segunda-feira, 20 de abril de 2020

Plano 9 do Espaço Sideral (Plan 9 From Outer Space, EUA, 1959, PB)


Perdido no limbo do esquecimento junto com uma infinidade de outros filmes de orçamentos reduzidos desde seu lançamento em 1959, “Plano 9 do Espaço Sideral” (Plan 9 From Outer Space) foi descoberto em 1980 por um crítico de cinema que o considerou como “o pior filme de todos os tempos”. Desde então, esse título transformou o filme num objeto de interesse e culto para os apreciadores do cinema fantástico bagaceiro.
Dirigido, escrito, editado e produzido por Edward D. Wood Jr. (1924 / 1978), que também passou a ser percebido dentro do gênero e lembrado eternamente por sua filmografia repleta de produções paupérrimas e mal feitas, em minha opinião o título é injusto, apesar de ter proporcionado um grande benefício de divulgação para o filme. Pois, mesmo sendo extremamente ruim, desde o roteiro fuleiro, atuação amadora do elenco, edição com enormes erros de continuidade e cenários toscos, posso afirmar que já vi muita coisa bem pior, e que na verdade o filme é até divertido para quem aprecia bagaceiras com elementos de horror e ficção científica.
Na história, um homem idoso (Bela Lugosi) morre de tristeza logo após perder a esposa (Vampira, ou a atriz finlandesa Maila Nurmi), e ambos são reanimados no cemitério, voltando de seus túmulos, através de raios elétricos em suas glândulas pituitárias, ativados por alienígenas que pretendem criar um exército de zumbis sob seu controle, para a invasão do nosso planeta. O inspetor de polícia Clay (o grandalhão ator sueco Tor Johnson) também é despertado depois de morto. Os extraterrestres alegam que precisam invadir a Terra para impedir que a humanidade, sempre ávida por guerras e armas de destruição, possa ameaçar o resto do Universo.
Um oficial do exército, Coronel Edwards (Tom Keene), um piloto comercial, Jeff Trent (Gregory Walcott), e o policial Tenente Harper (Duke Moore), entre outros, tentam combater a invasão alienígena liderada pelo soldado espacial Eros (Dudley Manlove) e sua assistente Tanna (Joanna Lee).
 “Plano 9 do Espaço Sideral” é logicamente um filme com muitos problemas. O roteiro tem falhas colossais, mesmo para um tema escapista como invasão alienígena. Tem diálogos risíveis não intencionais, cenários paupérrimos (cemitério, cabine do avião comercial, interior tanto da base quanto da nave alienígena), e efeitos toscos (os discos voadores são tampas de panela penduradas com fios). Mas, como filme bagaceiro que explora o horror e ficção científica, consegue garantir entretenimento sem compromisso, basta desligar o cérebro e relaxar.
As cenas com o Bela Lugosi, mesmo poucas e sem uma única palavra, agregam grande valor ao filme, e todas as sequências com a Vampira e Tor Johnson caminhando lentamente como zumbis ameaçadores são impagáveis. E não poderia faltar a tradicional cena do monstro (no caso, Tor Johnson morto-vivo) carregando nos braços a mocinha (no caso, Paula, a esposa do piloto de avião Jeff, interpretada por Mona McKinnon).     
Como o filme de Ed Wood recebeu muita atenção por suas características de produção bagaceira não proposital, surgiu uma infinidade de curiosidades em torno de sua produção e bastidores. Seguem apenas algumas para registro.
O baixo orçamento foi conseguido por Ed Wood através de um empresário membro da Igreja Batista, que pediu depois para alterar o título original de “Grave Robbers From Outer Space” (Ladrões de Túmulos do Espaço Sideral) para o oficial “Plan 9...”.
O ator húngaro Bela Lugosi, eternamente conhecido como o Conde Drácula no filme americano de 1931 da “Universal”, morreu em 1956 esquecido pela indústria de cinema, e foi Ed Wood que o resgatou no final da carreira oferecendo papéis de “cientista louco” em seus filmes “Glen ou Glenda?” (1953) e “A Noiva do Monstro” (1955). Como ele tinha algumas cenas filmadas com Lugosi para um projeto que não se concretizou, o diretor utilizou essas imagens de arquivo em “Plano 9...”, rodando o restante das cenas com o personagem através de outro ator (mais alto) e sempre cobrindo parcialmente o rosto com uma capa para disfarçar.
O vidente Criswell é o narrador que abre e fecha o filme, alertando de forma sensacionalista a humanidade sobre a possibilidade de invasão alienígena. Maila Nurmi criou a personagem Vampira e foi apresentadora de programas de televisão nos anos 50 que exibiam filmes de horror bagaceiros.
O filme ainda teve uma versão colorizada por computador, lançada em 2006.
Em 1994, o diretor Tim Burton lançou o filme “Ed Wood”, homenageando o criador de “Plano 9...”, mostrando como eram os bastidores de seus filmes toscos e a relação com os envolvidos nos processos de produção. Ed Wood foi interpretado por Johnny Depp, ator bem sucedido e muito requisitado, que apareceu com frequência em filmes de Burton. E Bela Lugosi foi interpretado por Martin Landau (1928 / 2017), outro veterano com carreira significativa. 

(RR – 20/04/20)





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