domingo, 10 de janeiro de 2016

O Soldado do Futuro (Soldier, EUA / Inglaterra, 1998)


Escrito em Março de 1999 e publicado originalmente na edição 31 do fanzine “Juvenatrix”.

                A Ficção Científica é um gênero fascinante, seja na literatura, quadrinhos ou cinema. E é através dos filmes que a FC torna-se ainda mais impressionante, devido em parte aos fantásticos recursos tecnológicos que o cinema dispõe atualmente.
                Desde as primeiras décadas do século passado, com o mudo Metrópolis (1926), de Fritz Lang, passando pelos nostálgicos clássicos dos anos 50 e 60 como O Dia em que a Terra Parou (51), O Planeta Proibido (56), 2001: Uma Odisséia no Espaço (68) e O Planeta dos Macacos (68), e pelas divertidas produções “B” com os inesquecíveis “monstros de olhos esbugalhados” e a paranóia de invasão alienígena, chegando às décadas de 70 e 80 e o início dos grandes efeitos especiais com Guerra nas Estrelas (77) e Blade Runner (82), e chegando aos anos 90, caracterizado por filmes fracos em roteiros muito previsíveis, mas com muita diversão e entretenimento.
                O Soldado do Futuro (Soldier, 1998), dirigido por Paul W. S. Anderson, responsável também pelo ótimo O Enigma do Horizonte (97), estreou nos cinemas brasileiros em 5 de fevereiro de 1999 e é um típico exemplo da onda de filmes comerciais, com histórias já vistas antes, dessa vez explorando o militarismo num futuro próximo com guerras absurdas, muita violência, mas também com belas imagens e principalmente muita diversão.
                Assim como no também bélico Tropas Estelares (97), de Paul Verhoeven, O Soldado do Futuro mostra basicamente jovens soldados que se preparam para guerras (é curioso como o ser humano não consegue entender que elas são o maior exemplo de sua irracionalidade e quase sempre se mostra o futuro onde persistem as batalhas sangrentas). A diferença é que desta vez o inimigo não é alienígena, como os insetos gigantes da obra de Verhoeven, e sim os seus próprios semelhantes em diferentes guerras ao longo dos anos, dentro do planeta e se estendendo ao espaço sideral.
                O filme mostra um projeto secreto militar onde em 1996, alguns bebês do sexo masculino são escolhidos numa maternidade para participarem de um rígido treinamento de infantaria até completarem os 17 anos de idade, já no ano 2013. Eles tornam-se soldados condicionados exclusivamente para guerrear e enfrentar as mais diversas situações em campos de batalha.
                Utilizando lavagem cerebral durante todo o treinamento, obrigando os escolhidos, enquanto crianças ainda, a presenciarem cenas de pura violência, como a luta mortal entre cachorros e um javali selvagem, e através da eliminação simples dos mais fracos fisicamente, o projeto do Exército tinha por objetivo formar soldados obedientes e isentos de emoções para se obter o máximo de sucesso nos futuros e inúmeros confrontos bélicos na Terra e em outros planetas. E para conseguir isto, utilizava-se de mensagens subliminares, incutindo nas mentes dos soldados a total obediência e disciplina ao Exército.
                Após várias guerras conquistadas, um soldado se sobressai pela sua performance no campo de batalha. Ele é o sargento Todd, interpretado por Kurt Russell, de outros filmes de ficção científica como Fuga de Nova York (81), O Enigma de Outro Mundo (82) e Fuga de Los Angeles (97). Russell lembra muito a truculência de atores como Sylvester Stallone, Arnold Schwarzenegger e Dolph Lundgren, num papel onde quase não fala e age como um robô programado para matar. E é interessante o fato como vários atores acabaram se sobressaindo no cinema atual e obtendo sucesso em suas carreiras interpretando personagens quase mudos e “brucutus” como psicopatas, serial killers ou super soldados.
                O projeto militar de treinamento dos soldados teve muito êxito até aparecerem, mais de quarenta anos de guerras depois, uma nova legião de super combatentes, agora criados por manipulação genética do DNA, eliminando os eventuais defeitos e sendo soldados ainda mais fortes e assassinos. O sargento Todd e seus companheiros acabam sendo considerados obsoletos e são substituídos, com o sargento, após uma derrota num confronto com um dos novos soldados (Jason Scott Lee), sendo considerado supostamente morto e jogado num inexpressivo planeta de depósito de lixo (naves, equipamento bélico ultrapassado e sucatas em geral).
                Lá, ele reanima-se e entra em contato com uma comunidade de seres humanos refugiados, que viviam clandestinamente no planeta, após uma queda da nave que os transportava para outro planeta mais saudável que a maltratada Terra.
                Como a nova equipe de soldados do futuro necessitava de exercícios militares, foi escolhido obviamente, o pobre planeta depósito de lixo para eles descarregarem sua artilharia, desprezando o fato da existência de civis inocentes no local. E esta é a oportunidade para o sargento Todd sedento de vingança, combater sozinho uma equipe de soldados fortemente armados, tornando-se um herói e provando ainda sua superioridade perante os seus supostos substitutos artificiais.
                O ator Kurt Russell faz muito bem a sua parte, sempre com um semblante sério e de soldado programado para destruir o inimigo, não pensando ou sentindo nada, ou quase nada, pois acaba confessando suas fraquezas para uma das refugiadas (Connie Nielsen), com um sentimento de medo ao longo da trajetória de sua violenta vida, aliado, é claro, à forte e tão respeitada disciplina e hierarquia militar.
                O Soldado do Futuro é o típico exemplo do cinema de ficção científica atual, onde são privilegiados os efeitos especiais, mesclados com muita ação e violência, em detrimento de melhores roteiros e situações. É um gênero carente de bons filmes ao longo da década de 90, constatado pelas inúmeras refilmagens de antigos clássicos e previsibilidade das produções, excetuando-se poucas obras como Os Dozes Macacos (95), Contato (97), Gattaca (97) e O Show de Truman (98).
                Mas, esse filme cumpre a sua função de entreter o público e é diversão garantida com belas imagens futuristas em uma boa sessão de cinema.

O Soldado do Futuro (Soldier, Estados Unidos / Inglaterra, 1998). Warner Brothers, Morgan Creek, Impact Pictures. Duração: 100 minutos. Direção de Paul Anderson. Roteiro de David Webb Peoples. Fotografia de David Tattersal. Produção de Jerry Weintraub e Jeremy Bolt. Produção Executiva de James G. Robinson e R. J. Louis Susan Ekins. Música de Joel McNeely. Edição de Martin Hunter. Desenho de Produção de David L. Snyder. Com Kurt Russell, Jason Scott Lee, Connie Nielsen, Michael Chiklis, Gary Busey.

(Juvenatrix - 03/1999)

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