Entre o final da década de 1950 e meados
da seguinte, o cinema de horror gótico mundial recebeu a significativa e
valiosa contribuição de muitos filmes mexicanos produzidos e estrelados por
Abel Salazar (1917 / 1995), como “O Morcego” (The Vampire / El Vampiro, 1957), a
sequência “O Ataúde do Vampiro” (The Vampire´s Coffin / El Ataúd del Vampiro,
1958), “Black Pit of Dr. M” (Misterios de Ultratumba, 1959), “The Brainiac” (El
Barón del Terror, 1962), “The Living Head” (La Cabeza Viviente ,
1963) e “A Maldição da Chorona” (The Curse of the Crying Woman / La Maldicion de la Llorona , 1963), entre
outros.
Em “The Man and the Monster” (El Hombre y
el Monstruo), uma produção em preto e branco dirigida por Rafael Baledón a
partir de roteiro de Alfredo Salazar, temos a história sinistra de um pianista,
Samuel Magno (Enrique Rambal), que vive na pequena cidade mexicana de San José.
Ele fez um pacto com o diabo para se tornar o melhor músico do mundo, satisfazendo
sua ambição paranoica e eliminando a frustração de ser considerado sempre inferior
em relação à rival, a pianista Alejandra (Martha Roth). Porém, como pagamento
da dívida eterna, sempre que ele toca ao piano uma determinada partitura sobrenatural,
se transforma fisicamente num monstro deformado e assassino violento, voltando
ao normal apenas com a intervenção da mãe severa e rude, Cornelia (Ofelia
Guilmáin).
Transtornado pela maldição que carrega, o
pianista frustrado enfrenta uma terrível luta interna para não ceder à tentação
de tocar o instrumento, enquanto exerce a função de professor para outra jovem
pianista, Laura (também interpretada por Martha Roth). Para complicar a
situação, o jornalista Ricardo Souto (Abel Salazar) surge para fazer uma
reportagem sobre a moça como promessa de sucesso, e descobre o mistério que
envolve a ocorrência de assassinatos brutais e o segredo do pianista
amaldiçoado, apesar das dificuldades em convencer a polícia local sobre a
verdade, através do oficial encarregado das investigações (José Chávez).
A caracterização do monstro é bem
bagaceira, típica do cinema de baixo orçamento daquele período mágico do cinema
fantástico. Mas, a diversão está garantida, entre outras coisas, justamente por
esse trabalho tosco de maquiagem, onde o rosto e mãos deformados do pianista
após a transformação lembram um lobisomem selvagem à procura de vítimas. Outros
fatores que merecem destaque são a constante atmosfera de horror gótico num
casarão sombrio e elementos do roteiro que nos remetem a uma mistura de
“Fausto” com “O Médico e o Monstro”. Em “Faust” (1926), do alemão F. W. Murnau,
temos a referência com oo acordo do músico com o diabo com consequências
trágicas, e na clássica história “Dr. Jekyll and Mr. Hyde”, de Robert Louis
Stevenson, que teve várias versões para o cinema como as de 1932 e 1941, temos a
transformação do protagonista em monstro sempre após tocar uma partitura
específica amaldiçoada.
(Juvenatrix – 25/01/16)
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