sexta-feira, 24 de abril de 2020

A Besta de Yucca Flats (The Beast of Yucca Flats, EUA, 1961, PB)


No cinema fantástico bagaceiro existem aqueles filmes que de tão ruins e mal feitos acabam proporcionando entretenimento hilário, sendo cultuados ou constantemente lembrados pelos apreciadores do estilo, justamente pela produção paupérrima, roteiros absurdos, elencos inexpressivos e efeitos toscos, tudo de forma não proposital. E também tem outros filmes com todas essas mesmas características, mas nem ao menos conseguem divertir. “A Besta de Yucca Flats” (The Beast of Yucca Flats, 1961) faz parte desse último grupo, e a única coisa que garante um pouco de diversão é a presença do grandalhão Tor Johnson, sem dizer uma palavra, como o monstro do título. Tanto a direção quanto o roteiro são de Coleman Francis (1919 / 1973), que também colocou sua família, esposa e filhos, para participar do filme, tornando o resultado final ainda mais patético.   
 Na verdade não existe um roteiro, apenas um fiapo, um esboço mal desenvolvido. A história é sobre um cientista soviético, Joseph Javorsky (Tor Johnson, de outras bagaceiras dos anos 50 como “A Noiva do Monstro”, Plano 9 do Espaço Sideral” e “Noite das Assombrações”), que vai para os Estados Unidos no auge da guerra fria, entregar documentos secretos para os americanos, sobre a chegada da União Soviética na Lua. Mas, ele sofre um atentado por agentes espiões da “cortina de ferro” no deserto de Yucca Flats, no Estado de Nevada, onde são realizados testes de armas atômicas. Com a explosão de uma bomba nuclear, o cientista desertor é afetado pela exposição à radiação e se transforma na fera irracional do título.
Vagando a esmo pelo deserto e matando pessoas inocentes pelo caminho, o monstro persegue uma família em férias no local formada pelo pai, Hank Radcliffe (Douglas Mellor), a mãe Lois (Barbara Francis), e os dois filhos pequenos, Art (Alan Francis) e Randy (Ronald Francis). Porém, o cientista distorcido é caçado por uma dupla de policiais, Joe Dobson (Larry Aten) e Jim Archer (Bing Stafford).
“A Besta de Yucca Flats” só tem defeitos, nada se salva, e talvez vale a curiosidade em conhecer essa tranqueira apenas pela presença hilária do ator sueco Tor Johnson no papel da besta assassina. Um narrador (o próprio diretor Coleman Francis) tenta explicar a história, explorando a ideia da paranoia nuclear do conturbado período da guerra fria entre Estados Unidos e a antiga União Soviética, com o medo constante de explosões de bombas atômicas e seus efeitos devastadores, seja diretamente nas ondas de choque ou na exposição de radiação.
Tem uma cena inicial extremamente bizarra e completamente aleatória, não tendo relação com a história. É o assassinato de uma mulher por estrangulamento num quarto, logo após o banho. Só existe para mostrar uma mulher pouca vestida. O excesso de narração é cansativo. As filmagens não tiveram som, todos os poucos diálogos foram inseridos na pós-produção, e não estão sincronizados com as falas dos personagens. O filme é muito curto, apenas 54 minutos, mas que parecem intermináveis. As filmagens tem planos muito longos e arrastados, numa história em que não acontece nada de interessante, passando para o espectador um inevitável sentimento de tédio.
A esposa do diretor, Barbara Francis, faz o papel da mãe da família perseguida pelo monstro. Ela é péssima atriz, sempre agindo como um zumbi, não expressando emoções nem quando os filhos estão desaparecidos, perdidos no deserto. O cientista transformado em monstro pela radiação poderia (e deveria) ser muito mais ameaçador e cruel, e não tão patético. A maquiagem de Tor Johnson deve ser uma das mais paupérrimas da história dos filmes bagaceiros.
Curiosamente, tem uma referência direta para o clássico de Alfred Hitchcock “Intriga Internacional” (North by Northwest, 1959), com Cary Grant, na cena onde um avião em baixa altitude persegue um homem correndo por sua vida pelo deserto.      

(Juvenatrix – 23/04/20)





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