Outra pérola do cinema fantástico
bagaceiro dos anos 50 do século passado, numa produção do estúdio japonês
“Toho” e parceria entre o cineasta Ishiro Honda e o diretor de efeitos
especiais Eiji Tsuburaya. “O Monstro da Bomba H” explora os temas de “homem
transformado em monstro” e a paranoia dos efeitos radioativos desconhecidos e
incontroláveis da energia atômica testada para a destruição com bombas no
conturbado período da guerra fria após o término da Segunda Guerra Mundial.
A polícia de Tóquio está investigando as
ações de criminosos na cidade, e após perseguição contra o ladrão de jóias Misaki
(Hisaya Itô), encontram apenas suas roupas no chão. Atrás de informações e
respostas, o Inspetor Tominaga (Akihiko Hirata) procura a namorada do gangster,
a cantora de boate Chikako Arai (Yumi Shirakawa). Nesse momento, surge o Dr.
Masada (Kenji Sahara), um estudioso dos efeitos da radiação nas pessoas. Ele
sugere aos policiais a conexão entre as misteriosas mortes de pessoas
derretidas e o desaparecimento da tripulação de um navio no Oceano Pacífico,
numa provável relação com os efeitos da explosão de bombas atômicas na região, que
poderiam ter criado um monstro mutante gosmento, uma espécie de líquido azul
que em contato com as vítimas, fazem-nas borbulharem e derreterem. Após extensa
investigação e muitas mortes violentas, a polícia organiza uma ação coordenada
para incendiar os esgotos da cidade, local de refúgio das criaturas gosmentas,
na tentativa de eliminar a ameaça.
O grande destaque dessa preciosidade
japonesa certamente fica por conta dos ataques violentos das criaturas
radioativas derretendo suas vítimas, como líquidos vivos com atividade mental
humana (ou “humanos líquidos”). Num excelente trabalho da equipe de efeitos
especiais dirigida pelo mestre Tsuburaya, que impressionou as plateias da época
e que continua interessante e convincente até hoje, nesses tempos modernos de
computação gráfica e excesso de artificialidade.
Assim como em “Matango, a Ilha da Morte”
(1963), que também é da dupla Ishiro Honda e Eiji Tsuburaya, o roteiro procurou
explorar outros assuntos em paralelo com a ideia central dos monstros
radioativos. Em “Matango”, temos uma interessante crítica social ao comportamento
humano em momentos de crise, com um grupo de náufragos sobreviventes isolados
numa ilha competindo entre si pela sobrevivência, ao invés de cooperação para o
bem comum. Já em “O Monstro da Bomba H”, temos uma história de investigação
policial sobre as atividades de criminosos e traficantes de drogas na capital
japonesa. Porém, o problema é que infelizmente nesse caso, a narrativa tornou-se
muito arrastada e entediante na condução dos policiais tentando localizar os
bandidos, em meio ao mistério envolvendo o surgimento de vítimas derretidas. E
o tédio aumentou significativamente com as várias cenas desnecessárias de
cantorias numa boate, as quais deveriam ser trocadas por mais ataques
sangrentos dos monstros viscosos. Ou por mais especulações científicas
bagaceiras dos efeitos destrutivos da bomba de hidrogênio, assunto que é a
maior razão da existência do filme (daí o título). Ou seja, deveríamos ter mais
história de monstros e menos história de detetive.
Curiosamente, percebemos influências do
anterior “O Estranho de Um Mundo Perdido” (1956), produção inglesa da “Hammer”
com um monstro gosmento imenso que se alimenta de radiação e derrete suas
vítimas. E “O Monstro da Bomba H” foi lançado pouco antes da cultuada produção
americana “A Bolha” (The Blob), com Steve McQueen, que também tem ideias
similares na concepção de um monstro espacial amorfo e gosmento, formado por um
líquido pegajoso. Naquele período fértil dos anos 50 para o cinema fantástico
bagaceiro, temos inúmeras referências e relações entre filmes de países
diferentes abordando a mesma ideia básica de monstros gosmentos radioativos que
ameaçariam ainda mais a já instável segurança da humanidade por causa da guerra
fria.
(Juvenatrix – 05/10/15)
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