A lenda da “Maldição da Chorona”, sobre uma mulher
fantasma que assombra com seus gritos desesperados de angústia por causa da
morte de seus dois filhos soterrados na areia movediça de um pântano, é a ideia
básica do filme “El Grito de la Muerte ” (1959),
produção colorida mexicana com direção de Fernando Méndez (1908 / 1966), que
tem no currículo outras tranqueiras do período como “O Morcego” (1957), “Ladrón
de Cadáveres” (1957), “O Ataúde do Vampiro” (1958) e “Misterios de Ultratumba”
(1959).
Essa mesma famosa lenda mexicana também foi explorada
no posterior “A Maldição da Chorona” (La Maldición de la Llorona / The Curse of the
Crying Woman, 1963), produção em preto e branco escrita e dirigida por Rafael
Baledón, sendo um excelente filme de horror gótico, com todas as
características desse fascinante estilo e rivalizando com os melhores exemplos
da cultuada produtora inglesa “Hammer”.
O cowboy detetive Gastón (Gastón Santos), acompanhado
de seu parceiro “Coiote Louco” (Pedro de Aguillón), investiga o rancho da jovem
e bela Maria Elena Garcia (Maria Duval) e sua severa tia Dona Maria (Hortensia
Santoveña). Elas tentam administrar o local em decadência, com a morte trágica
de Clotilde (Carolina Barret), após seus filhos morrerem no pântano que cerca a
fazenda. As coisas complicam com a ocorrência de mortes misteriosas creditadas
pelos supersticiosos como relacionadas à maldição de uma mulher chorona que abandonou
a tumba em busca de vingança.
Em “El Grito de la Muerte ” (“The Living Coffin” nos Estados Unidos),
temos uma mistura de gêneros com elementos de western, horror gótico e comédia
pastelão, cujo resultado final não funcionou. A presença de um cowboy herói,
perseguições a cavalo, tiroteios e brigas de bar nos remetem para um filme
comum de western, sem apresentar nenhum diferencial e se perdendo na infinidade
de produções similares. Os elementos de comédia, mesmo que em pequena
quantidade em cenas num estilo pastelão, não combinam em nenhum momento com o
argumento central de horror com as várias mortes misteriosas e a especulação da
maldição da chorona. Essas cenas fora de contexto ficaram a cargo do personagem
“Coiote Louco”, que está sempre desesperado para encontrar um local para dormir,
e seus momentos hilários são acompanhados por sons cômicos. Além de enfatizar o
cavalo do mocinho herói com habilidades improváveis como atirar com um
revólver, salvar seu dono de uma areia movediça e descobrir uma passagem
secreta no casarão com grande importância para a solução do mistério que
assombra o local.
Dessa salada de estilos, o que realmente se destaca e
salva o filme do limbo são os elementos de horror gótico, com as mortes
violentas causadas supostamente por uma mulher atormentada que retornou do
mundo dos mortos em busca de vingança e alívio para seu eterno desespero pela
morte trágica dos filhos. O vilarejo decrépito e deserto, os gritos sombrios
pela casa, a atmosfera sinistra de ambientes escuros, corredores mal iluminados
e criptas geladas, a especulação de lendas e maldições familiares, e o clima
desconfortável de mistério e assassinatos, garantem bons momentos de diversão
para os apreciadores do estilo.
Apesar disso, infelizmente, “El Grito de la Muerte ” perdeu uma grande
oportunidade de se destacar no cinema de horror que explora fantasmas
assassinos vingativos, por causa da história com mistura de gêneros,
principalmente o humor deslocado, além de reviravoltas na trama também mal
sucedidas. O filme é curto com apenas 71 minutos de duração, e vale conhecer
por curiosidade devido ao tema da lenda da “maldição da chorona”, e pelos bons
momentos de horror gótico.
(Juvenatrix –
12/10/16)
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