O triunfo da Morte
O fã de cinema de horror que está procurando diversão escapista, barulheira,
correrias desenfreadas, tiroteios, sustos fáceis, sangue em profusão, tripas
expostas, monstros em CGI, não irá encontrar no filme “Ao Cair da Noite” (It
Comes at Night, 2017), que estreou em circuito comercial restrito nos cinemas
brasileiros em 22/06/17, com cópias originais legendadas. Porém, quem aprecia e
procura uma história tensa, com constante atmosfera sombria e perturbadora,
carregada de paranoia, mistério, pessimismo, com narrativa mais cadenciada onde
toda esperança está abandonada, num ambiente de grande pressão psicológica, além
de um final depressivo, então esse é o filme indicado.
Com direção e roteiro de Trey Edward Shults, temos uma família
morando isolada numa casa no meio da floresta, formada pelo pai protetor, Paul
(o australiano Joel Edgerton), a esposa Sarah (a inglesa Carmen Ejogo), e o
filho adolescente de 17 anos, Travis (Kelvin Harrison Jr.), que tem pesadelos
terríveis frequentemente. O clima é de tensão constante, numa luta pela
sobrevivência contra uma contaminação misteriosa que aparentemente mergulhou o
mundo no caos. Eles precisam eliminar a ameaça que tomou o corpo do avô, Bud
(David Pendleton), enterrado com o cadáver cheio de feridas pestilentas e carbonizado
por segurança. Porém, as coisas se complicam mais ainda após a chegada de outra
família pedindo refúgio, formada pelo jovem casal Will (Christopher Abbott) e
Kim (Riley Keough), e o filho pequeno Andrew (Griffin Robert Faulkner).
Distanciando-se da fantasia tradicional do cinema, “Ao Cair da
Noite” se aproxima mais de uma possível realidade com o mundo mergulhando numa contaminação
devastadora não explicada, onde os sobreviventes precisam lutar ferozmente por
suas vidas fragilizadas. Trazendo à tona seus instintos mais selvagens de
sobrevivência, utilizando-se de violência e desconfiança para a
autopreservação, eliminando gradativamente os sentimentos e emoções que
caracterizam a humanidade, dando lugar à frieza e indiferença.
Indo
na contra mão do cinema que prioriza o entretenimento com pipoca e
refrigerante, “Ao Cair da Noite” aposta no mistério, na falta de informação
sobre os trágicos acontecimentos externos, no clima de tensão devido à luta
selvagem pela sobrevivência, no desespero crescente do fim aparentemente
inevitável da humanidade, dizimada por uma doença sem nome.
Após
ver o filme e com o sentimento perturbador e desconfortável que invade o
espectador, temos a sensação de que seriam pessoas de sorte todas aquelas que
fossem carregadas pela Morte logo no início do apocalipse, caso um dia uma
pandemia devastasse a Terra.
(Juvenatrix – 03/07/17)
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