissões noturnas na beira
da praia e o desaparecimento de jovens mulheres desperta a atenção do Dr. Stein,
que tenta descobrir a verdade e passa a lutar para defender sua vida, da esposa
e de Lucy.
Apesar de fazerem parte de um mesmo
universo ficcional, os filmes com os mortos-vivos cegos de Amando de Ossorio
podem ser conferidos isoladamente, com histórias independentes em torno de uma
ideia central com os templários satanistas zumbis cadavéricos. Em “A Noite das
Gaivotas”, temos uma incrível e constante atmosfera sombria com locações arrepiantes
de gelar a espinha. E mesmo esbarrando nos velhos e tradicionais clichês do
estilo, com efeitos bagaceiros (mas que divertem justamente pela tosquice), e pela
narrativa por vezes lenta, é inegável sentir o efeito de horror autêntico
escondido nos opressores castelos de pedras, iluminados por tochas de fogo.
Além dos aldeões sempre rudes com forasteiros, escondendo segredos antigos, os rituais
satânicos com sacrifícios humanos (com direito a corações arrancados e corpos
devorados por caranguejos), e as misteriosas comitivas noturnas na praia, com
sinos tocando e cantorias tristes simulando lamentos. Tem ainda os gritos
agonizantes das gaivotas do título, ecoando pela noite e representando as almas
sofridas das mulheres sacrificadas em nome de uma criatura demoníaca marinha,
que lembra as feras indizíveis da literatura de H. P. Lovecraft. Não poderia
faltar também um panaca com deficiência mental que sofre perseguições com
pancadarias e apedrejamentos dos habitantes da vila. Ele é Teddy (interpretado
por Jan Antonio Castro) e além de seu nome soar bem estranho, ele é resgatado
pelo médico e sua esposa, e morre de medo dos mistérios que envolvem o vilarejo
durante a noite. Entre os clichês explorados, tem também a cena dos
sobreviventes encurralados numa casa, tentando suportar o ataque dos mortos-vivos
sem olhos empunhando suas espadas, numa referência ao clássico americano “A
Noite dos Mortos-Vivos” (1968), de George Romero.
(Juvenatrix – 14/12/15)
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