Lançado em VHS no Brasil
pela “Omni Vídeo”, “A Cruz do Diabo” (La
Cruz del Diablo, 1975) é mais uma pérola do cinema bagaceiro
espanhol da década de 70 do século passado. Foi dirigido pelo inglês John
Gilling (1912 / 1984), o último filme de sua carreira significativa para o
gênero, que inclui várias outras preciosidades. Como algumas produções da
“Hammer”, “A Sombra do Gato” (1961), “A Serpente” (1966), “Epidemia de Zumbis”
(1966) e “A Mortalha da Múmia” (também conhecido por aqui como “O Sarcófago
Maldito”, 1967), além de “O Monstro do Raio Gama” (1956) e “A Carne e o Diabo”
(ou “O Monstro da Morgue Sinistra”, 1960), este com Peter Cushing e Donad
Pleasence. Aliás, conforme informado no site “IMDB” (Internet Movie Database),
curiosamente John Gilling não tinha a intenção de dirigir “A Cruz do Diabo”, e
quando estava de férias na Espanha foi convencido a assumir o projeto num
convite do também cineasta Paul Naschy, um dos grandes nomes do gênero e com
vasta filmografia e contribuição para a história do cinema de horror.
Um escritor e jornalista,
Alfred Dawson (Ramiro Oliveros), vive na Inglaterra com sua namorada Maria
(Carmen Sevilla). Fumante inveterado, viciado em ópio, ele tem pesadelos e
alucinações constantes onde vê uma mulher sendo torturada por antigos
templários da Idade Média. Ele viaja para Madri, Espanha, depois de receber uma
carta de sua irmã Justine Carrillo (Monica Randall), que vive naquele país,
casada com o Sr. Enrique (Eduardo Fajardo), um homem rico e bem mais velho que
ela, pedindo a visita urgente do irmão por estar se sentindo ameaçada após o
aborto do filho. Lá chegando, recepcionado pelo misterioso e suspeito Cesar del
Rio (Adolfo Marsillach), secretário do Sr. Enrique, o escritor encontra a irmã
morta e é informado que foi assassinada por um ladrão comum.
Porém, Alfred desconfia
dos fatos e sente uma estranha atmosfera sobrenatural envolvendo a morte da
irmã, decidindo investigar um lugar que abriga a “Cruz do Diabo” (do título do
filme), localizado no “Monte das Almas”, onde ainda existem ruínas de um
mosteiro que foi utilizado pelos templários. Segundo uma lenda a tal cruz foi
forjada com o ferro da armadura do próprio diabo. Um território sinistro, temido
por todos, e envolto em superstições que diziam que os cavaleiros medievais
saíam de seus túmulos para praticar rituais de magia negra no “Dia de Todos os
Santos”, numa vingança sangrenta contra quem invadia seus domínios.
“Os templários, membros
de uma ordem militar da Idade Média. A missão da ordem era proteger os
peregrinos que iam para a Terra Santa. Com o tempo, acumularam riquezas e
poder, um poder maligno. Renunciaram ao catolicismo e se dedicaram aos rituais
sombrios. Adoravam um ídolo chamado Baphomet. Espalharam-se pela Europa inteira
e pela Espanha em
particular. Porém , em 1312 a Ordem foi aniquilada.” – trecho de um
livro sobre a história sangrenta dos templários.
Temos que agradecer o multifuncional
espanhol Paul Naschy (também conhecido como Jacinto Molina) por ter convencido
John Gilling a dirigir “A Cruz do Diabo”, tornando-se o último registro de sua
carreira. Não que seja uma obra prima, pois é apenas mais um filme com
elementos góticos que tem seu pequeno lugar na história do cinema de horror.
Mas, porque foi uma oportunidade de Gilling encerrar suas atividades com um
filme trazendo aquelas tradicionais características de horror sobrenatural onde
não faltam ruínas macabras, uma floresta sombria envolta em neblina, carruagens
como meios de transporte, candelabros e tochas para iluminação, mortos que
deixam suas sepulturas para aterrorizar os vivos, e cenas de pesadelos
perturbadores.
É verdade que temos alguns momentos
com uma narrativa lenta que contribui para afastar o espectador da história.
Mas, o desfecho com a dúvida sobre as ações do protagonista Alfred na busca
pela verdade sobre o assassinato misterioso da irmã, numa confusão entre a
realidade e as alucinações causadas pelo consumo de ópio, e os elementos
góticos com a exploração do sempre macabro tema dos antigos cavaleiros
templários em sua vingança sangrenta, desperta aquele esperado interesse nos
apreciadores do estilo.
(Juvenatrix – 30/01/17)
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