Quando o diabo manda, Karloff obedece...!
O ícone do cinema de horror Boris Karloff (1887 / 1969) ficou
eternizado na história por seu papel do “monstro de Frankenstein”. Mas, em sua
carreira produtiva com mais de 200 créditos, também se destacam suas
performances como o tradicional “cientista louco” que trabalha incansavelmente
em descobertas científicas para o bem da humanidade, e que se sente
incompreendido pela sociedade com suas criações transformando-se em tragédias.
É o caso de “Os Mortos Falam”, filme do distante ano de 1941, dirigido por
Edward Dmytryk, produzida pela “Columbia” com fotografia em preto e branco e
duração curta de apenas 65 minutos. Uma das taglines promocionais do filme
(reproduzida acima) brinca com seu nome original “The Devil Commands” e o apelo
comercial do nome de Boris Karloff como astro do Horror, imortalizado para
sempre junto com Bela Lugosi, Vincent Price, Peter Cushing, Christopher Lee e
outros.
Karloff é o “cientista louco” Dr. Julian Blair, que faz
experiências com ondas cerebrais humanas, e acredita que mesmo após a morte,
elas continuam vivas e podem ter seus impulsos gravados numa máquina especial
criada por ele, estabelecendo dessa forma um tipo de comunicação com os mortos
(dessa ideia deve ter vindo a escolha do título nacional). Ele é auxiliado pelo
também cientista Dr. Richard Sayles (Richard Fiske), e juntos trabalham num
laboratório repleto de aparelhos elétricos enormes, com botões medidores e
alavancas de acionamento para todos os lados. Porém, tudo começa a mudar para
pior depois que a amável esposa do Dr. Blair, Helen (Shirley Warde), é vítima
fatal de um bizarro acidente de carro nas proximidades do laboratório. Muito perturbado
e desorientado por causa da morte repentina da esposa, e com seu trabalho
científico desacreditado pelos colegas, o cientista decide se mudar para uma mansão
isolada no alto de um penhasco na costa da Nova Inglaterra.
Nesse local sinistro, em meio a tempestades constantes, ele continua
suas experiências macabras, influenciado por uma vidente de caráter duvidoso,
Sra. Blanche Walters (Anne Revere), que tem interesses obscuros no sucesso dos
testes com os cérebros humanos. Também conta com os serviços braçais de Karl (o
ator Cy Schindell, creditado como Ralph Penney), um homem bruto e desajeitado que
teve o cérebro torrado numa das experiências mal sucedidas do cientista.
Uma vez preocupada com o bem estar e ações misteriosas do pai, a
jovem filha do cientista, Anne Blair (Amanda Duff), tenta localizá-lo com a
ajuda do Dr. Sayles, para persuadi-lo a interromper seu trabalho suspeito. Enquanto
paralelamente o xerife local, Ed Willis (Kenneth MacDonald), está investigando
o desaparecimento de cadáveres do cemitério próximo ao laboratório do Dr. Blair,
desconfiado de alguma conexão com as bizarras experiências do cientista, cada
vez mais temido e indesejável pelos moradores do vilarejo vizinho da mansão.
“Este mago louco mata à vontade a
serviço de Satã!” – uma das taglines promocionais do filme
“Os Mortos Falam” é mais uma bagaceira divertida que pertence ao
sub-gênero “cientista louco”, com a participação do lendário Boris Karloff,
motivo mais que suficiente para o filme se destacar entre a incontável
quantidade de produções similares. Temos todos os principais elementos característicos
como o laboratório científico exagerado, muito bizarro para a época (quase 80
anos atrás), a mansão no alto de um penhasco à beira do mar, um ambiente
extremamente sinistro e apropriado para uma história de horror, e o cientista
com boas intenções que foi vítima de uma tragédia pessoal, sendo corrompido
pela descrença e obcecado por um objetivo científico com resultados
catastróficos. Suas ações suspeitas, resultado da obsessão em se comunicar com
a esposa falecida, despertaram a desconfiança das autoridades e a ira cega dos
vizinhos, que por temerem o desconhecido, desejavam sua destruição.
O maior destaque, além da atuação convincente de Boris Karloff
como o cientista de boas intenções distorcido para “louco”, são as cenas das
experiências com os mortos, vestindo armaduras de aço parecidas com trajes
espaciais toscos, com seus cérebros conectados uns aos outros, simulando uma
única grande rede de ondas cerebrais. Remetendo-nos totalmente ao cinema
fantástico bagaceiro, onde o horror e a ficção científica caminham juntos para
um resultado bizarro de puro entretenimento.
“Se a Ciência puder abrir a mente
humana, poderá descobrir os segredos de cada cérebro humano.” – Dr. Julian
Blair
(Juvenatrix – 26/06/17)
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